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terça-feira, 23 de outubro de 2012

Salve Jorge, Ogum, o Facebook, e Edir Macedo!



1. Desde sexta-feira, circulam na internet, principalmente nas redes sociais, postagens de protesto dos evangélicos, caracterizados pela intolerância religiosa e ideológica, contra a novela global de Glória Perez, "Salve Jorge". Sob a argumentação de que a novela pode trazer uma suposta "maldição", quando assistida. Destacando o fato de que a maioria dos protestos vem do site "exercitouniversal.com.br", formado por fiéis da Universal. O próprio líder da igreja evangélica, o bispo Edir Macedo, faz campanha em seu blog contra a nova novela da Globo. Publicou recentemente um artigo, com o seguinte título: "São Jorge ou Davi, a quem você vai assistir?", referindo-se à minissérie de sua rede de televisão, Record. 

2. Isso, ao meu ver, não passa, de novo, de uma artimanha projetada por Macedo, a fim de atrair ibope das camadas evangélicas- normalmente, acríticas e partidárias- para seu canal. Pergunto: será que ele realmente se interessa em manter a hipotética pureza e moralidade da identidade evangélica em todos os programas que são feitos pela rede Record? Tudo bem, se me disserem que sim, penso que há alguma falta de memória ou amnésia completa por parte de quem fala, ou pura falta de vergonha na cara, e ultra-partidarismo fideísta, mesmo. "A Fazenda", por exemplo, onde mulheres, semi ou nuas completamente, aparecem todos os dias, com suas curvas salientemente sensuais expostas, participando de "orgias" em festas de todos os tipos, onde a bebida e a sensualidade estão estampadamente claras, não é um programa que, se fosse mantida a mesma especulação de Macedo, não deveria fazer parte da  grade de programação de um canal controlado por uma igreja? 

3. Isso mesmo, sem tirar nem pôr. Quem controla grande parte da Rede Record de Televisão é a igreja Universal. Então, todos os programas que passam por lá têm sua censura intermediada pelo chefe, ou cúpula do sistema todo, nada mais lógico! Nesse caso, Macedo nunca se referiu à cópia que fez do B.B.B, da Globo, como um programa "ilícito" aos olhos dos religiosos e da Bíblia, por quê? Porque ele quer ibope, e tem muito evangélico que adora ver as curvas das torneadas que aparecem no reality, e ele sabe disso. Por causa disso, todo ano, "A Fazenda" tem sido um sucesso, disputando a audiência de televisores de crentes ou não em todo o país, e cadê o Macedo falando alguma coisa a respeito desse comportamento "cristão" dos peões? 

4. Pois bem, de volta ao caso da novela Global e as críticas da igreja. 

5. Muitos evangélicos estão postando no Facebook, dizendo que a novela trará maldição, devido a relação que tem com um certo ogum do candomblé ou umbanda brasileiros, ao ser assistida. Por isso, planejam um boicote na audiência, divulgando mensagens de alerta aos seus seguidores, para que não "contribuam" com o sucesso dessa espiritualidade "maléfica" das religiões afro-brasileiras. Essa, certamente, é uma leitura preconceituosa, marginalizante, que grande parte dessa massa tem com respeito à cultura afro-brasileira.

6. É mania dos  evangélicos considerar a religião alheia como diabólica, perniciosa, altamente maléfica. Obviamente que se trata de um mecanismo de defesa, uma forma de se proteger a doutrina, e colocá-la intacta nas nuvens do não cotejo ecumênico. Com relação aos movimentos derivados da cultura africana, o empenho em assemelhá-las ao que há de pior na doutrina cristã é redobrado. Demônios é pouco para tais definições. Isso tem seu contexto histórico, a descriminação que sempre houve em terras brasileiras, com relação aos povos da África e suas culturas religiosas. Escravos, pobres, e negros, uma massa só, vinda para a pátria amada em cabrestos, navios de puro ódio e exploração, onde não podiam ao menos esboçar suas crenças e mitos próprios.

7. A escravatura acabou, foi erradicada, contudo, o preconceito aos elementos que pertenciam ao povo escravizado perdurou. Infelizmente, coisas que se conectem, de alguma forma, ao povos do continente negro, são tidas como "negras", pejorativamente. E não somente por causa do aspecto preconceituoso, no entanto, devido à intolerância religiosa também, tão característica dos movimentos individualistas da fé. No caso da novela, já fizeram a conexão entre São Jorge, e o orixá representado por ele, Ogum, no sincretismo católico-africano. Se fosse só o católico, poderia até passar, mas como é Ogum, é visto como mais "maligno".

8. No caso da intolerância, temos um exemplo básico. Na mentalidade evangélica, o espírita, o umbandista, o católico, o budista, o hindu, o muçulmano, o kardecista, o zoroastriano  o animista, o taioísta, o xintoísta, o judeu, o mitraísta, o quimbandista, entre outros, podem fazer o papel de um safado, pilantra, mentiroso, assassino, falso, sensual, mal-humorado, vexaminoso, invejoso, pérfido, etc, no caso de uma novela, que tudo estará certo, nos seus devidos "lugares". Agora, ai do autor se  ilustrar uma personagem evangélica, com 0,1% desses adjetivos citados anteriormente. É caso para, no mesmo momento, milhares de postagens serem divulgadas, esculhambando, desde o porteiro até ao dono da emissora responsável, anunciando que isso não se faz, ou melhor, não se pode fazer. 

9. Lembro-me da máxima: "façam aos outros, apenas, aquilo que vocês querem que eles lhes façam. Ora, criticam, dizem ser do demônio, tentam transformar, doutrinar, mudar, converter, readaptar, reintegrar, refazer, reconstruir, qualquer indivíduo que pense diferentemente deles, mas, simultaneamente, não aceitam nenhum tipo de oposição, fazem-se intocáveis. Se não aceitam, não façam, simples assim. Todos são livres para expressar suas crenças. 

10. Em se tratando da hipotética maldição, não me cabe falar... Não perderia meu tempo, mesmo...

11. "Brasil, um país de todos", máxima do governo federal. "Brasil, um país de todos os seguimentos religiosos", máxima atípica intraeclesiasticamente. 

André Francisco

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