“A
saudade se gera por causa da recordação, no presente, de episódios vividos.
Acentua-se quando essas memórias sobressaem-se à consciência de que esses eventos,
irreparavelmente, extrapolaram a realidade sólida e passaram de palpáveis para meramente
contemplativos, de concretos para simplesmente abstratos. E esse descontrole
sobressalente pode ser um dos promotores de prováveis quimeras se não aplainado ao nível da normalidade. No entanto, a saudade esvai-se, árdua, mas,
propositadamente, quando se percebe que as lembranças factuais pelas quais ela
existe são especiais o bastante para que não sejam, a qualquer custo,
protegidas de tamanhas e irremediáveis degenerações. Mas como protegê-las, sem
rememorá-las? Como guardá-las, sem ressaltá-las mentalmente todos os dias? De que maneira não sofrê-las ao memorá-las? Não se sabe. É por isso que aquele que
inevitavelmente se torna vítima da saudade, a qual é nutrida pelas lembranças,
sabe que terá o irrefragável desafio de ser transigente, todos os dias, com
esse sentimento, se objetivar conservar a
alegria que se deriva da valorização subjetiva daquela realidade existida, que já
lhe tornou intrínseca.”
André Francisco
André Francisco
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