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DIÁLOGO ABERTO, O ORIGINAL, é um espaço interativo cuja finalidade é a discussão. A partir de abordagens relacionadas a muitos temas diversos, dos mais complexos aos mais práticos, entre teologia, filosofia, política, economia, direito, dia a dia, entretenimento, etc; propõe um novo modo de análise e argumentação sobre inúmeras convenções atuais, e isso, em uma esfera religiosa, humana, geral. Fazendo uso de linguagem acessível, visa à promoção e à saliência de debates e exposições provocadoras, a afim de gerar ou despertar, em o leitor, um espírito crítico e questionador.

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sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Apresentação de crianças a Deus na igreja



1. É comum no meio evangélico- em determinadas igrejas, não todas- a realização da cerimônia de apresentação de crianças recém-nascidas a deus no templo cristão. A liturgia que envolve a celebração é bastante simples, quase sempre se desenvolvendo na ida dos pais até ao púlpito, da passagem do bebê às mãos do pastor, seguida de uma rápida citação do texto bíblico de Lucas 2.22 (apresentação de Jesus no templo) e uma oração de teor vinculativo posteriormente. 

2. Esse rito normalmente se justifica pelo fato da maioria das igrejas não batizar crianças antes dos 12 anos, segundo a tradição de que até essa idade ainda não sobrepujou a culpa do pecado de  Adão sobre eles, visto que não possuem plenamente a capacidade cognitiva de determinar valores bons e ruins de acordo com os pré-estabelecimentos bíblicos na temática soteriológicas e hamartiológicas.

3. Logo, o a doutrina do batismo, segundo esse viés teológico, não se atribuiu às crianças, considerando que carrega o significado da representação da morte para o pecado e nascimento para deus. Na substituição do rito batismal emprega-se o da apresentação, desvinculando a necessidade de um a partir da utilização de outro. 

4. Vejamos o que texto bíblico realmente diz sobre o caso:

5. É bem verdade que o autor do evangelho de Lucas cita o rito de apresentação de Jesus no templo de Salomão como sendo em cumprimento da Lei de Moisés (Luas 2.22). No entanto, observando a referência, percebe-se que o teor do mandamento é diferente da interpretação usada pelo evangelista no que se estende ao personagem principal da cerimônia em relação ao pecado e ao próprio Yaveh. Veja:


"15 Será teu igualmente todo primogênito de toda criatura, homem ou animal, que os israelitas oferecerem ao Senhor; ordenarás, não obstante, que se resgate o primogênito do homem, assim como os primogênitos dos animais impuros."

6. Percebe-se que no texto supracitado a previsão da legislação mosaica ordena que os primogênitos sejam resgatados no ritual de apresentação e não simplesmente mostrados a Yaveh ou purificados. A purificação exigida no diploma era para a mãe, considerada por em outro momento como impura durante 40 dias após a gestação. 

"O Senhor disse a Moisés: "Dize aos israelitas o seguinte:

quando uma mulher der à luz um menino será impura durante sete dias, como nos dias de sua menstruação.

No oitavo dia far-se-á a circuncisão do menino.

Ela ficará ainda trinta e três dias no sangue de sua purificação; não tocará coisa alguma santa, e não irá ao santuário até que se acabem os dias de sua purificação.

Se ela der á luz uma menina, será impura durante duas semanas, como nos dias de sua menstruação, e ficará sessenta e seis dias no sangue de sua purificação.

Cumpridos esses dias, por um filho ou por uma filha, apresentará ao sacerdote, à entrada da tenda de reunião, um cordeiro de um ano em holocausto, e um pombinho ou uma rola em sacrifícios pelo pecado.
O sacerdote os oferecerá ao Senhor, e fará a expiação por ela, que será purificada do fluxo de seu sangue. Tal é a lei relativa à mulher que dá à luz um menino ou uma menina.
Se as suas posses não lhe permitirem trazer um cordeiro, tomará duas rolas ou dois pombinhos, uma para o holocausto e outro para o sacrifício pelo pecado. O sacerdote fará por ela a expiação, e será purificada"."



7. Vê-se com clareza que a mulher (vitimada pela sociedade extremamente machista dos judeus sacerdotais) era considerada imunda após o parto e dependia do ritual de apresentação para oferecer animais em expiação. No caso de Maria, devido às limitações econômicas, foram cobrados dois pombos e duas rolas em holocausto (Lucas 2.24/ Levítico 12.1-8). Caso não o fizesse, poderia ser executada segundo a Lei de Moisés ou discriminada por toda sua vida na comunidade judaica. 

8. Qual a relação desse ritual judaico com crianças cristãs? Nenhuma!

9. De acordo com a dogmática evangélica já citada, as crianças não dependem de qualquer tipo de ritual a qual sirva de purificação de pecados, destacando que não os possuem. Nem mesmo aquele que é natural do novo testamento, o batismo, é aplicado. Por que deveria ser realizado o do judaísmo previsto na Lei de Moisés e cuja finalidade era a circuncisão e o resgate?

10. Neotestamentariamente, não existe qualquer tipo de alusão às gestantes, nem mesmo previsão do que deveria ser feito seguindo a luz dos ensinamentos apostólicos. Porém, não há em lugar algum o ritual de apresentação de bebês.


André Francisco







sábado, 13 de agosto de 2016

Pokémon Go do diabo




1. É triste ter de disponibilizar tempo escrevendo em um blog a respeito da desmistificação de um aplicativo, sabendo que há centenas de pessoas que estão nesse exato momento acreditando que se trata de alguma coisa relacionada ao reino das trevas de Satã. Refiro-me ao conhecido game Pokémon Go, que virou febre mundialmente nos últimos dias.

2. Já visualizei diversas apelações contra o jogo, atribuindo-o a uma espécie maligna de manipulação de crianças e até mesmo pessoas adultas, como uma artimanha de controle mental para influenciá-las à morte. Toda essa mística torna-se ainda mais consolidada quando a mídia divulga casos de indivíduos que "vieram a óbito" quando intentavam capturar monstrinhos e se depararam com veículos em alta velocidade ou qualquer situação do tipo, incorrendo em acidentes. 

3. Fala-se, normalmente, que se trata de uma forma promissora de deixar os players mais envolvidos com o app do que com as "coisas que interessam" como leitura da bíblia, oração, etc. Incoerentemente, a maioria dessas manifestações são divulgadas em rede social, onde os agentes ativos que as compartilham estão conectados praticamente o dia todo. 

4. Para reforçar a ideia de malignidade do app, circula também um vídeo a qual remota à época em que o desenho animado foi lançado no Brasil, cujo teor da notícia está voltado para casos particulares de crianças que sofreram convulsões e desmaios ao ficarem durante horas assistindo aos diversos episódios mais frenéticos e e abusivos da utilização de luzes na mudança dos frames. Casos estes semelhantes ao alerta dado na iniciação do Playstation 4 sobre a possibilidade de players sofrerem distúrbios se passarem durante muitas horas jogando com olhos fixos nos games de alta resolução. Desses casos o povo místico se utiliza para corroborar a ideia de que caçar pokémon não é de deus.

5. Esse tipo de argumentação é uma lambança total. Não tem sentido em nenhum aspecto. Não deve ser considerada ao menos séria, quanto mais "racional". 

6. Na minha opinião, Pokémon Go é um jogo de celular divertido. Ao contrário de muitos outros, estimula os players a não ficarem apenas diante de uma tela de tv ou computador enquanto brincam, mas sim a andar e a se movimentar em busca dos diversos monstros. Ideia tão defendida pela geração saudosista da época em que as brincadeiras eram realizadas na rua, nos quintais, com a utilização de exercício físico, antes do advento da tecnologia do hodierna. 

7. Outra opinião, é um aplicativo, meu amigo. Que diabos teria envolvimento com forças do outro mundo que, por sinal, são malignas? Esse pessoal está de sacanagem. Garanto que facebook e whatsapp, que também são apps, "furtam" muito mais tempo de qualquer pessoa do que caçar bichos virtuais por aí. 

André Francisco

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Sacrifício Humano em Levítico 27. 28-29 vs moral e ética hodierna




1. Diversas pessoas usam textos da bíblia hebraica para opinar sobre moral e ética nos dias atuais, elencando que, como palavra de deus, tudo o que está escrito deve ser seguido fielmente como regra de fé e prática. No âmbito da discussão de gênero, principalmente, a utilização de Levítico é bastante ampla, na defesa de que deus estabeleceu que relação homoafetiva é proibida entre seu povo, logo, tal prática é divinamente censurada tanto para aquele quanto para esse tempo. 

2. O problema que se tem com esse tipo de interpretação é quando há a tentativa de se equiparar ideias sobre moral e ética de uma cultura milenar como a judaica, que se utilizou de diversos tipos de abusos para consolidar seus textos sagrados, visando a se referir dogmaticamente ao que hoje em dia deve ser entendido como certo e errado. A questão fica de difícil solução quando dada atenção a outros textos, como exemplo, do próprio Levítico, sob a ótica do fiel cumprimento dessas diretrizes pela comunidade religiosa atual. Vejamos um conceito considerado criminoso atualmente, que na época de sua redação, pela comunidade hebraica, era visto como parte de um culto lícito: 

Se um homem consagrar ao Senhor por interdito alguma coisa que lhe pertence, seja qual for esse objeto - uma pessoa, um animal ou um campo de seu patrimônio - ela não poderá ser vendida, nem resgatada: tudo o que é votado por interdito é coisa consagrada ao Senhor.

Nenhuma pessoa votada ao interdito poderá ser resgatada: ela será morta.


3. Os versículos supracitados fazem parte de um capítulo que trata do oferecimento de votos a YHWH para santificação e uso próprio. Inclui nessa lista, inicialmente, qualquer tipo de "bem" sob a posse de uma pessoa israelita, seja animal, casa, pessoa, terreno, colheitas, etc. A lei é bem clara ao dizer que alguns desses oferecimentos poderiam ser resgatados, caso o oferecedor os quisesse de volta. São estipulados alguns valores para cada item enquanto no resgate. Essa avaliação dos valores era feita pelo sacerdote do templo, onde toda a contribuição do povo teria de ser destinada. 

4. No caso dos versos 28-29, existe o oferecimento especial chamado de interdito ou anátema, em algumas traduções. Também prevê a dação de "bens" particulares do fiel judeu: pessoa, animal ou campo. Como o voto de anátema ou interdito possuía caráter especial, o escritor deixa claro a observação de que esse tipo não poderia ser resgatado. Ou seja, os valores anteriormente determinados para que o oferecedor recuperasse seu bem não eram aplicados ao tipo especial, já que existe uma cláusula que enfatizava tal distinção:

"tudo o que é votado por interdito (anátema) é coisa consagrada ao Senhor". 

5. Como citado, os votos de anátema não podiam ser resgatados. E nesse tipo de voto incluía -se o oferecimento de pessoas em sacrifício: "nenhuma pessoa votada ao interdito poderá ser resgatada: ela será morta." Essas pessoas normalmente eram escravas já sob posse do sr. hebreu, comprados ou escravizados como espólio de guerra. Capítulos anteriores no mesmo livro de Levítico- como em outros livros- regulamenta bem a questão de como deveria ser o tratamento com escravos, inclusive no que se refere à utilização sexual das virgens capturadas. 

 Quando forem à guerra, e o Senhor vosso Deus vos entregar o adversário nas vossas mãos, se virem entre os cativos uma formosa rapariga e um de vocês a tomar por mulher, que a leve para casa. Ela terá de rapar a cabeça e cortar as unhas, mudará a roupa que trazia quando foi capturada, e ficará em casa um mês inteiro para poder chorar a perda do pai e da mãe. Depois então poderá casar com ela. Contudo, se depois disso vier a verificar que não gosta dela, deverá deixá-la ir-se embora livre - não pode vendê-la ou tratá-la como escrava, porque a humilhou.” (Deuteronômio 21.10-14, TDL.)

6. A escravidão era comum entre povos antigos, inclusive os hebreus com seus regulamentos considerados éticos por grande parte dos religiosos atuais. 

7. O sacrifício humano foi bastante praticado por religiões diversas do mundo antigo. Tanto para apaziguar a ira dos deus como para agradá-los em oferendas e rituais cúlticos. A imagem de Jesus em oferecimento humano retrata bem o impacto desse tipo de liturgia dos mais diversos seguimentos religiosos. O texto de Levítico 27, 28-29 dá carta branca para esse comportamento. 

8. A questão que se deixa como abordagem reflexiva é a seguinte: é possível se posicionar  e argumentar sobre comportamentos relacionados a moral, ética e direito, no mundo de hoje, utilizando-se de textos religiosos de um povo oriental milenar como o da bíblia hebraica, a fim de se extrair a definição do que é certo e errado e, a partir dela, interferir ativamente na vida das pessoas, mesmo elencada- como supracitado- a absurda percepção da realidade que eles dispunham, a ponto de sacrificarem humanos em oferecimento litúrgico a seus deuses? 

André Francisco

sábado, 21 de maio de 2016

1 Samuel 20.30 "...filho de uma puta..."




1. É característica muito comum e peculiar dos tradutores da bíblia, principalmente por causa de aspectos como conveniência, censura, teologia, interpretação popular da igreja, desonestidade, sonegação, manipulação deliberada, construir versões que apelam totalmente para uma explanação eufêmica da maioria dos textos, evitando, assim, questionamentos e críticas provenientes de leitores criteriosos, cujas observações negativas, com certeza, criariam problemas para a propaganda do produto (vendas de bíblia). 

2. Diversas palavras que existem no original hebraico, aramaico e grego, são traduzidas com significados diferentes, a fim de que o leitor, em suas leituras matinais despercebidas e não criteriosas, não perceba o impacto negativo do texto em confrontamento ao que ele mesmo entende atualmente como conceito de boa moral, ética e linguajar ilibado e formal. Caso lesse da maneira como realmente está escrito no vernáculo original, sentiria-se desmotivado a continuar a leitura e até de recomendá-la, como por exemplo, às crianças. Vejamos o exemplo a seguir de um texto em que a maioria dos tradutores apela para significados eufêmicos, a fim de impedir o choque cultural entre a palavra usada pelo autor real e a linguagem atual:


1 Samuel 20.30 


Tradução: Almeida Corrigida  e Revisada Fiel

"Então se acendeu a ira de Saul contra Jônatas, e disse-lhe: Filho da mulher perversa e rebelde; não sei eu que tens escolhido o filho de Jessé, para vergonha tua e para vergonha da nudez de tua mãe?"

Tradução: Almeida Revista Imprensa Bíblica

"Então se acendeu a ira de Saul contra Jônatas, e ele lhe disse: Filho da perversa e rebelde! Não sei eu que tens escolhido a filho de Jessé para vergonha tua, e para vergonha de tua mãe?"

Tradução: Nova Versão Internacional (NVI)

"A ira de Saul se acendeu contra Jônatas, e ele lhe disse: "Filho de uma mulher perversa e rebelde! Será que eu não sei que você tem apoiado o filho de Jessé para sua própria vergonha e para vergonha daquela que o deu à luz?"

Tradução: Sociedade Bíblica Britânica

"Acendeu-se a ira de Saul contra Jônatas, e disse-lhe: Filho de mulher perversa e rebelde, não sei eu porventura que escolheste o filho de Jessé para vergonha tua, e para vergonha de tua mãe?"

Tradução: Nova Tradução na Linguagem de Hoje

"Então Saul ficou muito zangado com Jônatas e disse: seu filho de uma mulher à toa! Agora eu seu que você passou para o lado de Davi, trazendo desonra para você e para sua mãe!"

3. Vê-se acima algumas das mais comuns versões bíblicas utilizadas pela igreja brasileira, seja de procedência católica ou evangélica. Nas palavras em negrito, observamos a sutileza do tradutor na inclusão de eufemismo em um tipo de xingamento que soaria potencialmente estranho aos ouvidos e olhos de leitores ávidos atuais e religiosos da bíblia, caso fossem traduzidos da maneira aproximada do correto, como elenco nas referências abaixo: 

Tradução: Do Livro

"Saul ficou ardendo em ira: Filho duma cadela!, gritou-lhe. Pensas tu que eu não sei muito bem que aliaste a esse filho de Jessé, envergonhando-te a ti mesmo e à tua família? Enquanto esse indivíduo for vivo, tu nunca serás rei. Vai já à procura dele para que o mate!"

Tradução:  Versão Ave Maria

"Então Saul encolerizou-se contra Jônatas: Filho de prostituta, disse-lhe, não sei eu porventura que és amigo do filho de Isaí, o que é uma vergonha para ti e para tua mãe?"

4. Esse problema não se limita apenas ao versículo supracitado, mas está espalhado por todas as versões de bíblia que temos em mãos e por uma parcela assustadoramente grande dos textos. Destaco aqui, como exemplo negativo, as traduções feitas do Livro de Cânticos dos Cânticos, cujo conteúdo, se exposto com honestidade, não visando apenas às vendas, como fazem as casas publicadoras de bíblias que existem no Brasil, receberia classificação não recomendada a menores de 18 anos, sem dúvida alguma. 

5. No texto de 1 Samuel 20.30, é fácil notar o significado real do texto, não necessitando ser um especialista em línguas originais. 

ל ויחר אף שאול ביהונתן ויאמר לו בן נעות המרדות הלוא ידעתי כי בחר אתה לבן ישי לבשתך ולבשת ערות אמך


André Francisco





sexta-feira, 1 de abril de 2016

Robert Raikes- Síntese biográfica e o trabalho filantrópico


Trabalho de Monografia cumprindo às exigências de formação no curso de Bacharel em Ciências Teológicas, André Francisco, Pindamonhangaba, 2011, cap 2.1. Monografia "Escola Dominical: uma proposta de resgate de seu sistema original sob a perspectiva de Robert Raikes"

            
1. Os problemas sociais existentes na Inglaterra do século 18 eram uma realidade patente, tanto para o governo quanto para a população. Esses problemas, como já mencionados, acabavam atingindo todas as classes sociais, tanto as desfavorecidas quanto às abastadas financeiramente (MARTINS, 2008). No que se refere à condição de vida precária das famílias daquele contexto, também está incluída a dificuldade que havia de proporcionar-se educação às crianças. Essa falta de educação obstaculizava, de certa forma, as mudanças na sociedade. 

Além da falta de educação, a pobreza fazia parte da realidade de muita gente. Como já abordado anteriormente, grande parte das pessoas que se moviam em direção às cidades industrializadas não conseguia se estabelecer financeiramente para desfrutar de uma vida agradável. Assim, na maioria dos casos, as famílias eram pobres, sem nenhuma condição de mudarem de classe social por meio de seus próprios esforços.

Diante desse contexto, algumas pessoas se propuseram a desenvolver um serviço filantrópico para possíveis mudanças sociais. Entre os nomes citados estão o de Robert Owen e Robert Raikes. O primeiro intentou estabelecer-se como um patrão diferente dos demais do contexto em que vivia. Possibilitou mudanças na vida de seus empregados, tratando-os humanitária e dignamente. O segundo, Robert Raikes, através de seu projeto de Escola Dominical, se tornou um dos grandes nomes da história quanto à dedicação pela criação de uma sociedade mais digna. Como expõe Cope (1911, p. 55, tradução nossa)

O filantropo jornalista [Robert Raikes] descobriu por si mesmo a grande importância da educação para todos que, ainda hoje [1911], se mantêm como um sistema. Ele reconheceu que todas as pessoas têm o direito de receber conhecimento sobre os fatos mais marcantes da vida. E isto, para que tenham uma visão mais ampla da vida, para que a possam ver como um todo, para que possam aprender a arte do bem viver em comunidade. Também, para que cheguem ao máximo de suas próprias capacidades, transformando-se assim em possuidores de grandes ideais. Da mesma maneira, que eles são capazes de prestar os seus serviços de maneira completa e eficiente para os seus dias.
             
Biografia de Raikes e a Gloucester de seu tempo
            
2. Robert Raikes nasceu no dia 14 de setembro de 1736 na cidade de Gloucester na Inglaterra (POWER, 1863). Ele teve uma infância confortável e tranquila e “deve ter, de alguma maneira, recebido uma boa educação enquanto criança” (AMERICAN BAPTIST PUBLICATION SOCIETY, 1859, p. 36, tradução nossa). Sua família era próspera, por ser proprietária de um jornal em sua cidade natal, o Gloucester Journal. Depois da morte de seu pai no dia 7 de setembro de 1757, Robert Raikes se tornou “sozinho o proprietário e editor do Gloucester Journal” (GREGORY, 1881, p. 13, tradução nossa, grifo do autor).

Provavelmente, Raikes estudou por um tempo na universidade de Cambrigde, pois “sua ocupação como editor do Gloucester Journal e sua tão clara habilidade literária prova isto” (COPE, 1911, p. 47, tradução nossa, grifo do autor). No entanto, é provável que ele “nunca tenha se graduado em algum curso específico, devido sua ocupação com os negócios” (POWER, 1863, p. 31, tradução nossa). Seu pai também tinha esse mesmo nome, sendo que sua mãe se chamava Mary Drew.
Tendo Robert Raikes, após a morte de seu pai, assumido a direção do Gloucester Journal, por causa de sua ampla herança que recebeu, muitos dos habitantes de Gloucester pensavam que ele “andava pela cidade com certo ar de patronato, a qual alguns pobres chamavam de “cheio de estilo” e outros de “presunçoso” e “ostentoso”. (HARRIS, 1899, p. 48, tradução nossa, grifo do autor). Esse preconceito que as pessoas tinham não é comumente aceito, pela maioria dos historiadores que escrevem sobre Raikes, como condizente com a realidade dos fatos. Sendo que, como Power afirma (1863, p. 31, tradução nossa),

Quando os homens são bem sucedidos em seus negócios diários, ou herdam alguma fortuna de seus parentes, eles são naturalmente inclinados a buscar suas próprias felicidades através de paixões e desejos egoístas. Assim, afastam as suas mentes e corações das necessidades das pessoas que não possuem o mesmo favorecimento material. Mas as ações de Robert Raikes nos convencem que esses sentimentos egoístas não o dominavam, mas que sentimentos nobres dirigiram os seus passos.

A ideia de que Raikes era uma pessoa presunçosa, por causa de seu favorecimento financeiro, pode ter surgido por causa das condições sociais da maioria dos moradores de Gloucester. Essa cidade “era um pólo industrial têxtil, com grandes fábricas” (ARAÚJO; SILVA, 2010, p. 82). Devido ao grande número de fábricas e o consequente urbanismo sem planejamento, Gloucester era uma urbe “não pavimentada, sem saneamento básico, nojenta e, por conseguinte, insalubre e incomoda.” (GREGORY, 1881, p. 3, tradução nossa). Além das dificuldades de sanidade, havia sérios transtornos públicos envolvendo grande parte dos moradores. Alto índice de pobreza e falta de comportamentos civilizados. “As ruas eram repletas de malandros e vagabundos que ficavam, semanalmente, por toda a cidade, machucando-se a si mesmos com brigas. A religiosidade estava em baixa.” (GREGORY, 1881, p. 3, 4, tradução nossa).

Essa situação calamitosa de Gloucester não se diferenciava significadamente de outros lugares da Inglaterra no século 18. Pois, como já exposto anteriormente, a Revolução Industrial trouxe sérias transformações na sociedade inglesa em sentido geral, como também, até mesmo, em outros países. Conforme destaca Martins (2008, p. 5, tradução nossa),

Verificou-se, de fato, uma profunda alteração da sociedade, principalmente entre os finais do século XVIII e o início do XIX, que iria ter consequências importantíssimas para o destino das diversas comunidades, a nível mundial, direta ou indiretamente envolvida no processo da industrialização.

Outro problema que afetava Gloucester era seu alto índice de criminalidade. Por causa disso, “havia duas prisões em Gloucester, uma para o condado[1] outra para a cidade. (GREGORY, 1881, p. 22, tradução nossa). A primeira funcionava no antigo castelo feudal, quando deu lugar, em 1791, nesta mesma área, a uma nova construção. A segunda “situava-se na Rua Southgate, tendo sido erguida em 1782” (BOND, 1848, p. 40, tradução nossa, grifo nosso). A prisão do condado, até a sua reconstrução, tinha uma condição precária de funcionamento. 
Gregory mostra qual era a situação desse lugar (1881, p. 23, tradução nossa),

Apesar de aproximadamente quarenta a sessenta pessoas serem presas todas as semanas, só havia um juiz para julgar-lhes as causas. Os quartos da prisão, tanto os dos homens, quanto os das mulheres criminosos, mediam apenas três metros e sessenta centímetros de comprimento por três metros e meio de largura. As pessoas presas por causa de dívidas, das quais sempre havia grande número, eram amontoadas em uma cova de quatro metros e vinte centímetros por três metros e meio, sem janelas, e sem condição de até mesmo receberem luz e ar puro por qualquer possível buraco na parede de gesso. Na parte superior do prédio havia uma sala estreita e escura denominada “o principal”, em que os homens com maiores delitos eram mantidos durante a noite. O chão desse lugar era tão precário que sua sujeira não poderia ser removida. Em frente à escada que levava a esse quarto existiam montanhas de excremento. Devido à completa ausência de todas as medidas sanitárias, todo o lugar tinha um fedor constante, com inúmeras possibilidades de infecção que consequentemente resultavam em constantes mortes.

Essa prisão, mesmo contendo um estado estrutural precário, recebia a presença de algumas pessoas que tinham espírito filantrópico. Aqui, destaca-se o nome de Robert Raikes que tomava a iniciativa de lutar pela transformação da vida das pessoas que necessitavam de ajuda política e humanitária.

3. Robert Raikes e a filantropia na prisão

Diante do contexto apresentado anteriormente, tratando-se das condições estruturais, principalmente, da prisão do condado em Gloucester, torna-se difícil conceber a ideia que alguém possuísse disposição para lutar em favor de melhorias na vida dos presos ali detidos. Porém, nota-se que Robert Raikes se propunha em ajudar essas pessoas, visando a promover reintegração social de cada uma, fazendo uso da educação e da prestação social. Assim, entende-se que a Escola Dominical que, sob a perspectiva de Raikes, tinha um caráter mais filantrópico do que necessariamente religioso, possui suas raízes históricas nesse próprio empenho que visava à transformação dos detentos. Como destaca Gregory (1881, p. 22, tradução nossa),

Pode ser dito que, o sistema de Escola Dominical, com que o nome de Robert Raikes será sempre inseparavelmente conectado, teve sua origem nas prisões de Gloucester. Foi lá que ele percebeu a direta conexão entre ignorância e criminalidade, e lá que ele viu a futilidade de se punir atos ilícitos sem remover aquilo que os ocasionam.

Robert Raikes, como dito anteriormente, era editor e proprietário do Gloucester Journal, porém, além dessa atividade, segundo Araújo e Silva, [2]

era capelão num presídio [do condado] por mais de 15 anos, e incansavelmente comprometido com a causa social e humana utilizava seu editorial dos domingos para chamar atenção das autoridades para a necessidade de uma reforma no sistema presidiário.

Raikes tinha um espírito filantrópico e acreditava ser possível ocorrer mudança de vida até mesmo dos excluídos presos de Gloucester. Diante disso, fazia uso de “sua influência pessoal e de sua propriedade [Gloucester Journal]” (POWER, 1863, p. 33, tradução nossa) para motivar às autoridades governamentais a se proporem, com investimentos e atenção, a ajudar os detidos. Na ideia de Raikes, a educação era a maneira pela qual aqueles presos poderiam ser reintegrados, de modo digno, à sociedade. Por isso, ele afirmava que “os presidiários deveriam receber uma educação formal” [3].

Araújo e Silva [4] destacam, de maneira clara, qual o tipo de educação que Raikes sugestionava e o que esperava que acontecesse com os educados,

Sua sugestão para a reabilitação daqueles homens constava de cursos profissionalizantes, oficinas de trabalho, aulas de alfabetização e de cidadania, palestras e orientações. Assim, eles aprenderiam a fazer algo que lhes desse prazer e com uma formação profissional; ao saírem da prisão, poderiam ter empregos, viver honestamente e ser cidadãos de valor na sociedade e não retornariam a praticar delitos.

Percebe-se nas palavras de Raikes, escritas em uma de suas publicações do Gloucester Journal, que seu propósito entre os presos era possibilitar-lhes meios de sobrevivência depois que fossem libertos. A falta de boas condições de trabalho e o consequente desprovimento de sustentabilidade própria seriam realidades na vida dessas pessoas se, ao saírem da prisão, não tivessem oportunidades de prestar serviços úteis para o meio em que viveriam.

Os presos confinados no castelo [prisão do condado], sem subsídios ou meios de subsistência pelo próprio trabalho, muito humildemente suplicam alguma ajuda, por piedade, daqueles que podem se compadecer de suas misérias. Os favores que eles, até agora, têm recebido serão lembrados sempre com gratidão (RAIKES, 1768 apud GREGORY, 1881, p. 25, tradução nossa).

A ideia de Raikes, quanto à reintegração social dos presos de Gloucester, não teve os resultados esperados por dois aspectos principais. Em primeiro lugar, as solicitações de ajuda eram atendidas por poucas pessoas, tendo em destaque o nome de John Howard e Rev. Samuel Glasse (GREGORY, 1881). Em segundo lugar, ele percebeu que, mesmo os presos demonstrando certas mudanças de conduta enquanto o trabalho era realizado, a maioria deles, ao serem soltos, cometiam os mesmos delitos anteriores. (ARAÚJO; SILVA, 2010). Tanto esses resultados frustrantes como também alguns outros ocorridos, a serem expostos, cooperaram para a criação da Escola Dominical.





[1] Tradução derivada do termo inglês county que pode ser traduzido por condado, município, região ou distrito. A tradução utilizada teve como base o contexto histórico da cidade de Gloucester e seu envolvimento com o feudalismo em séculos anteriores. Gregory usa o termo county e city (cidade) para especificar uma informação que possui um pano de fundo histórico. Em muitos lugares da Inglaterra do século 18 existiam construções antigas que historicamente estavam relacionadas com o tempo do feudalismo. Nesse referido sistema, os reis davam certas terras aos condes que escolhiam e os colocavam para gerenciar os territórios que, normalmente, eram conquistados. Os condes construíam grandes castelos para que pudessem iniciar um feudo. Assim, esse território governado por um conde era denominado Condado. Em Gloucester, havia um castelo que estava de pé desde pouco antes da conquista normanda em 1066 por Guilherme II. Esse castelo foi por diversas vezes usado com finalidades de atender à coroa inglesa, como também sendo ponto central de referência para o estabelecimento de um feudo. Depois do decrescimento do feudalismo e com a ascensão de novas formas administrativas na Inglaterra, o castelo teve sua funcionalidade mudada. Até o ano de 1784, não se sabendo desde quando, esse referido castelo foi usado como uma prisão na área que, agora, era conhecida como “do condado de Gloucester” (BOND, 1848). Desse modo, existia a prisão do condado como também a da cidade. A primeira era assim chamada porque se situava no castelo onde, seus arredores, eram conhecidos como condado. A segunda recebia esse nome (da cidade) porque se localizava em uma área que, na época, era recentemente formada, aos moldes do sistema urbanístico da industrialização.
[2] ARAÚJO, Berenice; SILVA, Luzelucia. Escola Dominical: A Formação Integral do Cristão. 2ª edição. Pindamonhangaba. IBAD, 2010, p. 82
[3] Id. 2010
[4] Id. 2010

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMERICAN BAPTIST PUBLICATION SOCIETY. Robert Raikes: His Sunday Schools and His Friends. Philadelphia. 1859
ARAÚJO, Berenice; RIBEIRO, Luzelucia. Escola Dominical: A Formação Integral do Cristão. 2ª edição. Pindamonhangaba. IBAD, 2010
ARAUJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. 1ª edição. Rio de Janeiro. Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2007
ALENCAR, Gedeon. Assembleia de Deus- origem, implantação e militância (1911-1946). 1ª edição. São Paulo. Arte Editorial, 2010
BOND, Frederick. History of Gloucester. Gloucester. Imperial Library. 1848
BOVARD, William Sherman. Adults in the Sunday School: A Field and a Force. New York. The Abingdon Press, 1917
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: Promulgada em 5 de outubro de 1988. Organização por Yussef Said Cahali. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999.

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sexta-feira, 11 de março de 2016

Biografia e sintética análise pessoal sobre Martin Heidegger (2011)



Texto escrito em cumprimento às exigências da disciplina de Princípios de Exegese I, 2011. André  Francisco
 



Filósofo, escritor de diversas obras, professor universitário, um dos mais destacados pensadores de todos os tempos, principalmente em se tratando do século 20. Nasceu em uma família de religiosos cristãos de confissão católica. Estudou na cidade de Constança, entre o período de 1903 a 1906; em Friburgo até 1909, cidade onde também se tornou professor de 1923 a 1928, como substituto.
Cursou teologia e, paralelamente, aprofundou-se nas filosofias antigas, principalmente nos argumentos de Aristóteles. Em se tratando de influências filosóficas modernas, Heidegger iniciou seu aprofundamento no assunto a partir de leituras de livros de Husserl. Simpatizava-se com a filosofia existencialista de Kierkegaard, como também por Blondel. Investigou obras de Nietzsche, Emmanuel Kant, Dostoievsky, grandes influenciadores de seu próprio pensamento filosófico.
Autor de diversas obras, entre elas, “Ser e Tempo”, em 1927.
Existem algumas outras de destaque: "Da Essência da Verdade" (1943), "Introdução à Metafísica" (1953), "Da Experiência de Pensar" (1954), "O que é isto, a Filosofia?" (1956), "O Princípio da Razão" (1956), "Da Pergunta sobre o Ser" (1956), "Identidade e Diferença (1957), "A Caminho da Linguagem" (1959), "Língua e Pátria" (1960), "Nietzsche" (1961), "A Pergunta sobre a Coisa" (1962), "Tese de Kant sobre o Ser" (1962), "Marcos do Caminho" (1967), "Sobre o Assunto Pensamento" (1969), "Fenomenologia e Teologia" (1970), "Heráclito" (1970).
As ideias de Heidegger foram a causa da intitulação que ele recebeu como um grande filósofo metafísico. Esse pensamento, com base na filosofia aristotélica, caracteriza-se pela investigação das realidades que transcendem a experiência sensível, e especula sobre as realidades suprassensíveis, valorizando-as como fonte do conhecimento empírico. Essas especulações sobre as realidades suprassensíveis fizeram de Heidegger o filósofo metafísico, ou seja, aquele que investiga a realidade, com base em uma compreensão acima das naturais, sensitivas e perceptíveis na realidade.
Grandes teólogos modernos foram influenciados diretamente pelo pensamento metafísico de Heidegger. Entre eles, destaca-se o nome do grande teólogo Rudolf Bultmann. Teve contato direto com Martin Heidegger em Marburgo, na universidade onde lecionou por certo tempo. Martin Heidegger viveu até 1976, onde morreu em maio daquele ano.

Análise pessoal
            Indubitavelmente, Martin Heidegger foi um grande filósofo do século 20, o qual, ainda hoje, serve como base de ideias para muitas pessoas que procuram especular sobre as realidades metafísicas. Tratando-se principalmente da filosofia metafísica de Heidegger, é possível perceber a sua importante influência nos pensamentos de grandes teólogos do século 20 e 21. Destaca-se o nome de Rudolf Bultmann, ressaltado anteriormente.
          A teologia de Rudolf Bultmann sempre partiu do princípio de que a realidade metafísica deve ser alvo de demonstração através das especulações humanas, que são, de fato, limitadas. O que o homem sabe sobre Deus não se torna nada daquilo que realmente ele é, ou seja, todo conhecimento possível parte de uma intenção subjetiva de construção, a fim de tentar, com palavras ou argumentos inteligíveis, argumentar sobre o mundo metafísico.
            Desse modo, como o próprio Bultmann ressalta, “o homem que deseja crer em Deus deve saber que não dispõe absolutamente de nada sobre o qual possa construir sua fé e que, por assim dizer, se encontra suspenso no vazio[1]” (BULTMANN, 2005, p. 66). Quer dizer que a especulação do metafísico é somente argumentação, não consegue atingir um nível de sensibilidade de concretude que se identifique plenamente com sua realidade factual.
            Esse tipo de ideia é influenciado pela especulação metafísica, onde as verdades que devem ser expressas e pensadas são as supranaturais, porém, sempre considerando a limitação das argumentações que possam ser feitas com relação a elas. Essas argumentações sempre partem do “ser” do “indivíduo”, do “ente”, e são capazes de serem expressas via suas próprias certezas, subjetivamente.
            A análise abrangente do ser, tanto para teologia quanto para filosofia, é relacionada em um mesmo sentido. Bultmann acreditava na construção subjetiva de uma narrativa sobre a fé em Cristo. Isso, em sua concepção, faz parte da tendência de atribuir valor ao ente na especulação (pensamento heideggeriano).



[1] BULTMANN, Rudolf. Jesus Cristo e Mitologia. 3ª edição, Novo Século, São Paulo, 
2005

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