Bem-vindos!

DIÁLOGO ABERTO, O ORIGINAL, é um espaço interativo cuja finalidade é a discussão. A partir de abordagens relacionadas a muitos temas diversos, dos mais complexos aos mais práticos, entre teologia, filosofia, política, economia, direito, dia a dia, entretenimento, etc; propõe um novo modo de análise e argumentação sobre inúmeras convenções atuais, e isso, em uma esfera religiosa, humana, geral. Fazendo uso de linguagem acessível, visa à promoção e à saliência de debates e exposições provocadoras, a afim de gerar ou despertar, em o leitor, um espírito crítico e questionador.

Welcome! Bienvenidos! ברוך הבא

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Com Ideias, Sem Amigos

1. Conversando nesse final de semana com meu pai, pastor e ex-pastor. Ex-pastor de uma denominação na qual passou 40 anos de sua vida e Pastor de uma nova denominação, há aproximadamente 3 anos. Ele me disse que um dos maiores problemas que sofria era a perda dos seus amigos e contatos que construiu durante toda sua vida, somente por ter saído de sua denominação, por simples razões teológicas e ideológicas (não abandonou a fé, ou a crença cristã).

2. Eu, Rodrigo, perdi alguns amigos importantes na minha vida, depois que mudei minha maneira de pensar a respeito da tradição religiosa, deixando, consequentemente, de frequentar o templo evangélico. Penso que "senti na pele", em proporções menores, o que meu pai passou, anteriormente, por apenas ter trocado de denominação. No caso, eu sou jovem, e, como diria Renato Russo, "tenho todo tempo do mundo" para refazer minhas amizades e tocar a vida, porém, no caso do meu pai, são lacunas irreparáveis.

3. Analisando essa situação, só posso concluir que a religião não é um lugar tão belo, amistoso e lindo, como muitos dizem nas mensagens do culto de domingo. Se você não está disposto a concordar com tudo o que é pregado, e a aceitar, como um verdadeiro discípulo denominacional, existem grandes probabilidades que você seja uma pessoa excluída, rechaçada, olhada com maus olhos, e que as pessoas tenham medo de você e de suas ideias, e, em certos casos, até fomentem uma perseguição recheada de boatos, fofocas, calunias e ideologias contra você.

4. É claro que existem meios de se falar que são totalmente o inverso daquilo que disse, com um discurso apologético (de defesa) e belas e bonitas palavras esperançosas do vocabulário bíblico, mas seriam apenas em Tese. Na realidade, o que se percebe, de fato, é a lobotomização de fiéis, que supostamente serão bem sucedidos divinamente, se receberem e reproduzirem o conhecimento de seus líderes. No entanto, caso contrário, liga-se o botão do "PERIGO: HEREGE NA ÁREA" e perdem-se os amigos, a vida e até, em alguns casos, "a possibilidade da salvação" -segundo os lobotomizados (não entrarei no mérito da discussão teológica).

5. Deixo que os teólogos amantes da igreja e os crentes que são politicamente amantes do próximo se rebatam e digam o que quiserem, mas, na verdade, se você nunca experimentou pensar, refletir, teologizar diferentemente do seu meio denominacional e compartilhar isso com os líderes e os fiéis, só posso lhe afirmar que ainda não tem noção do que eu quis dizer e  que não sabe a dor de se perder grande parte de sua história, por causa do "manifesto fundamentalista", que lhe rouba os diálogos, os amigos, o caráter, o pudor e sua honra, apenas por causa da sua transferência de lobotomizado para um ente pensante.

6. A igreja não está preparada para lidar com pensadores, mas sim, com seguidores, salvo as exceções.

7. Enquanto isso, a vida segue, independentemente do que digam. E outra, acredito que ainda "temos todo o tempo do mundo", conforme Renato Russo. Espero que assim seja também para o meu pai.

Rodrigo Mascarenhas

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Salve Jorge, Ogum, o Facebook, e Edir Macedo!



1. Desde sexta-feira, circulam na internet, principalmente nas redes sociais, postagens de protesto dos evangélicos, caracterizados pela intolerância religiosa e ideológica, contra a novela global de Glória Perez, "Salve Jorge". Sob a argumentação de que a novela pode trazer uma suposta "maldição", quando assistida. Destacando o fato de que a maioria dos protestos vem do site "exercitouniversal.com.br", formado por fiéis da Universal. O próprio líder da igreja evangélica, o bispo Edir Macedo, faz campanha em seu blog contra a nova novela da Globo. Publicou recentemente um artigo, com o seguinte título: "São Jorge ou Davi, a quem você vai assistir?", referindo-se à minissérie de sua rede de televisão, Record. 

2. Isso, ao meu ver, não passa, de novo, de uma artimanha projetada por Macedo, a fim de atrair ibope das camadas evangélicas- normalmente, acríticas e partidárias- para seu canal. Pergunto: será que ele realmente se interessa em manter a hipotética pureza e moralidade da identidade evangélica em todos os programas que são feitos pela rede Record? Tudo bem, se me disserem que sim, penso que há alguma falta de memória ou amnésia completa por parte de quem fala, ou pura falta de vergonha na cara, e ultra-partidarismo fideísta, mesmo. "A Fazenda", por exemplo, onde mulheres, semi ou nuas completamente, aparecem todos os dias, com suas curvas salientemente sensuais expostas, participando de "orgias" em festas de todos os tipos, onde a bebida e a sensualidade estão estampadamente claras, não é um programa que, se fosse mantida a mesma especulação de Macedo, não deveria fazer parte da  grade de programação de um canal controlado por uma igreja? 

3. Isso mesmo, sem tirar nem pôr. Quem controla grande parte da Rede Record de Televisão é a igreja Universal. Então, todos os programas que passam por lá têm sua censura intermediada pelo chefe, ou cúpula do sistema todo, nada mais lógico! Nesse caso, Macedo nunca se referiu à cópia que fez do B.B.B, da Globo, como um programa "ilícito" aos olhos dos religiosos e da Bíblia, por quê? Porque ele quer ibope, e tem muito evangélico que adora ver as curvas das torneadas que aparecem no reality, e ele sabe disso. Por causa disso, todo ano, "A Fazenda" tem sido um sucesso, disputando a audiência de televisores de crentes ou não em todo o país, e cadê o Macedo falando alguma coisa a respeito desse comportamento "cristão" dos peões? 

4. Pois bem, de volta ao caso da novela Global e as críticas da igreja. 

5. Muitos evangélicos estão postando no Facebook, dizendo que a novela trará maldição, devido a relação que tem com um certo ogum do candomblé ou umbanda brasileiros, ao ser assistida. Por isso, planejam um boicote na audiência, divulgando mensagens de alerta aos seus seguidores, para que não "contribuam" com o sucesso dessa espiritualidade "maléfica" das religiões afro-brasileiras. Essa, certamente, é uma leitura preconceituosa, marginalizante, que grande parte dessa massa tem com respeito à cultura afro-brasileira.

6. É mania dos  evangélicos considerar a religião alheia como diabólica, perniciosa, altamente maléfica. Obviamente que se trata de um mecanismo de defesa, uma forma de se proteger a doutrina, e colocá-la intacta nas nuvens do não cotejo ecumênico. Com relação aos movimentos derivados da cultura africana, o empenho em assemelhá-las ao que há de pior na doutrina cristã é redobrado. Demônios é pouco para tais definições. Isso tem seu contexto histórico, a descriminação que sempre houve em terras brasileiras, com relação aos povos da África e suas culturas religiosas. Escravos, pobres, e negros, uma massa só, vinda para a pátria amada em cabrestos, navios de puro ódio e exploração, onde não podiam ao menos esboçar suas crenças e mitos próprios.

7. A escravatura acabou, foi erradicada, contudo, o preconceito aos elementos que pertenciam ao povo escravizado perdurou. Infelizmente, coisas que se conectem, de alguma forma, ao povos do continente negro, são tidas como "negras", pejorativamente. E não somente por causa do aspecto preconceituoso, no entanto, devido à intolerância religiosa também, tão característica dos movimentos individualistas da fé. No caso da novela, já fizeram a conexão entre São Jorge, e o orixá representado por ele, Ogum, no sincretismo católico-africano. Se fosse só o católico, poderia até passar, mas como é Ogum, é visto como mais "maligno".

8. No caso da intolerância, temos um exemplo básico. Na mentalidade evangélica, o espírita, o umbandista, o católico, o budista, o hindu, o muçulmano, o kardecista, o zoroastriano  o animista, o taioísta, o xintoísta, o judeu, o mitraísta, o quimbandista, entre outros, podem fazer o papel de um safado, pilantra, mentiroso, assassino, falso, sensual, mal-humorado, vexaminoso, invejoso, pérfido, etc, no caso de uma novela, que tudo estará certo, nos seus devidos "lugares". Agora, ai do autor se  ilustrar uma personagem evangélica, com 0,1% desses adjetivos citados anteriormente. É caso para, no mesmo momento, milhares de postagens serem divulgadas, esculhambando, desde o porteiro até ao dono da emissora responsável, anunciando que isso não se faz, ou melhor, não se pode fazer. 

9. Lembro-me da máxima: "façam aos outros, apenas, aquilo que vocês querem que eles lhes façam. Ora, criticam, dizem ser do demônio, tentam transformar, doutrinar, mudar, converter, readaptar, reintegrar, refazer, reconstruir, qualquer indivíduo que pense diferentemente deles, mas, simultaneamente, não aceitam nenhum tipo de oposição, fazem-se intocáveis. Se não aceitam, não façam, simples assim. Todos são livres para expressar suas crenças. 

10. Em se tratando da hipotética maldição, não me cabe falar... Não perderia meu tempo, mesmo...

11. "Brasil, um país de todos", máxima do governo federal. "Brasil, um país de todos os seguimentos religiosos", máxima atípica intraeclesiasticamente. 

André Francisco

sábado, 20 de outubro de 2012

Raquel usou(ava) drogas, Gênesis 30.14-16

Mandrágora (quase em forma humana, um dos fatores dos mitos afrodisíacos)


1. Em Gênesis 30. 14-16 ocorre um caso quase único na Bíblia Hebraica, excetuando-se um outro aparecimento, na mesma temática, em Cânticos 7.13-14. A atípica história, envolvendo Raquel, Lia e seu filho. E, também, outro pequeno elemento ainda mais importante da rápida trama, a mandrágora.

2. A mandrágora, cientificamente denominada Mandragora officinarum L., é um vegetal pertencente à família das Solanaceae. Conhecida na Idade Média como erva de bruxaria, rica em iosciamina, antropina e escopolamina- substâncias responsáveis por efeitos alucinógenos. Ela é famosa por supostamente apresentar algumas qualidades de natureza medicinal, tais como atributos afrodisíacos, alucinógenos, analgésicos e narcóticos. E seus atributos afrodisíacos, com certeza, eram conhecidos dos povos antigos, seja por experiência, a partir da experiência da utilização, ou por lenda.

3. No caso Bíblico, quando o filho de Lia voltou dos campos, portando mandrágoras, Raquel pediu-lhe: dai-me, eu as quero! Por dois motivos principais, o do suposto milagre afrodisíaco, amplamente divulgado; e o da real capacidade psicodélica (trip moderna), ou enteógena (santo daime). Com certeza, principalmente enteógena, haja vista os rituais de bruxaria e xamânicos que eram feitos a partir da utilização da conhecida "nam tar ira"- alteração de vocábulo assírio (droga masculina de Namtar), em grande parte do mundo antigo, destacadamente nas regiões onde a planta era cultivada com maior frequência (ver a diferença entre os alucinógenos psicodélicos, apenas, e os enteógenos). 

4. A troca foi "justa". Raquel disse a sua irmã: que Jacó durma contigo esta noite, em troca das mandrágoras de teu filho. Lia aceitou, Jacó também, e o acordo foi feito. Em troca de uma trip enteógena, Lia coabitou com seu esposo. Raquel, então, ficou com as mandrágoras, e, com certeza, "viajou" a noite toda, esperando que, no outro dia, pudesse ser uma mulher fértil.

André Francisco



quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Serafins: serpentes ardentes aladas!



1. A palavra hebraica serafim é plural da raiz saraf, que significa "abrasador, ardente". Saraf é encontrada diversas vezes na Bíblia Hebraica, traduzida como "serpente abrasadora". Casos específicos estão, principalmente, no livro de Isaías. 


2. No livro de Isaías existe diversas vezes a raiz, e uma vez é encontrada a palavra no plural. 14.29, por exemplo, usa-se saraf, que é traduzida como "serpente ardente". Recebe também o adjetivo (מְעֹופֵֽף) voador, qualificando essa serpente como voadora, ou seja, alada

3. Em 30.6 (וְשָׂרָ֣ף מְעֹופֵ֔), novamente, é citada a serpente abrasadora, ardente, que voa. A palavra saraf, traduzida como serpente, é muito comum em toda Bíblia Hebraica, somente em pontos teologicamente controlados que não. Pois, com certeza, causaria alguns problemas para a fé das pessoas, não é? Vamos ver. 

4. Por exemplo, o texto de Nm 21.6 (em que há o termo serafim, plural-  traduzido por serpentes abrasadoras, ardentes). Nm 21.8, a serpente ardente que Yaveh mandou construir, como seria uma, é o termo saraf, singular. 

5. Serafim recebe a tradução correta em Nm 21.6-8, no caso, "serpentes abrasadoras". Porém, em Isaías 6.2, onde o mesmo termo, sem tirar nem pôr, completamente igual, é usado (שְּׂרָפִ֔ים- Nm 21.6; שְׂרָפִ֨ים- Is 6.2), a palavra foi e continua sendo somente transliterada, não traduzida. Pergunto, por quê?

6. Respondo: porque, se não, haveria um problema teológico! Ora, aceitar, ao se traduzir, que existiam "serpentes abrasadoras", com asas, protegendo o templo de Yaveh, em Isaías 6.2, soa meio pagão, não é? Mas é justamente isso. Não só os hebreus, no entanto, muitos outros, digo muitos, mesmo, acreditavam que serpentes aladas protegiam os seus templos. Eram figuras de proteção, de segurança, de defesa. 

7. As "serpentes ardentes", serafim (שְּׂרָפִ֔ים), no caso de Isaías, tinham essa função. Elas perderam o posto para outro animal mitológico, posteriormente, depois do contato que os hebreus tiveram com a cultura assírica (kuribu), também babilônica (karibu). Os querubins  (כְּרֻבִ֗ים), assumiram esse posto. Lá em Gn 3.24 já tivera essa mudança. Não aparece protegendo a entrada do Éden serpente alguma,  no entanto, o querubim- monstro híbrido. 

Querubim em placa de marfim fenícia (século IX a.C.), encontrada no palácio de Tiglath-Pileser III (744-727 a.C.) em Hadatu, provavelmente obtida de saque a Damasco em 796 a.C. A peça parece ter pertencido originalmente ao rei Hazael de Aram-Damasco (848-805 a.C).


8. As "serpentes abrasadoras" perderam espaço no templo, sendo consideradas, ao longo do desenvolvimento religioso-cultural, abominações. Pode haver uma luz dessa mudança de posto, com relação aos animais protetores, em Ez 8.10: "E entrei, e olhei, e eis que toda a forma de répteis, e animais abomináveis, e de todos os ídolos da casa de Israel, estavam pintados na parede em todo o redor". É possível que seja uma referência direta às serafim (serpentes aladas de fogo) pintadas nas paredes secretas do templo. 



9. Interessante, não? Quando se vê aqueles quadrinhos medievais, com os serafins iguaizinhos aos europeus, com cabelos loiros e vestes branquinhas feito a neve, até de anjo a igreja lhes chama. Quando na realidade, são serpentes de fogo que voam. É por isso que não confio absolutamente em nenhuma tradução da Bíblia, são sempre tendenciosas, a favor da tradição. 
André Francisco

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Russomanno, religião, política e o cabresto (um deboche esquisito)



1. Quando se mistura política com religião, normalmente, faz-se a história se repetir, do jeito sombrio que ela já aconteceu, principalmente em se tratando de um ambiente Europeu, e outros também. Felizmente, não foi o caso da Prefeitura de São Paulo, não desta vez, pelo menos. 

2. Russomanno, do PRB- partido liderado pelo bispo Marcos Pereira, da Igreja Universal do Reino de Deus- não foi feliz em algumas declarações que fez, dele mesmo, como aquelas com base na ideologia de seu partido, com respeito à Igreja Católica Romana. E por isso, em um ponto de vista, perdeu grande parte do prestígio que havia alcançado nas pesquisas que, até então, tinham sido feitas (tendenciosas ou não, o caso não vem aqui).

3. Uma vitória para a laicidade!

4. É sabido que, inevitavelmente, não haverá chances de se frear o crescimento da massa evangélica no Brasil- isso mostra as estatísticas mais recentes- como também em quase nenhum outro lugar do globo. E a tendência é a "massificada evangelicalização" da pátria amada, dissipando outros seguimentos e culturas religiosas, em grande escala. E será muito mais comum, aos olhos dos cidadãos, ver líderes e mais líderes-sacerdotes querendo "bedelhar" em assuntos que não lhe pertencem, teoricamente, mas que lhes são intrínsecos, na prática- somente as pessoas mais fideístas é que não percebem. 

5. Hoje já se tem visto, em muitos lugares, como no caso de Russomanno em São Paulo, e da Igreja Universal do Reino de Deus, quando se propõe a desmoralizar outros seguimentos da fé cristã, principalmente o Romano. 

6. Interessante, não tão distante, foi a declaração do bispo Marcos Pereira em um de seus artigos, dizendo que “precisamos salvar o Brasil e torná-lo um país verdadeiramente laico, completamente livre da influência da religião”. Ora bolas, a campanha de Russomanno foi patrocinada com o dinheiro de quem, se teve quase que exclusivamente o apoio da igreja da fogueira santa? Da religião, só pode! Afirmar a necessidade de se transformar o Brasil em um país laico, porém, quase simultaneamente, fazer declarações desmoralizantes a outros seguintes religiosos existentes, é contra-argumentação, retórica comprometedora. Ainda mais quando se utiliza o dinheiro dos fiéis para tais fins. 

7. Eleger esse tipo de gente é reafirmar algo que historicamente já se sabe que não deu certo. Religião e estado, política, é tentar implantar uma teocracia, fundamentada em preceitos religiosos, quase que igualmente ao mundo muçulmano radical. O problema é que existem tantas igrejas e tantas interpretações do certo ou errado que, se for instalado um regime tal como o teocrático islâmico, não há sequer uma noção dos valores absolutos que serão utilizados como norma regente desse sistema. Não existe concordância nenhuma entre uma igreja a qual carrega um determinando nome e sua vizinha da frente. 

8. E como poderá haver concordância ideológica no governo, apenas pelo recebimento da nomenclatura: somos todos evangélicos? Não funciona dessa forma. É sempre necessário repetir, não existe um povo evangélico no Brasil, porém, vários povos, várias etnias, culturas, liturgias, formas, faces, etc. Agora, usar o argumento da unidade massificada para detonar a religião alheia, e fortalecer o cabresto do eleitorado da praça da igreja, é crime ou deveria ser. 

9. Russomanno perdeu voto, e consequentemente a eleição, por causa do cabresto com a religião, tipo escambo, a serviço do templo. 

André Francisco

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Jefté e o sacrifício de morte de sua filha



1. Já vi, muitas vezes, incontáveis vezes, pregadores querendo justificar o voto de Jefté, afirmando que ele entregou sua filha para ser virgem, a vida toda, como cumprimento da promessa feita a Yaveh

2. Tá, essa é a explicação dos pregadores, quando se propõem a tentar remover a mancha de sangue do texto, e da história desse personagem da Bíblia Hebraica, porém, não é o que pode ser mais claramente entendido.

3. Primeiramente, existia uma lei, explicitamente descrita em Levítico 27.28-29, que dava o aval necessário para qualquer israelita fazer sacrifícios humanos, quando consagrassem-nos a Yaveh, por interdito. Notem:

"Se um homem consagrar ao Senhor por interdito alguma coisa que lhe pertence, seja qual for esse objeto - uma pessoa, um animal ou um campo de seu patrimônio - ela não poderá ser vendida, nem resgatada: tudo o que é votado por interdito é coisa consagrada ao Senhor. Nenhuma pessoa votada ao interdito poderá ser resgatada: ela será morta". Lv 27.28-29


4. É interessante o tratamento do versículo, com respeito às pessoas. Chamando-as de objeto, colocando-as ao mesmo nível do valor dos animais e de um patrimônio qualquer. E o que deveria ser feito com essas pessoas/objetos, que fossem oferecidos como voto, está claramente estampado nos versículos vinte e oito e vinte nove, ou seja, deveriam ser matadas.

5. Jefté não fez nada mais que seguir essa lei, foi totalmente legal. Ofereceu sua filha em holocausto (palavra que não deve ser entendida diferentemente de um sacrifício de morte), a Yaveh.

6. Coitada de sua filha. Nem para coitar deu tempo. 

André Francisco

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Entrevista com Madihah, uma sobrevivente da chacina de Jericó- Parte 2


1. Esta é a segunda parte da entrevista com Madihah, uma sobrevivente da chacina realizada por Israel, liderada por Josué, a Jericó. Ela conta, condensadamente, algumas das principais coisas que ocorreram naquele dia, de muito choro e sofrimento. Leia, e tente perceber o sentido real dessas palavras, pois foi aquilo que esta pobre mulher vivenciou.


"Gritou, pois, o povo, tocando os sacerdotes as buzinas; e sucedeu que, ouvindo o povo o sonido da buzina, gritou o povo com grande brado; e o muro caiu abaixo, e o povo subiu à cidade, cada um em frente de si, e tomaram a cidade. E tudo o quanto havia na cidade destruíram completamente ao fio da espada, desde o homem até à mulher, desde a criança até aos idosos, e até ao boi e ao bezerro, e ao jumento". Josué 6.20-21



-[silêncio sepulcral por ininterruptos 3 minutos...]

-Madihah, toma um copo com água, far-te-á bem... Daí, continuaremos a entrevista. 

-Vou ficar bem, é que esta parte da história me causa espanto, sinto-me como se estivesse lá, naquele dia, naquele lugar... Lembro-me dos sons, penetrando minha mente, das muitas vozes que não me saem da cabeça, dos bastantes barulhos os quais não me abandonam, até quando me deito, eles estão aqui, comigo. As imagens parecem tão nítidas, tão vivas, mas carregam tanta sombra e tristeza. 

-Imagino, deve ser terrível para ti, não é uma situação confortável, não mesmo. Não desejo para ninguém, viver aquilo que tu viveste. 

-Mas quero continuar... Quando conto para alguém, aquilo que nos ocorreu naquele dia de sangue, sinto-me repartindo meu fardo, meu sofrimento, mesmo sabendo que não viverei o suficiente para exauri-lo. 

-Pois bem Madihah, fala-nos tudo o que o teu coração suportar dizer...

-Como disse, eu ouvi, no momento em que meu marido se virou, e nos confortou com suas palavras encorajadoras, um estrondo assustador, alarmando-nos mais, extremamente terrível. Tremeu-nos as paredes e os corações. Não conseguia entender, de fato, o que acontecia. Minha mente estava perturbada, estupefata, não havia espaço para o raciocínio mais lógico e simples possível. Como falei, não queria acreditar...

-Percebi que começaram a cair alguns pedacinhos de barro de nosso teto, e as madeiras que meu esposo colocara na porta se moviam. Foi quando abruptamente notei, com espanto ainda maior, que havia soldados israelitas em nossa porta, tentando derrubá-la, tentando removê-la de seu lugar, sem que lhes houvéssemos feito absolutamente nada. Bradavam que a terra era deles, gritavam a nossa porta: abram malditos cananeus, esmagaremos suas vísceras e anatematizaremos a Yaveh tudo o que lhes são possessões. 

-Meu esposo se lançou à porta, estendeu suas mãos, e objetivou reforçar a proteção das madeiras, com sua força e peso do corpo. Ele transpirava muito e, em todo momento, suplicava o favor de El Shaddai, nosso deus. No entanto, ele estava com medo, podia percebê-lo em seus olhos, enquanto virava rapidamente sua cabeça para nos olhar, passando sua mão na testa para remover as gotas do esforço pela nossa sobrevivência. Pobre de meu amado, lutou com todos os recursos que tinha, pela vida daqueles que mais amava [respiração lentamente acelerada, tórax visivelmente movimentado no enchimento pelo ar do lamento]. 

-Ele notou que as madeiras não suportariam, quebravam-se, a porta não fora criada para suportar tanta fúria alheia, virou-se com as pupilas sobressaltadas, e nos disse: haja o que houver, aconteça o que acontecer, sempre lhes amarei. Ao terminar suas palavras, comecei a chorar, não resisti a paixão daquele sofrimento, Amber e Leena já derramavam lágrimas de pavor há muito. Amber gritava desesperada, instintivamente sabia que algo não andava bem. Leena tremia seu corpo frágil de oito anos, eu sentia suas mãos suarem no meu vestido, e o calor medroso de seu hálito em meu rosto reclamando-me: mamãe, mamãe, estou com medo, mamãe, diga-me o que está acontecendo, mamãe...

-A senhora disse que Leena não sabia o que acontecia ainda, por quê? 

-Sim. Esqueci-me de mencionar que Leena era especial. Não enxergava a cor das rosas e o brilho das estrelas desde que nasceu.

-Isto quer dizer que Leena tinha dificuldades visuais? 

-Sim, isto mesmo. Justamente, por tal motivo, ela ficou o tempo todo agarrada ao meu vestido. Direcionava-se por mim, movia-se, de um lado para o outro, sempre dessa forma. Não tinha capacidade de ir e nem de vir sozinha. Eu e meu esposo cuidávamos dela, muito mesmo. Amávamos Leena,... [momento sensível, pranto acentuadamente crescente, soluço e aperto raivoso de um pano]. Era especial, sempre será a mim. 

-Estou chocado...Conta-me um pouco sobre Leena.

-Leena? Ah, o que posso dizer a respeito... Ela era tão linda [voz trêmula]... Cabelos onduladamente castanhos, olhos chorosos de ternura, vagantes à procura das vozes que seus ouvidos conseguiam escutar, doçura procedia deles. Seu rosto era sensível, bochechas discretamente rosadas, lábios afinados, como que feitos por mãos de El. Dentes incompletamente serenos. Seu sorriso, ah, seu sorriso era alegre, transmitia inocência e esperança. Pernas e braços finos de molecota [...] Não posso falar mais sobre ela, meu coração não aguentará se eu continuar. 

-Tudo bem Madihah, retoma o caso da invasão de seu domicílio, não quero que esta entrevista se transforme em uma acentuação de teu fardo...

-Está bem... Não me recordo onde parei.

-Quando teu marido tentava obstruir a invasão dos israelitas, e vos disse palavras confortadoras...

-Ah, sim. Então, depois que ele me disse: haja o que houver, aconteça o que acontecer, sempre lhes amarei, uma tocha altamente inflamada entrou por uma fissura que se abrira no alto da porta já enfraquecida. Ela voou, resvalou na seda central que deixávamos amarrada do alto do teto ao chão, o qual servia para enfeitar o espaço principal de nosso lar, e parou ao lado da tábua de utensílios de barro a qual estávamos. Com uma fumaça sufocante, cheia de panos amarrados a um caniço longo repleto de óleo. Meu esposo gritou: Madihah, saia daí, pegue as crianças e corra para o terreiro ao fundo. Eu, desesperada, com Amber e Leena para cuidar, não sabia o que fazer. A chama da tocha pegou em alguns panos que guardávamos por perto, e acendeu uma fogueira que já não podia mais ser detida, bem do nosso lado. Minha visão ficou opaca, fui me levantar, apoiando-me na tábua, com Amber na outra mão, e acabei virando os utensílios de barro no chão. Meu pecado, meu erro. Um deles caiu e se espatifou, voaram cacos e mais cacos por todos os lados. Leena teve suas pernas e pés arranhados, pelos estilhaços. 

-Ao me levantar, e ao mover-me para a porta dos fundos de casa, buscando sair correndo com as crianças, para tentar, de alguma forma, livrá-las daquela situação, ouvi a porta da frente sendo totalmente destruída pelas espadas desembainhadas que a batiam. Parei, e não nitidamente, por causa da fumaça, presenciei quatro soldados israelitas, chutando os pedaços de madeira que ainda restavam na parte de baixo, porém, um já conseguira ultrapassar o limite de proteção que nos restava. Meu marido, nesse momento, estava de frente com aquele soldado. Kalih não era guerreiro, era um simples agricultor, que cuidava de nossa vinha, a fim de garantir a sua família o pão do sustento cotidiano. Não era preparado para nenhuma batalha, ainda que não velho. 

-Nunca me esquecerei da cena que iria presenciar...

Continua...

André Francisco

Postagens populares