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DIÁLOGO ABERTO, O ORIGINAL, é um espaço interativo cuja finalidade é a discussão. A partir de abordagens relacionadas a muitos temas diversos, dos mais complexos aos mais práticos, entre teologia, filosofia, política, economia, direito, dia a dia, entretenimento, etc; propõe um novo modo de análise e argumentação sobre inúmeras convenções atuais, e isso, em uma esfera religiosa, humana, geral. Fazendo uso de linguagem acessível, visa à promoção e à saliência de debates e exposições provocadoras, a afim de gerar ou despertar, em o leitor, um espírito crítico e questionador.

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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

10 coisas inúteis para fazer antes que o mundo acabe dia 21



1. É amplamente certo que a humanidade não vai passar do dia 21, pelo menos para um bando de internautas loucos. E com um evento desse porte prestes a chegar, nada melhor do que planejar as últimas atividades em vida, ou em terra. Abaixo, segue-se uma lista dando ideias a respeito do que fazer antes que o mundo acabe. 


10– Diga à sua mulher que ela está gorda
Todo homem sabe que falar para a esposa ou namorada que ela está com uns quilinhos a mais é sentença de morte. Mas, se o fim está próximo, que mal tem antecipá-lo?


9- Comemore um gol na torcida adversária
Imagine você em um estádio, torcendo pelo seu time de coração, na torcida adversário, e, no momento que o seu time fizer um gol, você começar a gritar, pular, chorar de felicidade, e zoar todo mundo que estiver ao seu redor? Então, faça isso, não será tão ruim com o fim tão próximo. 

8- Torre todos os seus bens
Já que o mundo vai acabar, torre toda a sua grana, seus bens, suas propriedades, e tudo o mais que der pra torrar. 

7- Diga ao chefe tudo que pensa
Todos já tiveram vontade de mandar o chefe tomar….enfim. Esse é o momento de olhar nos olhos do safado e soltar os cachorros para cima dele. Não se esqueça de acrescentar um “ah…me demito” no final da frase, dá um ar cinematográfico.

6- Assista ao filme "A Lagoa Azul" pela última vez
99,9% dos brasileiros já assistimos ao filme "A lagoa Azul", na sessão da tarde da Globo. Já que o mundo vai acabar, por que não assisti-lo pela última vez? Só pra matar a saudade eterna que esse clássico deixará...

5- Encher a cara sem se preocupar com a ressaca
Depois de toda a bebedeira, vem a ressaca. Mas, aí, se o mundo acabará mesmo, nem dará tempo pra ela chegar. 

4- Converse com alguém que tenha mais de 90 anos por várias horas
Sabe aquele papo, desinteressado ao extremo, com alguém que tenha mais de 90 anos? Então, peça para essa pessoa contar como foi a sua adolescência, juventude e idade adulta, e finja que está prestando atenção. Será o seu último momento de tédio antes do mundo acabar.

3- Viva os últimos momentos como se fosse no GTA 
Quem já jogou GTA e nunca quis viver igualmente ao personagem principal do game? Pense... você poderia entrar nos carros sem pedir licença, abandoná-los uns dois quarterões  e depois entrar em outros. Pular do prédio mais alto da cidade e mesmo assim conseguir escapar com vida. Nadar o tanto que for e não ultrapassar o limite do mar... Então, uma boa opção.

2- Fale poucas e boas a todos que você sempre quis
Sabe aquelas pessoas desagradáveis, as quais todo mundo tem vontade de mandá-las para o inferno, pois bem, uma boa oportunidade de você fazer isso é nas vésperas do fim do mundo. Fale o que desejar, o que quiser e sua mente maquiavélica projetar, sem medo de ser processado. No Brasil, demora-se em média 15 anos para se resolver um processo desse tipo, logo, você pode ficar tranquilo. 

1 – Grand Finale
Após dizer que sua mulher está gorda, comemorar os gols do seu time na torcida adversária, torrar toda a sua grana, dizer o que pensa ao chefe, assistir à "Lagoa Azul" pela nonagésima vez, encher a cara sem dó, conversar com um idoso de 90 anos ou mais por milhares de horas seguidas, fazer tudo o que ilegal como se fosse no GTA, e falar tudo o que sua mente insana conseguir projetar aos seus menos queridos conhecidos, o principal que você tem de fazer é torcer para que, de fato, o mundo acabe dia 21, se não, o que acabou foi sua vida. :p



André Francisco

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O texto em que Deus se tornou Satã



1. Um texto interessante da Bíblia Hebraica está no livro de Números 22. Em dois casos principais que quero destacar aqui. 

2. O primeiro caso, referente à contradição existente entre duas narrativas distintas sobre a ordem dada por elohim a Balaão, a respeito de ir ou não ir juntamente com os príncipes de Moabe para um lugar planejado. Repare na discrepância da ordem em dois versículos destacados a seguir:


"Veio, pois, Deus (elohim) a Balaão, de noite, e disse-lhe: Se aqueles homens te vieram chamar, levanta-te, vai com eles; todavia, farás o que eu te disser". 

Números 22:20



3. Repare que no texto acima existe uma ordem de elohim a Balaão, dizendo que, se alguns homens de Moabe o viessem chamar, ele deveria ir com eles. 

4. Balaão obedeceu a ordem dada, levantou-se pela manhã, arrumou sua jumenta, e seguiu...


"Então Balaão levantou-se pela manhã, e albardou a sua jumenta, e foi com os príncipes de Moabe". 

Números 22:21



5. Pois bem, a partir do próximo versículo, muito provavelmente, houve uma mudança de autor, de um eloísta para outro javista que não concordava com a ideia tradicionalmente proposta anteriormente, sobre a obediência e conformismo de Deus. 

6. Assim, esse novo autor escreve de acordo com sua tradição, e afirma uma história claramente contraditória, repare:


"E a ira de Deus acendeu-se, porque ele se ia; e o anjo do SENHOR pôs-se-lhe no caminho por adversário; e ele ia caminhando, montado na sua jumenta, e dois de seus servos com ele".

Números 22:22-23



7. Pergunto: se foi Deus quem deu a ordem para Balaão seguir, por que ficou irado quando este simplesmente o obedeceu, a ponto de enviar um satã para obstaculizar seu caminho? 

8. Diria o evangélico sem informação e resposta: "é mistério de Deus". Digo eu, hipotético teólogo exegético: "é contradição de fontes". 

9. Certo. Primeiro problema exposto, vamos ao segundo...

10. Reparem que afirmei três parágrafos acima que Deus enviou um "satã" para obstaculizar Balaão. Conseguiu avistar o parágrafo? Então, tudo certo. 

11. E é justamente isso! No texto hebraico está escrito o seguinte: מַלְאַ֧ךְ יְהוָ֛ה בַּדֶּ֖רֶךְ לְשָׂטָ֣ן (mal'ach yehvah vaderach lo satan), que traduzido literalmente é: o anjo (mensageiro) de Yaveh foi um satã no caminho...

12. Com certeza, na sua Bíblia Almeida Revista e Corrigida está escrito "adversário" na tradução. Digo que está correta, pois satan (שָׂטָ֣ן), na Bíblia Hebraica, nunca foi outra coisa além de um substantivo genérico para se referir a um adversário, opositor, acusador, nunca especificamente a um ser pessoal. A pessoalização do termo só veio depois de muito tempo, quando os judeus queriam resolver o problema do mal, removendo-o da conta de Yaveh

13. Mas a questão é a seguinte. Inúmeras vezes é afirmado nos círculos evangélicos que o "anjo do SENHOR", ou "mal'ach yehvah", é o próprio Yaveh, Deus, em português. Pois então, nesse caso, Deus se tornou satã, pois se pôs no caminho de Balaão como um... Isso é o que há no texto hebraico. 

14. Agora, se quiser argumentar sobre as implicações teológicas desse fato, recomendo que se argumente de acordo com o texto, não de acordo com a tradição. Pois se for de acordo com a tradição, satã, nesse caso, teria de ser um demônio, e ficaria muito ruim afirmar que Yaveh, que é o anjo do Senhor, se tornou um no texto. 

André Francisco

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Euro, etno, também outros centrismos, e o evangelicalismo brasileiro e sua característica.



1. Li recentemente, fazendo uma leitura de tira gosto, um artigo da professora de antropologia da Universidade Federal da Bahia, Urpi Montoya Uriarte, sobre o "Euro, etno e outros centrismos". Achei-o próprio e provocativo, da maneira que admiro artigos. 

2. Não sei se houve intenção na coisa, mas foi publicado na Revista de História da Biblioteca Nacional, de responsabilidade do Ministério da Educação, Ano 8, número 87, de dezembro de 2012, conjunto à matéria de capa sobre os "Evangélicos: a fé que seduz o Brasil". A matéria que trata do tema dos evangélicas foi posta anteriormente a outra que me referi. Considerei surpreendente o fato de ler aquela, borbulhando meus neurônios críticos e confirmativos simultaneamente, e depois ter um prato de sobremesa posto na minha frente, com esta. 

3. Olhe como foi a cena. No momento em que terminei a leitura inicial, continuei a folhear a revista, e deparei-me com esse "achado" magnífico, corroborador, conclusivo, do aspecto antropológico histórico-social dos centrismos que já ocorreram na história. Pronto! Pensei, vou fechar o artigo sobre o evangelicalismo mundial com chave de ouro, ao ler uma outra publicação, na mesma revista, sobre os crimes que são cometidos em favor da radicalidade de leitura cosmovisionária centrística. 

4. Uma comparação boba, só pra entendermos melhor o que senti. Sabe quando um crente simples lê um texto Bíblico e o aplica a sua realidade, ainda que não tenha nenhum sentido original concreto e hermeneuticamente aceitável no texto para essa aplicação? Pois então, foi quase a mesma coisa. Apliquei o último texto ao primeiro e pareceu-me dar certo. Mas foi coerente, historicamente coerente. Principalmente, a partir de uma aplicação de uma das frases da autora que dizia: "Alguns povos simplesmente menosprezam quem é diferente e dele quer se afastar. Outros, além de menosprezar, acham que têm o dever de transformá-lo, e chamam isso de "civilizar" ou "evangelizar". E há aqueles que vão ainda mais longe: menosprezam e não acreditam que seja possível transformar quem é diferente. Ele deve ser eliminado" (pg 79).

5. Bingo! Qualquer semelhança pode ser mera coincidência, ou não. 

6. Outra frase que me fez rir alto, pela aparência quase que idêntica ao cenário evangélico-religioso brasileiro atual: "Para o etnocentrismo (acrescentei, "para o evangelicalismo"), tudo o que é diferente se torna inferior, feio, ridículo, injusto, cruel, selvagem ou irracional. Ao julgar as distinções de forma negativa, o etnocentrismo passa a querer modificar os costumes ou crenças diferentes, em nome da superioridade dos seus próprios costumes ou crenças. Dito de outra forma: ser etnocêntrico é acreditar que só existe uma verdade (a nossa) e uma beleza (a nossa), assim como também só existem a nossa justiça e a nossa racionalidade" (pg 78). 

7. E como um profeta hodierno, Everardo Rocha, em seu livro "O que é etnocentrismo", robusta o argumento: "Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência". Ai, um tapa na cara de qualquer intolerante etnocêntrico religioso, em minha crítica. 

8. Por que entendi que o texto é necessário? Porque realmente retrata a realidade do Brasil, senão do cenário religioso mundial, em se tratando do crescimento das igrejas e do seu etnocentrismo inerente. Isso não é bom, nunca foi, historicamente. No mesmo artigo, a professora Uriarte destaca os males que os Europeus causaram às civilizações americanas  pré-invasão, justamente por causa de seu eurocentrismo. Violando a religiosidade, a cultura, os costumes, as diferenças desses povos considerados apenas "índios". Os extremos também me preocupam, quando chegam "santificados" e validados, fomentado massacres em favor de crenças únicas. 

9. Fiquei feliz por ter lido a revista, principalmente esses dois artigos. Apenas por saber que ainda existem pessoas que notam os males que essa radicalidade insana provocou e que poderá provocar, ou melhor, já tem provocado. 

André Francisco

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Asherah, deusa e consorte de Yahweh no Antigo Israel


terça-feira, 11 de janeiro de 2011


Asherah, deusa e consorte de Yahweh no Antigo Israel

Para a maioria das pessoas que lêem a Bíblia, a idéia de um único Deus de Israel, Yahweh, parece ser clara. No entanto, descobertas arqueológicas das últimas décadas vem demonstrando que Yahweh nem sempre esteve solitário. Antes da ascensão do monoteísmo em Israel, o Deus Yahweh fazia parte de um contexto politeísta onde havia um panteão de Deuses e Deusas, sendo que provavelmente foi adorado ao lado de sua consorte, Asherah. 

Reconstruir a presença da Deusa Asherah na vida de mulheres e homens no Antigo Israel é um esforço de, a partir de uma perspectiva feminista e de gênero, trazer elementos que nos ajudem numa maior aproximação do que foram os espaços religiosos e vitais deste povo. Esta reconstrução é algo necessário, uma vez que estamos diante de textos sagrados marcados pelo sistema patriarcal que projetou historicamente um Deus masculino, legitimando práticas e funções masculinas, com isso silenciando as mulheres, suas representações sagradas, tudo aquilo que pudesse lhes garantir espaço e voz. Por isso, faz-se necessário a nossa reflexão

“voltar a um ponto anterior ao monoteísmo patriarcal, até religiões nas quais uma Deusa era a imagem divina dominante ou então era emparelhada com a imagem masculina de uma forma que tornava a ambas modos equivalentes de aprender o divino" (Ruether, 1993, p. 46).

Carol Christ (2005, p.17) ressalta que “re-imaginar o poder divino como Deusa tem importantes conseqüências psicológicas e políticas”, como caminho de desconstrução do pensamento que naturaliza a dominação masculina. Segundo Schroer (1995, p. 40), o culto à Deusa era exercido tanto por homens como por mulheres, mas veio sobretudo ao encontro das necessidades das mulheres, pois lhes oferecia mais espaço no âmbito religioso.

Através de uma “hermenêutica feminista de suspeita”, método proposto por Elisabeth Schüssler Fiorenza (1992, p. 89), queremos “re-imaginar” Asherah a partir de uma crítica ao patriarcado presente nos textos bíblicos, reconstruindo a memória da Deusa a partir dos dados arqueológicos e identificando na literatura bíblica a relação conflituosa que se estabelece com ela.

As origens do monoteísmo no Antigo Israel

Há uma grande problemática em torno do início do monoteísmo. Frank Crüsemann (2001, p. 780) aponta a época do profeta Elias (cf. 1Rs 18,19-40) como o momento histórico em que se começa a falar da exclusividade do Deus de Israel, principalmente no embate com o Deus Baal e no processo de sincretismo onde Yahweh incorpora as características de Baal. Os escritos bíblicos do Primeiro Testamento teriam em si a tendência de mostrar, do início ao fim, a realidade do monoteísmo, “a proibição de se adorar outras divindades já é pressuposta em Gênesis e formulada claramente no Sinai (Ex 20,2)” (Crüsemann, 2001, p. 781).

Haroldo Reimer (2006, p.115) aponta, sobretudo o século V a.E.C como o momento histórico marcante, em que Yahweh vai se constituindo como Deus único de Israel, desencadeando um “processo de diabolização de outras divindades”.Num primeiro momento, a divindade Yahweh teria sido um elemento religioso que veio de fora do contexto cananeu. Nesta época, possivelmente era o Deus El que ocupava a cabeça do panteão divino. Yahweh passa a integrar o contexto israelita sem contudo negar a existência e diversidade de outras divindades.

No entanto, os conflitos religiosos começam a acontecer, sobretudo no Reino do Norte, no período que vai dos séculos IX a VIII a.E.C, com o Deus Baal, ocorrendo a transferência dos atributos da fertilidade de Baal para Yahweh, o que Crüsemann também aponta. Já no Reino do Sul, do final do século VIII até o final do século VII a.E.C, “a fé monoteísta javista é afirmada em um contexto nacionalista, na medida em que se pode retrojetar a idéia de nação para aqueles tempos. A diversidade religiosa passa a ser objeto de ações perseguidoras oficiais” (Reimer, 2006, p. 117).

A afirmação da exclusividade de Yahweh acarreta um processo de “diabolização” da própria Deusa Asherah, onde textos bíblicos serão instrumentos de justificação deste processo monoteísta. Frente a essa exclusividade de Yahweh, será impossível a sobrevivência de qualquer outra divindade, além de que a ênfase em Yahweh será critério de afirmação do sacerdócio masculino perpetuando uma sociedade patriarcal (Reimer, 2006, p. 117).

Neste contexto, a existência de outras divindades masculinas e femininas foi sempre uma ameaça ao monoteísmo estabelecido, sendo que as reformas religiosas em Judá, de Josafá (870-848 a.E.C), de Ezequias (716-687 a.E.C), de Josias (640-609 a.E.C) e as legislações do Código da Aliança (Ex 20,22-23,19) e do Código Deuteronômico (Dt 12-26) agiram como instrumentos que visavam assegurar a fé monoteísta (Reimer, 2003, p. 968).

A presença da Deusa em Israel (do Bronze ao Ferro)

Conforme a pesquisadora Monika Ottermann (2004), que traça o panorama da presença da Deusa em Israel, da Idade do Bronze à Idade do Ferro, no Oriente Médio, datando a Idade do Bronze Médio (1800-1500 a.E.C), a representação da Deusa é caracterizada como “Deusa-Nua”, destacando o triângulo púbico, emergindo também representações em forma de ramos ou pequenas árvores estilizadas, combinação que vem a ser denominada “Deusa-Árvore”.

Na Idade do Bronze Tardio (1550-1250/1150 a.E.C), a Deusa-Árvore apresenta duas mudanças, aparecendo em forma de uma árvore sagrada flanqueada por cabritos ou como um triângulo púbico, que substitui a árvore. Neste período, já se nota a tendência de substituição do corpo da Deusa pelos seus atributos, em especial a árvore.

A Deusa continua perdendo representatividade na religião oficial, onde divindades masculinas ganham cada vez mais força, principalmente a partir de características dominadoras e guerreiras. Na Idade do Ferro I (1250/1150-1000), a forma corporal da Deusa-Árvore vai desaparecendo enquanto que formas de animais que amamentam filhotes, às vezes com a presença de uma árvore estilizada, ganham cada vez mais espaços na glíptica, significando a prosperidade e a fertilidade. A presença da Deusa fica relegada aos espaços de religiosidade das mulheres.

Na Idade do Ferro IIA (1000-900 a.E.C), início da formação do javismo as Deusas passam a ser simbolizadas por seus atributos. A forma vegetal da Deusa confunde-se com seu símbolo, a árvore estilizada, sendo que muitas vezes é substituída por ele. Entendemos essas imagens como representações da Deusa Asherah.

Na Idade do Ferro IIB (925-720/700 a.E.C), Israel e Judá apresentam diferenças no âmbito simbólico. Os documentos epigráficos de Kuntillet Adjrud e de Khirbet el-Qom destacam um vínculo estreito entre Asherah e Yahweh, o que acima de tudo demonstra um contexto politeísta, onde se adoravam a várias divindades femininas e masculinas.
Na Idade do Ferro IIC (720/700-600 a.E.C), a Babilônia derruba a Assíria e passa a dominar Israel e Judá. Neste período encontramos o símbolo tradicional da Deusa, a árvore e o ramo. Vários selos ou impressões de selos que associam símbolos astrais com árvores estilizadas foram encontrados na Palestina e na Transjordânia, o que reforça interpretações sobre a existência de um culto a Deusa Asherah ao lado do Deus Yahweh. É principalmente na forma de árvore estilizada que, ao longo de séculos, Asherah esteve presente em Israel.

Evidências arqueológicas da Deusa Asherah

As primeiras evidências de Asherah aparecem em textos cuneiformes babilônicos (1830-1531 a.E.C) e nas cartas de El Armana (século XIV a.E.C) (Neuenfeldt, 1999, p. 5).

Para o pesquisador Ruth Hestrin (1991, p. 52-53), informações importantes sobre Asherah vêm dos textos ugaríticos de Ras Shamra (Costa Mediterrânea da Síria). Nestes textos, Asherah é chamada de Atirat, consorte de El, principal Deus do panteão cananeu no II milênio a.E.C, sendo mencionada também como ‘Elat, forma feminina de El. Nos textos ugaríticos, Asherah (ou seja, Atirat ou ‘Elat) é a mãe dos Deuses, simbolizando a Deusa do amor, do sexo e da fertilidade.

Também foram escavados vários pingentes ugaríticos que retratam uma Deusa, provavelmente Atirat/ ‘Elat. A figura humana estilizada nestes pingentes contém o rosto, os seios e a região púbica e uma pequena árvore estilizada gravada acima do triângulo púbico.

Em 1934, o arqueólogo britânico James L. Starkey encontrou o jarro de Lachish, datado aproximadamente no 13º século a.E.C, provavelmente ano 1220.

O jarro é decorado e contém inscrições raras do antigo alfabeto semítico. Na decoração há o desenho de uma árvore flanqueada por duas cabras com longos chifres para trás, que, segundo Ruth Hestrin, representa Asherah. Uma inscrição que segue pela borda do jarro tem sido reconstruída e traduzida por Frank M. Cross, como: “Mattan. Um oferecimento para minha senhora 'Elat”.

Não se sabe quem é Mattan, mas está claro que ele faz uma oferenda para 'Elat, que é o feminino para El, chefe do panteão cananeu no II milênio a.E.C, equivalente ao pré-bíblico Asherah. Nota-se um dado importante, o nome 'Elat está escrito logo acima da árvore, representação de 'Elat/ Asherah. Há uma possibilidade deste jarro e seu conteúdo terem sido uma oferenda à Deusa (Hestrin, 1991, p. 54).

No entanto, foi no templo de Arad, no Neguev, ao sul de Jerusalém, que se encontrou fortes evidências de Asherah. No santuário interno foram encontrados dois altares diante de um par de pedras verticais, possivelmente lugar de culto a Yahweh e Asherah. Um outro altar foi encontrado no pátio externo do templo com tigelas dos sacerdotes e cinzas de ossos de animais queimados, no canto uma irmandade local e altares com pedras duplas (Discovery, 1993). Segundo Elaine Neuenfeldt (1999, p. 6), o templo é datado aproximadamente da época do Bronze Recente, entre o 10º e 8º séculos a.E.C., quando possivelmente a reforma de Ezequias o extinguiu (2Rs 18).

Em Khirbet el-Qom, ao oeste de Hebron, em 1967, outro arqueólogo encontrou um túmulo judaico da segunda metade do século VIII (Discovery, 1993), com uma inscrição na parede interior que Croatto (2001, p. 36) traduz como:
“1. Urijahu [...] sua inscrição.
2. Abençoado seja Urijahu por Javé (lyhwh)
3. sua luz por Asherah, a que mantém sua mão sobre ele
4. por sua rpy, que...”

Segundo Hestrin, em 1975-1976, o arqueólogo israelita Ze’ev Meshel, em Kuntillet Adjrud, 50km ao sul de Qadesh-Barnea, na antiga estrada de Gaza a Elat, escavou uma pousada no deserto que continha várias inscrições. Controlado por Israel, este posto estatal encontrava-se em território de Judá, funcionando aproximadamente entre 800-775 a.E.C. No prédio principal, em sua entrada, duas jarras de armazenagem com desenhos e inscrições foram encontradas e identificadas como pithos A e pithos B. Na inscrição do pithos A se lê:

“Diz... Diga a Jehallel... Josafa e...”:
Abençoo-vos em YHWH de Samaria e sua Asherah”.

No pithos B se lê:

“Diz Amarjahu: Diga ao meu Senhor: Estás bem?”.
Abençoo-te em YHWH de Teman e sua Asherah.
Ele te abençoa e te guarde e com meu senhor ”.

Neste pithos aparecem três figuras, duas masculinas retratos do Deus egípcio Bes e uma claramente feminina (seios em destaque) tocando uma lira.

Em 1968, o arqueólogo americano Paul Lapp escavou um outro artefato muito famoso em Taanach, datando ao final do 10º século a.E.C (Hestrin, 1991, p. 57). Num dos quartos da instalação cúltica foram encontrados prensa de óleo, forma para fazer figuras de Asherah, sessenta pesos de tear e 140 ossos de articulações de ovelhas e cabras (Neuenfeldt, 1999, p. 7).

Um quadrado oco de terracota, aberto na base, composto de quatro níveis ou róis também foi encontrado. Conforme Ruth Hestrin (1991, p. 57-58), no rol inferior, uma mulher nua flanqueada por dois leões é mais uma representação de Asherah, Deusa-mãe. No segundo rol temos uma abertura vazia no meio (provavelmente a entrada do templo) flanqueada por duas esfinges (corpo de leão, asas de pássaros e cabeça de mulher). O terceiro rol traz uma árvore sagrada da qual saem três pares de galhos, simbolizando a Deusa principal, Asherah, consorte de Baal e fonte da fertilidade, sendo flanqueada possivelmente por duas leoas. No rol superior temos um touro sem chifres, com um disco de sol em cima, o que simboliza o Deus supremo não só na Mesopotâmia e no panteão hitita, como também no panteão cananeu. O jovem touro representa Baal, principal Deus do panteão cananeu, que no II milênio substituiu El, cabeça do panteão.
Em 1960, a arqueóloga inglesa Kathyn Kenyon descobriu centenas de estatuetas femininas quebradas em uma caverna perto do templo de Salomão em Jerusalém, para vários estudiosos essa descoberta sinalizou a existência do templo, para outros determinou o fim dos cultos pagãos pelo rei Josias, o qual ordenou a destruição de todos os vasos feitos para Baal e Asherah (Discovery, 1993).

Portanto, Asherah quase sempre foi adorada sob o corpo de uma árvore, seu culto era principalmente realizado ao redor de uma árvore natural ou estilizada, de um poste sagrado que podia estar ao lado de um altar seu ou de outra divindade.

“Porém, seu culto foi realizado, de preferência, debaixo de uma árvore natural, nos chamados 'lugares altos', santuários ao ar vivo no topo das colinas e montanhas. Na maioria do tempo, uma imagem ou símbolo de Asherah estava também presente dentro do próprio templo de Jerusalém" (Ottermann, 2005, p. 49).

Deusa Asherah: uma imagem a partir dos escritos bíblicos

Conforme Ruth Hestrin (1991, p. 50), Asherah é mencionada cerca de 40 vezes na Bíblia Hebraica, de três formas diferentes, ora como uma imagem que representa a própria Deusa, ora como uma árvore ou como um tronco de árvore, que a simbolizam.

O culto a Asherah foi muito popular em Israel e Judá. O rei Asa (912-871 a.E.C), que ficou no poder durante 41 anos em Judá, empreendeu uma restauração no culto a Yahweh e “chegou a retirar de sua mãe a dignidade de Grande Dama, porque ela fizera um ídolo para Aserá; Asa quebrou o ídolo e queimou-o no vale do Cedron” (1Rs 15,13; cf. 2Cr 15,16). O ídolo remete na palavra hebraica mifleset, a algum objeto de culto, provavelmente de madeira. É interessante perceber que o culto se dá no palácio, em ambiente oficial (Croatto, 2001, p. 40-41). Já na passagem de 1Rs 16,33 “Acab erigiu também um poste sagrado...” demonstrando que Asherah também foi adorada em Israel.

Em 2Cr 14,1-2, onde o rei Asa é lembrado como o rei que fez o que é “bom e justo aos olhos de Yahweh, seu Deus”, exatamente porque “eliminou os altares do estrangeiro e os lugares altos, despedaçou as estelas, destruiu as aserás...” ordenando o povo a praticar a lei e os mandamentos de Yahweh (cf. Jz 3,7).

Refletindo sobre os textos bíblicos que mencionam a Deusa Asherah teremos como pano de fundo o contexto que Silvia Schroer tão bem elucida,

“os/as repatriados/as da Babilônia tinham integrado a questão da culpa de tal maneira que consideravam sobretudo o culto às deusas como motivo da ruína de Israel. Os expoentes deste grupo conseguiram banir de Judá quase completamente o culto às deusas dentro de um século e de apagar, o máximo possível, as memórias dele. Não é por acaso que o culto clandestino à deusa acontece no contexto de proibições misóginas e xenófobas de casamentos mistos. Todas as tentativas que seguem, de integrar a deusa pelo menos na linguagem teológica, são tentativas assentadas dentro do sistema monoteísta” (Schroer, 1995, p. 40).

A partir desta perspectiva, de demonização da Deusa ou das Deusas, Asherah passa a se tornar a Deusa proibida, a causa dos males e da ruína de Israel.

A marginalização do feminino, das mulheres é um processo que também se dá e se sustenta por meio de escritos bíblicos justificadores de uma sociedade patriarcal, atuando assim no que podemos chamar de “desempoderamento” das mulheres a partir do sagrado, o que trouxe e traz fortes impactos nas dimensões culturais, religiosas, sociais, econômicas e políticas.

Há uma preocupação dos redatores bíblicos de excluir qualquer suspeita da Deusa Asherah ao lado de Yahweh, como sua consorte. No entanto, as inúmeras citações sobre Asherah demonstram seu peso no contexto religioso e isso fez dela uma grande ameaça ao monoteísmo javista em ascensão.

O rei Josafá (871-848 a.E.C), filho e sucessor do rei Asa, deu continuidade à política de seu pai, “Yahweh manteve o reino em suas mãos” (2Cr 17,5), pois “seu coração caminhou nas sendas de Yahweh e ele suprimiu de novo em Judá os lugares altos e as aserás” (2Cr 17,6). Em outra passagem, Josafá após combater contra Aram, apesar de ferido, volta com vida para Jerusalém sendo aclamado por Jeú, o vidente,

“deve-se levar auxílio ao ímpio? Amarias aqueles que odeiam Yahweh, para assim atrair sobre ti sua cólera? Todavia, foi encontrado em ti algo de bom, pois eliminaste da terra as aserás e aplicaste teu coração à procura de Deus” (2Cr 19,3).

Ezequias (727-698 a.E.C), filho e sucessor de Acaz, é lembrado como o rei que “fez o que é agradável aos olhos de Yahweh”. Durante o seu reinado, após a celebração da Páscoa e da festa dos Ázimos é empreendida uma reforma do culto,

“terminadas todas essas festas, todo o Israel que lá se achava saiu pelas cidades de Judá quebrando as estelas, despedaçando as aserás, demolindo os lugares altos e os altares, para eliminá-los por completo de todo o Judá, Benjamim, Efraim e Manassés. A seguir, todos os israelitas voltaram para suas cidades, cada um para seu patrimônio” (2Cr 31,1).

Nesta época o Reino do Norte, Israel, já havia sido destruído, sendo assim, Judá, Reino do Sul, tornou-se o único espaço onde a identidade religiosa do povo de Yahweh poderia ser mantida. Foi nesse contexto que Ezequias promoveu uma extensa reforma religiosa e política, com intenções de reunir o povo em torno de um só Deus e um só rei. Por isso, Ezequias é exaltado pelos redatores deuteronomistas como o rei que “fez o que agrada aos olhos de Yahweh” (2Rs 18,3). A reforma religiosa de Ezequias era baseada nas seguintes medidas: no combate a idolatria, na centralização do culto a Yahweh em Jerusalém e no cumprimento dos mandamentos. Tais medidas podem ter sido fundamentadas no documento trazido do Norte (Dt 12-26), que foi adaptado à reforma em Judá. Josias retoma 100 anos mais tarde este documento para empreender sua reforma religiosa e política (Gass, 2005, p. 78-83).

O rei Manassés (698-643 a.E.C), filho e sucessor de Ezequias, é lembrado pelos redatores como um rei que “fez mal aos olhos de Yahweh”, justamente porque reconstruiu os lugares altos que seu pai havia destruído, ergueu altares para os baais e fabricou postes sagrados, prestando-lhes culto. No entanto, foi construir altares dentro do Templo de Yahweh (2Rs 21,7) a maior abominação para os redatores, que ao final dos escritos sobre Manassés relatam sua conversão a Yahweh. “Sua oração e como foi ouvido, todos os seus pecados e sua impiedade, os sítios onde havia construído os lugares altos e erguido aserás e ídolos antes de se ter humilhado, tudo está consignado na história de Hozai” (2Cr 33,19).

O rei Josias (640-609 a.E.C) empreendeu uma reforma a partir de 622 a.E.C fazendo de Jerusalém o centro político e religioso de seu estado, destruindo os santuários de Yahweh que havia no interior e acabando com os cultos cananeus e assírios, que aconteciam no templo de Jerusalém e nos lugares altos. A reforma de Josias atingiu a liberdade religiosa popular, pois ordenou

“a Helcias, o sumo sacerdote, aos sacerdotes que ocupavam o segundo lugar e aos guardas das portas que retirassem do santuário de Yahweh todos os objetos de culto que tinham sido feitos para Baal, para Aserá e para todo o exército do céu, queimou-os fora de Jerusalém, nos campos do Cedron e levou suas cinzas para Betel” (2Rs 23,4).

Com isso, o culto exclusivo a Yahweh é reafirmado pela corte e pela classe sacerdotal de Jerusalém, exclusividade que custou caro à religiosidade popular (Gass, 2005, p. 134-138).

Josias ainda “demoliu as casas dos prostitutos sagrados, que estavam no templo de Yahweh, onde as mulheres teciam véus para Aserá” (2Rs 23,7). Aqui provavelmente se trata de vestidos feitos para a estátua de Asherah (Croatto, 2001, p. 41).

As intenções daqueles que redigiram tais textos parecem claras, ou seja, querem demonstrar que o “bom e justo” rei e povo é aquele que elimina qualquer resquício da presença de outros Deuses e Deusas em Israel, que o rei ou povo que “faz mal aos olhos de Yahweh” seria justamente aquele que aceita a realidade politeísta.

Na citação a seguir além de derrubar, despedaçar e reduzir a pó os altares, Josias manda espalhar este pó sobre o túmulo dos que ofereciam sacrifício a Baal e Asherah, ou seja, está explicíto que pessoas foram assassinadas. Aqui o nome Asherah aparece no plural,

“no oitavo ano de seu reinado, quando ainda não era mais que um adolescente, começou a buscar ao Deus de Davi, seu antepassado. No décimo segundo ano de seu reinado, começou a purificar Judá e Jerusalém dos lugares altos, das aserás, dos ídolos de madeira ou de metal fundido. Derrubaram diante dele os altares dos baais, ele próprio demoliu os altares de incensos que estavam sobre eles, despedaçou as aserás, os ídolos de madeira ou de metal fundido, e tendo-os reduzido a pó, espalhou o pó sobre os túmulos dos que lhes ofereceram sacrifícios (...) Nas cidades de Manassés, de Efraim, de Simeão e também de Neftali e nos territórios devastados que os rodeavam, ele demoliu os altares, as aserás, quebrou e pulverizou os ídolos, derrubou os altares de incenso em toda a terra de Israel e depois voltou para Jerusalém” (2Cr 34,3-4.6-7).

Em Is 27,9 a Deusa Asherah é taxada de forma explícita como o pecado de Israel, a causa de sua iniqüidade e ruína, devendo ser banida por completo,

“porque, com isto, será expiada a iniqüidade de Jacó. Este será o fruto que ele há de recolher da renúncia ao seu pecado, quando reduzir todas as pedras do altar a pedaços, como pedras de calcário, quando as Aserás e os altares de incenso já não permanecerem de pé”.

Está claro que a ascensão do culto exclusivo a Yahweh não se faz de forma tranqüila, mas de forma violenta, a partir da intolerância religiosa, da destruição e da eliminação por completo do outro, que se torna uma ameaça.

A proibição “não plantarás um poste sagrado ou qualquer árvore ao lado de um altar de Yahweh teu Deus que hajas feito para ti, nem levantarás uma estela, porque Yahweh teu Deus a odeia” (Dt 16-21-22), conforme Croatto (2001, p.42), revela que o objeto que simboliza Asherah é feito de madeira, que está plantado, ou seja, é um poste ou uma estaca e não uma estátua, que sua colocação “ao lado de um altar de Yahweh” transparece o caráter cultual do símbolo e principalmente a associação da Deusa simbolizada junto com o próprio Yahweh.

Acab (874-853 a.E.C) construiu um templo de Baal para sua esposa fenícia, “erigiu também um poste sagrado e cometeu ainda outros pecados, irritando Yahweh, Deus de Israel, mais que todos os reis de Israel que o precederam” (1Rs 16,33).

Os redatores deuteronomistas se queixam que na época do rei Joacaz (813-797 a.E.C) o culto a Asherah esteve presente “todavia, não se apartaram do pecado ao qual a casa de Jeroboão havia arrastado Israel; obstinaram-se nele e até mesmo o poste sagrado permaneceu de pé em Samaria” (2Rs 13,6). A ruína da Samaria é então explicada em 2Rs 17,16 porque “rejeitaram os mandamentos de Yahweh seu Deus, fabricaram para si estátuas de metal fundido, os dois bezerros de ouro, fizeram um poste sagrado, adoraram todo o exército do céu e prestaram culto a Baal”.

Os redatores bíblicos tinham uma intenção nítida, contar a história a partir de Yahweh, único Deus, de tal forma que Asherah de consorte passe a ser sua rival, ou seja, a elite de escritores bíblicos tinham uma idéia clara daquilo que Deus deveria ser: único e masculino, Yahweh, negando assim toda a realidade politeísta em Israel.

Conclusões

Asherah possivelmente era uma Deusa e consorte de Yahweh no Antigo Israel e não um simples atributo deste. A proibição da Deusa Asherah é fruto de um dado momento histórico de elaboração e ascensão do monoteísmo javista, onde a identidade judaica, após a drástica experiência do exílio babilônico e na tentativa de reorganização da nação, passa a se constituir em torno de três pilares: um só Deus, um só Povo e uma só Lei. A centralidade em Yahweh se torna um fator importante de credibilidade e legitimação da nova identidade nacional em formação, resultado das reformas empreendidas por Esdras e Neemias. A idolatria se torna então a culpa da ruína de Israel e neste contexto Yahweh é triunfante. Isso irá se refletir no conflito que os textos bíblicos demonstram em relação a Asherah e a outros Deuses e Deusas, bem como, em relação principalmente às mulheres estrangeiras.

Podemos claramente perceber que a elaboração e instituição do monoteísmo não se deu de forma democrática e muito menos pacífica. A partir de um contexto politeísta, a centralidade em Yahweh é um processo violento, de destruição da cultura religiosa do outro e da outra, de proibição do diferente, demonizando-o e tornando-o uma ameaça. Um processo nítido de intolerância religiosa.

A supressão do culto e da imagem da Deusa Asherah traz consigo conseqüências profundas para as relações entre os gêneros, afetando em especial aos corpos das mulheres, que tinham na Deusa uma possibilidade de representação do feminino no sagrado. A religião judaica vai se constituindo em torno de um único Deus masculino, legitimando historicamente uma sociedade patriarcal. Este poder divino imaginado somente como Deus afetou as mulheres, as crianças, a natureza, pois quase sempre partiu de um pressuposto de dominação, opressão e hierarquização das relações, tanto humanas como ecológicas.

Afirmar Asherah como Deusa é polêmico, mas necessário à religião e à pesquisa bíblica. Dar voz a uma época em que Deuses e Deusas eram adorados, em que o próprio Yahweh foi adorado ao lado de Asherah, nos impulsiona a re-pensar não só as relações pré-estabelecidas entre homens e mulheres, bem como, a própria representação do sagrado estabelecida.

Re-imaginar o sagrado como Deusa é re-imaginar as relações de poder, não numa tentativa de apagar a presença de Deus e sim de dar espaço ao feminino no sagrado, novamente o feminino não como um atributo do Deus masculino, mas como Deusa.

Esta talvez seja uma grande contribuição da reflexão feminista, que nos desloca e nos provoca a re-imaginar o sagrado, como possibilidade de re-imaginar a sociedade e as estruturas cristalizadas secularmente.
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Referências

BIBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2003.CHRIST, Carol P. Re-imaginando o divino no mundo como ela que muda. Tradução de Monika Ottermann. Mandrágora. São Paulo, ano XI, nº 11, p. 16-28, 2005.CROATTO, S. J. A deusa Aserá no antigo Israel. A contribuição epigráfica da arqueologia. Revista de Interpretação Bíblica Latino-Americana, Petrópolis, nº 38, p. 32-44, 2001.CRÜSEMANN, Frank. Elias e o surgimento do monoteísmo no Antigo Israel. Fragmentos de Cultura. Goiânia, V. 11, nº 5, p.779-790, 2001.DISCOVERY CHANNEL. The Forbidden Goddess: Archaeology on the Learning Channel. Degravação de Ildo Bohn Gass. Documentário, 28 min, 1993.FIORENZA, Elisabeth S. As origens cristãs a partir da mulher: uma nova hermenêutica. São Paulo: Paulinas, 1992. GASS, Ildo Bohn (Org.). Reino Dividido. 2 ed. São Leopoldo: Cebi; São Paulo: Paulus, V. 4, Coleção Uma Introdução à Bíblia, 2005. HESTRIN, Ruth. Understanding Asherah, exploring semitic iconography. Biblical Archaeology Review, p. 50-58, 1991.NEUENFELDT, Elaine. Yahweh- Deus único?, evidências arqueológicas de cultos e rituais à divindades femininas e familiares no antigo Israel. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso de Teologia) – IEPG/EST, São Leopoldo, 1999.OTTERMANN, Monika. Vida e prazer em abundância: A Deusa Árvore. Mandrágora. São Paulo, ano XI, nº 11, p. 40-56, 2005.______. A Iconografia da Deusa em Canaã e Israel/Judá nas Idades do Bronze ao Ferro. Ensaio para a disciplina de Colóquio de Literatura e Religião no Mundo da Bíblia, UMESP, 2004.REIMER, Haroldo. Sobre os inícios do monoteísmo no Antigo Israel. Fragmentos de Cultura. Goiânia, V 13, nº 5, p. 967-987, 2003.______. A serpente e o monoteísmo. Hermenêuticas Bíblicas: Contribuições ao I Congresso Brasileiro de Pesquisa Bíblica. São Leopoldo: Oikos; Goiânia: UCG, p.115-128, 2006.RUETHER, Rosemary Radford. Sexismo e religião: rumo a uma teologia feminista. Tradução de Walter Altmann e Luís M. Sander. São Leopoldo: Sinodal, 1993.SCHROER, Silvia. A Caminho para uma reconstrução feminista da História de Israel. Tradução de Monika Ottermann, (s.d.) 1995.

Por Ana Luisa Alves Cordeiro 
Bacharela em Teologia pela Universidade Católica de Goiás. 

sábado, 8 de dezembro de 2012

Jim Morrison eterno!


1. Em 1943 nasceu James Douglas Morrison, 8 de dezembro. Com seu jeito de ser peculiar,  portador de um timbre ímpar, poeta revolucionário, fez sucesso e ainda faz, mesmo morrendo precocemente. Hoje teria completado 69 anos de idade. 

2. Cá, apenas uma homenagem a alguém singular! 









Diálogo Aberto

Confissões em uma casa noturna.

Ontem estava na minha igreja. Via o espetáculo humano e a sua relação com o outro, as luzes se apagavam e acendiam, refletindo o palpitar dos corações, ansiosos pelo completar da espiritualidade.

O Palco estava montado, lá em cima os líderes tocavam o ritmo da festa, uma liturgia densa e alternativa, com muita liberdade de expressão, e cá em baixo os espectadores vibrantes tomavam altas doses de semiótica.

Seus corpos pediam mais e suas mentes estavam em outra dimensão, aquilo tudo era humano, demasiadamente humano. Pessoas de diversos tipos, buscando a felicidade, o encontro com o supremo, com a realização de seus desejos interiores e os encontros dos olhares, que revelavam suas necessidades, sem que precisassem ser ditas.

Observei e aprendi um pouco da realidade, aquele era verdadeiro culto, culto às paixões, culto às realizações do espírito e da carne, do ideal do amor e do preenchimento da solidão.

De repente, acenderam-se às luzes, a música parou, as pessoas iam embora. Eram 4 da manhã e o show da boate já havia terminado.


Rodrigo Mascarenhas

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Entrevista com Madihah, uma sobrevivente da chacina de Jericó- Parte 3


1. Esta é a terceira parte da entrevista com Madihah, uma sobrevivente da chacina realizada por Israel, liderada por Josué, a Jericó. Ela conta, condensadamente, algumas das principais coisas que ocorreram naquele dia, de muito choro e sofrimento. Leia, e tente perceber o sentido real dessas palavras, pois foi aquilo que esta pobre mulher vivenciou.


"Gritou, pois, o povo, tocando os sacerdotes as buzinas; e sucedeu que, ouvindo o povo o sonido da buzina, gritou o povo com grande brado; e o muro caiu abaixo, e o povo subiu à cidade, cada um em frente de si, e tomaram a cidade. E tudo o quanto havia na cidade destruíram completamente ao fio da espada, desde o homem até à mulher, desde a criança até aos idosos, e até ao boi e ao bezerro, e ao jumento". Josué 6.20-21




-Fala-me, Madihah, o que aconteceu com Kalih no momento em que primeiro soldado israelita conseguiu ultrapassar a porta da casa?

-Foi assombrosamente terrível... [interregno cheio de memórias escuras, com luz baixa de tristeza perpassando o ambiente, e de faltantes braços quentes de amor]

-Kalih fez o que pôde, sim... Eu sei que fez... [intenção trêmula; postados os olhos ao canto, enquanto a alma, imaginando lembranças atordoadas]

-No momento em que Kalih se pôs vis-à-vis com o soldado israelita, com a perna direita para trás, com os braços se movimentando velozmente de adrenalina, e os punhos fechados como instinto de proteção,  já não havia muito o que fazer. Ouvi-o gritando, com voz desafinada e bastante aguda, para desespero maior de todos nós: "O que vocês querem de nós? O que fizemos para tanta raiva ser derramada em nossas terras? Saiam de minha casa, saiam de minha casa!". 

-O fogo, naquele momento, começou a se alastrar mais intensamente. A fumaça começara a ficar sufocante, a visão cada vez mais turva, e os primeiros tossidos a sair. Como já disse, eu estava com as crianças perto da porta dos fundos da casa, observando Kalih e o soldado. O calor do ambiente incomodava bastante, e, quando olhei para cima, ao ouvir um ruído no teto, percebi que o risco de desabamento já se fazia notório. Conhecia as estruturas de nosso ninho, não eram de primeira qualidade, não se faziam plenamente boas. Nós constituíamos uma família de camponeses, colhedores de rosas da primavera, criadores de cabras no terreiro ao fundo, não possuíamos os melhores materiais de construção. Ouvia constantes estalos das madeiras, junto do barro cozido emendado com feixes de tecido. Temi ainda mais!

-Os três israelitas que estavam para o lado de fora pararam de chutar as quebradas partes que restavam da porta. Achei que iam interromper o arrombamento, a fim de nos darem qualquer mínima trégua de esperança. Porém, estava completamente equivocada!  Percebi meu erro logo quando um dos soldados que estavam à porta falou, em alta voz, para o que estava posicionado dentro de nossa casa, ao me ver junto de minhas filhas: "Fique você aí, eles são apenas camponeses sem armas, frágeis como uma mulher e duas filhas pequenas [irônica e debochadamente]. Dará conta! Iremos avançar". O soldado invasor, de armadura espessa e grandemente fortificada, com sua espada desembainhada, que gotejava sangue de outras vítimas anteriores, apontada para Kalih, flamejada de raiva e radicalidade religiosa, virou sua fronte para trás e respondeu a seu comparsa: "Podem deixá-los a mim. Yaveh está comigo, e seus deuses pagãos não os poderão livrar de Sua sagrada ira! 

-A partir disso, tive a sensação de que nossas esperanças ventaram de nossas mãos. Minhas pernas fraquejaram por um segundo, meus joelhos tocaram o solo. Eu, com Amber em meu colo, com lágrimas tímidas, misturadas ao suor, sobre o rosto; lábios tremulantes de desespero e pessimismo, incapaz de fazer ao menos a mínima coisa, fitava os olhos, como que em visão lenta, em Kalih e no soldado. O som da última fala deste ecoava em minha mente, perpassando todos meus nervos e sentidos, fazendo com que, por um interregno,  exaurissem-se os barulhos externos dos gritos, das correrias, das marchas, das buzinas, dos cavalos, dos incêndios, das espadas, dos carros, da fúria, da injustiça, do sofrimento, da desolação! Em minha nuca, apenas podia perceber o soluço apavorado de Leena, mas não tinha força para me virar, pus-me em choque. 

-E com Kalih, Madihah? Que sorte lhe sobreveio?

-Aquela a qual meu coração não esperava nem conseguiu, ainda que depois de tantos anos, superar. [cabisbaixa, olhos fechados, sobrancelhas contraídas, cotovelos na coxa, com mãos na face, sobrevém-lhe o lamento]

-Estavam lá, frente à frente, Kalih sem reação, perplexamente imóvel, tremulante. Vi quando o soldado levantou sua espada, segurando-a com as duas mãos, e gritou: "Morra, pagão!"... Não há detalhes... Na verdade, não os quero contar... São machucantes! 

-Conta-me até onde puder, Madihah, não quero fomentar tua tristeza. Diga-me tua reação. 

-Abruptamente cai em si, vi-me sair do estado de estagno e choque, estendi meu braço direito à frente, perdi o equilíbrio, e meu corpo foi tristemente se inclinando, até quando toquei a palma da destra no solo. Instintivamente segurava Amber sem a desproteger, no meu braço esquerdo. Foi sem forças, sem gritos, com profundo suspiro, por várias vezes, que soltei só uma palavra: "Não!". Consegui sentir o som do aço, rasgando o corpo de meu amado, sem ter mais como nos proteger, pois, agora, já não era. O sangue que jorrava escorria por toda parte, saindo de seu corpo tombado e pisoteado por aquele animal! 

Continua...

André Francisco

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Torturas de Yaveh e de Neemias, Ex 21,20; Ne 13,25



1. No livro de Neemias, em seu último capítulo, está narrado um caso bem típico, tanto da Bíblia Hebraica quanto dos mandamentos intolerantes, absolutistas, e desumanos de Yaveh, em se tratando das últimas consequências possíveis que um religioso judeu qualquer poderia chegar, unicamente em prol da xenofóbica proteção étnico-religiosa estabelecida na lei, juridicamente. 

2. Não se trata do apoio "divino", carta branca à escravidão, o qual está narrado em muitos textos de outros livros. Como exemplo, só para situar o leitor, Êxodo 21,20:

Se um homem ferir o seu escravo (ou a sua escrava) com uma vara, e este morrer debaixo da sua mão, certamente será castigado.

Porém, se sobreviver um ou dois dias, não será castigado; porque é dinheiro seu. 


3. O supracitado texto faz referência ao tipo de tratamento a qual um senhor judeu, -amparado pela lei de seu país, escrita em livros conhecidos hoje como Pentateuco, supostamente dada diretamente por Deus, sendo essa crendice estabelecida a fim de dar credibilidade ao seu conteúdo e de convencer e controlar politicamente a massa camponesa iletrada do Israel pós-exílico- proprietário de um escravo qualquer, deveria dar a sua "propriedade", no caso de um castigo. Se o escravo morresse, após ser maltratado com varas, paus, ou canetes de madeira,  quem o feriu seria punido. Se não morresse, no entanto, "apenas" tivesse chegado perto da morte, o dono não receberia nenhuma pena legal. 

4. Essa lei, se vista hodiernamente, não passaria sequer pelo primeiro quesito de averiguação de justiça, moral e ética de qualquer entidade que trate dos direitos humanos, em nem um país ocidental, nem nos mais fechados. ESCRAVIDÃO é crime, desde muito! E não adianta me dizer que Deus tratava aquela sociedade da maneira que deveria ser tratada, apenas porque a revelação de sua palavra é progressiva. Esse, para mim, é um argumento ridículo que somente atesta, com maior veemência, a demência da radicalidade religiosa de quem consegue ver a escravidão como legítima independentemente da época, povo, e cultura que seja. 

5. Pois bem, deixando os casos de apoio à escravidão para outro post e voltando ao assunto de Neemias; está escrita uma posição étnico-religiosa (xenofóbica) radical que ele implantou contra os judeus que se haviam  cassado com estrangeiras, logo após a volta do cativeiro. Veja o caso:


Também vi naqueles dias os judeus que tinham casado com mulheres de Asdode, de Amom e de Moabe;

e seus filhos falavam metade das suas palavras na língua de Asdode, e não podiam falar a língua dos judeus, mas a dum e de outro povo.

Contendi com eles, e os amaldiçoei, e castiguei alguns deles e arranquei-lhes os cabelos, e fiz-lhes jurar por Deus, dizendo-lhes: Não dareis vossas filhas aos filhos deles, nem tomareis as filhas deles para vossos filhos ou para vós mesmos. 
Neemias 13,23-25 


7. O religioso que lê esse texto pode gritar, pular, sacudir, espernear, chorar, orar, falar em línguas, ir à campanha na quarta-feira, jejuar vinte e cinco dias e cinco horas por mês, lagrimar, deprecar, praguejar, relampaguejar raios de unção, alegorizar, mistificar, transcendentalizar, ou seja, fazer o que quiser e puder, a fim de tentar justificar essa atrocidade que, digo-o, com toda a franqueza possível, não adianta, não tem como, essa ação é injustificável. O culto monolátrico a Yaveh só se manteve pós-exílio, em Israel, por causa disso, da força política, da brutalidade, da tortura, da utilização de leis cruéis as quais baniam qualquer indivíduo que se opusesse a elas. A máquina de matar feita pelos sacerdotes, entre templo, lei e a boca de Yaveh, era mais forte que qualquer oposição. 

8. No caso acima referido, o de Neemias, não havia punição para o crime cometido (crime em uma contextualização legal, hodiernamente, ocidentalmente). Castigar um ser humano, espancá-lo, amaldiçoá-lo, por causa de um amor a uma estrangeira, em nossa cultura atual, não vem nem à mente possível plausibilidade. Mas naquele contexto, onde os direitos eram construídos sempre sob a alegação de que foram dados pelo divino, revelados diretamente ao sacerdote, profeta, ou rei, qualquer ação desumana era facilmente maquiada e legitimada. Espancar os que se haviam casado com estrangeiras se tornava, no retrato,  "um favor" à nação, uma medida de "proteção" e "purificação". A mesma coisa que os muçulmanos radicais fazem atualmente em seus países contra outros religiosos, prendem, espancam, matam, sob o "mandato" de Alá, a fim de obstaculizarem o crescimento de outras crenças em suas terras. 

9. Foi isso que Neemias fez, ao puxar os cabelos dos "rebeldes" até lhes arrancar. Apenas estava "protegendo a pureza da lei", dos mandamentos de Yaveh, do sistema religioso  existente entorno do templo de Jerusalém. A vida humana, nesse aspecto, valia menos do que a religião, a doutrina, a liturgia. Para maioria das religiões extremista, este é o conceito que as mantem, a intolerância e o desvalor do homem, sempre baixado na escala de valores.

10. Penso que o indivíduo que utiliza a Bíblia Hebraica tem de se colocar um pouco mais no lugar dos maculados injustamente, a fim de compreender com mais propriedade o sentido real dos textos os quais lê. 

André Francisco


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