1. Sexualidade é tabu para igrejas. Essa questão não é novidade para ninguém. Até mesmo, em se tratando de outras religiões não cristãs, porém mais convencionalmente, e em relevo aqui, para as cristãs.
2. Sexualidade não apenas no que se refere à homoafetividade, transexualidade, bissexualidade, etc, que são assuntos em voga atualmente no Brasil em discussões que interagem o seguimentos políticos, religiosos e de crítica moralista-filosófica.
3. Busca-se ressaltar nessa postagem a sexualidade na abrangência conjugal entre um casal heterossexual, isso para causar menos problemas. Mas relacionado a um assunto interessante, obviamente, que é o sexo anal.
4. É um tabu inimaginável, para certas pessoas, falar ou pensar nesse tipo de relação sexual. Versículos como Romanos 1.16, que fala sobre a mudança do uso natural pelas mulheres, a qual muitos intérpretes associam à questão, são utilizados em grande escala para marginalizar, ou até demonizar, esse tipo alternativo de sexo. O Antigo Testamento, principalmente, é usado em proporções ainda maiores para tal defesa abusiva da não permissividade.
5. Ressalta-se aqui que a Bíblia, sendo ela com seus 66 livros ou 74, não se refere, em nenhum momento, a tal assunto, com qualquer opinião. Também busca-se ressaltar que, mesmo se se referisse, seria impossível utilizar tal citação para contextualizar o assunto e retirar das afirmações obrigatoriedades ou permissividades a fim de se aplicar à sociedade contemporânea, considerando que o tratamento das escrituras quanto ao assunto sexualidade é antigo, tribal, machista, inflexível e com base em paradigmas culturais completamente diferentes do atual, em esfera ocidental.
6. Países como os Estados Unidos, que fundamentaram e consolidaram, há muito tempo, suas leis institucionais e constitucionais, ou códigos civis, a partir de conceitos teóricos baseados em textos religiosos como a Bíblia, chegam ao ápice de interpretação acrítica e fideísta ao afirmar como sodomia ou ato de prostituição o sexo oral, por exemplo. Logo, o sexo anal também passa à mentalidade das massas com sentido pejorativo e alusivo à ilegalidade, sombreando autoridade bíblica para sustentabilidade da ideia. Em relação ao Brasil e à igreja, a cultura é basicamente a mesma, sendo que a interpretação teológica, exegética e hermenêutica dos textos é quase que totalmente importada do Norte, aparentemente iguais em muitos casos.
7. Quando não se apela para textos bíblicos, o argumento que corriqueiramente tem sido utilizado é o da higiene. Vê-se a atuação do sexo anal como algo abominável, destacando o fato de que a higiene representa a santificação das pessoas, a conservação da vida, a características de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. É óbvio que aqui se considera a necessidade de total proteção e prevenção contra os tais casos negativos, no caso da existência dessa modalidade de sexo, mas nunca de acordo com a espiritualização desse processo ou demonização. Um assunto não se interage ao outro por mera assemelhação. Faz-se a diferenciação clara e ampla entre um e outro.
8. A demonização da sexualidade é presente na mentalidade religiosa cristã, vinda desde os primórdios de sua herança cultural e litúrgica, diferindo em relação ao que os Romanos ou até Gregos pensavam. Paulo pode ser considerado um dos grandes instaladores dessa ética aversa ao que propunha a sociedade de sua época, ao rebater em seus principais textos a "suposta imoralidade" de Sêneca e sua sapiência, exemplificando. Daí são tiradas conclusões e lançadas dentro das paredes dos templos hoje em dia.
9. O que o artigo propõe é uma reflexão quanto ao tipo de consideração e associação que normalmente é feita, sem qualquer crítica lógica salientada. Por causa disso, muitos casais heterossexuais vivem de maneira incompleta não desfrutando das possibilidades que a imaginação conexa à libido do ser humano pode criar e gerar na hora da ação sexual instintivamente e em busca do maior prazer possível. Também a quebra do presente tabu, onde o medo e a desconfiança materializam-se até mesmo na mera citação do assunto em certos casos extremos. Busca reforçar, aos casais que desfrutam da completude de sua sexualidade, a autonomia e liberdade a qual conquistaram entre si. E à igreja, a capacidade de buscar conhecer mais sobre o assunto, a fim de retirar de seus púlpitos a ideia de que sonegar informação verdadeira é uma forma de conservar pessoas no caminho certo de sua ignorância para conservação da alma. O jogo da perda da vida pelo ganho da alma.
André Francisco
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