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DIÁLOGO ABERTO, O ORIGINAL, é um espaço interativo cuja finalidade é a discussão. A partir de abordagens relacionadas a muitos temas diversos, dos mais complexos aos mais práticos, entre teologia, filosofia, política, economia, direito, dia a dia, entretenimento, etc; propõe um novo modo de análise e argumentação sobre inúmeras convenções atuais, e isso, em uma esfera religiosa, humana, geral. Fazendo uso de linguagem acessível, visa à promoção e à saliência de debates e exposições provocadoras, a afim de gerar ou despertar, em o leitor, um espírito crítico e questionador.

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quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Obama, o aeroporto de Aécio e o Porto de Cuba




1. Os discursos de reaproximação entre os Estados Unidos da América e Cuba estão repercutindo rapidamente em todos os canais de ponta de acesso à informação. Por alguns, a notícia foi tratada como um marco histórico, devido, principalmente, ao caráter de excepcionalidade dado às últimas pronunciações, como se nenhuma medida política-econômica passada, que consequentemente resultaria nessa decisão, agora esclarecida para todos, pudesse ter sido detectada pelos especialistas do assunto. Outros canais apenas continuaram a relatar o que já vinham há tempo fazendo e que estava na cara que aconteceria. 

2. Lembro-me que, na época das eleições presidenciais, existiam dois argumentos- quase que clichês- expressamente batidos pelos dois principais candidatos ao cargo do Executivo. Era uma espécie de alfinete à mão para ambos. Quando as palavras sobre economia, segurança pública, saúde, educação, tornavam-se cansativas, ainda havia uma carta na manga pronta para ser acionada. 

3. Uma se configurava questão sobre um aeroporto construído em terras da família do Senador Aécio Neves- PSDB, pelo governo de Minas Gerais, quando o referido era governador do Estado. A obra realizada pelo Deop (Departamento de Obras Públicas do Estado) fica nas terras de Múcio Tolentino, seu tio-avô. Múcio é irmão da avó do PSDBista, Risoleta Tolentino Neves (1917-2003), que foi casada por 47 anos com Tancredo Neves (1910-1985). A pista do aeroporto fica ao lado da fazenda Santa Izabel, também propriedade de Múcio, segundo o Jornal Folha de S. Paulo. Ou seja, muita coisa em casa!

4. Claro que foi negado qualquer suposto envolvimento de interesses entre parentes no que tange à escolha do local da construção, no entanto, foi afirmado que se levou em consideração critérios técnicos em todo momento. Mesmo existindo opiniões contrárias de especialistas no assunto. Pois bem. A oposição logo tentava tirar a sua carta da manga, depois de ser acusada veementemente desse imbróglio que envolvia o aeroporto de seu representante. Desenterrando um fantasma que vitima inúmeras pessoas ainda hoje no Brasil, fizeram de um investimento  de 800 milhões de reais, do BNDES, no Porto de Mariel de Cuba, proposto obviamente pelo Governo Federal, um assunto polêmico. 

5. O argumento era o mesmo de sempre, o Brasil, que está sendo governado por um partido de esquerda, está investindo milhões de reais do dinheiro público em uma nação estrangeira comunista. Logo, está financiando a expansão do comunismo no continente americano, criando inimigos, mudando amoitadamente o sistema político-social atual. 

6. Uma notícia que deixou muita gente de cabelos em pé. Claro que anunciada de maneira totalmente incorreta e acobertando outras mais que justificariam a medida tomada pelo governo nesse investimento. Mas o que isso tem a ver com EUA e Cuba? Tudo! Agora não é novidade para ninguém que os EUA possuem uma nova política de enfrentamento das diferenças existentes com a ilha dos irmãos Castro. Foi anunciado em rede mundial que a política atual seria modificada, pondo um fim a mais de cinquenta anos de bloqueio diplomático. Futuramente, a ideia é que o embargo econômico, que ainda existe entre os dois países, seja revisto e consequentemente extinto, visando à ampliação de relações comerciais amistosas. Obviamente que essas medidas não resultarão em conclusões positivas velozmente, mas em uma proposta incipiente, que modificará de maneira profunda a forma de se relacionar entre eles. 

7. E o Porto de Mariel? É óbvio que o Brasil se beneficiará, como já tem se beneficiado, sobremaneira com esse investimento que fez. O jornalista José Antônio Lima elenca alguns pontos por que a parceria com Cuba, com relação ao Porto, é benéfica para o Brasil:

1. O Porto de Mariel, em Cuba, é tão sofisticado quanto os maiores do Caribe, Jamaica e Bahamas. O BNDES financiou o valor de 682 milhões de dólares com a garantia de que, em contrapartida, 802 milhões de dólares colocados na obra fossem gastos no Brasil, com a compra de bens e pagamento de serviços comprovadamente brasileiros. Segundo levantamento de Odebrecht, empreiteira que também recebeu financiamento para a obra, esse valor empregou 156 mil brasileiros de forma direta e indireta.
2. Há de se considerar ainda que a população cubana é um mercado potencial para empresas brasileiras. Exemplo disso é que as exportações do Brasil para Cuba quadruplicaram na última década, colocando o Brasil entre os três maiores parceiros da ilha.
3. A parceria será ainda melhor se a economia cubana passar por uma modernização. Nesse aspecto, Mariel é fundamental. Ali, ao contrário do resto do país, as empresas podem ter capital 100% estrangeiro, por causa da criação da Zona Especial de Desenvolvimento Econômico. Isso gera o quê? Mercado para as empresas brasileiras.
4. Outro ponto estratégico de Mariel é sua localização, já que fica a 150 quilômetros do maior mercado do mundo, os Estados Unidos. Embora o embargo estadunidense à Cuba ainda esteja em vigor, ele não se sustenta a longo prazo. O presidente Barack Obama, inclusive, já sinalizou que quer flexibilizar a relação entre os dois países. Quando o embargo cair, Cuba se tornará estratégica para o Brasil por causa de sua posição. E, enquanto existe o embargo, o Brasil ocupa um mercado no qual os Estados Unidos não tem entrada.
8. Estranho mesmo é que pouca notícia havia destacando pontos positivos do investimento. Aquilo que realmente existia era extremo rechaço à medida por causa de utópicas modificações do Brasil capitalista a comunista. Agora que o plano estratégico foi revelado, pouca coisa se fala do que o Porto pode significar para o Brasil. Falar de um aeroporto caseiro é uma coisa, mas de uma política bem feita de desenvolvimento é outra. Tentaram acobertar por muito tempo que a obra era boa, não comunista. Mas, agora, quem pôs um basta a essa maquiagem controladora midiática foi Obama. Será que vão tentar mudar as palavras ditas pelo homem também? A oposição precisa de outra carta na manga! 
André Francisco

Lava-se, à Jato, os barris baratos de petróleo



O preço do barril de petróleo não para de cair- o valor depreciou 46% desde junho, chegando a US$ 63 na semana passada, o menor valor em cinco anos e meio. Pode ser que, a curto prazo, essa situação deva ter consequências positivas para o Brasil. Mas, a longo, prejudique os investimentos previstos para o pré-sal, já que há desvalorização (Lúcia Müzell; Adriano Pires). 
É bem provável que a queda gere resultados positivos imediatos, como, por exemplo, o barateamento da gasolina, óleo diesel, derivados, considerando que o Brasil é importador. Resultado que atinge, logica e diretamente, os bolsos da população consumidora. E, diferentemente de outros lapsos econômicos mundiais e nacionais envolvendo o óleo da pedra, seria positivamente. 
A questão principal, contextualizando, é a conexão que, sem sombras de dúvidas, ocorrerá futuramente entre as novidades que envolvem a queda do valor dos barris e os escândalos envolvendo a estatal Petrobras. Aqui, obviamente, destaca-se os grandes e poderosos veículos de divulgação de notícias em massa, que se propõem a se opor às medidas atuais de política governamental do país. 
Há alguns dias, foi capa de determinadas fontes de notícia o suposto envolvimento de um escritório de advocacia estadunidense, Wolf Popper LLP, da qual fazem parte certos gringos que investem na Petrobras, quanto na abertura de uma ação coletiva contra a empresa, destacando o caso da operação Lavo Jato, que está em tramitação atualmente. É claro que a notícia sobre o escritório foi anunciada com um recheio de maldade que buscava conectar o escândalo de corrupção em voga com fontes estrangeiras a fim, ao meu ver, de gerar imagética seriedade a mais no caso. Quando os EUA estão envolvidos, para quem está de fora, é porque a situação está preta. 
E na continuidade da matéria pretendeu-se mostrar que há um responsável por tudo isso, ou vários. Mas em quase nenhum momento as principais figuras do esquema, como indiciados e abertamente citados pela Justiça Federal, foram considerados como tal. Pelo contrário, a responsabilidade foi total e indiretamente jogada nas costas do Governo Federal e, consequentemente, do Poder Executivo. 
Não há surpresa alguma que tenha ocorrido, depois de poucos dias, a divulgação de um relatório paralelo duro do processo, pela oposição, no congresso Nacional, acusando até mesmo a Presidenta de improbidade administrativa por causa da corrupção na Petrobras e nas empreiteiras relacionadas. 
Aposto que os barris baratos vão virar notícia e serão lavados à Jato dentro de poucos dias. De alguma forma bem esperta, ou nem tanto, conectarão um assunto ao outro e divulgarão para o povo ver. Petrobras- Operação Lava Jato- Barris Baratos. Falta apenas uma mente criativa para ligar tudo isso e publicar em alguma página por aí. 

André Francisco

sábado, 5 de julho de 2014

"Amaldiçoe seu deus e morra" (Jó 2,9). Será que está certo?




1. Não importa se qualquer teólogo atual disser que o texto está errado, as pessoas, por causa da tradição, não quererão saber disso. Mas que está traduzido errado está, isso é fato.

2. Jó 2,9, na sua Bíblia, está escrito assim: 

 “ Então sua mulher lhe disse: Ainda reténs a tua integridade? Blasfema (amaldiçoe) de 
Deus, e morre".


2. A palavra "blasfema", mais comumente, é "amaldiçoa", nas traduções (ARC, ARCF, NVI, NTLH, PE, AM, etc). 

3. Pois é, está totalmente errada a tradução. 

4. O termo hebraico “...barak Elohim vamut” significa "abençoa (ou bendiga) a elohim e morra". Nunca, "amaldiçoe". 

5. Simples assim. Mas qual a empresa de tradução de Bíblia atual que gostaria de ter suas Bíblias manchadas com a notícia de que essa palavra tem sido traduzida inadequadamente por tanto tempo? Garanto que nenhuma, nem em se tratando da SBB. 

6. Desonestidade teológica para a manutenção do comércio no contexto religioso brasileiro. 

7. Depois os teólogos é que estão errados! 

André Francisco



Agora sou livre, Fernando!




_ Agora sou livre, Fernando! Estou na igreja há duas semanas. 

_Tudo bem então...

_ Só não posso mais usar calça comprida, saia justa, mini-saia, camisa decotada, roupas que marcam, vestidos apertados, fazer maquiagem, cortar o cabelo, aparar ou pintar, depilar a perna, as axilas, o rosto ou qualquer parte do corpo, shorts; passar batom; cantar, solfejar, pensar, assobiar músicas que não sejam da igreja, ver televisão, novela, seriado, filme, ir ao shopping, ir à balada, bailes, bares, festas mundanas, juninas, shows, eventos seculares, ir à praia, assistir a futebol, jogar qualquer tipo de esporte, na loteria, bingo, vídeo-game, frequentar estádios, xingar, falar palavrões em hipótese alguma,  beber qualquer tipo de bebida alcoólica, mesmo que seja só a marca, mas que não tenha álcool. Fumar,  ir ao cinema, faltar ao culto, deixar de dar o dízimo, ofertas e esmolas, de orar, de ler a Bíblia; perder a Escola Dominical, a santa ceia, a reunião de domingo, o culto de doutrina, os evangelismos, as orações semanais, as vigílias, os ensaios, as visitas, as evangelizações na rua, negar oportunidade, rejeitar cargo ou função quaisquer. Frequentar outra igreja, ler livros de teologia, livros científicos, fazer ioga, academia, usar camisa de time de futebol, andar à cavalo, usar óculos escuros, colares, joias, esmalte, lápis nos olhos, fivela nos cabelos, brincos, fazer tatuagem, jogar sinuca, pebolim, truco, poker, 21, buraco, dominó, lutar, beber coca-cola, ter animal de estimação, ter plantas dentro de casa, usar roupa vermelha ou preta, alisar cabelos,  tocar qualquer instrumento além de órgão, sentar com amigos na praça, andar com eles, e outras poucas coisas que não me lembro agora...

_Mas é só isso, viu? 

_Jura?

_Sim. Nem faço questão mesmo. 


André Francisco



sábado, 21 de junho de 2014

Entrevista com Madihah, uma sobrevivente da chacina de Jericó- Final

1. Esta é a parte final da entrevista com Madihah, uma sobrevivente da chacina realizada por Israel, liderada por Josué, a Jericó. Ela conta, condensadamente, algumas das principais coisas que ocorreram naquele dia, de muito choro e sofrimento. Leia, e tente perceber o sentido real dessas palavras, pois foi aquilo que esta pobre mulher vivenciou. 

"Gritou, pois, o povo, tocando os sacerdotes as buzinas; e sucedeu que, ouvindo o povo o sonido da buzina, gritou o povo com grande brado; e o muro caiu abaixo, e o povo subiu à cidade, cada um em frente de si, e tomaram a cidade. E tudo o quanto havia na cidade destruíram completamente ao fio da espada, desde o homem até à mulher, desde a criança até aos idosos, e até ao boi e ao bezerro, e ao jumento". Josué 6.20-21





-Kalih sucumbiu... [choro na alma de uma mulher desesperançosa, refletidos por pequenas gotas de lágrimas a jorrar e molhar cílios]

-Sequer tenho palavras, Madihah! Acredito que teu sofrimento seja maior do que esperava anteriormente, ao planejar o envolvimento desse diálogo de entrevista biográfica. 

-Muito grande, sem dúvidas. De todas as coisas ruins que me aconteceram em vida, acredito que esta seja uma das piores. Mas não a pior. Deixe-me continuar. Agora, o que mais quero é terminar essas palavras com as quais meu coração tem chorado dia após dia.

-Continua, por favor. Acredito que estamos chegando no momento mais crítico de suas lembranças. Faça o possível para dizer tudo o que puder. Se não conseguir, entenderei perfeitamente. 

-Após Kalih tombar, aquele homem, a qual o rosto maligno e cheio de raiva não me sai da cabeça e dos olhos, riu debochada e felizmente. Bradou: "menos um pagão vivo para zombar do Poderoso de Israel, Yah". Pensei naquele momento se meu marido alguma vez na vida tinha feito tal zoação. Não a fez, não era de seu costume criticar deuses alheios. Não era de sua índole desrespeitar qualquer coisa. Sempre foi de respeito, sério, íntegro em seus passos. 

-A fumaça já ficara insuportavelmente densa. Pedaços de madeira barrenta da superior lateral direita do teto começaram a cair. O soldado que estava a quinze passos entre mim e minhas filhas se desviou com o choque das madeiras no chão. Levantou sua perna por cima delas, abafando o fogo mediano com uma das mãos vagas, e ultrapassou aquele obstáculo em direção nossa. Era o fim. Para mim não havia chances de escapar. Meu cérebro, por causa daquele vapor terrível e da cena que vira, não funcionava da forma a qual deveria, veloz para tomar decisões de sobrevivência. Instintivamente, já que não havia mais solução para Kalih, levantei-me com força, corri em direção ao fundo e agarrei-me na chabser (maçaneta) da porta. Comecei a fazer força para arrebentá-la. Queria sair dali. Não queria ficar com aquele animal cheio de loucura e sangue. Amber estava no meu braço, com a outra mão esmurrava chabser desenfreadamente. A cada soco que dava, imaginava aquele homem se aproximando cada vez mais. Meus batimentos cardíacos aumentavam descontroladamente segundo a segundo. Minha respiração estava a acelerar, e fumava era inalada como se ali não houvesse. 

-Madihah, acreditava que pudesse haver piedade?

-Nunca, nunca, não... [raiva nos olhos fitos nas imagens da mente longínquas] 

-Depois de tudo o que fez com meu marido. De todos os deboches e palavras de insulto, como poderia pensar assim? Na minha cabeça só habitava a ideia de que ali seria nosso fim. De que minhas filhas, as mais lindas meninas que já vira em vida, não viveriam para sentir as valorosas dores de um futuro parto. Não conceberiam outras crianças como elas a seus maridos. Essa ideia tornara-se assombrosa nos meus rins. 

-Ele vinha devagar, girando sua espada na mão direita. Consegui até distinguir, no meio daquela gritaria de desvaneio, um assobio sombrio. Olhei para trás, fitei seus olhos entre a fumaça e chamas. Parecia do submundo, cheio de terror e ódio. Abaixei e olhei Leena, que iniciou gritos. Chamei Amber nos olhos, sua boca se deformava aos berreiros. Lágrimas saíam de suas pálpebras fechadas. Bradei por El! 

[interregno silencioso] 

-Ele te ajudou? [...]

-Nunca me deixou só. [lágrimas gotejadas largamente]

-Milagrosamente, a porta abriu à retaguarda. A fumaça escapou veementemente por aquela brecha. Não entendia o motivo. Minha força não dera conta do arrebentamento. Lancei-me para fora. Não sei como, mas mantive Amber no braço esquerdo, puxei Leena pelas mãos e me joguei sem ir ao chão. Não distingui bem as coisas, apenas senti duas mãos segurando-me pela cintura e buscando me colocar sobre os pés. Deixei meu corpo levemente flutuar àquela ajuda divina. Senti o solo nos calçados novamente. Era Dijer, O Magro, que ali estava. Jebuseu que vivia como nosso vizinho há dois anos. Cuidador de camelos no deserto de Gizer. Saiamos daqui, Madihah, gritou ele. O soldado viu que eu não estava mais sozinha. Não se espantou. Abriu sua passada em direção à porta, com a espada agora fixada entre os dedos. Dijer fechou a madeira no rosto dele. Ela ia e vinha. Disputavam a abertura pela força. Eu só observava. Ali já tinha colocado minha vida nas mãos do Magro, pois entendi que era socorro de El. 

-Olhei lentamente ao redor e assisti meu pomar cheio de cinzas. A cidade estava em chamas, tanto quanto mais da metade de minha casa. Os muros que nos protegiam completamente derrubados. Flechas e tinidos de espadas por todos os lados. Dijer lutando por nossas vidas. Já presenciara aquela cena em Kalih, agora no meu vizinho. Leena me pedia para que aquilo acabasse. Disse-me em prantos: "mamãe, não aguento mais... meus ouvidos estão tapados. Não quero morrer, mamãe, não quero morrer". "Filha, não vamos morrer, por favor, fique calma, acalme-se"- disse a ela. Esperei por aproximadamente um minuto a luta. Dijer exclamou- Madihah, corra. Saia daqui. Busque o corredor de Raíta, ao sul do portão do Dragão de Couro. Entendi suas palavras, virei-me e fui com a silhueta baixa em direção ao portão, beirando o córrego curto que havia nos fundos de meu horto. 

-Explica-me um pouco sobre esse atalho.  

-Era o portão do Dragão de Couro, o corredor de Raíta. Ficava à leste do cemitério da cidade. Lugar pouco visitado por qualquer pessoa. Normalmente, não havia muito movimento por lá. O estreito corredor de Raíta levava ao deserto de Gizer. Dijer conhecia muito bem aquele lugar, por isso me indicou. Os israelitas, como diziam os guerreiros de Jericó, posicionaram-se sete dias atrás à frente da cidade e na sua lateral esquerda, logo, a passagem poderia estar livre. Era minha esperança no momento. Ficava aproximadamente a quatrocentos metros de minha casa. Teria de contar com a sorte, em meio aquela balbúrdia, para que ninguém nos visse. Como era a única opção, nem me ative a tal detalhe, apenas tentei. 

-Qual o resultado dessa desesperada tentativa, Madihah?

-Insucesso. [tristemente contada a notícia]

-Avistei dezenas de pessoas correndo em direção a Raíta, depois de andar um pouco. Vinha à retaguarda desses tantos uma tropa de arqueiros israelitas. Dezenas de meu povo não conseguiram chegar à passagem. Caíam com flechas perpassadas pelas costas. Mulheres, velhos, crianças, jovens, amontoados naquele lugar, com muitos outros subindo por cima do monte de corpos e sucumbindo também. Desse modo, o corredor ficou quase fechado, com apenas uma pequena brecha livre. Os corpos apodrecidos e os que ainda se faziam quentes obstaculizavam-no, e a tropa de lançadores estava de longe, esperando qualquer sinal de movimento para atacar. Abaixei-me o máximo para não ser vista. Pedi para que Leena não soltasse minha mão por nada e mantivesse a calma. Beirei o muro em direção a passagem. Amber silenciou seu choro. Parecia que estava entendendo a necessidade do silêncio naquele momento, para chamar a menor atenção possível. Ali minha vida perdeu o sentido!

-Como assim, Madihah, o que houve?

-Cheguei à fresta e não tive um jeito adequado para passar por causa de Amber no meu colo e Leena segurada pela mão. Virei-me de costas para evitar qualquer choque de meu bebê com àqueles corpos amontoados e para que visse Leena com meus olhos fitos e pudesse puxá-la para trás, diante daquele pequeno resto de corredor espremido que sobrara. Não percebi que havia alguém ali escondido à frente dos corpos. 

-Quem, Madihah, conta-me. 

-Um capitão israelita. Sei pois ouvi seus homens bradarem- pegue, capitão, não deixe escapar. Quando entrei meu corpo se espremeu entre o muro e corpos. Não havia chances de sair nem para trás nem voltar à frente com velocidade. Minha ideia era mover-me lentamente até sair em direção ao deserto, desbastando pedaços do muro em meus braços machucados e frágeis. Mas fiquei entalada. Movia centímetros por vez. Não houve tempo de reação. Ele apareceu e puxou Leena pelo braço com muita força. Não houve chances para minha mão segurá-la. Ela caiu no chão bruscamente. Vi tudo aquilo como se a cena estivesse lenta. Gritei- Leeeeeeeenaaa! Meus ouvidos tamparam e zuniram ao retumbar do eco daquela doce canção, seu nome. Ele voltou e disferiu-me um soco na testa. Por um momento, perdi os sentidos todos. Uma tontura surgiu em minha cabeça depois de ter levado o golpe. Meu corpo ficou mole e só não caí por causa da pressão que o muro e os corpos exerciam sobre mim no corredor. Mas sinto como se fosse hoje o preenchimento, calor, suor e peso do meu braço esquerdo se tornando vazio, frio, seco e leve. 

-O que isto quer dizer?

-Ele me viu quase desmaiada e apanhou minha alma. [soluços descontrolados adjungidos a choro estressado] 

-Estou chocado, Madihah! [silêncio...]

-Queria ter feito diferente... não queria que fosse assim. Por quê, El, por quê? Esta foi a pior coisa que me aconteceu tanto na vida quanto no meu atual estado de morte. 

-Toma esta água, Madihah, pode te fazer bem. 

-Meu coração está em pedaços, não vivo desde aquele dia. Estou em trevas, sombras cercam meus olhos noite e dia. Sou apenas um corpo que paira sobre a terra seca sem sentido. 

-Termina, Madihah, evitemos mais sofrimento por hoje.

-Senti outro golpe em meu peito, agora, um chute. Este fez meu corpo ir para trás com tudo. Aquele muro foi manchado com sangue de meu braço. Os corpos que me espremiam movimentaram-se, caindo à minha frente, separando-me eternamente de minhas duas pequenas vidas. Caída ergui apenas a cabeça, estendi me braço direito para frente e tentei apalpar o ar. Não tinha forças para mover cadáveres, sabia disso. Gritando, chorando, sangrando, suando, tentava fazer alguma coisa, ao me pôr de joelhos e espumar aquele lixo. Não consegui [...]

-Ouvi seus gritos. O som da voz de Leena, que tremulamente dizia,- mamãe, mamãe, me solta, sai, aah- diminua a cada segundo, ficando mais distante de mim. Não escutava nada de Amber. Meu organismo naquele momento não suportou. Apaguei repentinamente!

-Sua história é surpreendente, Madihah. Acredito que tu tenhas vivido a mais terrível de todas as sensações dolorosas que alguém possa sofrer. Estou tentando visualizar minimamente em minha cabeça essas imagens que tu tens me dito. Sei que sequer explicam pouca parte daquilo que realmente aconteceu.  

-Acordei em uma padiola de vestidos no deserto de Gizer. Abri meus olhos lentamente e vi quatro pessoas, dois jumentos e uma carroça com roupas, água e alguns suvenires. Dois homens adultos me carregavam ferida. Suas mulheres se lamentavam e de instante em instante olhavam para trás, derramando lágrimas ao verem Jericó em chamas, destruída totalmente. Estávamos chegando à cota da colina de Godâ, no deserto de Gizer. Alucinada de tanto pânico, tristeza e desgaste, perguntei ao moço se Leena e Amber estavam bem. Se eles tinham cuidado delas, se haviam lhes dado sopa no jantar. Ouvi em ecos um dos homens dizendo- vocêêêê... vai ficar bemmmm. Estamoooos... salvos. Tudo... vai ficar... beeem. Desmaiei! 

[...]

2. Esta é a parte final da entrevista com Madihah. uma sobrevivente da chacina realizada por Israel, liderada por Josué, a Jericó. 

3. Assistiu à morte de seu marido, Kalih. Teve duas filhas, Leena e Amber, tomadas das mãos, esfaqueadas subsequentemente pelo capitão e sua tropa. Depois da chacina, Madihah nunca mais teve uma vida normal. Alojou-se nas montanhas de Caiterraf, junto de alguns sobreviventes do massacre. Tentaram refazer suas vidas, as quais foram maculadas pelo sangue de Jah. 

4. Nunca conseguiram.  



"Gritou, pois, o povo, tocando os sacerdotes as buzinas; e sucedeu que, ouvindo o povo o sonido da buzina, gritou o povo com grande brado; e o muro caiu abaixo, e o povo subiu à cidade, cada um em frente de si, e tomaram a cidade. E tudo o quanto havia na cidade destruíram completamente ao fio da espada, desde o homem até à mulher, desde a criança até aos idosos, e até ao boi e ao bezerro, e ao jumento". Josué 6.20-21





quinta-feira, 12 de junho de 2014

A mão boba de Elieser em Abraão





1. Abraão queria que seu filho Isaque obtivese uma esposa. Para isto, chamou seu servo a fim de que fizesse um juramento: buscar uma esposa para seu filho nas tribos de seus parentes próximos.


2. Esse juramento foi feito com um símbolo, a mão do servo colocada na "coxa"(ierer) de seu senhor. 



3. Colocar a mão sob a coxa era uma forma antiga de juramento (Gn 47, 29). Em muitos casos veterotestamentários, crianças saíam da "coxa" de seus pais ( Gn 46,26; Ex 1,5; Jz 8,30).



4. É óbvio que o termo "coxa" é eufemismo para órgãos procriadores, logo, quem fazia juramento que envolvesse descendência colocava a mão na virilha ou genitália do homem com quem fizesse a aliança.



5. Se acontecesse isso hoje, garanto que Abraão e seu servo seriam referência à bancada LGBT e não referência à bancada evangélica do planalto. 

André Francisco



quinta-feira, 5 de junho de 2014

Sexo anal, o tabu da igreja e propostas para que acabe





1. Sexualidade é tabu para igrejas. Essa questão não é novidade para ninguém. Até mesmo, em se tratando de outras religiões não cristãs, porém mais convencionalmente, e em relevo aqui, para as cristãs.

2. Sexualidade não apenas no que se refere à homoafetividade, transexualidade, bissexualidade, etc, que são assuntos em voga atualmente no Brasil em discussões que interagem o seguimentos políticos,  religiosos e de crítica moralista-filosófica.

3. Busca-se ressaltar nessa postagem a sexualidade na abrangência conjugal entre um casal heterossexual, isso para causar menos problemas. Mas relacionado a um assunto interessante, obviamente, que é o sexo anal.

4. É um tabu inimaginável, para certas pessoas, falar ou pensar nesse tipo de relação sexual. Versículos como  Romanos 1.16, que fala sobre a mudança do uso natural pelas mulheres, a qual muitos intérpretes associam à questão, são utilizados em grande escala para marginalizar, ou até demonizar, esse tipo alternativo de sexo. O Antigo Testamento, principalmente, é usado em proporções ainda maiores para tal defesa abusiva da não permissividade.

5.  Ressalta-se aqui que a Bíblia, sendo ela com seus 66 livros ou 74, não se refere, em nenhum momento, a tal assunto, com qualquer opinião. Também busca-se ressaltar que, mesmo se se referisse, seria impossível utilizar tal citação para contextualizar o assunto e retirar das afirmações obrigatoriedades ou permissividades a fim de se aplicar à sociedade contemporânea, considerando que o tratamento das escrituras quanto ao assunto sexualidade é antigo, tribal, machista, inflexível e com base em paradigmas culturais completamente diferentes do atual, em esfera ocidental.

6. Países como os Estados Unidos, que fundamentaram e consolidaram, há muito tempo, suas leis institucionais e constitucionais, ou códigos civis, a partir de conceitos teóricos baseados em textos religiosos como a Bíblia, chegam ao ápice de interpretação acrítica e fideísta ao afirmar como sodomia ou ato de prostituição o sexo oral, por exemplo. Logo, o sexo anal também passa à mentalidade das massas com sentido pejorativo e alusivo à ilegalidade, sombreando autoridade bíblica para sustentabilidade da ideia. Em relação ao Brasil e à igreja, a cultura é basicamente a mesma, sendo que a interpretação teológica, exegética e hermenêutica dos textos é quase que totalmente importada do Norte, aparentemente  iguais em muitos casos.

7. Quando não se apela para textos bíblicos, o argumento que corriqueiramente tem sido utilizado é o da higiene. Vê-se a atuação do sexo anal como algo abominável, destacando o fato de que a higiene representa a santificação das pessoas, a conservação da vida, a características de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. É óbvio que aqui se considera a necessidade de total proteção e prevenção contra os tais casos negativos, no caso da existência dessa modalidade de sexo, mas nunca de acordo com a espiritualização desse processo ou demonização. Um assunto não se interage ao outro por mera assemelhação. Faz-se a diferenciação clara e ampla entre um e outro.

8. A demonização da sexualidade é presente na mentalidade religiosa cristã, vinda desde os primórdios de sua herança cultural e litúrgica, diferindo em relação ao que os Romanos ou até Gregos pensavam. Paulo pode ser considerado um dos grandes instaladores dessa ética aversa ao que propunha a sociedade de sua época, ao rebater em seus principais textos a "suposta imoralidade" de Sêneca e sua sapiência, exemplificando. Daí são tiradas conclusões e lançadas dentro das paredes dos templos hoje em dia.

9. O que o artigo propõe é uma reflexão quanto ao tipo de consideração e associação que normalmente é feita, sem qualquer crítica lógica salientada.  Por causa disso, muitos casais heterossexuais vivem de maneira incompleta não desfrutando das possibilidades que a imaginação conexa à libido do ser humano pode criar e gerar na hora da ação sexual instintivamente e em busca do maior prazer possível. Também a quebra do presente tabu, onde o medo e a desconfiança materializam-se até mesmo na mera citação do assunto em certos casos extremos.  Busca reforçar, aos casais que desfrutam da completude de sua sexualidade, a autonomia e liberdade a qual conquistaram entre si. E à igreja, a capacidade de buscar conhecer mais sobre o assunto, a fim de retirar de seus púlpitos a ideia de que sonegar informação verdadeira é uma forma de conservar pessoas no caminho certo de sua ignorância para conservação da alma. O jogo da perda da vida pelo ganho da alma.  

André Francisco

sábado, 31 de maio de 2014

Não façais com os outros o que não quereis que vos faça

1. É mania de religiões proselitistas considerar a fé, crenças, material sagrado, ritos, liturgias de outros seguimentos quaisquer como coisa mitológica, da parte negativa de seus próprios conceitos doutrinários.


2. Mas, grande parte delas, quando recebe a mesma consideração, tratamento e posicionamento, reage com unhas e dentes para desmoralizar o rebate. Na prática, elas fazem com as outras exatamente as mesmas coisas que não toleram que alguém faça consigo mesmas.


3. No caso, se se tratar do cristianismo, alguma coisa deve ser reconsiderada, pois se sabe que um dos principais métodos de inclusão ao céu é "não fazer aos outros o que não se quer que faça consigo"!

André Francisco

sábado, 10 de maio de 2014

É pecado mulher usar calça comprida






1. Existem, ainda hoje, várias igrejas pentecostais e não pentecostais que desaprovam o uso de calça comprida para mulheres, fundamentando-se em versículos como o abaixo citado:





"Não haverá traje de homem na mulher, e não vestirá o homem vestido de mulher, porque qualquer que faz isto é abominação ao Senhor teu Deus". (Deuteronômio 22:5)


2. Por muitos anos, o texto acima tem sido usado para condenar o uso de calças jeans ou sociais por mulheres, considerando seus intérpretes que esse tipo de vestimenta, no Brasil, é majoritariamente masculino. Ou seja, qualquer mulher que os use comete abominação diante de deus, conforme ratificado. 

3. É interessante ser analisado o texto de acordo com a cultura de sua época. Historicamente, torna-se inviabilíssimo aceitar como verdadeira a afirmação que busca salientar qualquer relação com calça comprida para mulheres em tempos veterotestamentários, de acordo com Deuteronômio e a Lei do Pentateuco. 

4. O traje masculino daquela época nada tinha de semelhança com as roupas atualmente usadas pelas sociedades modernas, principalmente, em se tratando das ocidentais. O uso de batas era comum entre homens, vestidos longos com certos tipos de modestos adornos. Entre as mulheres, costumava-se também ser utilizado esse modelo de roupa, diferindo minimamente entre um e outro. 

5. Atualmente, é possível perceber a diferença entre modelos de calças femininas e masculinas, sendo já massificada a ideia nas pessoas de que essa diferença faz parte de uma moda simples e corriqueiramente utilizada. O fato da calça ter sido rejeitada, principalmente, no começo de sua utilização, e isto em relação às mulheres estadunidenses do século passado,  como do início do movimento evangélico no Brasil, não pode normatizar, até hoje, o tipo de identificação desse traje com abominação e rechaçamento. Ou até mesmo quando trata de utilização de calças aparentemente masculinas por mulheres, não há qualquer referência Bíblica, contextualmente, que especule, com juízo de valor, sua validação. O texto de Deuteronômio, com certeza, não serve para tal aplicação, como qualquer outro.

6. Tem sido veementemente salientada a questão da modéstia entre mulheres da igreja. Mas, com relação a esse assunto, outras cartas deverão ser lançadas à mesa, necessitando que haja uma análise ainda mais aprofundada em um estudo social para determinar qualquer intenção sobre. E, acima de tudo, uma observação, no mínimo, exegética-hermenêutica de versículos que são descompromissadamente usados para defender tais costumes e usos.










André Francisco

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Bom filme: Noé, de Darren Aronofsky






1. Bom filme: Noé, de Darren Aronofsky. Elenco de alta qualidade, incluindo atores consagrados hollywoodianos. Efeitos especiais simples, porém bastante evoluídos, com alta tecnologia. Acréscimos que deram à história um aspecto dramático, discutindo assuntos relacionados com a ética, moral, valores do bem e mau, o certo e o errado, justo e injusto, entre outros. 

2. A crítica ao filme pela igreja, com certeza, está adjungida às aparições de grandes partes do Livro de Enoque, considerado apócrifo, tanto pela católica como pela protestante. A aparição de Samyaza, que segundo o livro e principalmente tradição (midrash) judaica foi o chefe dos "anjos caídos" de Gênesis 6.2. Os nefilins, aqueles que se envolveram com filhas de homens gerando poderosos. Guardiões do conhecimento, segundo aquele livro. 

3. O envolvimento da discussão do assunto de ética chamou muita a atenção. Seriam os mortos melhores ou piores do que a família eleita? A garota que Cam apaixonou-se por pouco tempo, deixada para trás pelo "justo" Noé, seria tão má como julgada? Milhares de outros inocentes que morreram macetados pela fúria divina também? 

Estas são perguntas interessantes que Darren levantou durando o filme claramente, fazendo acontecer uma trama, envolvendo o próprio protagonista, de maneira teatral. 

4. Tubalcaim, citado em Gênesis 4 como fazedor de metal e peças de aço, aparece no roteiro de maneira inteligente, a fim de se acrescentar o conteúdo. Obviamente que o cinema possui uma linguagem diferente da escrita, sendo que, para comunicá-la com mesma intensidade, são necessárias adaptações. Interessante, quando lido o texto Bíblico, percebe-se facilmente que Matusalém, calculando-se sua idade, os acontecimentos posteriores e a história do dilúvio, só poderia ter morrido na inundação. Gênesis se silencia com relação a ele em se tratando de Noé, mas Darren conseguiu obter essa informação por uma leitura meticulosa do texto e exteriorizar em seu filme. 

5. O processo de evolução das espécies, a partir do efeito de "Hip hop montage" (imagens aceleradas com cortes rápidos), é facilmente percebido. Uma correlação com a teoria e a ideia  supostamente bíblica da criação, sendo possivelmente um destacamento do conceito de design inteligente (bastante falado nos Estados Unidos por conservadores).

6. Acredito que o filme tenha juntado vários temas importantes e os colocado em exposição. Também que tenha se utilizado de tradição judaica antiga para completar a narração bíblica mal explicada, retalhada por diferentes histórias em épocas distintas. Uma exposição de Gn 6,7 e 8 é necessária, exegeticamente, para situar o leitor dentro dessa realidade mitológica antiga. Como também cientificar da existência das versões que hoje são consideradas apócrifas por grande parte ou toda a cristandade. 

André Francisco 

segunda-feira, 31 de março de 2014

Sexo antes do casamento, ontem e hoje






1. Com certeza, indubitavelmente, sem sombra ou sol de dúvidas, o assunto "Sexo antes ou depois do casamento" é um dos mais polêmicos que existem dentro de qualquer comunidade evangélica cristã. No caso, principalmente, em se tratando das pentecostais, que consideram tal conversa como um tabu e não como algo que corriqueiramente está conectado às mentes de muitas pessoas, destacando-se aqui os jovens e adolescentes, com seus hormônios borbotados pela puberdade.

2. O cenário é de sofrimento contínuo para esse tipo de público. Grandes sermões adentram garganta a baixo, entra culto e sai culto, dizendo a esses paupérrimos seres que suas vontades necessitam de ser tolhidas porque Deus não aceita, ou melhor, abomina relação sexual antes do papel ser assinado no cartório de qualquer comarca espalhada por esse Brasil. A caneta tem de manchar a folha, a partir disso, está liberado! 

3. Textos do Antigo Testamento são usados descontroladamente para consubstanciar essa ideia, fundamentando-a irreparavelmente nos neurônios dos adolescentes indefesos que se propõem (ou não) a ouvi-la. O Novo Testamento também não fica de fora. Paulo e sua identidade moralista, a partir de seus textos, faz parte dessa construção diária.

4. É uma situação complicada. São usadas e lançadas ao público jovem atual ideias que "serviam" para culturas totalmente diferentes, em tempos remotos, que possuíam um tratamento de vida nada parecido com o cotidiano do século 21.

5. Façamos uma comparação sucinta entre o adolescente/ criança que não fazia sexo antes do casamento há três mil anos e do adolescente/ jovem de hoje que deseja fazer:

1- A idade considerada boa para se casar há três mil anos arredondava-se, em média, entre os 12 e 15 anos. Ou antes disso.
 

2- Os casamentos eram arranjados. Ou seja, as famílias decidiam com quem o garoto ou garota se casariam. Normalmente, por motivos que não eram nem um pouco relacionados com amor ou prazer, mas sim, bem-estar entre povos, tribos, parentes; para a continuidade de uma linhagem específica, descendência, etc. Daí os relacionamentos entre primos e até irmãos.

3- Os adolescentes de 12 anos não tinham nenhum tipo de expectativa de vida diferente de um serviço braçal no campo, a partir de tenra idade. Ou seja, não estudavam, não construíam futuro. Apenas ajudavam a seus pais no sustento dos mais novos.

Hoje: (destacando que nenhuma informação aqui é de caráter científico, mas sim especulativo).

1- Dificilmente, alguém, em sã consciência, casa-se, no Brasil, com menos de 16 anos. Isso seria praticamente (isso mesmo) pedofilia, se o cônjuge fosse maior.

2- Ninguém termina o ensino médio com menos de 16 anos. Normalmente, com 18. Ingressando, a partir daí, no mercado de trabalho sem especialização. No caso do ingresso com especialização, no mínimo, de dois a seis anos de curso de nível superior. Ou seja, 23 anos para nosso personagem fictício ser um profissional formado.

3- Não há casamento arranjados. Se há, são raros. 

4- Não é novidade para ninguém que crianças de 10 anos começam a receber de seu organismo os primeiros, ou não, estímulos sexuais. Esses perduram por muito tempo, tornando-se mais fortes com o passar dos anos. 

5- Nessas condições, a viabilidade para um casamento torna-se praticamente nula antes de 18 anos, minimamente. Porém, a libido, neste ínterim, está trabalhando incansavelmente. 



6- Retomando... 

7- Todos esses exemplos esdrúxulos supracitados não são para fomentar a ideia de que adolescentes/ jovens devam sair fazendo sexo desenfreadamente, seguindo apenas suas emoções, prazeres do corpo, necessidades sexuais físicas. De maneira nenhuma!

O que se pretende tratar é que a aplicação dos textos que supostamente defendem a ideia do sexo apenas após a consolidação do matrimônio no cartório não se sustentam diante de uma situação totalmente diferente como a de hoje em relação àquela época. Não há sequer a mínima possibilidade de aplicar-se tais informações a um contexto cultural como o nosso. Seria um crime e uma falta de respeito às modificações sociais que ocorreram ao longo de tanto tempo. 

Quando se fala na igreja sobre o assunto, todo esse respaldo supracitado, que dificulta a aplicação e exegese a qual normalmente se tem nos círculos evangélicos, não se considera, nem de longe, qualquer desses obstáculos. Apenas a transposição do argumento e imposição acrítica de seu obrigatório cumprimento. Não se considera a mudança do conceito, a inexistência de cartório há séculos atrás, o estilo e tipo de relacionamento existente entre os casais de ontem e hoje, e muitas outras observações que poderiam ser feitas. 

8- O mais triste é o sofrimento nos olhos mal esclarecidos daqueles que recebem diariamente, dos púlpitos, tais ensinamentos, sem ao menos receberem qualquer tipo de esclarecimento e explicação sobre o motivo das ordens e das imposições, que batem de frente contra suas próprias naturezas (que recebem o nome de "pecadoras"). 

9- Situação extremamente delicada, que merece ser abordada sempre e com mais tempo. 

André Francisco






sábado, 22 de fevereiro de 2014

Hipótese sobre a vida

Ao tempo todo falamos demais
Queremos sempre provar que estamos certos
Quase nunca escutamos o outro com verdade
Na maioria das vezes é tão difícil ficar a sós com o pensamento
Dar as mãos a si mesmo e encontrar a paz
Estamos sempre pensando na próxima batalha que iremos lutar
Então, a vida se torna uma competição
Os amigos, um palanque para promoção pessoal
O amor, um jogo
E o perdão, inexistente

Todas as coisas, coexistindo em um ritmo frenético
E nós, perdidos nesse vai e vem
Desafiados pela causa do cotidiano
A sobrevivência do mais forte
E o esquecimento dos fracos
O fardo de ser homo sapiens

O mundo está além do bem o mal
A moral é apenas um conceito
E o fim de tudo
Pertence a nós

Depois de tanta solidão
De horas mergulhadas no vazio
Bebendo do cálice da indiferença
Soterrados na solitude da busca pelo amor
Significado e sentido do que os olhos veem
Talvez entendamos, ou não
Que nunca entenderemos tudo
E que quanto mais entendermos isso
Mais simples, humanos e sábios seremos


Para aqueles que entenderem, felicidade
Para os que não, fatalidade



James Douglas Caufield (R.M)




terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Um maltrapilho, o mundo e sua dor.

Uma noite a mais, todos querem diversão
Mandem avisar nas esquinas, gritem nos estádios
É sábado, e os deuses da folia estão à solta
Depois de uma semana trancados na rotina tardia e moderna

Insanos, incandescentes, atordoados e insensíveis
Felinos, fechados e filhos de uma puta mãe brasileira
Homens e mulheres que dizem se importar
Jovens ditos rebeldes de redes sociais

Na calçada grita um homem, desesperado de dor
Como se suas entranhas fosse recém-arrancadas
É um indigente, maltrapilho, fedorento, de nome Elias
Marxistas, cristãos, filhinhos de papais, rockeiros, funkeiros, arruaceiros
Todos passam, olham e desprezam tal individuo de historia duvidosa
E desconhecida
E naquele momento se percebe
Porque estamos fadados ao fim
Somos uma farsa
Revestidos em um manto
De amor e de beleza
Mas, é madrugada
E todos querem diversão e uma cerveja

Vamos então esperar o nascer do sol e seus primeiros raios no horizonte
Para que nossa consciência se aplaque
E para que todas as historias que nos contaram
Sobre um mundo bom e de esperança
Faça sentido mais uma vez
Afinal, independente de toda desgraça do mundo
temos um cama limpa e uma boa refeição nos esperando em casa

Para nós, esse é só mais um sábado de muitos que estão porvir
Pra outros, não


Rodrigo de Barros Mascarenhas



sábado, 8 de fevereiro de 2014

Poesia: Sobre inferno e Mulheres

Sobre inferno e Mulheres

Andei por vários caminhos
Em um deles eu vi
O inferno e todos os seus súditos
Agarrei-me a esperança de um deus
Para me livrar de todo aquele sofrimento povir
Quando perdi tal esperança
Vi que o que vi não era real
Mas acabei por enxergar
Outro inferno
O da cidade dos homens
Mas, para esse não existe salvação
Então me afogo a cada dia
Pois quanto mais me perco
Mais forte sou
Pois sou mortal imortal
E o que não me mata
Fortalece-me
Disse o filósofo
Metafísica depravada
Essa minha

***

Ontem eu a conheci
A menina que me encheu os olhos
O coração e algo a mais
Pegamos o ônibus, juntos
Eu li pra ela uma poesia de Bukowski
Ela me emprestou um livro sobre a dor
Tudo parecia perfeito
Até que ela me disse que tinha um relacionamento
Eu pensei, mais que droga! Era bom demais para ser verdade...
A verdade mesmo é que mulheres assim nunca estão solteiras quando as conhecemos
São muito boas para estarem solteiras
Boas de olho no olho
Boas de toque
Boas de conversar com diversão, com imaginação
Boas em algo a mais
Boas até demais

Hoje ela sorriu para mim
E se despediu
Certas mulheres tem o dom de tornar nossas vidas
melhores





James Douglas Caufield 

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