Bem-vindos!

DIÁLOGO ABERTO, O ORIGINAL, é um espaço interativo cuja finalidade é a discussão. A partir de abordagens relacionadas a muitos temas diversos, dos mais complexos aos mais práticos, entre teologia, filosofia, política, economia, direito, dia a dia, entretenimento, etc; propõe um novo modo de análise e argumentação sobre inúmeras convenções atuais, e isso, em uma esfera religiosa, humana, geral. Fazendo uso de linguagem acessível, visa à promoção e à saliência de debates e exposições provocadoras, a afim de gerar ou despertar, em o leitor, um espírito crítico e questionador.

Welcome! Bienvenidos! ברוך הבא

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

A arca de Moisés não subiu o Nilo (Ex 2,3-6)




1. É interessante como a criatividade dos pregadores trabalha nos sentidos emocionais das pessoas. 



2. Assisti a uma pregação por Paulo Marcelo, conferencista brasileiro, em Êxodo 2, 3-6, sobre o achamento de Moisés no rio nilo. 



3. Na pregação, cheia de retórica e "papagaiagem", o tal ministro afirmou que Moisés foi colocado no rio e sua arca foi guiada por Deus até às margens do palácio de faraó, conforme os propósitos divinos. 


4. Nessa história, afirmou cientificamente que o Rio Nilo tem uma correnteza inversa. Deixe-me tentar explicar. É como se o desaguamento não fosse em um litoral de baixada, mas sim de subida. Sendo assim, a força da água sobe até o mar. No caso, o palácio de faraó ficava em sentido inverso ao da correnteza, forçando uma ação divina para fazer a arca de betume subir e não descer naturalmente através da gravidade.

5. Diante dessa explicação, as pessoas que o ouviam foram ao orgasmo espiritual, êxtase completo. Vislumbravam nessas palavras a ação de Deus e do seu espírito, tanto na vida e história de Moisés como nas suas próprias. 

6. A questão toda é que o texto não diz muita coisa além do normal. Repare: 


"Não podendo, porém, mais escondê-lo, tomou uma arca de juncos, e a revestiu com barro e betume; e, pondo nela o menino, a pôs nos juncos à margem do rio.

E sua irmã postou-se de longe, para saber o que lhe havia de acontecer.

E a filha de Faraó desceu a lavar-se no rio, e as suas donzelas passeavam, pela margem do rio; e ela viu a arca no meio dos juncos, e enviou a sua criada, que a tomou.
E abrindo-a, viu ao menino e eis que o menino chorava; e moveu-se de compaixão dele, e disse: Dos meninos dos hebreus é este".


Êxodo 2:3-6 (Almeida Corrigida e Revisada Fiel)

7. Ou seja, a arca foi posta junto dos juncos. A irmã de Moisés se afastou e ficou observando a arca, PARADA, enquanto não chegava ninguém. A filha de faraó foi até à margem do rio e avistou-a PARADA no meio dos juncos e a pegou. Em todo tempo, não houve qualquer movimento milagroso contra a correnteza do rio e outras coisas mais. Pelo contrário, ficou parada. 

8. É por isso que destaquei a questão da criatividade quase que esquizofrênica do pregador. Apenas com uma simples leitura percebe-se facilmente o conteúdo do texto. O problema é que, quase sempre, apenas seu conteúdo não produz os efeitos desejados diante das pessoas, que querem algo a mais. É ópio.

André Francisco

sábado, 30 de novembro de 2013

Os problemas do cânon Bíblico

1. O cânon inteiro é bastante problemático, disso não tenho dúvidas. 

 2. Por exemplo, a carta, epístola, sermão- ou como quiser- aos Hebreus, teve sua aceitação quase plena apenas a partir do século 5 d.C pela igreja. E isso, devido a apelação que foi feita com respeito a sua autoria. Muitos afirmaram ser de Paulo, senão, não entraria. Argumento altamente questionado atualmente pela crítica-bíblica, que não consegue encontrar nenhum vestígio da característica própria das escritas de Paulo no texto supracitado.

 3. A segunda carta com nome de Pedro (que não foi o apóstolo quem escreveu), com certeza, foi escrita no segundo século, incluída em pouquíssimas listas antigas de livros que eram aceitos pelas comunidades cristãs incipientes. O texto é bastante distante da realidade apostólica do primeiro século, fazendo referências a eles como praticamente santos, junto de seus escritos. A ideia da vinda de Cristo, também, já estava sendo deixada de lado por praticamente todos os círculos cristãos, sendo necessário um apelo a seu resgate para as pregações diárias das comunidades.

4. O Apocalipse, nomeado de João, junto de outros muitos que circulavam livremente nas comunidades, não era conhecido por boa parte do segundo século. Tendo sua autoria e aceitabilidade extremamente discutida por vários concílios e reuniões oficiais da igreja primitiva. Principalmente, quando colocado junto do Apocalipse de Hermas, e também o Apocalipse de Pedro. Textos que possuíam grande estima e praticamente total aceitação do povo como Escritura Sagrada.

5. A epístola de Tiago sofreu retaliação até mesmo por vários protestantes, inclusive Lutero. Este a considerava como uma "epístola de palha" e não a reconhecia em seu "cânon particular". Boa parte dele foi aceitado posteriormente por diversas igrejas evangélicas e protestantes, dando origem a Bíblia com apenas 66 livros e não 74, como era até então. 

6. O evangelho de João, também, por ser um texto não sinótico, totalmente diferente dos outros três sinóticos, provavelmente, não existia antes do segundo século da história da igreja. Com um teor altamente gnóstico, mostra um Jesus com bastante similaridade à sabedoria gnóstica daquele tempo. São incluídos, por exemplo, diversos tipos de títulos particularmente desse contexto religioso, como a dicotomia do bem e mal, luz e trevas, fogo e água, sofrimento e alegria, céu e inferno, Deus e diabo, etc. Situações não previstas em outros textos mais antigos, como por exemplo, Marcos.

7. Existem outros problemas também, como a questionada historicidade de Atos dos Apóstolos, a autoria paulina de 2 Timóteo, Filemon, as cartas de 1 e 3 a Coríntios que sumiram, sobrando apenas a 2 e 4 que estão nas Bíblias; a mistura de fragmentos de cartas em outras, como exemplo, o capítulo 16 de Romanos, que não pertence originalmente àquela carta, mas que pode se tratar de um final previsto de Efésios, etc. 

André Francisco

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

O diabo foi expulso do céu? (Ribeiro, Osvaldo Luiz)

 
 
 
Professor, se o diabo foi expulso do céu, como foi que ele voltou lá, naquela reunião de Deus com os filhos de Deus, em Jó?

Primeiro, não era o diabo. Os judeus não o haviam inventado ainda. Trata-se apenas de um adversário: os judeus começavam a imaginar a figura de alguém que fosse o responsável imediato pelo mal, para não mais culpar a Deus por isso. Como não podia ser outro deus, começavam a imaginar que só podia ser um dos filhos de Deus. Mais tarde, desenvolveram o mito, que está escrito em Enoque, mito esse que está por trás de todo o Novo Testamento...

Segundo, a ideia de que o diabo foi expulso do céu é pós-neotestamentária. Até o final do Novo Testamento, o mito que prevalecia era o de que o diabo surgiu quando os mensageiros (depois, chamados de anjos) desceram, espontaneamente do céu, para fazerem sexo com as mulheres. Judas 6 ensina isso, ainda. Por razões que não vêm ao caso aqui, a Igreja, e acho que também os judeus, vão abandonar essa explicação, permanecer com a ideia de que o diabo é um anjo e inventar outra história para a sua origem, nesse caso, aquela que se materializará em Ez 28.

Mas, então, ele foi expulso ou não?

Até o final do século I d.C., penso que não. Depois, mudou-se a doutrina...

Ah, e o que vale, então?

Historicamente, a pergunta não faz sentido. Quanto à sua fé, seu pastor decide... Na prática, cada pastor/papa decide em que os fieis vão crer... Vai lá, pois, e pergunta a ele...
 OSVALDO LUIZ RIBEIRO

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Mar Vermelho: a travessia que não existiu. Texto 2





1. Publiquei, há algum tempo, um texto sobre a travessia do mar vermelho, dizendo que ela nunca existiu. Como de costume, muitas pessoas- como esperava- vieram com paus e pedras a fim de me atacarem, questionando tal afirmação. Diziam que "é óbvio que aconteceu, pois está na Bíblia, clara e visivelmente. 

Para visualizar o texto: http://dialogoabertoriginal.blogspot.com.br/2013/02/mar-vermelho-travessia-que-nao-existiu.html

2. Pois bem. Para os que tiveram um pouco de descomprometimento ao ler o artigo anterior supracitado, refiro-me aqui definindo a questão principal da afirmação polêmica que fiz. 

3. A Bíblia Hebraica, parte canônica onde está localizada a história fantástica da travessia, no livro de Êxodo, usa a expressão "yam suf", traduzida por "mar vermelho", em sua narrativa. Poderia, mais corretamente do que temos em mãos nas Bíblias em português, ser traduzida como "mar de juncos". Existe uma forte teoria que afirma a localidade diferenciada entre o mar vermelho e o mar de juncos na antiga topografia da península do Sinai. 

4. Em se tratando de tradução e significado da palavra hebraica, é inquestionavelmente defendida a ideia de que os hebreus não atravessaram o "mar vermelho". Se houve qualquer travessia, ainda que não mitológica e fantástica quanto a história contada heroicamente no texto sagrado, não aconteceu naquele lugar tradicional, mas sim nos juncos. 

5. O texto que publiquei também abordava as diversas tradições encontradas no mesmo texto. Essa ideia defende que a história não foi contada e passada geração após geração homogeneamente. São várias as versões e as formas de se acreditar nesse evento. Tudo isso conforme o texto, principalmente, de Êxodo 15. 

6. É claro que para observar-se essas discrepâncias entre as tradições vistas em um versículo e outro precisa-se de pelo menos uma noção de crítica e avaliação científica dos textos. Porém, não é possível afirmar-se que esses problemas não existem, pois, factualmente, estão ali. 

7. A maior dificuldade dos que observam qualquer texto Bíblico está na falta de comprometimento científico e acadêmico para com suas leituras. A avaliação meramente devocional e de fé não é suficiente para sanar todos os problemas e dificuldades encontrados em uma simples visualização crítica dos textos. E, consequentemente, acaba acontecendo que os que fazem leituras desse tipo, quase que dogmáticas, distanciam-se cada vez mais dos argumentos científicos desse material, que se comprovam a cada dia exegética, arqueológica, histórica, antropológica, filologicamente.
  
8. Assim, uma simples afirmação de que há uma tradução errada na Bíblia já se torna grandemente dificultosa de ser aceitada. Coisa que deveria ser corriqueira. 

André Francisco

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A brincadeira da girafa é satânica!



1. A brincadeira da girafa, no Facebook, chegou e a mística evangélica veio adjungida. 


2. Li hoje que a charada é do demônio. Aliás, essa questão de um casal (seus pais) chegar às três da manhã, várias coisas se abrirem,  etc, cheiram muito mal. Isso mesmo!  Porta e coração,  casal às três e café da madrugada, assemelham-se por maneira com Satã e seus agentes infernais!  


3. Pode soar ridiculamente, mas (acreditem se quiser) é o que estão dizendo por aí.


4. Como se não bastasse, sobrou para a girafa também.  A mística atinge  tudo e a todos, esteja onde estiver, seja o que for.


5. Tomara que não sobre para o DIálogo Aberto também.

André Francisco

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Do bem jurídico de Yaveh





1. Qualquer estudo sumário do Direito, principalmente em se tratando do penal, percebemos a ocorrência da ideia de bem jurídico, que visa nortear qualquer lei ou norma que se aplique no bojo geral das teorias.

2. Principalmente, destacando os conceitos preambulares da CF de 1988, é nítida a delimitação importantíssima (citando também o art. 5 da mesma Constituição) dos valores centrais de toda a norma subsequente do sistema jurídico brasileiro, destacando o âmbito político do mesmo.

3. Dá-se extremo valor aos bens jurídicos que merecem maior valor, como a vida, a honra, a liberdade sexual, a liberdade, a propriedade, etc. Conceitos que recebem naturalmente carga moral e ética vinda de outros contextos anteriores da modernidade, graças à transformação de cultura ocorrida, principalmente, a partir do Iluminismo Europeu do século 16. 

4. O controle político, econômico, social passou das mãos da Igreja e foi parar nas ideias ainda embrionárias de pensadores, dos que iniciaram e propociaram a transformação daquele mundo para o que conhecemos como Estado Democrático do Direito da atualidade (em se tratando de um contexto brasileiro, também).

5. O que me espanta é que a noção de direitos existente entre uma sociedade atual, que recebeu essas noções de ética e moral derivadas não de um sistema de religião, mas de uma sociedade cheia de expectativas secularizadas como as do Iluminismo e modernismo, é anos-luz mais justa, igual, isonômica do que aquelas que julgavam-se ter recebido sua inspiração de Deus.

6. É claro que a religiosidade, ainda que em um Estado laico, tem sua importância e presencialidade. Exemplo, cito o prêambulo da nossa CF, onde o nome de Deus é salientado. Lembrando, porém, o valor de transparência ideológica dessa referência e não de âmbito do direito como os demais conteúdos desse compêndio legal. No entanto, aparentemente, vê-se que quanto mais secularizado é um Estado de Direito, maiores são as chances da justiça e igualdade soprepôrem-se ao autoritarismo desumano.

7. No caso de Yaveh e seus bens jurídicos, qualquer observação na Bíblia Hebraica, principalmente em se tratando dos textos mais antigos, vemos a falta de qualquer noção de valor humano e de direito. Casos como matança de mulheres por causa de menstruação, assassinato de milhares de crianças para o tomamento de terras estrangeiras, o abuso do poder religioso em detrimento do poder social das classes baixas, são exemplos nítidos de que houve, indubitavelmente, uma evolução na ideia do que é ser sociedade entre aquela e nossa época.

8. Ler qualquer especificidade do direito e notar o destaque desses bens tão importantes- que consideramos atualmente- com certeza, deixa a noção do bem jurídico de Yaveh e de toda religiosidade passada muito aqúem. 

André Francisco

sábado, 19 de outubro de 2013

"Palavrões" de Jesus e os nossos






1. No tempo de Jesus, como em qualquer cultura ou época diferentes, existia a utilização de palavras de baixo calão, corriqueiramente, "palavrões". Normalmente, em um contexto judaico, essas expressões de xingamento eram conectadas com questões de religião. Ou seja, as palavras que denotavam esse caráter eram, quase sempre, envolvidas com aspectos da religião.

2. Diferentemente do Brasil e da língua portuguesa falada aqui, onde pode-se perceber nitidamente a relação entre palavras de baixo calão e a sexualidade. Essa característica é devido a fatores históricos passados, em que a Igreja Católica marginalizava aspectos sexuais da cultura e da vida cotidiana do povo. Ou seja, relacionou-se qualquer tipo de xingamento com o sexo, com questões sexuais. 

3. Num contexto judaico, diferentemente de nossa cultura ocidental latino-americana, mais especificamente brasileira, a conexão é religiosa. 

4. Por exemplo, são visíveis no Novo Testamento algumas dessas ligações. Expressões como "filho do diabo", "cachorro", "filhos de Belzebu", "raça de víboras", são xingamentos, palavrões, claramente voltados ao público da religião. As traduções da Bíblia para o português, com certeza, suavizaram bastantes termos ao serem feitas, removendo aquela "mácula" dos textos sagrados, deixando-o mais brando, acessível, "puro". 

5. Um texto onde essa suavização é visível: 

"Os publicanos e as prostitutas vos precederão no reino de Deus.” (Mt, 21, 31) 

Poderia, justamente, a palavra prostituta ser traduzida como "puta". Porém, é nítido o aspecto suavizador, de eufemismo, nesses casos mais fortes. Até para que o texto tenha seu público leitor mais ampliado e possa ser manuseado por qualquer pessoa, independentemente da idade. 

 6. Um caso veterotestamentário é a expressão incircunciso. Um xingamento extremamente grave para judeus. Comparável aos piores existentes na nossa língua, seja ele qual for.


André Francisco

sábado, 12 de outubro de 2013

O deus do outro é sempre um demônio

1. O cara chama o deus do seu vizinho de demônio,  mas se esquece que esse vizinho também acredita que qualquer outro ser, tido deus, além do seu é demônio do mesmo jeito.

2. A grosso modo, de duas uma. Ou um ou outro está certo em sua afirmação.  Se não, um terceiro pode entrar nessa disputa de entidades e os dois passam a ser passíveis de estarem errados.


André Francisco

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Jesus e o álcool




1. Tratar da utilização de álcool por religiosos é sempre uma questão polêmica, principalmente, em se tratando dos seguimentos que proíbem tal uso terminantemente. 

2. Porém, acho necessário comentar a respeito, devido ao preconceito e a má utilização de textos Bíblicos com relação ao caso. 

3. Primeiramente, muitas pessoas, a fim de usar a Bíblia para proibir o uso por cristãos, afirmam que, no Novo Testamento, qualquer aparecimento da palavra vinho trata-se apenas de suco de uva, com 0% de teor alcoólico. Ou seja, dizem que há uma proibição clara quanto à uva fermentada, não com a sem fermentação. 

4. Para conhecimento, li inúmeros estudiosos sobre o tema "bebida" no mundo antigo, em um contexto hebreu, egípcio, grego, latino, e outros, para tentar descobrir se a informação era verdadeira. Logicamente, deparei-me com uma dificuldade inicial. 3 dos principais especialistas na área, arquelógica e historicamente, afirmam que não existia, há dois mil anos, época em que a história neotestamentária desenrola-se, remoção completa da fermentação da uva. Ou seja, não existia tecnologia que fizesse a extração do álcool do suco, deixando-o com 0% de teor embriagante. Essa técnica foi desenvolvida muito tempo depois pelos Europeus. Havia sucos que eram deixados para fermentar mais tempo do que outros, diferenciando, assim, a quantidade, surgindo a bebida forte e a normal, mas nunca 0%.

5. Logo, para começo de conversa, não havia chances tecnológicas de qualquer vinho ser 100% suco de uva, como encontramos atualmente nos mercados. 

6. O vinho sempre fez parte do cotidiano da família judaica, desde a antiguidade. O seu consumo simbolizava os grandes triunfos da cultivação, a prosperidade, a alegria, união, e outras coisas mais. Ninguém tomava refrigerante há dois mil anos atrás, tomava-se o vinho com baixo teor alcoólico. Nas festa, de casamento, por exemplo, eram distribuídas bebidas mais fortes, especiais, conservadas justamente para ocasiões importantes. É o caso das bodas de Caná, em que Jesus transformou a água, deixando todos aqueles convidados alegres, prontos para continuarem o consumo. 

7. A cerveja, em alguns casos, era consumida em um contexto judaico, mas não com tanta frequência quanto o vinho. Por ser uma das bebidas, senão a, mais antigas do mundo, com certeza, tinha sua influência notória naquelas regiões. 

8. Biblicamente - termo que as pessoas gostam de usar; que eu acredito que não exista- não existe sentido em proibir-se o consumo moderado. Aliás, milhares de versículos estimulam tal fato, destacando livros de sapiência e poéticos. 

9. Penso que exista uma generalização errada sobre o assunto dentro de círculos evangélicos, não possibilitando o cotejo de ideias que possam melhorar a imagem dessa "atividade" marginalizada. 

André Francisco 

domingo, 15 de setembro de 2013

A inclusão do funk na liturgia sagrada conservadora (imparcial)




1. É normal que, a cada década, um estilo musical seja criado e popularizado. Tem-se como exemplo o rock, o reggae, o pop norte-americano, o pop rock, blues, jazz, e outros mais tipos distintos. O homem, como ser criativo, renova os meios de entretenimento , principalmente nessa área.

2. No contexto atual nacional, o funk tem sido um estilo musical bastante questionado quanto a suas características artísticas. Há quem diga que não se trata de um ritmo que deve ser levado a sério, porém, não é surpresa para ninguém perceber que tem tido uma acensão incrível desde meados da década passada.

3. Normalmente, tem havido uma inclusão considerável desse estilo em todos os eventos direcionados à diversão por via de música em contexto nacional. Até mesmo nos que são considerados como primeiro escalão. Secundariamente também. Dificilmente, vê-se uma festa que não haja uma participação direta do funk em seu desenvolvimento. 

4. Duas das principais capitais do Brasil representam-no diretamente, São Paulo e Rio de Janeiro, caracterizando-lhe como funk paulista e carioca. Isso contribui para a materialização de um estilo que possui seu próprio rosto, seus aspectos primordiais, suas características de letra, harmonia, melodia. 

5. Em em se tratando de um contexto litúrgico-religioso, percebe-se que o funk ainda não tem sido aceito pela maioria dos movimentos. Esse processo de aceitação aconteceu com todos os outros estilos supracitados, durante bastante tempo na história mais recente da inovação musical. Destacando-se as igrejas protestantes tradicionais, onde existe uma maior demora e menos flexibilidade de adaptação às novidades que lhes são apresentadas (em quaisquer áreas). 

6. Algumas comunidades cristãs já tem aderido à "moda" e iniciado um processo de inclusão. Alguns hits conhecidos tem tentado popularizar essa ideia intraeclesiasticamente. Em comunidades mais carentes, há mais facilidade de aceitação por parte das pessoas, salientando a carência de um posicionamento crítico próprio e consistente. 

7. Com certeza, como aconteceu com o rock, a partir de algumas bandas que radicalizaram seu uso para dentro das paredes do templo, destacando-se os anos 90 e o crescimento do evangelicalismo brasileiro, o funk tornar-se-á comum, futuramente, às liturgias animadas de igrejas novas. Até mesmo, otimisticamente, dentro de ambientes mais tradicionais e conservadores, conforme já mencionados. Esse processo, com a passagem de gerações mais antigas de posições de governo e destaque na hierarquia eclesial, toma proporções mais aceleradas, visíveis provavelmente ainda nessa década. 

André Francisco

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

7 bons motivos pelos quais não vou mais à igreja!

Tenho encontrado com diversas pessoas e amigos, pessoas que me conheceram há tempos, que conviveram comigo na época pré-seminário e me tinham como  futuro pastor ou algo do tipo e elas me perguntam como "vai na igreja", e já percebem que estou pra lá de Bagdá, pelo meu novo "visû" com direito a tatuagens e tudo mais. Geralmente, respondo: "estou de férias" e tenho que lhe dar com aqueles olhares desconfiados, com um misto de tristeza e indignação, que provavelmente são decorrentes do pensamento que minha alma antes salva e remida agora se encontra veementemente em direção ao inferno. Pois bem, "estar de férias" foi a resposta mais curta, bem humorada e evasiva que encontrei para tirar o foco de uma possível conversa embaraçosa sobre o porquê não vou mais à igreja. A despeito disso, decidi pontuar alguns motivos que me fizeram desistir da caminha eclesiástica; e não senhores, não foi porque a carne é fraca ou o inimigo é poderoso, são motivos mais interessantes e menos banais do que esses, vejamos:


1. Toda instituição tem direitos e deveres, e você, como membro de tal instituição (a sua denominação), precisa estar de acordo com isso. Comecei a perceber que alguns deveres doutrinários eclesiásticos eram anti-bíblicos e faziam parte de uma teologia que era caótica, opressora e ultrapassada (qualquer estudante sério de um curso teológico competente, sabe do que estou falando ), que realmente oprimiam meu espírito, não havendo compensação nem pelos direitos inclusos. Não pode isso, não pode aquilo, não faça isso, não faça aquilo, porquê? porque Deus não se agrada. E aonde está isso? Na bíblia oras! Tá nada.

2. Não havia espaço para formadores de opinião, somente lobotomizados. A história é a mesma do sistema católico. Lá o Papa e Roma falam e o resto obedece, na igreja o Pastor presidente e seus comissionados falam, as ovelhas não questionam, a despeito do tal título de "protestantes" e todo o discurso libertador de Lutero. Primeiro não questionam porque falta "informação" para que os mesmos discursos manipuladores se proliferem. Segundo, porque questionar lhes deixa com a marca de rebelde e revolucionário, nome moderno para "herege"; e a maioria das pessoas não querem serem taxadas assim, querem apenas viver vidas felizes, ter bons relacionamentos e ir à melhor pizzaria da cidade no final de semana.

3. Na maior parte dos casos, a doutrina é mais valiosa do que a pessoa humana. É sempre mais Paulo, do que Jesus. Você só possui valor se andar de acordo com o a,b,c,d  da cartilha doutrinária, caso o contrário, seu nome é bode e você estará condenado a viver nas margens dos grupos comprometidos com a causa, ou simplesmente um fantasma que só tem o direito de sentar no banco e assistir aos cultos de domingo, onde o pastor sempre fala sobre amor, perdão, justiça e inferno no final (na maioria das vezes discurso vazio, sem ação ou prática). Se você for um homossexual, é bem provável que nem tenha amigos.

4. Esse molde de instituição eclesiástica européia-norte americano instalado no Brasil nada tem a ver com a definição de igreja que "possivelmente" Jesus Cristo propagou. Muitos gostam, é verdade, o mundo de hoje é institucionalizado, outra verdade, mas se compararmos Igreja Moderna (instituição eclesiásticas ou denominações) com Igreja Conceito (Corpo de Cristo), ficaríamos horrorizados com as atrocidades que muitos lideres cometem em nome de Deus.

5. A velha guerra contra a velha senhora teologia. Pensar é proibido, afinal, se pensa, questiona-se, se questiona, coloca-se em cheque a validade da doutrina ou dogma, portanto, nada de pensar. Teologia é coisa do diabo, porque "esfria". A única teologia que presta é a confessional, aquela que defende todos os nossos catequismos denominacionais. Isso não é fazer teologia, é aulinha de EBD, maternal para crianças, é o começo de tudo. Estudar a bíblia seriamente e encará-la como um livro histórico, montado, com processos de formação que envolvem sistemas de pensamentos, influências culturais, imersão em sociedades antigas, fatos arqueológicos, vícios de linguagem, linguagem propriamente dita, avaliações hermenêuticas e exegéticas; e não somente estudar a bíblia, estudar a religião como fenômeno, suas origens e causas, o ser humano em si, sua natureza, sua vida em sociedade e todos as ciências que envolvem Homem e Religião; ou seja, é desnudar-se, estar pronto para desconstruir conceitos formados no senso comum e construir novos conceitos baseados na maturidade intelectual e espiritual de um estudo sério sobre sua própria crença. Diz respeito a conhecer a si próprio ou a sua própria verdade, entender-se como ser religioso. Se no final de toda essa caminhada ainda permaneceres com sua fé, entenderás o sentido existencial da religião, e que crer em algo (no caso no cristianismo) é uma escolha pessoal e ultrapassa os limites da razão, não abrindo mão dela ao mesmo tempo. Portanto, "diabo", nesse caso, é a preguiça do imediatismo religioso para não percorrer o árduo caminho da cansada velha senhora teologia.

6. A igreja nunca foi e nunca será a unica fonte de espiritualidade existente e nem a melhor de todas elas, isso é apenas retórica de marketing de sermão de pastor do culto de domingo. Ela pode ser uma boa fonte sim, dependendo da liderança comprometida com as pessoas e com um discurso de fato cristão. Falo isso porque uma vez me questionaram, como andava a minha vida espiritual, respondi sinceramente "vai muito bem", a pessoa não satisfeita perguntou novamente, "mas você tem ido à igreja?", respondi "não, mas amo minha família, meus amigos, passo meu melhor tempo com eles e ainda escuto rock de boa qualidade", nem preciso dizer que tive de ouvir um sermão tenso da necessidade de ir à igreja por dezenas de motivos. A grande verdade é que eu, Rodrigo Mascarenhas, me sinto feliz, preenchido espiritualmente e com um propósito estabelecido de vida, sem precisar ir ao templo. Aterrorizado?! Não deveria. Ao contrário do que falaram pra você, não é necessário ir à igreja para ser feliz ou ter paz, ser salvo, ou algo do tipo; ou talvez devesse considerar que 2/3 da humanidade ou mais não vão a igreja e nem por isso vivem em miséria espiritual porquê não receberam o afago dos irmãos ou ouviram o sermão abençoado do pregador ungido. Não pretendo ser cruel e não ridicularizo sua fé com isso. Se considera a igreja como uma boa fonte de espiritualidade para você, se isso lhe satisfaz, lhe traz felicidade, propósito de vida, sentido existencial, siga o seu caminho, mas não olhe para mim com olhar de "pena", pensando, pobre rapaz, tão infeliz longe dos caminhos do Senhor. O mundo não gira entorno da sua verdade.

7. Interpretação fundamentalista da bíblia sagrada. Como diria o reverendo Joaquim Beato, " Sua leitura (protestante) é feita a partir de esquemas externos, como o dispensacionalismo, ou de uma tipologia que transforma o Antigo Testamento em Novo Testamento, dependendo somente da capacidade imaginativa do intérprete; ou ainda na busca de textos bíblicos isolados, com o intuito apologético de fundamentar suas doutrinas peculiares e combater as doutrinas alheias diferentes", portanto desonesta. O que nos leva a outro caso, a apropriação do cristianismo como verdade absoluta. A partir disso, todos as outras formas e expressões de religiosidade ou religiões estão erradas e incompletas, portanto direcionadas ao inferno. Não há como fugir, se você pensa dessa forma, provavelmente 2/3 da humanidade caminham em direção as chamas satânicas de Lúcifer, e se você consegue dormir a noite com tal convicção e informação, ou no fundo você não liga muito pra isso ou é um tipo de sociopata ideológico.


Portanto, caro amigo, essas são algumas de minhas razões ou as principais delas para eu não frequentar mais a igreja. Não escrevi esse texto para que você se tome a mesma decisão que tomei, na verdade estava cansado de ser banalizado pela minha escolha; e se tomar que seja por contra própria, ciente das consequências do seus atos, mas se nenhum tipo de culpa, afinal você não precisa do templo para ser "salvo", se é isso que lhe prende a sua denominação. Você tem a liberdade também para procurar outra denominação; e acredite algumas são melhores do que outras, mais honestas, mais afetuosas, mais saudáveis dentro daquilo que pontuamos no texto, basta saber discernir, ou se preferir ainda, pode sofrer as duras chibatadas da incompreensão e tentar uma mudança no seu meio, esse é pior de todos os caminhos, mas se conseguir, será o maior dos êxitos. Quanto a mim, fico aqui, totalmente aberto para um convite em sua igreja ao domingo, mas já adianto logo que não aceitarei ao apelo do pastor para ir a frente após ao sermão, e logo após o culto iremos para um bar comer deliciosos quitutes, tomar um geladíssimo chopp e teologar ao som de um bom MPB, bela programação eim?!



Rodrigo de Barros Mascarenhas



A música "Sorte Grande (Poeira- Ivete Sangalo)" e a hermenêutica defeituosa




1. São três os responsáveis principais pelo caos interpretativo que quero destacar nesse artigo: Orígenes, a interpretação conservadora literalista da Bíblia e a Ivete Sangalo.

2. Trago em questão a música "Sorte Grande", famosa "Poeira", da cantora acima citada, que por muitos carnavais brasileiros tem incendiado o público com seu gingado baiano, atráves do axé.

3. Para quem não conhece a letra, vai na sequência: 

A minha sorte grande,
Foi você cair do céu,
Minha paixão verdadeira.
Viver a emoção,
Ganhar teu coração,
Pra ser feliz a vida inteira...
É lindo o teu sorriso,
O brilho dos teus olhos,
Meu anjo querubim.
Doce dos teus beijos,
Calor dos teus braços,
Perfume de jasmim...
Chegou no meu espaço,
Mandando no pedaço,
Com o amor que não é brincadeira.
Pegou me deu um laço,
Dançou bem no compasso,
De prazer levantou poeira.
Poeira
Poeira
Poeira
Levantou poeira!
Poeira
Poeira
Poeira
Levantou poeira!

4. Pois bem. A questão está relacionada com a interpretação tradicional de muitos evangélicos conservadores quanto a essência da letra dessa música, que, para muitos deles, expõe, de maneira subliminar, a queda de Satã, o Lucifere, segundo Jerônimo na vulgata latina, e parte devida a Orígenes, é claro.

5. Para entendermos a questão, é necessário que uma pequena centralização seja feita. A dificuldade toda está adjungida à Isaías 14,12,  a qual indica a queda de הֵילֵ֣ל בֶּן־שָׁ֑חַר, estrela d'alva. Orígenes interpretou como sendo uma referência direta a Satã, o adversário do Antigo Testamento, implícita e comparativamente, fazendo jus ao seu método de leitura e exegese, apadrinhado a Fílo de Alexandria. Jerônimo confirmou a crença nessa hermenêutica defeituosa, traduzindo הֵילֵ֣ל בֶּן־שָׁ֑חַר  (heilel ben-shachar) por lucifere, corretamente, porém, reforçando a ideia de que se tratava de Satã e não de uma alegoria ao Rei Babilônico, conforme o próprio texto sugere em 14, 4.

 OBS: para maiores informações: 

  http://dialogoabertoriginal.blogspot.com.br/2012/11/disse-jesus-eu-sou-lucifer.html

6.  O texto foi interpretado e ainda é, desta maneira, por grande quantidade de igrejas, consolidando, assim, inúmeras doutrinas de demonologia, apocalípticas, entre outras, que constituem seus credos fundamentais. 

7. No caso da música, a ideia popular é que Ivete Sangalo, sabendo dessa "referência do texto à Satanás", popularizou o seu triunfo, divinizando-o e comentando sua queda, além do amor que tem por ele. Os mais radicais, fazendo uma ligação com o Estado natal da cantora, Bahia, e sua grande quantidade de religiões afro-brasileiras, ritualísticas, de macumba (linguagem intra-religiosa), magia, não pensam duas vezes ao afirmarem tais relações satânicas. As palavras-chave, que salientam o argumento tradicional, são: "você cair do céu"/ "anjo querubim"/ "perfume de jasmim"/ "pegou me deu um laço". 

8. O religioso, em sua cabeça, pensa: quem caiu do céu? Isaías 14 responde, Satã. Quem era anjo querubim antes de cair? Satã. Quem vivia entre as pedras afogueadas nos jardins de Yah? Satã. Quem, atualmente, está disposto a dar um "laço" nas pessoas, levando-as ao inferno? Satã. Pronto! Argumento construído e com base Bíblica. 
  
9. Defeito de todas as partes. Isaías 14 não faz referência à Satã. Lucifere também nunca foi Satã, em nenhum texto Bíblico. Aliás, a segunda epístola nomeada de Pedro chama Jesus de lucifere na mesma tradução de Jerônimo, Vulgata Latina. 


"...e a estrela d'alva surja nos vossos corações". 2 Pedro 1:19 (ARC)
"...e a estrela da alva nasça em seus corações". 2 Pedro 1:19 (NVI)
"...et lucifer oriatur in cordibus vestris". 2 Pedro 1:19 (Vulgata Latina)

10. Logo, estão errados: Orígenes, que iniciou a hermentêutica defeituosa de Isaías. Jerônimo, que reforçou a ideia e contribuiu muito para o desenvolvimento do conceito de que Satã uma vez já foi anjo bom, guardião, morador do céu, e outras mais. E a Ivete, se se apropriou de alguma forma dessa tradição para escrever sua letra (caso que não há comprovação, obviamente). 
André Francisco

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Quando um texto é pregado erradamente (Eclesiastes 12,1)





1.Pode ser desanimador o fato de descobrimos que um texto que afirmamos ser uma coisa durante toda a vida é outra. No caso de Eclesiastes 12,1, essa máxima pode ser aplicada, tendo em vista as milhares de vezes que foi pregado indevidamente, principalmente em cultos direcionados ao público jovem, onde a retórica pelo temor e obediência a Deus chega a ser apelativa ao extremo, a partir do uso desse livro de sapiência. 

3. As pessoas leem, na Revista e Corrigida de Almeida, "Lembra-te do teu Criador, nos dias da tua mocidade...". 

4. É interessante que até letra maiúscula, caracterizando Deus na palavra Criador, aparece na tradução. Porém, no original hebraico, a palavra está no plural; isso mesmo!

5. A tradução correta, no caso, seria "criadores". O pregador desavisado, que gosta de achar a trindade divina em qualquer parte da Bíblia Hebraica e Grega, poderia sugerir o uso à doutrina, reforçando o conceito plural de Yaveh. Mas essa especulação, com certeza, seria abusiva e desprovida de sustentação gramatical e de vocabulário. 

6. "Lembra-te dos teus criadores, nos dias da tua mocidade", esse é o texto traduzido corretamente. Uma possível alusão aos pais que sustentaram e mantiveram o indivíduo nos dias de sua mocidade, pois o verbo 'bará', usado na tradução de Gn 1,1 como 'criou', pode significar "engordadores".

7. Aplicação coerente, pais, engordadores.

8. Espero que quem leia essa postagem nunca mais diga que é Deus em Eclesiastes 12,1. Isso é questão de honestidade. 

André Francisco

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Meu lamento àqueles que acreditam que se trata de demônio





1. Mais uma tragédia aconteceu no Brasil, em se tratando de crimes chocantes. O garoto Marcelo Pesseghini, 13, é suspeito de ter matado quatro membros de sua família, inclusive pai e mãe, com tiros na cabeça, na zona Norte de São Paulo.

2. É perceptível que todas as vezes que ocorrências como essas aparecem diante de nossos olhos, principalmente destacando o aspecto místico e altamente supersticioso da sociedade brasileira, algumas tentativas de explicação naturalmente sobressaem-se. É mais nítido ainda o fato de que a igreja posiciona-se com a "resposta" que julga ser a mais exata, imediatamente, atribuindo casos como esse aos textos apocalípticos de sua literatura de fé, como também fazendo referência à demônios e suas ações no mundo físico, que é tido como o da "última hora", do "estopim".

3. Diante de um momento delicado tal como este, tanto para qualquer simples comentário a respeito, também para as autoridades que estão trabalhando proficuamente na resolução do caso, percebe-se que conclusões e respostas prontas, místicas ou de perícia especializada, não são benquistas, definitivamente. No entanto, já notei que certos indivíduos estão atribuindo esse infortúnio criminoso à possessão demoníaca e cumprimento da "palavra apocalíptica".

4. Acredito que há extrema deficiência nessas considerações preciptadas e completamente deslocadas do campo da prova, do experimento, do teste e laudo técnico. Não há situação mais constrangedora do que se afirmar que houve atividade maligna de apenas um seguimento religioso, no caso, cristianismo evangélico (considerando que o Catolicismo Romano não faz referência direta nem midiática blicas), na vida dessa família brasileira, principalmente do menino Marcelo. Primeiro, porque nada foi provado ainda. Segundo, que n motivos concretos serão investigados com seriedade, de maneira específica, descartando-se, assim, retóricas que se fundamentem em previsões e conceitos metafísicos. 

5.  Penso que está na hora das pessoas que acreditam em uma realidade além dessa física e material colocarem-se em seus devidos lugares, no campo da suposição, da fé, da emoção, crença, crendice, etc. Caso contrário, a cada dia que passa, a sensação é de que o Brasil caminha para um sistema de mídia e política da Idade Média, onde qualquer questão era tratada e averiguada a partir dos olhos dos conceitos doutrinários vigentes, ou seja, da máxima religiosa da massa. 

6. O Brasil, um dos países com maior número de evangélicos no mundo, já sente essa aproximação de suas estruturas governamentais daquela da mística e opinião religiosa. É claro que, por se tratar de um país onde há liberdade de expressão, qualquer pensamento nessa tênue linha é protegido pelo direito do Estado Democrático. Porém, o que me causa preocupação é que uma coisa parece que prossegue para a dependência da outra. Unidas dessa forma, indissolúveis, só nos resta abraçar novamente a Idade das Trevas.

7. Triste realidade para nossos descendentes, que, inevitalmente, aprenderão que o sol é quem gira em torno da terra!

8. Meu profundo lamento àqueles que acreditam que foram demônios. 

André Francisco

Postagens populares