Duas ou três
doses, nada mais. Um cigarro ao canto e lá no fundo uma banda esquisita tirava
algumas músicas antigas. Reparava e olhava, tudo era diferente para um rapaz do
interior; o jeito que as pessoas se vestiam, como se comunicavam, os
comportamentos alheios, modos e trejeitos; moços e moças de todos os jeitos,
homens - homens e homens - mulheres, mulheres - mulheres e mulheres - homens. O diferente me era estranho, mas não repugnante, fazer o quê? Aquela era minha
noite, meus amigos estavam ali e ali deveria me divertir, foda–se, afinal, as
meninas ainda eram bonitinhas e acredito que ainda gostavam de um homem à moda
antiga, com roupas modernas e boa pegada.
Naquele dia,
logo cedo, levantei–me meio estonteante, com certa ressaca moral, não
conseguia abrir meus olhos e pensar em algo diferente que não fosse a nossa
noite passada juntos, eu e ela, como dois adolescentes, descobrindo seus
corpos, mas com maturidade de velhos senhores (pelo menos prefiro pensar assim,
ou não?) e a sedução de dois jovens que acabaram de assistir nove e meia
semanas de amor e de tomar um vinho cabernet enquanto falavam safadezas e
revelavam seus sensos de humor, de forma extremamente relaxante. Na verdade, existem muitos e muitos momentos dessa forma que poderia descrever; alguns
intensos, porém, esquecidos; outros sem nenhuma importância e desnecessários,
mas alguns, raros, importantes, devassos, daqueles que lhe deixam com um forte
aperto no peito no dia seguinte, como uma droga que lhe vicia e lhe mata, mas que ao mesmo tempo se faz bastante necessária, pois lhe dá ânimo para prosseguir
mais alguns outonos. Esse era o tipo de noite que tivemos, um eterno vício, que
frequentemente seria lembrado.
Todas essas
emoções ainda me estavam fortes no peito quando Marcos me ligara para tomarmos
uma cerveja juntos mais tardes em um dos Pubs daquela cidade. Topei. Precisávamos conversar, fazia tempos que não nos víamos.
Marcos era um pé no saco, do tipo babaca, que só se importam com sua própria
bunda e pensam que a vida é um poço de tédio e palco teatral para fazer piadas
com os outros, mas mesmo assim, o cara era um tipo de narcisista animado,
gostava daquele cretino, sua cara de pau sempre nos rendia noites épicas.
Saí de casa às 8
da noite, pensando em como terminaria aquela noite. Em uma briga? (Não sou tão durão assim). Trocando as
pernas e andando cambaleando, falando futilidades e diálogos sem sentido dos
bêbados pela madrugada? Nos braços de uma bela mulher, sendo amaciado por
calorosos seios? Era minha escolha e, realmente, eu adorava essa parte, escolher
como seria minha noite. Não acredita nisso? Ainda não sabe então como é jogar
com as probabilidades e sair campeão, o gosto é único. O gosto de sou foda, mas
é claro que isso é um segredo que não contaria para ninguém, pelo menos não escancaradamente,
sempre acreditei que as boas virtudes não devem ser ditas, mas reconhecidas
pelos comentários alheios, afinal, quem não é visto, jamais é lembrado.
Quando
encontrei-me com Marcos, ele já havia reunido uma boa turma, daquelas da pesada,
do tipo de clube dos nerds revolts, noturnos por natureza, que tinham como
esporte se embriagar, faziam o tipo politicamente incorretos, eram preguiçosos
(com algumas exceções), extramente talentosos e odiavam maricas, uma espécie de
bad boys com the big bang theory e skins (não os heads). Começamos a beber, a trocar ideias sem
fins pragmáticos e a rir de futilidades, fazendo comentários sacanas das meninas
que passavam para lá e para cá. O interessante é que de vez em quando me
pegava, inconscientemente consciente, pensando nela e onde poderia estar uma
hora daquelas, um banana nos embalos de sábado à noite.
Dizem que a
melhor fórmula de se esquecer uma mulher é conhecendo outras e outras, acho
isso parcialmente errado. Conhecer novas e novas mulheres irá retirar de você a
sensação de estar apegado há algo que já se foi, ou que já não lhe pertence
mais (não no sentido de posse) e que o mundo não acaba por aí, mas de fato uma
bela mulher, uma vez que mostra seu melhor e do seu néctar é provado,
escorrendo pelos lábios e seu desejo não é saciado, mas faz abrir uma sede
interminável de maneira que todas as suas energias são direcionadas a querer
mais e mais e provar mais e mais até que seja farto, não como algo ruim em si,
mas que causa uma satisfação enorme, um sentimento de paz, de não estar sozinho
no mundo, de ter o seu coração acalmado e o seu corpo ardendo em fogo. Não pode ser esquecida. Jamais.
Não quero ser
piegas, mas, de fato, é assim que as coisas acontecem no mundo, vivemos,
nascemos, transamos, enganamos, odiamos, brincamos, damos tapa na cara (tem
tempo que não tomo um), sorrisos falsos e verdadeiros, falamos coisas bonitas
para pessoas que não conhecemos e coisas frias para pessoas ditas próximas
(nossas famílias), mas nunca deixamos de amar. Freud, a biologia, Jesus e os
heróis da mitologia grega, todos eles explicam o amor de uma forma, pois ele
está aí, ele existe, seja tratado como uma necessidade de procriação dos
instintos reprodutivos humanos, um fenômeno psico-social, um dom de Deus, ou
dos deuses, o amor, meu amigo, é uma pessoa, e espero realmente encontra-lo
dentro de alguns dias e lhe dar dois tapas na cara, um por ele ser bom e
necessário e outro por sempre nos foder, vadio.
Enquanto isso vou tomando a minha cerveja, rindo com os meus narcisistas divertidos que chamo de amigos e esperando a próxima bela criatura passar para que eu encoste e comece a novamente trocar simbioses e fazendo de minhas noites delírios memoráveis. E se ainda me pergunta o que quis dizer com tudo isso, não pergunte, nem todas as coisas são para serem explicadas, apenas vividas e sentidas, como fragmentos de uma utopia necessária, mesmo que tola. E ainda pensando nela.
Como diria Led Zeppelin em Baby Come on Home:
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