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DIÁLOGO ABERTO, O ORIGINAL, é um espaço interativo cuja finalidade é a discussão. A partir de abordagens relacionadas a muitos temas diversos, dos mais complexos aos mais práticos, entre teologia, filosofia, política, economia, direito, dia a dia, entretenimento, etc; propõe um novo modo de análise e argumentação sobre inúmeras convenções atuais, e isso, em uma esfera religiosa, humana, geral. Fazendo uso de linguagem acessível, visa à promoção e à saliência de debates e exposições provocadoras, a afim de gerar ou despertar, em o leitor, um espírito crítico e questionador.

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sexta-feira, 29 de junho de 2012

O número de evangélicos cresceu, e daí?

Há pessoas que dizem que sou muito crítico com as coisas, e principalmente com o evangelicalismo brasileiro, ou cenário evangélico (religiosos, em certos casos, esferas gerais), incluindo tudo o que lhe é pertinente, estrutura, credo, liturgia, sistema, etc. Concordo, e não é pra menos. Enquanto puder criticar, com consciência e inteligência, se é que as tenho, farei. Haja vista que moro em um país que diz pregar liberdade de expressão. Meio complicado, mas tudo bem, considerando que se se afirma que: "IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato"; Art 5o, (Constituição Federal), porém, coloca-se: "promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL" (parte do preâmbulo da Constituição da República Federativa do Brasil), vê-se uma pequena tendência cristã-católica (considerando a data, 1988) para o estabelecimento da regra mor (estranheza na temática para o estado dito laico?) Pois bem,  liberdade essa que deveria valer para todos, e em todas as áreas da estrutura cultural e social, aquelas que nos formam União. Às vezes, tal liberdade não é, nem um pouco, motivada, ou praticada, ou defendida, salientando-se  o combate ideológico proposto pelos grupos que são intolerantes com outros, e que se mostram superiores aos outros. Acho que aí está o segredo. Quando querem que minha liberdade seja tolhida, lançada para baixo da poderosa força de fé, ou de ideias gerais, entre elas políticas, religiosas e culturais, não posso ficar calado. E uma das coisas que mais reforça essa convicção, de que posso ser crítico, é saber que, quase sempre, ou normalmente, quem tenta obstaculizar e velar a liberdade de raciocínio dos humanos é a religião, em seus ramos diversos, sempre intolerante, tida dona da verdade. Assim, vai sempre me ter como um desgarrado militante, um homo sapiens sapiens, que anda de encontro, e não ao encontro dela, pois sabe que perderia o rumo, e o sentido, se a tentasse encontrar, com suas suposições "preter-naturais". Tá, chega de dizer que sou crítico, pois todos os que me leem, anjos e demônios, já sabem disso. Gostaria de falar sobre crítica em outro momento. Agora, quero dizer de uma notícia que li, batata quente, saída do forno, de tão nova, que é sobre o censo 2010, do IBGE. Divulgou-se hoje o resultado da estatística religiosa, daquele censo feito, dois anos atrás. E algo não muito diferente do que já haviam imaginado foi mostrado, os evangélicos atingiram 22,2% da população, isso, em números per capita, dão 42,3 milhões de seres humanos. Quase toda uma Espanha, em uma só fé. Uma só fé? Aí já começam os problemas. Quando se trata de números, a maioria dos evangélicos enche a boca de saliva, e os pulmões de ar, para dizer: SOMOS 22,2% DA POPULAÇÃO, "GLÓRIA A DEUS (expressão usada principalmente por pentecostais, já haveria dificuldades se fossem requeridas por um tradicional)"! Mas, das quase 200.000 igrejas, templo-estrutura ou não, existem aproximadamente 20.000 denominações, quase sempre, de credos diferentes, em algum ponto específico, ou em sua totalidade. Quer dizer, não é um povo reunido com uma fé, uma doutrina, um dogma, mas sim, milhares de pessoas que possuem discrepância entre si, no ponto fundamental da consolidação da verdade de crença. E, se fossem me perguntar sobre qual discrepância penso ser a mais notória entre a comunidade da estatística, denominada evangélica, diria que é justamente essa, a da doutrina. O que muitos têm que saber é que não existe um povo evangélico, e sim, muitos povos evangélicos. Até étnicos, tribais, em certos casos. Não se está falando de uma religião, e sim, de várias religiões, que, quando muito, a única coisa que possuem de igualdade é a crença no mesmo livro. Mas até isso é questão de polêmica, considerando os que não creem, e se dizem evangélicos. Fora os problemas culturais, litúrgicos, entre uma e outra denominação, que se fossem falados aqui, perderíamos horas. Outra crítica a esse louvor à estatística é a questão dos benefícios sociais que esse crescimento trouxe para a União. Quais? Não sei se existiram. Por exemplo, o Mapa da Violência 2011, divulgado pelo Ministério da Justiça, aponta que houve crescimento de 38,6% de homicídios no interior do Brasil. O relatório da Situação da Adolescência Brasileira do Fundo das Nações Unidas para a Infância, o Unicef, informou, há menos de um ano, que houve crescimento de 1,3% do número de adolescentes que vivem em extrema pobreza, em famílias que vivem com até 1/4 do salário mínimo. O índice de casos de Abuso Sexual, só na capital do país, cresceu 67,8% em dois anos, de 2010 a 2012, sendo que houve grande crescimento no Norte e Nordeste do país também. Se se fosse considerar uma estatística conjunta, que cresce em proporcionalidade, deveriam haver outras tendências para os índices referidos atrás. Algo que poderia ser lógico, ou seja, crescem os evangélicos, detentores de uma palavra de amor e solidariedade, logo, diminui-se as mazelas sociais. Contudo, o que se vê é outra realidade. Terminando esse texto, pra não ficar muito longo, digo: o número dos evangélicos cresceu, e daí? Deve estar havendo muita festa no "céu", por tantos "pecadores" que se converteram ao "único caminho", mas na terra, sei não heim!

André Francisco

quarta-feira, 27 de junho de 2012

A Bela Estória de um Galo e o Sol


Todos os dias bem cedo, o galo acordava, ainda escuro, e anunciava solene aos seus companheiros:

“ _ Vou  cantar para fazer o sol nascer...”

E se empoleirava no alto do telhado, olhava para o horizonte, e ordenava, categórico:

“_ Co-co-ri-co-có...”

Dali a pouco a bola vermelha mostrava o seu primeiro pedaço e o galo comentava, confidante:

“ _ Eu não disse?...”

E os bichos ficavam boquiabertos e respeitosos ante poder tão extraordinário conferido ao galo: cantar pra fazer o sol nascer. E nem havia alguma sombra de dúvida, porque tinha sido sempre assim, com o galo-pai, com o galo-avô...

Aconteceu, entretanto, que o galo certo dia perdeu a hora, e quando ele acordou o sol já estava lá, brilhando no meio do céu.

Assim se acham a grande maioria dos teólogos, cristãos, evangélicos ou católicos. Detentores da verdade absoluta, como se fizessem de Deus seu escravo, e sendo assim, ditassem o ritmo daquilo que está além de todos nós. O Sol nasce independentemente do que acreditamos ou não. Tentar descobrir e explicar Deus é loucura, teologia é feita para nós mesmos, é nossas explicações daquilo que achamos acreditar, é o canto da nossa alma, buscando Deus, de quem estamos com saudades. Contudo, confundimos o sentimento, e certos de que já achamos, impomos aquilo cremos, como galos inquisidores, e amordaçamos, ferimos e expurgamos outros galos que tentam pensar de outra forma. Enfim, esse Deus que projetamos se  parece muito com nós mesmos, diz que ama incondicionalmente, mas nos envia para o inferno, deu a sua vida por nós, mas espera em troca da salvação que renunciemos a nossa vida por causa dele, e no fim, buscamos motivos nobres e explicações bem arranjadas para justificarmos essas discrepâncias. Bobagem. É o nosso reflexo se manifestando, é o nosso desejo por transcendência que nos faz cometer as maiores loucuras, em nome de um Ser Superior.  Se Deus de fato existe, ele está além de nossas tramas verbais e o que fazemos é brincar com as palavras, mas levando isso tão á sério que acreditamos que nossas verdades indicam uma trama com consequências cósmicas e tremendas. Loucura. Tenho saudades de Deus, e isso me basta.


Teologia,
Celebração de um vazio que nada pode encher.
É só por isso que dizemos que Deus é infinito.
Não porque o tivéssemos medido,
Mas porque  sentimos o Infinito do desejo
Que coisa alguma pode satisfazer.
Daí que estamos condenados a ser eternos pranteadores
Mas teologia é coisa bela, um Sonho.

Aprendi lendo as sagradas Escrituras, onde está interditado o simples – pronunciar o nome do Sagrado, que sempre que aparecia no texto era substituído – por um outro Tabu!- e, se o simples pronunciar do nome sagrado era blasfêmia, que dizer das tentativas de se escrever anatomias e fisiologias dos Mistério Divino, isto a que se dá o nome de Teologia?


Minha teologia nada tem a ver com teologia
É vicio.
Há muito que deveria ter abandonado esse nome.
E dizer só, poesia, ficção.
Descansem os que têm certezas.
Não entro no seu mundo e nem desejo entrar.
Jardins de concreto me causam medo.
Prefiro a sombra dos bosques
E o fundo dos mares,
Lugares onde se sonha...
Ali mora os mistérios
E o meu corpo fica facinado.

Rubem Alves *

O sol nasce sempre, do mesmo jeito; com galo ou sem galo.

Por Rodrigo de Barros Mascarenhas

*TODAS as palavras em itálico de Rubem Alves, retirado do prefácio do livro “Por uma teologia da Libertação” (Fonte Editorial).


segunda-feira, 25 de junho de 2012

Bento XVI e Bíblia: método histórico-crítico sim, mas a partir do Magistério

"CIDADE DO VATICANO, segunda-feira, 26 de outubro de 2009 (ZENIT.org).- O método histórico-crítico de pesquisa da Escritura é legítimo e necessário, mas deve ser interpretado segundo sua chave, que é a fé da Igreja, considera Bento XVI."Por Inma Álvarez

E a história se repete, quase que imutavelmente. Quando muito, apenas se reclassifica, em outra face, mas, de semelhante essência. O que aconteceu em 26 de outubro de 2009 não pode ser caso de espanto, principalmente quando se considera de onde vieram tais fatos. Os fundamentos da igreja romana foram revitalizados, e novamente destacados. Isto é, a interpretação de tudo e de todos, em sentido de cosmovisão, ou, visão de mundo, deve partir da fé histórico-tradicional. A tradição é voz de Deus, portanto, deve ser parâmetro, ponto de partida para se ver o resto. Assim, até mesmo as escrituras judaicas, ou, cristãs incipientes, que nasceram individualmente uma da outra, devem ser analisadas, começando da tradição, e não delas mesmas, em estudos minuciosos, de descobertas. A essa tradição Bento XVI e todo o magistério Católico chama de fé da igreja ou doutrina da igreja. O caminho foi o seguinte: começou-se a instituição cristã há quase dois mil anos, depois se caracterizou sistema religioso, forjado dentro de todas as características necessárias para tal definição de termo, após isso, criou-se a tradição e a sacralizaram, intraeclesiasticamente. Agora, ou há bastante tempo já, essa tradição, que surgiu historicamente por último, tornou-se centro vital para leitura do geral. Explicando, ela apareceu por derradeira, e se tornou a primeira entre outras. Por isso, Bento XVI e o magistério, que é a representação física do Reino de Deus e da vontade de Jesus, até motivam o desenvolvimento e utilização do método histórico-crítico, para se ler a Bíblia, mas não abrem mão da matiz regente, superior de norma para o cotejo, que é a tradição, a fé da igreja (maquiadamente, dogmas sistêmicos pós-neotestamentários). O que me deixa estupefato, ao ler um artigo como esse, não é o que se afirmou no Vaticano para tal discussão, pois essa afirmação é desde sempre esperada, e refeita, dentro de um contexto romano de igreja, seguindo-se a ordem sacralizada: fé da igreja (tradição), Bíblia, Deus. Porém, é o que aconteceu com os chamados "protestantes", que de fato nunca foram, ou não têm sido, no sentido atual do termo. Cada linha, ramo da igreja evangélica mundial, possui suas solas máximas. Seus credos ultrasagrados e "inconfudivelmente Bíblicos", textuais, consolidados tradicionalmente, dentro de um comum-comunitário. A esses dogmas são atribuidos poderes transcendentais, ultracósmicos, extramundanos, que não podem ser questionados sequer de longe. E são eles que regem, norteiam, validam toda a interpretação e leitura do cosmo, do modo de ver o resto, das pessoas que lhes creditam fé. Diferentemente do que Lutero propôs primeiramente, não é a partir da Bíblia que se lê todas as coisas, mas a partir do que se crê depois da primeira leitura ingênua. Explicando, o caminho é o seguinte: leu-se a primeira vez o texto, criou-se o dogma subsequentemente. Então, a partir da criação desse dogma, volta-se para o texto, contudo, agora, com o olhar do dogma, contaminadíssimo, totalmente inseparável do ente. E essa doutrina de fé, agora já intrínseca ao leitor, é tão poderosa que muda a maneira de se  enxergar o texto. Essa afirmação, com base no que sempre aconteceu dentro das comunidades evangélicas, destacadamente brasileiras, haja vista que sempre houveram transformações no credo das denominações, mas quando são consolidados perfeitamente, e passam a ser cultura intraeclesiástica, mudam-se para infalíveis e insubstituíveis. Qual é a leitura recomendada pelo método histórico-crítico? Ler com os olhos, mente, e coração do escritores. A partir da plena salientação do seu contexto cultural, político, e literário. Considerando sempre seu modo de viver, conhecimento, intento, gênero, ambição, desejo, projeto de/ para escrita. Não pesquisar o escritor verticalmente, como se fosse "psicografista", à Chico Xavier, mas um ser humano, mergulhado em tudo que lhe é peculiar, entre fraquezas e influências, que são os mais destacavéis na questão de formação de texto.O que estou tentando frizar nesse texto, a igualdade entre catolicismo e protestantismo evangélico tardio, atual. Ninguém, ou poucos percebem essas semelhanças, mas existem, e em muita coisa. Nada do que se tem, evangelicamente, é próprio, não copiado, peculiar. Tudo foi dado, e absorvido, dos templos, das liturgias, dos hinos, das teologias, das orações, das estruturas, dos cléros, etc. E agora, "pra variar", até o ressalte do método histórico-crítico já é luz-católica, e se quiserem aderir, pra dentro das comunidades, já será remendo.


André Francisco

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Das desavenças entre dogma e exegese histórico-crítica

A igreja, desde seu início, é formada por dogmas. Aliás, como mais uma religião, ou sistema religioso, deveria ser, de fato, fundamentada sobre tais princípios, senão, não teria como normatizar suas crenças, e consolidar suas liturgias. Nenhum sistema religioso consegue se livrar disso, e isso, é historicamente visto, e comprovado. Aqui, dogma se define da seguinte maneira: crença estabelecida ou doutrina de uma religião, ideologia ou qualquer tipo de organização, considerada um ponto fundamental e indiscutível de um sistema. Certo, já está definido, agora, discutir-se-á sobre. O dogma se estabelece, normatiza-se, e mantém sua identidade, e, depois, convence, de maneira indissolúvel, seus fiéis seguidores, para concordarem com ele, e se apegarem de tal forma, que não haja discussão, sobre se é correto, válido, ou não. O dogma forja a mente dos que o aprendem, fabrica dentro de suas vítimas uma parede intransponível de convicção irreflexiva, inquestionável, e não permite que se abram portas para a honestidade interpretativa, e liberdade protestante. Tocando nesse assunto, e trazendo a discussão para o sentido eclesiástico, vale destacar o fato de que dogmas são características peculiares da igreja Católica Romana, que, desde sua origem (podendo-se considerar um estabelecimento mais marcante em Nicéia, IV), vela pela manutenção dos mesmos, a fim de ser "voz de Deus", e não de homens, então, indiscutível. A reforma protestante, XVI, trouxe uma luz, a princípio, para tentar solucionar esse problema, com as máximas, sacerdócio de todos os crentes, interpretação livre das Escrituras. Pois bem, seria um grito, uma nova ideia e leitura para os "discípulos de Cristo", dentro de um contexto amarrado religiosamente, afundado nos dogmas romanos. Mas, dentro desse movimento que parecia ser messiânico, o sola scriptura apareceu, e pôs tudo a perder novamente. Por quê? Porque essa última máxima já é dogmática, e nunca, de fato, "Bíblica", se é que existe dogma concordantemente bíblico em sua completude. Dessa afirmação surgiram os seguintes questionamentos: Quais escrituras? Por que só tais escrituras? Com qual autoridade tais escrituras? Para Lutero, Tiago e sua epístola não deveriam exisitr, eram "de palha", para outros, nenhum dos deuterocanônicos, ou, até mesmo os Apocalipses. E o negócio foi se amarrando mais, lembrando-se que cada um, "reformador nominal", deveria construir seus dogmas, agora, não mais católicos, mas protestantes. E a cadeia natural histórica se voltou para o início, o que havia acontecido lá atrás, dogmas e mais dogmas sendo criados, com cara diferente, aconteceu agora, no sola scriptura, mas com raízes bem parecidas, e honestamente falando, copiadas. Pois bem, dentro dessa salada toda, nunca foi citado nada sobre exegese histórico-crítica dos textos, pois, factualmente, não existia ainda. Só que agora há, espalhada por todos os cantos, em todas as editoras, em todos os sites possíveis. Então, agora a exegese consciente e crítica  ultrapassou e acabou com o dogma? Paulinamente, de maneira nenhuma! O que a religião propaga é tão forte que não há espaço para reflexão, exegese, interpretação histórico-crítica de nada. Continua-se lendo a Bíblia judaico-cristã, com olhares do comum-comunitário, do vomitado de descendência à descendentes. Por isso, qualquer dogmático evangélico que se preze, ao abrir seu texto hebraico, "abrasileirado", chora ao ver, emocionado, o "Espírito Santo" pairando sobre a face das águas, e ainda, acrescenta o "chocar", como galinha choca seus pintos, em seu raciocínio apaixonado-interpretativo, e subjetivamente faz comparação ao que deus pode fazer na sua vida, no cuidado com sua criatura, aplicando essa interpretação a sua realidade. Contudo, mal sabe ele que nem pneuma hagios, nem o chocar, existem naquele texto, pois, cá pra cá, judeu redator, escrevendo seu ruah elohim, com essa interpretação evangélica-cristã na mente, é inquestionavelmente ridículo de se pensar.  Mas não, o Espírito Santo cristão, principalmente lucano, está lá, de fato, assim pensa o dogmático. E, não se contentando, ainda vê a Trindade misteriosa no termo elohim, lançando assim toda e qualquer exegese séria dentro de um balde de lixo não reciclável. E por aí vai, ao acreditar que Moisés escreveu todo o Pentateuco, inclusive sua morte no final de Deuteronômio, o que é bastante esdrúxulo. Ao pensar sobre a veracidade histórica das longas datas de vidas dos heróis do passado, 900+, ao achar que os judeus são os primeiros a escreverem sobre o dilúvio (procure Epopeia de Gilgamesh, e mito de Utnapishtim, ou poema de Enuma Elish) e que essas histórias vieram do céu, ou caíram de paraquedas dentro do contexto sócio-religioso dos hebreus. A partir desses fatos, pensa-se: quem está com a verdade? Quem possui a visão correta? Os dogmáticos sempre acharão que são eles, sem reflexão e pesquisa, tida vinda de Deus, para suas mais de 30 mil comunidades de diferentes crenças evangélicas. Os exegétas acreditarão serem eles, reflexivos, pesquisadores, que possuem somente o texto, e dominam suas línguas originais e conhecem seus pressupostos.


André Francisco

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Das máximas "gospel" na "Social Networking" (condensado)

Sempre se ouviram muitas máximas evangélicas, e principalmente, tratando-se em um contexto atual, devido ao grande aumento e à borbulhenta existência de inúmeros meios de se espalhar e divulgar uma imagem, notícia, anúncio, credo, via tecnologia moderna, primeiramente pelas "The Socials Networking". Essas construções, que normalmente são frases, bordões, ou clichês, são peculiares da cultura denominacionalista, e eclesial. Fazem parte do comum-comunitário, e acabam invadindo outros espaços sociais, se transformando, até mesmo, e uma contracultura. No entanto, grande parte da comunidade evangélica, ou toda ela, não conhece as raízes de suas tão famosas afirmações, e, se conhecem, as confundem, atribuindo-lhes outros significados, totalmente diferentes do sentido inicial. Isso acontece principalmente quando se extraem dos textos Hebraicos e neotestamentários, constituintes da Bíblia, em seu sentido reunido, tais corriqueiras afirmações. Dessa forma, a linguagem milenar, encharcada da cultura judaico-babilônica, e grego-romana dos textos, e das mentes de seus autores, se torna tão vã e sem significado para o contexto onde são aplicadas, que chegam a ser um parecido assassínio da hermenêutica e exegese mais simples possíveis. Daí, a famosa pergunta surge: qual a relação entre esses textos citados ou essas expressões, com os significados, normalmente transcendentais, que lhes são dados intraeclesiasticamente, e consequentemente vomitados na web? Nem se deseja adentrar aos assuntos mais particularmente da área de interpretação e exegese Bíblica, tendo em vista o rombo que poderiam causar, e esse, intencionalmente será provocado mais futuramente. No entanto, agora, vale destacar só os mais normais, e menos problemáticos, mas patológicos, e partidários. Do que se está falando? Está-se falando dos ditos "vales" e "desertos" da vida, que não param de aparecer nas redes sociais. Das "provas", "lutas", "batalhas", quase sempre cósmicas, as quais nunca acabam, ou, sequer, indicam um tempo concreto de "vitória", ou de trégua. Dos do tipo "coisas pequenas são valiosas", "pedaços de madeira podem ser moldados", e "vasos" pra lá, e "vasos" pra cá, acolá. Dos "da vontade da deity", se for ou não, dos "do controle preter-natural", ou das inconvenientes tentativas de proselitismo, do tipo, pela goela forçadas.  Das imagens assustadoras das batalhas entre o bem e o mal, à maniqueísmo, e à esoterismo persa. Esse tipo de comunicação reforça, de um lado a fraqueza, ou deficiência interpretativa que já existe intraeclesialmente, em diversos aspectos (principalmente no manuseio textual-religioso), e de outro, a convicção desnuda de introspecção crítica, já intrínseca em 99,9% de todas as comunidades, e indivíduos da ordem. Em suma, muito é falado e divulgado, mas pouco, ou quase nada, é avaliado, para ser validado, e, subsequentemente, aprovado. A reflexão, quase sempre, é marginalizada, e quando promove a exposição de dificuldades e incoerências, totalmente tolhida. Aí, por isso, que se continua a divulgação de mensagens judaicas, caracterizadas forçadamente brasileiras, "muito parecidas", de "fato". E da mente de autores de datas passadas, como atuais, como se fossem para o aqui, agora, hoje. Se não possuíssem caráter religioso, até se concordaria. Pessoas do passado falam hodiernamente, com suas ideias brilhantes. Mas, honestamente, o intuito que se vê é outro, e a proposta que se nota mais abrangente. Dessa forma, a única solução seria abordar criticamente tudo, e se abrir para mudanças e possíveis melhoras, a fim de se removerem tais aberrações do "grátis mercado" das Socials Networking.


André Francisco

terça-feira, 12 de junho de 2012

Do Dia dos Namorados

"Dia dos namorados" é uma data comemorativa, amplamente divulgada ocidentalmente, que possui raízes históricas bem interessantes. Sua inclusão, quase sagrada, se deriva dos fatos inusitados acontecidos na vida do bispo Valentim, mártir do terceiro século da era cristã, símbolo do amor romântico (fomentado pela Idade Média), e promotor dedicado da luta contra o tolhimento das relações amorosas proposto pelo imperador Cláudio II. Celebrado, normalmente, no dia 14 de Fevereiro em outros países, ainda que não distantes, como exemplo, pelos portugueses e estadunidenses, relembra e salienta o vínculo de paixão e carinho existente entre um casal, ainda que, cristianamente falando, mais evangelicamente, não possuem laços consideravelmente perpétuos, e sim, temporários, mas com o saliente desejo de se alongar. Mudado para o dia 12 de Junho, especificamente no Brasil, através das ideias de João Dória, comerciante paulista, que, como um método de aumentar as vendas nesse referido mês, nos comércios paulistas, fez sua primeira propaganda em 1949, associando aquela data com essa. Pegou! Hoje, a terceira maior data comemorativa para o comércio brasileiro, perdendo apenas para o Natal e Dia das Mães. Recado: aproveitem esse dia, relembrem os momentos mais significativos do relacionamento, e fomente-o para ser prolongado por datas subsequentes!
André Francisco

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Como assim música do mundo? Parte 1



1. Muito falado na comunidade cristã, principalmente em se tratando de ambientes marcados histórico-socialmente pelo “movimento pentecostal” clássico ou tardio, é que existem coisas que são próprias do “mundo”: profanas, marginais, impuras; e outras da igreja: sagradas, santas, separadas e abençoadas. Em um sentido espacial e ideológico, obviamente que essas diferenças existem (não da forma como é vista). Ou seja, um grupo que se reúne e assume características bastante semelhantes, de pensar, falar, entender, discutir, logicamente adquire identidade própria e se vê como um entre muitos. Assim, acaba determinando o que seriam coisas boas, aquelas que são tidas boas em seu espaço comunitário, ou más, aquelas tidas más em seu espaço comunitário. 

2. Pois bem, no que se refere ao tema "música", existem muitos piolhos andando na cabeça de muita gente. Pode-se ouvir ou não músicas que sejam do "mundo"? Primeiramente, tem-se de entender o que seria "mundo" na mente de uma comunidade marcada pelo anti-intelectualismo e dualismo gnóstico-pentecostal. Pensa-se que "mundo" são todas as coisas que não são cristãs ou, mais especificamente, evangélicas, ou, ainda mais especificamente, pentecostais, ou, (mesmo advérbio referido duas vezes), parte da cultura comunitária espacial. Então, aquilo que não faz parte do comum-comunitário, do feijão com arroz litúrgico-tradicional, tende a ser visto com estranheza. 

3. Nessas comunidades só se cantam músicas, ou usando as gírias do "evangelicales", hinos sacros, que possuem letras, de enaltecimento a Deus, ou de puxa-saquismo dos fiéis. Essas últimas (atualmente mais necessárias, para que haja comoção e bem-estar), daquelas do tipo "você é", "você pode", com bastante utilização do termo "vitória" (usado, pelo menos, 75% do tempo de qualquer reunião). Tá, em um primeiro momento, percebe-se que a cultura comunitária estabelece, de antemão, aquilo que quer que seja considerado correto e digno de uso para o cotidiano intra ou extraeclesial. Normalmente, após essa reflexão intraeclesiástica, que visa à consolidação da identidade, ser feita, por meio da utilização de todos os recursos disponíveis, e principalmente dos textos da Bíblia Hebraica e dos neotestamentários, fundamenta-se o que pode e não pode ser ouvido (aqui o assunto precisa ser mantido nessa temática, senão, a abordagem vai ser muito longa). 

4. O tipo de música cantada dentro das comunidades tem esses dois vieses citados, vertical e horizontal, e necessariamente precisa derivar de um cantor supostamente evangélico (cristão confesso não serve, pois músicas de padres que possuem letras sobre Deus, Jesus, e Bíblia, não são benquistas) para que se torne aceitável, e passe pelo conselho de censura e medição de espiritualidade, normalmente composto por anciãos bastante encharcados de tradição, que possuem um termômetro supra-humano, regido por suas matizes culturais e saudosistas.

5. Ok! Isso cheira, pra quem não conhece, os primórdios da religião de Paulo e de João, e dos outros conhecidos expositores do cristianismo-templo-estrutura. Uma leitura simples do evangelho, nominado joanino, por exemplo, já mostra a tendência do dualismo, combatente em um primeiro momento ao insistente gnosticismo. Luz e trevas, água e fogo, vento e brisa, inferno e céu, absolvição e condenação, crer não crer, justiça ou não justiça, etc., são temas comuns a esse evangelho referido anteriormente, que injeta linguagem dualística no Cristo da fé e até mesmo na boca de profetas declaradamente possuidores de uma mensagem à semelhança veterotestamentário (João Batista e suas abordagens teológicas sobre o Filho (Jo 3.27-33)). 

6. Então, saindo dos primeiros séculos e indo até o início do movimento pentecostal (considerado aqui, aquele do século 20 nos "States"), vê-se a novidade da mensagem, nascente em um meio conturbado, mas capaz de fazer separação de tudo e de todos. Os santos pra cá, os impuros pra lá, os "igreja" cá, os "mundo" acolá (e até fizeram entre brancos e negros, sendo que, por alguns extremistas racistas, a mesma primícia se mantinha). Essa ideia veio ao Brasil, embarcada em navios que se direcionavam às latinas Américas  e posteriormente foi reforçada pelos caciques nordestinos, que sempre foram os mandachuvas das primeiras denominações "pentecostais", no país. No entanto, nunca se parou para analisar o que seriam essas músicas do "mundo", e por que tamanho tolhimento aos seus dizeres supostamente "maléficos". 

7. Se o motivo da oposição é porque, em muitas delas, não existe referência ao nome de Deus, estranheza tem, haja vista que em dois livros da Bíblia não há citação nenhuma de Yaveh, Elohim, ou qualquer outro nome da deity, sendo que, um deles, é um Cântico, ou seja, várias músicas. Aliás, já que foi citado, o livro de Cânticos dos Cânticos é considerado sagrado, santo, digno de ser símbolo do Cristo e sua igreja, porém, qualquer um que saiba ler português, ou, se quiser, alguns termos no hebraico, percebe o caráter pornográfico e sensual de suas afirmações. "Péra" lá, pornográfico? Sim. Não pejorativamente, mas no seu gênero textual, poético, porém, sensual. Então, lê-se esse livro nas reuniões, e não se pode escutar a cantora Adele lamentar a perda de seu amado em  Someone like you? Ou a Maria Gadú soando a Bela Flor

8. A partir de uma  simples observação, percebe-se que são as pessoas que sacralizam ou não um objeto, pois, se fossem cantadas músicas, atualmente, dentro de grande parte das comunidades evangélicas, no mesmo linguajar utilizado nos Cânticos dos Cânticos, no mínimo, haveria a certeza do desvio do indivíduo cantor. Contudo, se são as pessoas que atribuem pureza e maldade às coisas, por que porquê se insiste na atribuição de impureza a tudo que não carrega a "etérea" marca evangélica? Parece ser por causa do perfil de reduzir tudo pra si, fomentado dia a dia em mensagens efêmeras nos templos judeu-persa-romano-evangélicos (leia "Cristianismo Pagão" de Frank Viola) de igrejas, pelo Brasil afora.

André Francisco












Aprendendo com os Ameríndios - Parte 1



Nesses aprox. 100.000 anos de homo sapiens (com essa estrutura corporal que temos hoje) a humanidade passou por inúmeras transformações epistemológicas, ontológicas e metafísicas. Temos um grande avanço, com a invenção da linguagem comunicativa escrita há aproximadamente 7.000 anos, onde podemos registrar nossos pensamentos a respeito dos diversos assuntos. A invenção do pensamento sociológico, como ciência, é recente (durkheim e weber), contudo, suas manifestações e seus acontecimentos, como um fenômeno, se dá desde que o homem é homem e as estruturas sociais se manifestam.

Com isso, posso afirmar que nós, homens, pertencentes ao mundo pós – moderno (alguns definiriam como modernidade tardia, outros como apenas modernidade), que temos o des – foco da verdade (idade média – Deus, modernidade – Ciência, Pós – modernidade - ?), e uma enorme frustração com as estruturas sociais vigentes, poderíamos, de vez em quando, olhar a história nestes milhares de anos (100.000) e buscar uma luz para nossos problemas. Nada melhor que projetar (ou tentar) o futuro, olhando para o passado, pois é de lá que olhamos nossos erros, nossos acertos e refletimos a respeito de nossas possibilidades.

Os ameríndios (povos indígenas americanos) foram um desses marcos do passado que contribuíram na história, com uma ecosofia interessante e que podemos retirar lições esquecidas ou pouco lembradas. Como esse texto não passa de uma análise, não pretendo aqui propor uma “receita de bolo” para nossos problemas, mas mostrar que nem sempre fomos assim (emergidos no caos) e que talvez haja uma esperança de mudança em nossos sistemas de vida.

Quero lhes mostrar a perspectiva de um pequeno povo, em sua vivência da realidade e de sua cultura ancestral, se estabelecendo como um contraponto fundamental em relação à forma de vida que implica a todos nós.

Ensina-nos Rudolf Bultmann que o pensamento mitológico concebe a ação de Deus na natureza, na história, no destino humano ou na vida interior da alma. Intervém no curso dos acontecimentos: rompe, e ao mesmo tempo enlaça os acontecimentos. A ideia da ação de Deus como ação no mundo tem lugar no pensamento ameríndio - no caso o guarani - como acontecimento que une o sobrenatural e o mundano, de tal modo que não há separação entre eles. Há uma totalidade. E esse acontecimento só é percebido pela implicação da ação humana nele. Eles mesmos, como homens, são sujeitos da ação da divindade. A relação não seria sujeito-objeto, mas sujeito-sujeito. É uma relação de liberdade, de confiança que se sente e sabe nessa relação.

O pesquisador Chamorro, ao pesquisar o Avatikyry, a festa religiosa guarani que acontece todos os anos quando o milho começa a amadurecer, registra a fala do cacique Lauro, que explica a razão pela qual eles entoam o canto sagrado nessa ocasião:

Quando cantamos o “heee he he” (canto sagrado) - Nanderára recebe a palavra que lhe enviamos. Ele diz: Bom filho de Deus. Isto acontece no céu, mas nós nos damos conta que Deus nos está chamando. (...) reconhecemos que Deus já está adornando o corpo de itymbi, que é criatura e é Deus ao mesmo tempo. E ele com sua dança faz brotar e crescer o milho até amadurecer. A gente não vê isso, mas nós cremos que está ocorrendo.

Tal pensar não é apenas simbólico, mas concepção que afirma as ações de Deus como ações em relação existencial com o mundano, sua ação é sobre todos os entes.

Na prática os indígenas não separam o que costumamos separar. Nesse sentido a sua religiosidade condensa e sintetiza de uma forma fascinante a indissolubilidade entre o homem e o cosmo, a individualidade e a coletividade, a arte e a vida, a ética e o estético.

O filosófo Guattari (1989) de certo modo reafirma o fundamento desse modo de vida ao dizer que se tornou imprescindível a construção de uma nova ecosofia, conceito que articula as três ecologias: a mental, a social e a ambiental. Ou seja, as relações consigo mesmo, seu corpo, os mistérios da mente, emoções, sensações; relações com os outros , desde as relações geradas na família passando pelo bairro, cidades até aquela que se estabelece entre nações e povos; relações dos seres humanos com a natureza, passando pelas relações espirituais expressas pela religiosidade, até às ações motivadas pela necessidade de sobrevivência.

Singular e assombroso o destino de um povo como os Guarani!
Marginalizados e periféricos, nos obrigam a pensar sem fronteiras.
Tidos como parcialidades, desafiam a totalidade do sistema.
Reduzidos, reclamam cada dia espaços de liberdade sem limites.
Pequenos, exigem ser pensados com grandeza.
São aqueles primitivos cujo centro de gravitação já está no futuro.
Minorias, que estão presentes
Na maior parte do mundo.

Bartolome Meliá

Situações como estas nos chamam a reexaminar, a repensar questões que sempre foram o fundamento de uma civilização em construção como aquelas... e como a nossa: O que significa ser um ser humano ? o que entendemos por real e realidade? Definiu-se o homem primeiramente pelas necessidades, a começar pelas necessidades econômicas. Ora, obviamente que a definição de homem é ideológica e simetricamente a ela desenvolve-se a ideologia econômica moderna. Sendo o homem definido como ser de necessidades, o problema maior é o da satisfação das necessidades que se desdobram como necessidades artificiais, desenvolvendo nele a “obsessão do bem-estar”. E isso está relacionado ao que perguntávamos em nossas aulas de filosofia: O ter é um mal em si ou pode vir-a-ser? Tal indagação nos leva a pensar como nos comportar frente a um mercado que desenvolve a cada dia estratégias mais agressivas para nos enredar cada vez mais no desejo de posse. Querer ter mais não é tão inocente quanto parece a alguns, é uma das armadilhas da existência levada às últimas conseqüências pela civilização ocidental.

Os bárbaros não são, como alguns de meus inocentes alunos às vezes pensam, os povos com tecnologias primitivas. Bárbaros são povos sem sentido regressivo do passado, os erros do passado, as loucuras do passado, que estão aptos a atacar as potencialidades do presente com menos inibições. Portanto, o que caracteriza o barbarismo é uma ausência de memória histórica”.

Philip Rieff

Obs. Primeira Parte de um Todo, Semana que vem Postarei a Segunda Parte.

Referência Bibliográfica
SCHUBERT, Arlete pinheiro – A sabedoria Ameríndia – Uma antiga Ecosofia

Por Rodrigo de Barros Mascarenhas


terça-feira, 5 de junho de 2012

"Mim" não faz, quem faz sou Eu

É sempre bom prestar bastante atenção no que se fala e no que se escreve. A comunicação, por intermédio da língua, falada ou escrita, é um veículo poderoso. Retrata os sentimentos, as emoções mais profundas, o conhecimento mais brilhante, a lógica, os quais dão sentido à existência social humana. O que seria dos homens sem a comunicação, sem poder compartilhar tudo o que sabem e o que gostariam de saber, com outros da mesma espécie, ou não. Portanto, deve-se haver muito zelo quando se quer expor o "ser", figurar o "hei", por meio de linguagem, destacando que isso se assemelha às mais belas artes. Cotidianamente, vê-se muitos erros de concordância verbal, nominal, na utilização da crase, que é a fusão de duas vogais da mesma natureza, assinalada com o acento grave, no uso de vírgulas, e todos os outros pontos, como também de acentuação. Também se vê os gerundismos, principalmente na linguagem falada, onde o verbo no infinitivo é trocado por uma locução verbal do tipo: "vamos estar falando sobre...", em vez de "vamos falar sobre", ou, o verbo no futuro do presente é trocado por uma locução, do tipo: "estarei indo daqui a pouco", ao invés de "irei daqui a pouco". Com certeza, ninguém é perfeito ao falar ou ao escrever em uma língua, ainda que nativa. Todos cometem erros, os mais normais possíveis. Contudo, o que deve ser observado são os exageros, os quais, quase sempre, vêm acompanhados de certa preguiça, ou falta de atenção, por parte daqueles que os cometem. Vejamos certos casos:

Em linguagem escrita, um dos maiores erros está na utilização da crase. 

Não se usa acento crase antes de verbos: Por exemplo:
A festa vai começar à partir das oito horas. Errado- partir é verbo no infinitivo, portanto, não aceita crase. 

Não se usa  crase antes de palavras masculinas: Por exemplo:
Vou fazer uma oração à Deus. Errado: Deus é um substantivo nominal masculino, não aceita crase. 

Não se usa crase antes de pronome, em geral: Por exemplo:
Falei isso à ela. Errado, pois, se se troca o pronome feminino "ela", pelo masculino "ele", não se terá a seguinte expressão: Falei isso ao ele. Considerando que a crase é a junção de duas vogais "a", representada pelo acento grave, quando a palavra requer uma preposição, logo após o artigo feminino, se o sinônimo requerer masculino, não se usa crase quando feminino. Ou:
Eu me referi à esta menina. Errado. Pois, "este" não existe a preposição "o" depois do artigo "a", formando "ao", no caso masculino. 

Não se usa crase antes de palavras repetidas: Por exemplo:
Falei cara à cara com ele. Errado.
Vou te mostrar como se fazer passo à passo. Errado. 

Pois bem, este texto não possui características claramente identificáveis de um especialista da língua portuguesa, muito menos tenta se equiparar aos conselhos gramaticais de um Bechara da vida, seria uma piada, mas algumas coisas podem ser ditas, e até mesmo servirem para a instrução de seus leitores. Ah! Destacando, mim não faz, quem faz sou eu. É muito comum se ver a utilização das formas oblíquas tônicas do pronomes pessoais erradamente. Esses que deveriam ser usados regidos por preposição, às vezes não são bem postos. Por exemplo:
Muito comum é a utilização de pronome oblíquo tônico antes de um verbo no infinitivo:
Hoje não tem nada pra mim fazer. 
Tantas vezes você disse pra mim parar. 

No entanto, fácil de se notar é que mim não faz, mim não canta, mim não come, quem faz tudo isso sou eu. O pronome, na primeira pessoa do singular, a ser utilizado antes de verbo no infinitivo, é o do caso reto, eu. Ater-se a esses mínimos detalhes da língua é dar mais cor à obra de arte do falar, e do escrever. Assim, conclui-se que sempre é bom prestar atenção no falar e no escrever, pois é proveitoso tanto aos que ouvem quanto aos que leem. Subjetivamente, também, tem seus inúmeros pontos positivos.

André Francisco








segunda-feira, 4 de junho de 2012

Meu inferno mais íntimo


LUIZ FELIPE PONDÉ

Enfrentar-se a si mesmo e ainda assim assumir-se é atravessar um inferno de silêncio e solidão


Um jovem rabino, angustiado com o destino da sua alma, conversava com seu mestre, mais velho e mais sábio, em algum lugar do Leste Europeu entre os séculos 18 e 19.
Pergunta o mais jovem: "O senhor não teme que quando morrer será indagado por Deus do porquê de não ter conseguido ser um Moisés ou um Elias? Eu sempre temo esse dia".

O mestre teria respondido algo assim: "Quando eu morrer e estiver na presença de Deus, não temo
que Ele me pergunte pela razão de não ter conseguido ser um Moisés ou um Elias, temo que Ele me pergunte pela razão de eu não ter conseguido ser eu mesmo".

Trata-se de um dos milhares de contos hassídicos, contos esses que compõem a sabedoria do hassidismo, cultura mística judaica que nasce, "oficialmente", com o Rabi Baal Shem Tov, que teria nascido por volta de 1700 na Polônia.

A palavra "hassidismo" é muito próxima do conceito de "Hesed", piedade ou misericórdia, que descreve um dos traços do Altíssimo, Adonai ("Senhor", termo usado para se referir a Deus no judaísmo), o Deus israelita (que, aliás, é o mesmo que "encarnou" em Jesus, para os cristãos).
Hassídicos eram conhecidos como "bêbados de Deus", enlouquecidos pela piedade divina (e pela vodca que bebiam em grandes quantidades para brindar a vida...) que escorre dos céus para aqueles que a veem.

São muitas as angústias de quem acredita haver um encontro com Deus após a morte. Mas ninguém precisa acreditar em Deus ou num encontro como esse para entender a força de uma narrativa como esta: o primeiro encontro, em nossa vida, que pode vir a ser terrível, é consigo mesmo. Claro que se Deus existe, isso assume dimensões abissais.

Para além do fato óbvio de que o conto fala do medo de não estarmos à altura da vontade de Deus, ele também fala do medo de não sermos seres morais e justos, como Moisés e Elias, exemplos de dois grandes "heróis" da Bíblia hebraica. Ser como Moisés e Elias significa termos um parâmetro moral exterior a nós mesmos que serviria como "régua".

A resposta do sábio ancião ao jovem muda o eixo da indagação: Deus não está preocupado se você consegue seguir parâmetros morais exteriores, Deus está preocupado se você consegue ser você mesmo.
Não se trata de pensar em bobagens do tipo "Deus quer que você seja feliz sendo você mesmo" como pensaria o "modo brega autoestima de ser", essa praga contemporânea. Trata-se de dizer que ser
você mesmo é muito mais difícil do que seguir padrões exteriores porque nosso "eu" ou nossa "alma" é nosso maior desafio.

Enfrentar-se a si mesmo, reconhecer suas mazelas, suas inseguranças e ainda assim assumir-se é atravessar um inferno de silêncio e solidão. Ninguém pode fazer isso por você, é mais fácil copiar modelos heroicos, por isso o sábio diz que Deus não quer cópias de Moisés e Elias, mas pessoas que O enfrentem cara a cara sendo quem são.

Podemos imaginar Deus perguntando a você se teve coragem de ser você mesmo nos piores momentos em que ser você mesmo seria aterrorizante. Aí está o cerne da "moral da história" neste conto.
Noutro conto, um justo que morre, chegando ao céu, ouve ruídos horrorosos vindo de uma sala fechada. Perguntando a Deus de onde vem aquele som ensurdecedor, Deus diz a ele que vá em frente e abra a porta do lugar de onde vem a gritaria. Pergunta o justo a Deus que lugar seria aquele. Deus responde: "O inferno". Ao abrir a porta, o justo ouve o que aqueles infelizes gritavam: "Eu, eu, eu...".

Ao contrário do que dizia o velho Sartre, o inferno não são os outros, mas sim nós mesmos. Numa época como a nossa, obcecada por essa bobagem chamada autoestima, ocupada em fazer todo mundo se achar lindo e maravilhoso, a tendência do inferno é ficar superlotado, cheio de mentirosos praticantes do "marketing do eu".

Casas, escritórios, academias de ginásticas, igrejas, salas de aula, todos tomados pelo ruído ensurdecedor do inferno que habita cada um de nós. O escritor católico George Bernanos (século 20) dizia que o maior obstáculo à esperança é nossa própria alma. Quem ainda não sabe disso, não sabe de nada.

ponde.folha@uol.com.br

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