Os cristãos, como exemplo de
cidadania, é um objetivo a se alcançar. Por várias e várias décadas, a teologia
popular cristã tem se apegado ao moralismo exacerbado, fraco e doentio, a fim de estabelecerem um diferencial entre igreja x mundo, santos x pecadores, salvos x
perdidos. Aquela velha dialética cristã. É tanto que hoje os cristãos são
conhecidos por não ouvirem músicas do “mundo” (devem somente ouvir música do
céu), só transarem após o casamento (em tese), não beberem, não fumarem, não
irem à balada e vestirem roupas cafonas. Uma moral superficial que os
identificam como cristãos, “evangélicos” ou “gospel” (derivado da conotação
norte-americana para a designação dos cristãos reformados), e assim, temos então
a formação de uma identidade social.
Infelizmente, no Brasil hodierno, desfrutamos dessa triste realidade.
Recentemente, ocorreram boatos de que Renato Aragão, o “Didi”, lançaria um filme que se intitularia o “Segundo filho de Deus”, no qual ele mesmo se passaria
por um filho substituto de Jesus Cristo, a fim de realizar a missão do Pai no mundo,
pois o Messias original haveria “falhado” em sua missão de resgatar a
humanidade. S.O.S. Evangélicos atordoados, entupindo timelines de facebook’s e
redes sociais com post’s de indignação pela "profanação" do dogma sagrado e da
pessoa divina de Jesus Cristo.
O interessante é que esses mesmos evangélicos, tão indignados pelo boato de
um “possível” filme (que foi desmentido pelo próprio Renato Aragão), não estão
nem um pouco preocupados com a situação sócio-política do país em que vivem,
com os desdobramentos dos casos de corrupção política no Brasil, com a falta de
políticas públicas em prol da melhoria de vida dos oprimidos e das classes
menos favorecidas. Não se preocupam em pagarem altos impostos aliados a péssimos
serviços governamentais na área da saúde, da educação, da assistência social,
do acesso à renda. Quase sempre, não se preocupam com crianças que passam fome e pedem
esmolas nos pontos de ônibus, nos sinais de trânsito, nas esquinas dos bares ou
nas portas das igrejas e muito menos com os mendigos ou favelados que vivem em
condições subumanas.
É claro que essa denúncia soaria como um preconceito, considerando que
essa é uma atividade de todos nós cidadãos, não apenas dos evangélicos, mas
essa é a questão em pauta.
Um grande erro da teologia popular, sacerdotal (das pregadas
nos púlpitos) é o selecionamento de textos que lhes convém para a manipulação
coletiva de um modo não perceptível. Pegue-se meia dúzia de ideologias, dogmas
e mandamentos divinos e far-se-á um exército de fiéis semióticos dispostos a quase tudo. Os textos sobre responsabilidade social, cuidado do planeta, ética
entre os povos, respeito e educação para os homens, tratamento dos
desfavorecidos, são altamente negligenciados, pois combatem à hipocrisia social
e nos dão um fardo muito grande para ser carregado: o da responsabilidade social
como filhos de Deus.
Os cristãos brasileiros não deveriam ser conhecidos por um moralismo exacerbado e doentio, taxando-se como “superiores” aos “mundanos”, mas como um
povo de atitudes sociais e práticas, de compromisso político pujante, de
militância cidadã e guerrilheiros pacíficos dos direitos humanos e das verdades
e virtudes democráticas, mas não o são. Ao contrário, a bancada denominada
evangélica é constantemente objeto de deboche, pela sua atitude proselitista,
altamente partidária, seus vários projetos de cunho religioso para um estado
laico, sua luta insana contra a P.L 122 e vários de seus membros, na maioria
“pastores” ou líderes denominacionais, envolvidos em esquemas de corrupção, com
apenas um ou outro que desempenha um papel importante para a democracia
brasileira, confirmando a situação delatada, não a anulando.
Para uma mudança nesse quadro lamentável, talvez, somente a implementação
da lei de que todos os pastores devam ter cursos teológicos (reconhecidos pelo
MEC) para poderem palestrar em qualquer denominação que seja, para que a
teologia pastoral sofra um avanço e passe a formar consciências mais maduras, sociais
e políticas e menos vilipendiadas por essa teologia moral em cartaz. Para mudarmos as atitudes cidadãs cristãs, devemos primeiramente mudar as concepções cristãs
de atitude. É bem lógico e simples, mas não é o mais fácil, portanto, não o mais
desejado. Lembro-me então das palavras de Cristo, "quem quiser vir após mim,
que tome a sua cruz e siga-me".
Por Rodrigo de Barros Mascarenhas.
Por Rodrigo de Barros Mascarenhas.
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