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quinta-feira, 4 de julho de 2019

Da alma- Platão, a igreja e Descartes


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1. O conceito grego de alma esfaleceu-se profundamente com René Descartes. A partir de uma visão inovadora e mecanicista do mundo, fruto de projetos anteriores como de Galileu, talvez pela forma do filósofo lidar com a superioridade da mente em relação à simplesmente máquina do corpo, propôs uma nova maneira- ou apenas o despertamento-, de se tentar entender a linha tênue entre o sentido de cognição do mundo aparentemente real (cogito, ergo sum) e do eu existencial que surgiria posteriormente na discussão moderna, pouco menos apenas metafísica. A proposta das máquinas naturalmente ligadas arbitrariamente como peças de uma engrenagem completa reduziu a diferença básica que reinou durante séculos de Era Platônica, o dicotomismo puro entre alma e corpo, ideal e real.

2. Platão (antes Heráclito e Parmênides, embrionariamente; com aprimoramentos necessários) foi comentado por séculos. A extensão sobreviveu principalmente pela cristianização da metodologia filosófica desde primórdios depois de Cristo. Cada comunidade religiosa “ocidentalizada”, valendo-se, não só, de escolas de Atenas, mas do Norte da África, e a partir do uso do latim, reproduzia a defesa do sentido da eternidade do metafísico humano e da finitude daquilo que “material humano”. Distinção que nutriu basicamente a concepção da tripartição defendida pelos pais da igreja,-Agostinho em destaque- e escolásticos com seus motores naturais e imutáveis; Tomás de Áquino. Energia canalizada não só para a discussão da alma, mas trindade e formas de governo eclesial e até do Estado (Montesquieu é possível que não, a partir exclusivamente dessa fonte, pelo menos, pois trataria do social sem espiritualização).

3. Intuição, raciocínio, memória, cosmovisão, o natural, o além do físico, as ideias, eterno e finito, perfeito e imperfeito fazem parte do arcabouço completo das hipóteses das quais o filósofo se valeu especialmente em “A República” para dicotomizar o indivíduo humano e valorar de formas distintas coisas que fazem parte do mesmo ente. Inimaginável pensar, para ele, que ideias e a vida cotidiana poderiam surgir do mesmo conjunto básico originário. O que é sensível deveria estar ao alcance do natural, do mundo tangível, da estrutura menos complexa e mais facilmente assistida. Já no outro espectro, muito além do comum, as ideias com suas representações perfeitas e completas daquilo que, aqui, apenas se tem uma especulação com sombras. Em “O Mito da Caverna”, dualiza essas realidades a partir da alegorização daquilo que propunha como “transcender o plano mutável dos objetos físicos” a fim de atingir a realidade sem cor, impalpável, guiada pela inteligência.

4. Na esteira desse sentido enraiza-se brilhantemente o platonismo de Paulo de Tarso na instituição que reproduziria por séculos o pensamento do dual,-claro que com abrangência também ao campo tricotômico a fim de necessariamente listar o tema “espírito”. Importante destaque por se referir não apenas à hipótese do conhecimento humano e do além, objeto primordial da análise helênica; mas religiosa, conquanto tratassem de precedentes que faziam parte também de outra cultura: a dos hebreus. Alma, nesse momento, aprimorou-se até atingir níveis de contato direto com o sagrado, dentro da perspectiva litúrgica. Caso o corpo, que, segundo a escola grega em foco, é o instrumento do contato horizontal com a realidade, fosse estimado a participar de laços mais puro e eterno ao divino no pós-morte, deveria ser em uma estrutura robustecida e nova, menos frágil e limitada: o “novo corpo”.

5. O aprimoramento posterior dentro da igreja cristã apenas customizou a ideia de alma deixando-a mais abrangente e complexa. Detalhes a mais foram fervorosamente alvos de debate durante todo esse tempo, não se eliminando Platão, Paulo e os que vieram com o tempo. No mecanicismo, as bases da discussão foram modificadas, pois a abordagem já não se limitava unicamente à especulação livre, porém às metodologias novas as quais tornar-se-iam colunas do cientificismo vindouro. O conceito de alma esfaleceu-se a partir de Descartes que é um dos principais defensores, e até hoje nunca mais foi tratado apenas a partir do mundo das ideias e sua relação com o natural, como também do eu com o divino.



André Francisco

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