sábado, 19 de maio de 2012

A Saudade

“A saudade se gera por causa da recordação, no presente, de episódios vividos. Acentua-se quando essas memórias sobressaem-se à consciência de que esses eventos, irreparavelmente, extrapolaram a realidade sólida e  passaram de palpáveis para meramente contemplativos, de concretos para simplesmente abstratos. E esse descontrole sobressalente pode ser um dos promotores de prováveis quimeras se não aplainado ao nível da normalidade. No entanto, a saudade esvai-se, árdua, mas, propositadamente, quando se percebe que as lembranças factuais pelas quais ela existe são especiais o bastante para que não sejam, a qualquer custo, protegidas de tamanhas e irremediáveis degenerações. Mas como protegê-las, sem rememorá-las? Como guardá-las, sem ressaltá-las mentalmente todos os dias?  De que maneira não sofrê-las ao memorá-las?  Não se sabe. É por isso que aquele que inevitavelmente se torna vítima da saudade, a qual é nutrida pelas lembranças, sabe que terá o irrefragável desafio de ser transigente, todos os dias, com esse sentimento,  se objetivar conservar a alegria que se deriva da valorização subjetiva daquela realidade existida, que já lhe tornou intrínseca.”


André Francisco

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