1. Uma coisa é estudar teologia, outra coisa é fazer curso de catequese.
2. Muita gente pensa serem as duas coisas semelhantes, porém, essencial e logicamente, não são. Logo, confundindo-nas no embrião, no resto do desenvolvimento, o imbróglio não se resolverá.
3. Explico...
4. Quando me proponho a dar aula de teologia, ou a discutir, a[com] alguém que frequenta uma comunidade religiosa, principalmente evangélica- católica também (diz-se cristã, em geral)- logo percebo que, na mente desse alguém, o que será dito girará completamente em torno do que ele, até então, tem ouvido de seus líderes, pastores ou padres, no caso aqui.
5. Ou seja, este indivíduo acredita, espera, e não dúvida, que se iniciará uma conversa teológica óbvia, cabalmente concordante com aquilo que ele aprendeu, pois, em sua mente, tudo o que recebeu de outros não pode ser questionado, pois está na Bíblia, faz parte do credo da igreja, logo, sagrado, imutável, incontrariável.
6. O pobre do crédulo abre um lindo sorriso, certo de que o conteúdo que virá será uma bombástica consolidação de suas ideias, já presentes, dando-lhe condições apropriadas, posteriormente, de ensinar outras pessoas a serem ainda mais fieis ao Senhor, e assim, fazerem a obra de Deus, na terra, com melhores ferramentas à disposição.
7. Aí, nesse ponto, começam-se os enganos.
8. Justamente porque, em primeiro lugar, ele perceberá, se quiser, e se sua mente, até então, obstaculizada pelo dogma, permitir, que a teologia não é óbvia, e sim, amplamente questionável, hipotética, com inúmeras possibilidades, caminhos, modos de se pensar, e, ainda mais fatalmente, quase nunca Bíblica, do jeito que ele identifica como Bíblica- que, na verdade, que dizer dogmática.
9. Ele passará a enxergar, se for honesto, que aquilo que espera da teologia, de fato, não é dela, mas, do contrário, de uma escola de catequese. Pois verá que o único modo existente de conseguir a consolidação do que já cria não é discutindo teologia comigo, e sim, participando de um centro de estudos que tenha as seguintes particularidades: a) professores dogmáticos e religiosos; b) um material didático programado dentro de uma lei maior daquela comunidade, quase sempre expressa em um estatuto, ou vista nos materiais de catequismo (revista de Escola Dominical, para evangélicos); c) um regime hierárquico eclesiástico que a administra, como pastores ou padres, tolhendo qualquer "levante" contrário; d) comumente, que seja aberta somente ao público dos fieis, daquele lugar, a fim de não haver a possibilidade de diferentes ideias serem expostas.
10. Se esse alguém participar da escola supracitada, com certeza, poderá ampliar suas bases dogmáticas, e continuar acreditando que tudo o que pensa ser correto, de fato, está correto. Mas se quiser argumentar a respeito de teologia, ciências da religião, entendendo-a (a última), como, primeiramente, um fenômeno humano, as coisas serão diferentes.
11. Porque eu não vou falar de dogmas, não me interessam, mesmo. Falarei de teologia, quase sempre Bíblica, no sentido acadêmico, sendo a que mais gosto, e vejo necessária.
12. Necessária porque não suporto ouvir tantas incoerências, tidas verdades, quase todos os dias.
13. Então, se alguém quiser falar ou discutir sobre teologia, que entenda. Não falaremos a partir da catequese, não mesmo.
André Francisco
Ótimo texto! Coerencia de idéias, bela escrita, boa diagramação e um estimulo ao pensamento! Parabens Brother!
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