1. O
Natal está chegando, e junto dele, as cobranças feitas por muitas
igrejas, acerca da obrigatoriedade exclusiva que seus membros têm de
se lembrarem do nascimento de Cristo, e de valorizarem apenas o dia
do aniversário do Redentor, e de não se comprometerem, ainda que
apenas mentando, com outras personagens tradicionais dessa data
comemorativa, como por exemplo, o Papai Noel e seus trenós.
2. Sob dois
argumentos principais, justificam tal imposição. O primeiro, de que
25 de dezembro foi o dia histórico do nascimento de Jesus- isso para
muitas comunidades. Segundo, a afirmação de que o Papai Noel tem
tomado o espaço que não é propriamente seu, com suas lendas e boa
ações. Fazendo com que a ênfase que deveria recair sobre o Cristo,
fomentando naturalmente o prestígio que lhe é devido, em sua
exclusiva data, se esvaia a cada ano.
3. Confesso que não tenho nada
contra a comemoração do Natal, seja na perspectiva que for. Ou
seja, sendo a ênfase maior dada ao Cristo ou ao Papai Noel, para
mim, tanto faz. O importante, ao meu ver, é a realização das
coisas boas que vêm adjungidas à festa, em seu sentido ocidental
principal, que é a caridade, o amor, a reunião familiar, a
compartilhação, a solidariedade, o feriado, e outras mais.
4. No
entanto, não posso aceitar que o argumento utilizado, a qual fomenta
a ideia acerca da necessidade de se comemorar exclusivamente o Natal
junto à personagem Cristo, seja defendido a partir de especulação
histórica, sob a justificativa de que o seu nascimento ocorreu
exatamente no dia 25 de dezembro, por isso deve ser festado. Isso se
compara a rubricar um atestado de desonestidade histórica,
documental, racional, intelectual, acadêmica, de altíssimo grau de
sofrimento.
5. Pois, em primeiro lugar, no início, o cristianismo não tinha
uma data exata para o nascimento de Jesus, isso é consenso entre
historiadores. As comunidades primitivas, de diversos lugares, celebravam em diferentes datas. 25 de dezembro foi adotado oficialmente no século 4 porque nesse dia os romanos já comemoravam uma festa importante, a Natalis Solis Invicti, ou "Nascimento do Sol Invencível". Era uma comemoração pelo solstício de inverno, o dia mais curto do ano. Depois do solstício, como os dias ficam cada vez mais longos, existia um sentido florescente na festa, uma celebração pela vida.
6. Logo, virou tradição associar o nascimento de Cristo, considerado a luz para os cristãos, com o 25 de dezembro, data comemorativa romana. Então, desvelando-se a história, percebe-se que Jesus não nasceu nesse dia, ninguém sabe, por enquanto, quando o Nazareno veio à vida. Não existe documento que diga exatamente o dia, apenas supõe-se o ano 4 a.C, por algumas razões importantes, mas o dia, não.
7. Já o bom velhinho nasceu fundamento na figura histórica de São Nicolau, com suas lendas, obviamente. Antigo bispo cristão que fazia boas ações às pessoas no século 3 d.C. Transformou-se bastante ao longo do tempo, principalmente, em se tratando de sua roupa e forma física. Mas, atualmente, é aquele que todos conhecem, velho de barba esbranquiçada e com barriga avantajada, de vermelho, branco e preto (a Coca-Cola que o diga). A cada dia vem tomando espaço na cultura ocidental, ou já está estabelecido, no Natal, seja para fins comerciais, como em outros aspectos.
8. Desse modo, penso que o importante não é a disputa das figuras, mas o sentido positivo e cultural delas.
9. Tomara que os fundamentalistas consigam praticar "ecumenismo" ao menos no Natal, e que possam deixar o desnecessário imbróglio de lado.
André Francisco
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