1. Em várias ocasiões, não apenas no livro do Êxodo, mas em extensa
literatura hebraica, tanto da Torá como outras fontes, pode-se notar a
dualidade na narrativa religiosa. A partir de uma análise exegética
desses textos, não apelando para a afirmativa da historicidade nos
padrões hodiernos de se ler ou narrar acontecimentos, translitera-se a
hipótese fortemente testada de que a luta pela variação doutrinária
dependendo do contexto político-religioso do momento em questão sempre
foi representada nesse diálogo de obediência e desobediência do povo
hebreu e YHWH.
2. Há sérias e consideráveis evidências de que a mitologia
por trás dessas histórias sempre se tratou de luta de classes, mudanças
sociais e políticas, diretamente relacionadas com o contexto religioso.
Tanto por se tratar evidentemente de uma época em que o Estado se
misturava ao sagrado e ambos seus serviços, como por serem os seus representantes lideres conjuntamente da mística religiosa.
3. Difícil tarefa é
desassociar essas duas importantes estruturas caso se faça um tipo de
leitura exegética baseada na metodologia histórico-social. A relação dual entre o povo e YHWH sempre protagonizou essa disputa. Pode-se elencar temas aparentemente notórios para
esse diálogo durante toda a narrativa Bíblica, dos quais salienta-se a
doutrina, o deus a ser adorado, a política estatal, a herança monárquica
verdadeira, o serviço do templo, entre outras.
4. A definição desses
conceitos para o povo, dependendo da época em que se analisa, passa pela
observação de YHWH e sua aprovação ou não. E pelo uso dos serviços
prestados pela classe sacerdotal e liderança política, a divindade se
manifesta para dar seu parecer favorável ou negativado, apelando para o
discurso da fidelidade ou infidelidade, obediência e desobediência, benção e maldição, etc.
5. É volumosa em toda literatura religiosa hebraica a notoriedade dos dados que apresentam dualidade na construção semântico-metodológica da estrutura religiosa. O caso se agrava a ponto de toda narrativa se construir de acordo com mudanças pontuais e atuais do embate político da formação de Israel desde sua formação. Samaria e Jerusalém, por exemplo, não só de acordo com Êxodo, mas principalmente os livros de narrativa histórica, Reis, Crônicas, Esdras-Neemias, alguns dos profetas, enfim, vários importantes autores, disputam posição de liderança religiosa e política durante séculos a partir da discussão de YHWH e povo, do mesmo dualismo que argumenta sobre comidas puras ou impuras.
6. Raros são os episódios em que a mistificação da formação do Direito e da repartição de territórios na comunidade hebraica antiga excedem a orientação direta de YHWH a partir de seus representantes diretos- reis, profetas e sacerdotes-. O apelo para a dualidade do discurso entre a necessária obediência dos camponeses à corte, que representa a entidade, é enfadonha e estrategicamente utilizado o tempo todo.
7. Se se busca uma leitura dessa dualidade com a observação de acontecimentos de fato históricos no tempo, corre-se o prejudicial risco de se analisar os textos fora da sua ideia organizacional e narrativa originais, que a todo tempo não tenta se expor diferentemente em autodefesa, mas por ser fruto literário de uma época em que esse tipo de montagem dissertativa era a mais utilizada, mostra-se apenas como pano de fundo da principal retórica amplamente usada a qual finalidade cumpria-se no uso.
André Francisco
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