A identidade religiosa de um povo, em todas as
épocas, normalmente passadas (foco de análise), criava-se a partir de diálogos,
cotejamento de ideias, e compartilhamento de experiências. Isso, quase sempre,
ou sempre, em se tratando do convívio paralelo entre culturas, sociedades, vizinhanças,
com tudo que lhes eram peculiares. Toda essa dinâmica produzia, gerava,
despertava “em”, características criativas, construtivistas, que acabavam marginalizando, naturalmente,
depois de um tempo, os unidos familiar ou eticamente, dentro de uma só
tendência de se pensar o divino, o sagrado. Isto é, em termos modernos, da
globalização, ao redutivo comunista, ideológico. O primeiro para se gerar a
matiz, o segundo, para consolidá-la e protegê-la de “corrupção e adulteração,
tidas más influências”. Isso aconteceu com os Gregos, Romanos, Persas, e por
que não, com Israel? Observando certas minúcias, alusões, com um pressuposto,
quase sempre hipotético, principalmente a partir de uma abordagem direta à Bíblia
Hebraica, ou, conjunto de livros canonicamente separados para a formação da primun legem religiosa judaica,
percebe-se a existência de um desenvolvimento diretivo do pensar sobre a
divindade o qual, ao longo do tempo, vai-se tomando forma, e assumindo
personalidade, corpo, e fôlego próprio. Esse apropriar-se de pele e rosto, de
vida e força de sobrevivência independente (quase impossível), que a identidade
religiosa de Israel, o pensar sobre o “totalmente outro”, adquiriu, por muitos,
é considerado como recebimento revelacional, diretamente enviado, do alto, a
baixo, de cima, para dentro de seus porta-vozes, escritores, heróis, ou
profetas. Identicamente ao sopro criador edênico (Gn 2.7), que foi
exteriorizado e embutido, por Yaveh
Elohim, a fim de vitalizar ao, até então, boneco de barro que,
posteriormente, foi substantivado nominalmente אָדָ֗ם. Mas, honestamente, se é
que seria o melhor advérbio de modo a
se usar, as coisas não aconteceram tão simples assim, como uma mente, que louva
e valoriza mais ao fideísmo do que o criticismo, consegue anuir. Ressaltando-se
o fato de que a identidade religiosa de Israel passou de ampla, dialogal, que
se utilizava de outros vieses próximos, para pequena, fechada dentro de um
espaço familiar, nacional, têm-se novas maneiras, hermenêuticas, pressupostos,
para se observar conceitos sobre Deus, expressados na Bíblia Hebraica. Desse
modo, como exemplo, El Elyon (Gn
14.18) já pode não ser visto como o único Yaveh
pós-exílico, P, (Dt 6.4), mas como a grande e única deity de Canaã. Tão lembrada que possui destaque dentro do panteão
extraterreno principal (Sl 29; 89.6). Essa deity,
que só perdeu prestígio quando o monoteísmo foi, de fato, oficializado pelo
estado, mas que foi louvada e incluída “henoteisticamente”
pelos hebreus nos seus registros e alvos de culto, nos embriões de sua
existência, foi deixada de lado, paulatinamente; e, a partir da “hail! Yaveh somente”, se adorada, promotora
de maldição (Ex 20.2; Dt 5.6). O plural já passa de simples majestático (Gn
1.1), para uma percepção mais politeísta de se ver a realidade dos deuses (Gn
1.26-27; 2.4), refletida no incipiente texto referido. Dificultosas definições
de identidade para a época da escrita, ainda, facilmente percebidas. Enfim, o
desenvolvimento de uma identidade religiosa não parte simplesmente de algo
transcendentalmente comunicado, bem cuidado, com toda simetria possível. No
entanto, de uma tempestuosa e turbulenta conversa, recebimento e dação, de experiência
e palpites sobre o não palpável. Até que, de fato, se nota a oficialização
tardia da referida verdade sobre a realidade supra-humana dos deuses, e, mais
especificadamente, da religião, em aspectos gerais.
André Francisco
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