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sexta-feira, 27 de maio de 2016

Sacrifício Humano em Levítico 27. 28-29 vs moral e ética hodierna




1. Diversas pessoas usam textos da bíblia hebraica para opinar sobre moral e ética nos dias atuais, elencando que, como palavra de deus, tudo o que está escrito deve ser seguido fielmente como regra de fé e prática. No âmbito da discussão de gênero, principalmente, a utilização de Levítico é bastante ampla, na defesa de que deus estabeleceu que relação homoafetiva é proibida entre seu povo, logo, tal prática é divinamente censurada tanto para aquele quanto para esse tempo. 

2. O problema que se tem com esse tipo de interpretação é quando há a tentativa de se equiparar ideias sobre moral e ética de uma cultura milenar como a judaica, que se utilizou de diversos tipos de abusos para consolidar seus textos sagrados, visando a se referir dogmaticamente ao que hoje em dia deve ser entendido como certo e errado. A questão fica de difícil solução quando dada atenção a outros textos, como exemplo, do próprio Levítico, sob a ótica do fiel cumprimento dessas diretrizes pela comunidade religiosa atual. Vejamos um conceito considerado criminoso atualmente, que na época de sua redação, pela comunidade hebraica, era visto como parte de um culto lícito: 

Se um homem consagrar ao Senhor por interdito alguma coisa que lhe pertence, seja qual for esse objeto - uma pessoa, um animal ou um campo de seu patrimônio - ela não poderá ser vendida, nem resgatada: tudo o que é votado por interdito é coisa consagrada ao Senhor.

Nenhuma pessoa votada ao interdito poderá ser resgatada: ela será morta.


3. Os versículos supracitados fazem parte de um capítulo que trata do oferecimento de votos a YHWH para santificação e uso próprio. Inclui nessa lista, inicialmente, qualquer tipo de "bem" sob a posse de uma pessoa israelita, seja animal, casa, pessoa, terreno, colheitas, etc. A lei é bem clara ao dizer que alguns desses oferecimentos poderiam ser resgatados, caso o oferecedor os quisesse de volta. São estipulados alguns valores para cada item enquanto no resgate. Essa avaliação dos valores era feita pelo sacerdote do templo, onde toda a contribuição do povo teria de ser destinada. 

4. No caso dos versos 28-29, existe o oferecimento especial chamado de interdito ou anátema, em algumas traduções. Também prevê a dação de "bens" particulares do fiel judeu: pessoa, animal ou campo. Como o voto de anátema ou interdito possuía caráter especial, o escritor deixa claro a observação de que esse tipo não poderia ser resgatado. Ou seja, os valores anteriormente determinados para que o oferecedor recuperasse seu bem não eram aplicados ao tipo especial, já que existe uma cláusula que enfatizava tal distinção:

"tudo o que é votado por interdito (anátema) é coisa consagrada ao Senhor". 

5. Como citado, os votos de anátema não podiam ser resgatados. E nesse tipo de voto incluía -se o oferecimento de pessoas em sacrifício: "nenhuma pessoa votada ao interdito poderá ser resgatada: ela será morta." Essas pessoas normalmente eram escravas já sob posse do sr. hebreu, comprados ou escravizados como espólio de guerra. Capítulos anteriores no mesmo livro de Levítico- como em outros livros- regulamenta bem a questão de como deveria ser o tratamento com escravos, inclusive no que se refere à utilização sexual das virgens capturadas. 

 Quando forem à guerra, e o Senhor vosso Deus vos entregar o adversário nas vossas mãos, se virem entre os cativos uma formosa rapariga e um de vocês a tomar por mulher, que a leve para casa. Ela terá de rapar a cabeça e cortar as unhas, mudará a roupa que trazia quando foi capturada, e ficará em casa um mês inteiro para poder chorar a perda do pai e da mãe. Depois então poderá casar com ela. Contudo, se depois disso vier a verificar que não gosta dela, deverá deixá-la ir-se embora livre - não pode vendê-la ou tratá-la como escrava, porque a humilhou.” (Deuteronômio 21.10-14, TDL.)

6. A escravidão era comum entre povos antigos, inclusive os hebreus com seus regulamentos considerados éticos por grande parte dos religiosos atuais. 

7. O sacrifício humano foi bastante praticado por religiões diversas do mundo antigo. Tanto para apaziguar a ira dos deus como para agradá-los em oferendas e rituais cúlticos. A imagem de Jesus em oferecimento humano retrata bem o impacto desse tipo de liturgia dos mais diversos seguimentos religiosos. O texto de Levítico 27, 28-29 dá carta branca para esse comportamento. 

8. A questão que se deixa como abordagem reflexiva é a seguinte: é possível se posicionar  e argumentar sobre comportamentos relacionados a moral, ética e direito, no mundo de hoje, utilizando-se de textos religiosos de um povo oriental milenar como o da bíblia hebraica, a fim de se extrair a definição do que é certo e errado e, a partir dela, interferir ativamente na vida das pessoas, mesmo elencada- como supracitado- a absurda percepção da realidade que eles dispunham, a ponto de sacrificarem humanos em oferecimento litúrgico a seus deuses? 

André Francisco

11 comentários:

  1. Muito bom.
    Infelizmente as pessoas não usam o raciocínio para o bem, e sim para suas conveniências.
    Continue postando mais artigos, por favor.Forte abraço!

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  2. Não, não é.
    Quem o faz usa de puro mau-caratismo para defender seus preconceitos.
    Será dito que eles não baseiam a aversão ao relacionamento homoafetivo do velho testamento, mas do novo. Contudo, eles fazem um verdadeiro malabarismo para dizer que a mesma fonte que cita algo contra homossexualidade endereçada a certo lugar se aplica para todos em todos os momentos da história, mas quando se trata de outras coisas como, por exemplo, mulheres falarem nas igrejas é só naquele período e local pra onde a carta foi endereçada...

    Eles tentam justificar sua moralidade na Bíblia por mais avessa à realidade que a mesma possa ser. Eles não raciocinam fora da "lógica" que lhes é apresentada. Se estiver na Bíblia não há o que discordar.

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    1. Concordo que a lei era dura, mas o nosso criador tem direito sobre as suas criaturas, obtrm e hj a Bíblia é contra as relações inlicitas. Em relação ao texto, Deus nunca aceitou matar pessoas, para holocautos, quem seria morta, era a pessoa que queria de Volta o q. Havia doado entregou. O unico que se sacrificio que Deus aceitou foi o de Jesus Cristo! Se algum homem tivesse feito isso. Nao teria sentido o sacrificio de Jesus! Só o sangue de Jesus purifica pecado!

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  3. Eis aqui uma interpretação adequada sobre os versículos em pauta:
    http://www.seer-adventista.com.br/ojs/index.php/praxis/article/view/605

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    1. Olá. Obrigado pelo comentário. Apenas destaco que atualmente é bem difícil basear exegese completamente sobre o princípio da palavra-chave tal qual o autor do artigo utilizou. Devemos ter cuidado com esse tipo de interpretação para não extrapolarmos o sentido da palavra do texto que está-se analisando para garantir seu signifcado conforme outras aparições em outros livros. É importante se ater a esse ponto de partida interpretativo. Como visto, o autor defendeu o sentido da palavra cherer em ocasiões em que o contexto garantia tal aplicação, mujito diferente do referido versículo de Levítico a qual se apega à conclusão óbvia de bens consagrados. Assim, cabe redobrar a atenção a cada seguimento semântico da defesa do texto em discussão não apenas com o aparelho de comparação em mãos. Podemos nos perder em uma boa exegese caso apenas esse tipo de ferramenta seja utilizada. Grato.

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  4. edinacostasouza68@gmail.com7 de abril de 2020 às 09:57

    A tradução da NTLH torna mais fácil o entendimento desse versículo pois explícita que essas pessoas eram consagradas á Deus eram para serví-lo , como foi o caso de Samuel, certamente um voto desses não poderia ser desfeito ,implicando na morte do oferecido , não como sacrifício humano mas na morte natural , isso porque sob a lei a palavra era um compromisso , hj pela gde misericórdia de Deus por causa do sacrifício de Jesus , vivemos sob a graça e temos o perdão de Deus até para nossos votos impensados pois se não fosse assim muitos que se consagram e prometem servir a Deus e voltam para o mundo estariam mortos mas por causa de Jesus podemos nos arrepender e recomeçar sempre .

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  5. Temos que obedecer a deus ele é soberano, fiel e justo , quem somos nós pra questiona as decisões dele , naquela época os comportamentos eram bem diferentes de hoje e as culturas também, então não vamos ser juiz pq não nos foi dado o direito de jugar nada é nem ninguém, Tão pouco DEUS, ele que tem que jugar e só cabe a nós obedecer, até pq somo pegadores, pecamos todos os dias , como iremos jugar alguém? Vc faz tudo certo todos os dias? Vc é capaz de amar a quem te odeia? De abraça e beijar alguém que tirou de vc alguém que vc ama matando? Vc condenaria a morte seu pai, sua mãe, seu filho , sua esposa ou marido se vc fosse juiz? Amém

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  6. Quem somos nós pra jugar o criador? Pecadores é o que somos diante de Deus, por misericórdia dele é que ainda temos tempo pra pedir perdão e não ora jugar é defender nossos defeitos e pecados.

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  7. De homem e animal – Esta passagem não permite sacrifícios humanos. Em outras partes, o homem é claramente reconhecido como uma das criaturas que não deveriam ser oferecidas em sacrifício Êxodo 13:13 ; Êxodo 34:20 ; Números 18:15 .



    Portanto, a aplicação da palavra ??? cherem ao homem é feita exclusivamente em referência a alguém condenado à morte e, somente nesse sentido, entregue ao Senhor. O homem que, em um espírito correto, ou cumpre uma sentença de condenação justa a um ofensor, ou que, com um único olho no dever, mata um inimigo em batalha, deve considerar-se o servo de Deus prestando uma vida à reivindicação. da justiça divina (compare Romanos 13: 4 ). Foi dessa maneira que Israel foi obrigado a destruir os cananeus em Horma ( Números 21: 2-3 ; compare Deuteronômio 13: 12-18 ), e que Samuel cortou Agag em pedaços diante do Senhor 1 Samuel 15:33 . Em todos esses casos, uma obrigação moral repousa sobre ele, cujo cargo é tirar a vida: ele deve considerar o objeto de seu golpe como uma proibição ao Senhor (compare Deuteronômio 20: 4 ; Gálatas 3:13 ). Portanto, não pode haver redenção nem comutação.

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