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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Miqueias: da superioridade utópica de Jerusalém na fonte deuteronomista

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1. Jerusalém, principalmente após a divisão do reino em Israel e Judá, sempre teve um papel de protagonismo na redação deuteronomista da Bíblia Hebraica. Grande parte dos textos de clamor, sapienciais, de cânticos, litúrgicos, narrativos, oferecem respaldo a essa afirmação quando analisados de perto. 

2. A ênfase recai, sem dúvidas, no momentum de cativeiro Babilônico e pós- exílico moderno (583- 450 a.C). A sua destruição devida à invasão estrangeira e consequente deportação deixou na preleção dos profetas posteriores e sacerdotes redatores a confirmação da mensagem de libertação, restauração e reedificação. 

3. Podemos também situar nesse contexto o crescimento de correntes teológicas que defendiam a reafirmação do reinado da família davídica e consequentemente a criação da figura do Messias libertador posterior (fortalecida sobremaneira após a reconstrução de Neemias e cotejo com ideais Persas). 

4. Jerusalém e Sião, também por questões geográficas, por ter sido a sede do Estado Uno e berço da espiritualidade sacerdotal com o Templo, ganha um lugar de destaque na centralização política desejada pelos reformadores pós-exílio. No texto de Miqueias evidencia-se esse aspecto nas mensagens de clamor utópico por Jerusalém reformada em que, diferente da situação escravagista no estrangeiro, garantiria a justiça, paz social e igualdade entre os que temem a Javé. 

5. Fruto do esforço dos redatores, verifica-se semelhança com o Terceiro Isaías na Sião utópica e centralização de todas as nações, povos e governos alienígenas na adoração ao Único Javé no templo reformado. A superioridade teológica das fontes sacerdotais no momentum pós Babilônia reforçaram esse aspecto de Jerusalém em destaque e Samaria, antiga capital de Israel, entregue aos ídolos e destruída. 

6. Nas cronologias dos reis- documentos que sofreram revisão teológica dos deutoronomistas pós-exílicos na traditiva oficial- vê-se essa diferença "histórica" no paganismo de Samaria e santidade de Sião, oficializando pelo apelo interpretativo  a verdadeira localização da espiritualidade dos hebreus os quais tiveram contato com a reestruturação do estado em 500 a.C. O momento apelativo de Neemias 8 e o "achamento" do livro da lei (provavelmente o Livro de Deuteronômio e a leitura monoteísta/ persa da teologia sagrada) lido por Esdras em Jerusalém reconstruída pelos Persas destaca também a teórica consolidação das promessas anteriormente feitas sobre a supremacia e glória da antiga capital. 

André Francisco











Miqueias: das perícopes contraditórias





1. A Bíblia Hebraica é composta de diversos textos escritos em épocas diferentes. Muitas vezes reunidos sob uma autoridade autorial profética, sacerdotal ou de família real. O livro de Miqueias não é exceção. 

2. Percebe-se a reunião de diferentes perícopes sob a autoridade do nome do profeta antigo, mas que evidenciam linguagem e assunto heterogêneos no processo da pesquisa de datação, facilitando assim afirmações relacionadas a não autoria única de todo o conteúdo. Cada momento teológico abordado representa conjuntamente uma disputa social e política evidente. O crescimento do Império Assírio e a iminente invasão a Israel em 722 a.C, o cativeiro Babilônico e promessas da reestruturação utópica de Judá e Sião por volta de 583 a.C, como também possíveis observações rápidas de períodos após o poderio militar e imperialista Mesopotâmico. 

3. Também se destacam as mãos dos redatores deutoronomistas construindo o viés teológico da libertação, soberania e reconstrução de Judá diante das nações muito tempo depois dos acontecimentos marcantes da história hebreia do sexto século a.C, garantindo a eficiente ideologia do controle e manutenção de Javé a seu povo mesmo em situação de cativos de nações estrangeiras. Há de se destacar que a maior parte da história do livro retrata momentos de conflitos entre Israel e Assíria, política militarizada de Ezequias e a crítica dos camponeses diante da exploração tributária da corte para a manutenção das investidas bélicas. 

4. A vontade de Javé e sua palavra mostra-se evidentemente a depender do ponto de vista e da função social do autor. No caso relatado nos textos da narrativa de 722 a.C, a defesa é que a solidariedade e bondade da elite do Estado ampare o pobre do campo e não o explore com cobranças que visem sustentar a política nacional de defesa. Em referência aos profetas do palácio, a palavra de Javé se traduz na defesa das intenções do Rei em defender a nação a partir da construção de muros e investimento pesado na área militar. Essa diversificação de ideias na boca dos profetas, a depender da classe social e visão política, torna-se evidente nessa disputa de intenções divinas para a afirmação ou não do conteúdo sagrado da revelação enquanto orientação espiritual.

5. Miqueias, o profeta, em sua breve participação real do livro que possui seu nome, defende a melhor repartição das arrecadações dos tributos e desincentiva a majoração das cargas as quais refletem diretamente na qualidade de vida do campo. Pelo contrário, os sacerdotes e a classe de videntes palacianos aprovam tais medidas e traduzem a política de Ezequias como sendo a melhor até então vista em Israel. Essa sobrevalorização é mostrada na narração de sua "biografia teológica" em grande parte do Livro do Primeiro Isaías e também em Reis, tratando-o como um dos melhores reis de Israel e mais fiéis as palavras de Javé.

6. Aqui destaca-se esse fator social e político importante na interpretação e observação de dados históricos relatados em diversas partes da Bíblia Hebraica os quais se mostram altamente importantes a serem considerados em uma exegese técnica, mesmo que em seu próprio conteúdo fique explicitada contradição óbvia entre um viés e outro. 

André Francisco









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