Por Efraim Rodrigues, 26 de Julho, 2012.
1.
Quem nunca indagou acerca da relevância das igrejas, templos,
catedrais, salões do reino, capelas, reuniões
dominicais e sabatinas, missas, cultos, cruzadas, consagrações,
pregações, louvores, manifestações de
glossolalias, etc. Bom, há quatro anos, eu diria que não,
por um simples motivo, eu não “pensava”. Quando falo ou
escrevo que “não pensava”, quero dizer que eu não
pensava mesmo, em hipótese alguma. Nem um pensamento crítico,
nem um questionamento do tipo: por que isso, para que isso ou, pelo
menos, o que foi isso? É leitor, era uma alienação
fatal e uma neurose total! Não quero afirmar que todos os
religiosos são assim ou foram assim, quero acreditar que “boa”
(tá de brincadeira!) parte deles utiliza sua massa cefálica
para alguma coisa. Eu desejo muito acreditar que alguns membros e
frequentadores de sistemas eclesiásticos já se pegaram
pecando, com tal indagação. E se você, membro ou
frequentador, cometeu tamanho pecado, quero lhe informar que você
é um sério candidato ao “inferno das incertezas”.
Um local criado por deuses, para aqueles que ousam questionar o
porquê das igrejas.
2. Pensando no assunto, só para variar, delirei quando achei que existia relevância na igreja (igreja engloba todos os vocábulos e suas semânticas citadas nas três primeiras linhas acima). Quem nunca teve um déficit cognoscitivo na vida? Bom, como dizia (ao digitar), no meu delírio, ousava encontrar argumentos convincentes, capazes de redimir a “constatinopolização”, o evangelho dos templos e altares (nesta época pouco sabia acerca de Constantino). Na minha saga apologética, nomes como McDowell, Franklin Ferreira, Russel Sheed, John Stott, e outros que não me recordo, enchiam-me de esperança, orgulho, argumentos, e inconscientemente de ilusões, neuroses, distúrbios espirituais, como também me afastavam da realidade (a “síndrome do marciano”). Esta “patologia gospel”, infelizmente, me trouxe consequências desastrosas que me exigiram uma árdua “caminhada do retorno”. Nesta caminhada, edifícios foram destruídos, entulhos removidos e tempos redimidos. Contudo, ainda me resta uma missão, encontrar a coordenada exata do erro (que tolo, outro delírio, cicatrizes são cicatrizes!). Enfim, a inferência é inevitável e a verdade inquestionável (pelo menos para mim), a igreja produz “marcianos alienados e alienantes”, homens e mulheres que se abdicam da realidade última, para mergulharem no mundo eclesiástico da “pseudosantidade”.
3. O que torna interessante a temática santidade no meio eclesiástico é o seu total paradoxo prático. Um exemplo disso era minha vida. Quando me considerava cristão (na práxis nunca aconteceu) tentava levar sempre uma vida cheia de abstinências: afastava-me dos círculos de amizade na escola e na faculdade, pois os assuntos eram sempre sobre mulheres, futebol, festas, sexo, bebidas, academia e outras coisas de terráqueos (como um bom marciano, tinha que me proteger); nas reuniões familiares, a minha ausência era uma constante, devido minhas obrigações com o “reino de Deus” (para não dizer reino das gravatas); no trabalho ou em qualquer outro lugar, (e eu trabalhava?), a minha conduta tinha como finalidade constranger, ou melhor dizendo, atrair as pessoas a Cristo (Culto). Em resumo, a realidade terrena não fazia parte da minha rotina. Contudo, outra realidade me consumia. Outro sistema operava meu hardware. Um sistema sanguessuga, alienante e opressor. Onde a vitima passiva é também o opressor atuante (desculpe a redundância). Neste sistema, a vitalidade ausente da minha vida comum era dissipada na igreja e em suas atividades. E isso é um “paradoxo prático”. Um membro eclesiástico dependente de um sistema capaz de ser antagônico, com seu próprio paradigma (Jesus). A vivência de um lema, “afastar-se do mundo em busca de Deus”, em reverência àquele que o condena com uma simples frase, “e o verbo se fez carne”, é realmente paradoxal.
4. Atualmente, no meu cotidiano (e agora ele é terreno), a igreja e suas implicações se encontram numa outra perspectiva. Analisar um sistema de dentro tem inferências inteiramente diferentes do que analisá-lo de fora, já dizia um pastor que um dia o admirei. Alguns anos atrás, minhas palavras e discursos seriam apologéticos, diante da temática proposta neste texto. Contudo, agora, do lado de fora (mais fora ainda pela condenação dos deuses marcianos), o antagonismo reina. “Pra que igreja” seria uma confissão religiosa pietista, se escrita (digitada) em 2009, entretanto, hoje ela não passa de uma confissão de um ex-dependente de igreja (Paulo Brabo me perdoe pelo plágio). E isso revela o contraste existente entre olhar de fora e olhar de dentro. Quando ainda inserido no sistema eclesiástico, conseguia vislumbrar falhas, entretanto, as mesmas não passavam de uma simples patologia, de um sistema divino ministrado por homens. Os erros e paradoxos existentes, por mais nítidos e alarmantes que fossem, nunca ofuscavam o brilho e a origem santa da igreja. Apontar um erro eclesiástico, para mim, era como mostrar uma pintura a um cego. Todavia, agora, do lado de fora da caverna, as perspectivas são outras. Não vejo erros dentro do cristianismo (sistema religioso criado por Constantino), mas o vejo como um grande erro. É mais um “ismo” criado no século IV, com fins políticos, que nos tempos hodiernos alimenta um pragmatismo, em busca de poder, sucesso e fama inerentes ao homem. O que revela mais um paradoxo desse sistema, pois sua faceta da abstinência se confronta com sua cede materialista.
5. Já tente imaginar um monge budista, em pleno sábado, descendo uma montanha (onde provavelmente se localiza um templo budista), em direção a um vilarejo, na expectativa de se divertir em bares, boates, casas de jogos (dinheiro fácil), ou em qualquer outra fonte de “experiências sensoriais”. Então, percebi a tamanha contramão que seria essa minha imaginação, um discípulo da abstinência se esbaldar no que para ele é trivial. Contudo, quando “miro” os que se dizem discípulos de Jesus, aquele judeu pobre da galileia, que andava a pé ou de jumento pelas cidades palestinenses, conquistando pessoas pela sua simplicidade, camaradagem, altruísmo, sabedoria e amor, principalmente pela maneira como se relacionava, com os que não tinham nada a oferecer, porque seu lema era “graça”, então, vejo, e não só percebo, a tamanha “encarnação da contramão”. E não precisa de imaginação para inferir isso. Basta um pouco de coragem para ir a um culto (coisa que não tenho mais) e perceber que é possível um monge cristão descer a mais alta montanha da santidade (montanha essa que ele nunca subiu) em busca das piores concupiscências possíveis, a ganância, a sede por status, a paixão pelo sucesso, o amor ao dinheiro e qualquer outro sentimento capitalista (Calvino que o diga).
6. Em um mundo onde o capitalismo reina não se torna difícil encontrarmos valores desumanos. E, para diagnosticarmos a natureza exploradora e destrutiva do capitalismo, basta um simples “clik” no controle da TV, e veremos o show da fé cristã (R.R não se ofenda!). Uma “religião” opressora que cobra de seus fieis (os sedentos de status social) um tributo que sustenta seu clero (os ricos). Bom, qualquer semelhança entre capitalismo e cristianismo não é mera coincidência, principalmente em se tratando da corrente evangélica. Entretanto, há uma diferença simples entre os dois sistemas, a “tangente opressora”. Vejamos, todo sistema opressor que se vale da escravatura possui uma metodologia particular. Por exemplo, no colonialismo, os reinos europeus utilizavam a força física para a conquista de terras, riquezas e escravos. Já no capitalismo, a força física não é tão eficaz (os Americanos que o digam), mas sim, a força financeira. Desse modo, a opressão capitalista tangencia o “bolso”. Por sua vez, o cristianismo, que não é tolo, destaca-se com uma metodologia mais eficaz, a escravidão da consciência. E, desta forma, a opressão cristã tangencia não só o bolso, mas toda a dimensão humana do seu “fiel escravo marciano” (se é que há dimensão humana nele). Seja ele branco ou negro, homem ou mulher, jovem ou velho, político ou honesto, oriental ou ocidental, templocêntrico ou herege (já fui assim), intelectual ou membro da AD, reformado ou comunista, não há distinção, a contaminação é panorâmica.
7. Amigo leitor (só sendo um amigo para ler “isto” até o fim), tendo como último este parágrafo, faço uma confissão. Quando comecei encarnar essa visão de mundo (e não faz muito tempo), infelizmente, para minha mãe, e felizmente para mim, a realidade nunca mais foi a mesma. Muitos dualismos se dissolveram e novas lentes se formaram. Muitos conceitos urgiram e os mesmos já se dissolveram. Intervenções Superiores no meu cotidiano são descartadas. A realidade última para mim se chama “hoje”. Se há algum manipulador, ele atende por “acaso” (gosto da maneira como eclesiastes o descreve). E se existe uma intervenção superior na história, ela se potencializa no homem, contudo, não acredito no homem. Desta forma, o que importa é o hodierno, onde certezas não fazem parte dele, todavia, minhas dúvidas me consolam e consolidam meu credo. Não sou ateu, nem muito menos agnóstico. Também não sou inimigo da “Igreja”, apenas desconsidero a relevância da sua “usurpadora constantinopolitana”. O que sou, não sei. Viver o momento e extrair o máximo dele é o que faço e o que me resta. E assim, finalizo, com o ridículo que se segue:
8. certeza,
virtude dos arrogantes;
singularidade dos "marcianos";
distante dos pensantes....
“para meus amigos, ex-crentes, ex-hereges e, agora, sei lá o que...”
2. Pensando no assunto, só para variar, delirei quando achei que existia relevância na igreja (igreja engloba todos os vocábulos e suas semânticas citadas nas três primeiras linhas acima). Quem nunca teve um déficit cognoscitivo na vida? Bom, como dizia (ao digitar), no meu delírio, ousava encontrar argumentos convincentes, capazes de redimir a “constatinopolização”, o evangelho dos templos e altares (nesta época pouco sabia acerca de Constantino). Na minha saga apologética, nomes como McDowell, Franklin Ferreira, Russel Sheed, John Stott, e outros que não me recordo, enchiam-me de esperança, orgulho, argumentos, e inconscientemente de ilusões, neuroses, distúrbios espirituais, como também me afastavam da realidade (a “síndrome do marciano”). Esta “patologia gospel”, infelizmente, me trouxe consequências desastrosas que me exigiram uma árdua “caminhada do retorno”. Nesta caminhada, edifícios foram destruídos, entulhos removidos e tempos redimidos. Contudo, ainda me resta uma missão, encontrar a coordenada exata do erro (que tolo, outro delírio, cicatrizes são cicatrizes!). Enfim, a inferência é inevitável e a verdade inquestionável (pelo menos para mim), a igreja produz “marcianos alienados e alienantes”, homens e mulheres que se abdicam da realidade última, para mergulharem no mundo eclesiástico da “pseudosantidade”.
3. O que torna interessante a temática santidade no meio eclesiástico é o seu total paradoxo prático. Um exemplo disso era minha vida. Quando me considerava cristão (na práxis nunca aconteceu) tentava levar sempre uma vida cheia de abstinências: afastava-me dos círculos de amizade na escola e na faculdade, pois os assuntos eram sempre sobre mulheres, futebol, festas, sexo, bebidas, academia e outras coisas de terráqueos (como um bom marciano, tinha que me proteger); nas reuniões familiares, a minha ausência era uma constante, devido minhas obrigações com o “reino de Deus” (para não dizer reino das gravatas); no trabalho ou em qualquer outro lugar, (e eu trabalhava?), a minha conduta tinha como finalidade constranger, ou melhor dizendo, atrair as pessoas a Cristo (Culto). Em resumo, a realidade terrena não fazia parte da minha rotina. Contudo, outra realidade me consumia. Outro sistema operava meu hardware. Um sistema sanguessuga, alienante e opressor. Onde a vitima passiva é também o opressor atuante (desculpe a redundância). Neste sistema, a vitalidade ausente da minha vida comum era dissipada na igreja e em suas atividades. E isso é um “paradoxo prático”. Um membro eclesiástico dependente de um sistema capaz de ser antagônico, com seu próprio paradigma (Jesus). A vivência de um lema, “afastar-se do mundo em busca de Deus”, em reverência àquele que o condena com uma simples frase, “e o verbo se fez carne”, é realmente paradoxal.
4. Atualmente, no meu cotidiano (e agora ele é terreno), a igreja e suas implicações se encontram numa outra perspectiva. Analisar um sistema de dentro tem inferências inteiramente diferentes do que analisá-lo de fora, já dizia um pastor que um dia o admirei. Alguns anos atrás, minhas palavras e discursos seriam apologéticos, diante da temática proposta neste texto. Contudo, agora, do lado de fora (mais fora ainda pela condenação dos deuses marcianos), o antagonismo reina. “Pra que igreja” seria uma confissão religiosa pietista, se escrita (digitada) em 2009, entretanto, hoje ela não passa de uma confissão de um ex-dependente de igreja (Paulo Brabo me perdoe pelo plágio). E isso revela o contraste existente entre olhar de fora e olhar de dentro. Quando ainda inserido no sistema eclesiástico, conseguia vislumbrar falhas, entretanto, as mesmas não passavam de uma simples patologia, de um sistema divino ministrado por homens. Os erros e paradoxos existentes, por mais nítidos e alarmantes que fossem, nunca ofuscavam o brilho e a origem santa da igreja. Apontar um erro eclesiástico, para mim, era como mostrar uma pintura a um cego. Todavia, agora, do lado de fora da caverna, as perspectivas são outras. Não vejo erros dentro do cristianismo (sistema religioso criado por Constantino), mas o vejo como um grande erro. É mais um “ismo” criado no século IV, com fins políticos, que nos tempos hodiernos alimenta um pragmatismo, em busca de poder, sucesso e fama inerentes ao homem. O que revela mais um paradoxo desse sistema, pois sua faceta da abstinência se confronta com sua cede materialista.
5. Já tente imaginar um monge budista, em pleno sábado, descendo uma montanha (onde provavelmente se localiza um templo budista), em direção a um vilarejo, na expectativa de se divertir em bares, boates, casas de jogos (dinheiro fácil), ou em qualquer outra fonte de “experiências sensoriais”. Então, percebi a tamanha contramão que seria essa minha imaginação, um discípulo da abstinência se esbaldar no que para ele é trivial. Contudo, quando “miro” os que se dizem discípulos de Jesus, aquele judeu pobre da galileia, que andava a pé ou de jumento pelas cidades palestinenses, conquistando pessoas pela sua simplicidade, camaradagem, altruísmo, sabedoria e amor, principalmente pela maneira como se relacionava, com os que não tinham nada a oferecer, porque seu lema era “graça”, então, vejo, e não só percebo, a tamanha “encarnação da contramão”. E não precisa de imaginação para inferir isso. Basta um pouco de coragem para ir a um culto (coisa que não tenho mais) e perceber que é possível um monge cristão descer a mais alta montanha da santidade (montanha essa que ele nunca subiu) em busca das piores concupiscências possíveis, a ganância, a sede por status, a paixão pelo sucesso, o amor ao dinheiro e qualquer outro sentimento capitalista (Calvino que o diga).
6. Em um mundo onde o capitalismo reina não se torna difícil encontrarmos valores desumanos. E, para diagnosticarmos a natureza exploradora e destrutiva do capitalismo, basta um simples “clik” no controle da TV, e veremos o show da fé cristã (R.R não se ofenda!). Uma “religião” opressora que cobra de seus fieis (os sedentos de status social) um tributo que sustenta seu clero (os ricos). Bom, qualquer semelhança entre capitalismo e cristianismo não é mera coincidência, principalmente em se tratando da corrente evangélica. Entretanto, há uma diferença simples entre os dois sistemas, a “tangente opressora”. Vejamos, todo sistema opressor que se vale da escravatura possui uma metodologia particular. Por exemplo, no colonialismo, os reinos europeus utilizavam a força física para a conquista de terras, riquezas e escravos. Já no capitalismo, a força física não é tão eficaz (os Americanos que o digam), mas sim, a força financeira. Desse modo, a opressão capitalista tangencia o “bolso”. Por sua vez, o cristianismo, que não é tolo, destaca-se com uma metodologia mais eficaz, a escravidão da consciência. E, desta forma, a opressão cristã tangencia não só o bolso, mas toda a dimensão humana do seu “fiel escravo marciano” (se é que há dimensão humana nele). Seja ele branco ou negro, homem ou mulher, jovem ou velho, político ou honesto, oriental ou ocidental, templocêntrico ou herege (já fui assim), intelectual ou membro da AD, reformado ou comunista, não há distinção, a contaminação é panorâmica.
7. Amigo leitor (só sendo um amigo para ler “isto” até o fim), tendo como último este parágrafo, faço uma confissão. Quando comecei encarnar essa visão de mundo (e não faz muito tempo), infelizmente, para minha mãe, e felizmente para mim, a realidade nunca mais foi a mesma. Muitos dualismos se dissolveram e novas lentes se formaram. Muitos conceitos urgiram e os mesmos já se dissolveram. Intervenções Superiores no meu cotidiano são descartadas. A realidade última para mim se chama “hoje”. Se há algum manipulador, ele atende por “acaso” (gosto da maneira como eclesiastes o descreve). E se existe uma intervenção superior na história, ela se potencializa no homem, contudo, não acredito no homem. Desta forma, o que importa é o hodierno, onde certezas não fazem parte dele, todavia, minhas dúvidas me consolam e consolidam meu credo. Não sou ateu, nem muito menos agnóstico. Também não sou inimigo da “Igreja”, apenas desconsidero a relevância da sua “usurpadora constantinopolitana”. O que sou, não sei. Viver o momento e extrair o máximo dele é o que faço e o que me resta. E assim, finalizo, com o ridículo que se segue:
8. certeza,
virtude dos arrogantes;
singularidade dos "marcianos";
distante dos pensantes....
“para meus amigos, ex-crentes, ex-hereges e, agora, sei lá o que...”