1. Existem, ainda hoje, várias igrejas pentecostais e não pentecostais que desaprovam o uso de calça comprida para mulheres, fundamentando-se em versículos como o abaixo citado:
"Não haverá traje de homem na mulher, e não vestirá o homem vestido de mulher, porque qualquer que faz isto é abominação ao Senhor teu Deus". (Deuteronômio 22:5)
2. Por muitos anos, o texto acima tem sido usado para condenar o uso de calças jeans ou sociais por mulheres, considerando seus intérpretes que esse tipo de vestimenta, no Brasil, é majoritariamente masculino. Ou seja, qualquer mulher que os use comete abominação diante de deus, conforme ratificado.
3. É interessante ser analisado o texto de acordo com a cultura de sua época. Historicamente, torna-se inviabilíssimo aceitar como verdadeira a afirmação que busca salientar qualquer relação com calça comprida para mulheres em tempos veterotestamentários, de acordo com Deuteronômio e a Lei do Pentateuco.
4. O traje masculino daquela época nada tinha de semelhança com as roupas atualmente usadas pelas sociedades modernas, principalmente, em se tratando das ocidentais. O uso de batas era comum entre homens, vestidos longos com certos tipos de modestos adornos. Entre as mulheres, costumava-se também ser utilizado esse modelo de roupa, diferindo minimamente entre um e outro.
5. Atualmente, é possível perceber a diferença entre modelos de calças femininas e masculinas, sendo já massificada a ideia nas pessoas de que essa diferença faz parte de uma moda simples e corriqueiramente utilizada. O fato da calça ter sido rejeitada, principalmente, no começo de sua utilização, e isto em relação às mulheres estadunidenses do século passado, como do início do movimento evangélico no Brasil, não pode normatizar, até hoje, o tipo de identificação desse traje com abominação e rechaçamento. Ou até mesmo quando trata de utilização de calças aparentemente masculinas por mulheres, não há qualquer referência Bíblica, contextualmente, que especule, com juízo de valor, sua validação. O texto de Deuteronômio, com certeza, não serve para tal aplicação, como qualquer outro.
6. Tem sido veementemente salientada a questão da modéstia entre mulheres da igreja. Mas, com relação a esse assunto, outras cartas deverão ser lançadas à mesa, necessitando que haja uma análise ainda mais aprofundada em um estudo social para determinar qualquer intenção sobre. E, acima de tudo, uma observação, no mínimo, exegética-hermenêutica de versículos que são descompromissadamente usados para defender tais costumes e usos.
André Francisco