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terça-feira, 31 de julho de 2012

Para que igreja? (Rodrigues, 2012)


Por Efraim Rodrigues, 26 de Julho, 2012.



1. Quem nunca indagou acerca da relevância das igrejas, templos, catedrais, salões do reino, capelas, reuniões dominicais e sabatinas, missas, cultos, cruzadas, consagrações, pregações, louvores, manifestações de glossolalias, etc. Bom, há quatro anos, eu diria que não, por um simples motivo, eu não “pensava”. Quando falo ou escrevo que “não pensava”, quero dizer que eu não pensava mesmo, em hipótese alguma. Nem um pensamento crítico, nem um questionamento do tipo: por que isso, para que isso ou, pelo menos, o que foi isso? É leitor, era uma alienação fatal e uma neurose total! Não quero afirmar que todos os religiosos são assim ou foram assim, quero acreditar que “boa” (tá de brincadeira!) parte deles utiliza sua massa cefálica para alguma coisa. Eu desejo muito acreditar que alguns membros e frequentadores de sistemas eclesiásticos já se pegaram pecando, com tal indagação. E se você, membro ou frequentador, cometeu tamanho pecado, quero lhe informar que você é um sério candidato ao “inferno das incertezas”. Um local criado por deuses, para aqueles que ousam questionar o porquê das igrejas. 

2. Pensando no assunto, só para variar, delirei quando achei que existia relevância na igreja (igreja engloba todos os vocábulos e suas semânticas citadas nas três primeiras linhas acima). Quem nunca teve um déficit cognoscitivo na vida? Bom, como dizia (ao digitar), no meu delírio, ousava encontrar argumentos convincentes, capazes de redimir a “constatinopolização”, o evangelho dos templos e altares (nesta época pouco sabia acerca de Constantino). Na minha saga apologética, nomes como McDowell, Franklin Ferreira, Russel Sheed, John Stott, e outros que não me recordo, enchiam-me de esperança, orgulho, argumentos, e inconscientemente de ilusões, neuroses, distúrbios espirituais, como também me afastavam da realidade (a “síndrome do marciano”). Esta “patologia gospel”, infelizmente, me trouxe consequências desastrosas que me exigiram uma árdua “caminhada do retorno”. Nesta caminhada, edifícios foram destruídos, entulhos removidos e tempos redimidos. Contudo, ainda me resta uma missão, encontrar a coordenada exata do erro (que tolo, outro delírio, cicatrizes são cicatrizes!). Enfim, a inferência é inevitável e a verdade inquestionável (pelo menos para mim), a igreja produz “marcianos alienados e alienantes”, homens e mulheres que se abdicam da realidade última, para mergulharem no mundo eclesiástico da “pseudosantidade”.

3. O que torna interessante a temática santidade no meio eclesiástico é o seu total paradoxo prático. Um exemplo disso era minha vida. Quando me considerava cristão (na práxis nunca aconteceu) tentava levar sempre uma vida cheia de abstinências: afastava-me dos círculos de amizade na escola e na faculdade, pois os assuntos eram sempre sobre mulheres, futebol, festas, sexo, bebidas, academia e outras coisas de terráqueos (como um bom marciano, tinha que me proteger); nas reuniões familiares, a minha ausência era uma constante, devido minhas obrigações com o “reino de Deus” (para não dizer reino das gravatas); no trabalho ou em qualquer outro lugar, (e eu trabalhava?), a minha conduta tinha como finalidade constranger, ou melhor dizendo, atrair as pessoas a Cristo (Culto). Em resumo, a realidade terrena não fazia parte da minha rotina. Contudo, outra realidade me consumia. Outro sistema operava meu hardware. Um sistema sanguessuga, alienante e opressor. Onde a vitima passiva é também o opressor atuante (desculpe a redundância). Neste sistema, a vitalidade ausente da minha vida comum era dissipada na igreja e em suas atividades. E isso é um “paradoxo prático”. Um membro eclesiástico dependente de um sistema capaz de ser antagônico, com seu próprio paradigma (Jesus). A vivência de um lema, “afastar-se do mundo em busca de Deus”, em reverência àquele que o condena com uma simples frase, “e o verbo se fez carne”, é realmente paradoxal. 

4. Atualmente, no meu cotidiano (e agora ele é terreno), a igreja e suas implicações se encontram numa outra perspectiva. Analisar um sistema de dentro tem inferências inteiramente diferentes do que analisá-lo de fora, já dizia um pastor que um dia o admirei. Alguns anos atrás, minhas palavras e discursos seriam apologéticos, diante da temática proposta neste texto. Contudo, agora, do lado de fora (mais fora ainda pela condenação dos deuses marcianos), o antagonismo reina. “Pra que igreja” seria uma confissão religiosa pietista, se escrita (digitada) em 2009, entretanto, hoje ela não passa de uma confissão de um ex-dependente de igreja (Paulo Brabo me perdoe pelo plágio). E isso revela o contraste existente entre olhar de fora e olhar de dentro. Quando ainda inserido no sistema eclesiástico, conseguia vislumbrar falhas, entretanto, as mesmas não passavam de uma simples patologia, de um sistema divino ministrado por homens. Os erros e paradoxos existentes, por mais nítidos e alarmantes que fossem, nunca ofuscavam o brilho e a origem santa da igreja. Apontar um erro eclesiástico, para mim, era como mostrar uma pintura a um cego. Todavia, agora, do lado de fora da caverna, as perspectivas são outras. Não vejo erros dentro do cristianismo (sistema religioso criado por Constantino), mas o vejo como um grande erro. É mais um “ismo” criado no século IV, com fins políticos, que nos tempos hodiernos alimenta um pragmatismo, em busca de poder, sucesso e fama inerentes ao homem. O que revela mais um paradoxo desse sistema, pois sua faceta da abstinência se confronta com sua cede materialista. 

5. Já tente imaginar um monge budista, em pleno sábado, descendo uma montanha (onde provavelmente se localiza um templo budista), em direção a um vilarejo, na expectativa de se divertir em bares, boates, casas de jogos (dinheiro fácil), ou em qualquer outra fonte de “experiências sensoriais”. Então, percebi a tamanha contramão que seria essa minha imaginação, um discípulo da abstinência se esbaldar no que para ele é trivial. Contudo, quando “miro” os que se dizem discípulos de Jesus, aquele judeu pobre da galileia, que andava a pé ou de jumento pelas cidades palestinenses, conquistando pessoas pela sua simplicidade, camaradagem, altruísmo, sabedoria e amor, principalmente pela maneira como se relacionava, com os que não tinham nada a oferecer, porque seu lema era “graça”, então, vejo, e não só percebo, a tamanha “encarnação da contramão”. E não precisa de imaginação para inferir isso. Basta um pouco de coragem para ir a um culto (coisa que não tenho mais) e perceber que é possível um monge cristão descer a mais alta montanha da santidade (montanha essa que ele nunca subiu) em busca das piores concupiscências possíveis, a ganância, a sede por status, a paixão pelo sucesso, o amor ao dinheiro e qualquer outro sentimento capitalista (Calvino que o diga). 

6. Em um mundo onde o capitalismo reina não se torna difícil encontrarmos valores desumanos. E, para diagnosticarmos a natureza exploradora e destrutiva do capitalismo, basta um simples “clik” no controle da TV, e veremos o show da fé cristã (R.R não se ofenda!). Uma “religião” opressora que cobra de seus fieis (os sedentos de status social) um tributo que sustenta seu clero (os ricos). Bom, qualquer semelhança entre capitalismo e cristianismo não é mera coincidência, principalmente em se tratando da corrente evangélica. Entretanto, há uma diferença simples entre os dois sistemas, a “tangente opressora”. Vejamos, todo sistema opressor que se vale da escravatura possui uma metodologia particular. Por exemplo, no colonialismo, os reinos europeus utilizavam a força física para a conquista de terras, riquezas e escravos. Já no capitalismo, a força física não é tão eficaz (os Americanos que o digam), mas sim, a força financeira. Desse modo, a opressão capitalista tangencia o “bolso”. Por sua vez, o cristianismo, que não é tolo, destaca-se com uma metodologia mais eficaz, a escravidão da consciência. E, desta forma, a opressão cristã tangencia não só o bolso, mas toda a dimensão humana do seu “fiel escravo marciano” (se é que há dimensão humana nele). Seja ele branco ou negro, homem ou mulher, jovem ou velho, político ou honesto, oriental ou ocidental, templocêntrico ou herege (já fui assim), intelectual ou membro da AD, reformado ou comunista, não há distinção, a contaminação é panorâmica. 

7. Amigo leitor (só sendo um amigo para ler “isto” até o fim), tendo como último este parágrafo, faço uma confissão. Quando comecei encarnar essa visão de mundo (e não faz muito tempo), infelizmente, para minha mãe, e felizmente para mim, a realidade nunca mais foi a mesma. Muitos dualismos se dissolveram e novas lentes se formaram. Muitos conceitos urgiram e os mesmos já se dissolveram. Intervenções Superiores no meu cotidiano são descartadas. A realidade última para mim se chama “hoje”. Se há algum manipulador, ele atende por “acaso” (gosto da maneira como eclesiastes o descreve). E se existe uma intervenção superior na história, ela se potencializa no homem, contudo, não acredito no homem. Desta forma, o que importa é o hodierno, onde certezas não fazem parte dele, todavia, minhas dúvidas me consolam e consolidam meu credo. Não sou ateu, nem muito menos agnóstico. Também não sou inimigo da “Igreja”, apenas desconsidero a relevância da sua “usurpadora constantinopolitana”. O que sou, não sei. Viver o momento e extrair o máximo dele é o que faço e o que me resta. E assim, finalizo, com o ridículo que se segue: 

8. certeza, 
virtude dos arrogantes;
singularidade dos "marcianos";
distante dos pensantes....

“para meus amigos, ex-crentes, ex-hereges e, agora, sei lá o que...”

5 comentários:

  1. Acho que seu problema foi a ambiguidade do termo 'igreja'. Como você mesmo disse no segundo parágrafo: "igreja engloba todos os vocábulos e suas semânticas citadas nas três primeiras linhas acima". O que vi no primeiro parágrafo foi só uma mistura de senso comum, como se abrangesse a realidade de uma igreja, não como instituição 'constantinopolitana'.

    Não teve o mínimo de rigidez acadêmica para afirmar isso. Será que era tão difícil usar ao menos um bom teórico para afirmar alguma relação teológica com a igreja? Acaso não há belos críticos ferrenhos à igreja meramente como instituição humana?

    Desculpe-me, mas você está apenas transparecendo um 'revoltado-eclesiástico' bem incipiente! Sem contar com a falta de respeito em fazer contraposições entre, por exemplo, membros da AD e intelectuais, como se os assembleianos não pensassem.

    Cara, seja mais honesto em suas críticas. Está muito fraquinho. Leia bons teólogos contemporâneos.

    Posso testemunhar que sou membro da AD e faço praticamente as mesmas críticas que você faz à igreja, mas diante do púlpito, e isso tem servido para a edificação da igreja como agente de Deus, como o Corpo de Cristo na terra, conforme ela mesma se entende (ou se diz ser).

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    1. Wesley, muito obrigado por sua exposição crítica e bem apologética da sua fé, eu já fui assim. Acredito que a igreja precise de críticos construtivos como você (até parece que me importo com a igreja!!!). Contudo quero salientar que meu objetivo não foi discursar algo acadêmico, construtivo e apologético inerente a igreja (a semântica fica por sua conta). Só escrevi algo subjetivo e decidir compartilhar com alguns amigos (“para meus amigos ex crentes, ex hereges e agora sei lá o que...”) e creio que você não comungaria com nossas concepções. Com relação à presença do texto neste blog a culpa está nos ombros do ANDRE. Foi ele que postou. Quanto a sua boa recomendação para que eu leia "bons teólogos", fico grato e curioso quanto ao seu conceito de "bons teólogos". Todavia deixo claro que já tive overdoses de teologias das boas e piores “estirpes” (falando assim até parece que para mim existe boa teologia). É só perguntar ao graduado em teologia Andre Francisco. Agora, o que mais me deixou “inculcado” foi à seguinte afirmação Wesliana: “faço praticamente as mesmas críticas que você faz à igreja, mas diante do púlpito, e isso tem servido para a edificação da igreja como agente de Deus, como o Corpo de Cristo na terra, conforme ela mesma se entende...”. Bom Wesley, primeiramente eu não sou crítico da Igreja, pois um crítico não nasce de um só texto. Como já disse, eu só escrevi algo subjetivo e decidir compartilhar com alguns amigos. Em segundo lugar, se você fizesse as mesmas críticas que eu faço à igreja (foi o que vc inferiu só por que leu uma porcaria de texto escrito por mim) você não teria a mínima vontade de subir em um púlpito, nem muito menos ir a uma igreja. E em terceiro lugar, eu não sei se você percebeu, eu não dou a mínima para o que a igreja precisa, pois não vejo relevância na mesma. Já disse uma vez e digo novamente ”não vejo erros dentro do cristianismo (sistema religioso criado por Constantino), mas o vejo como um grande erro. É mais um “ismo” criado no século IV com fins políticos, que nos tempos hodiernos alimenta um pragmatismo em busca de poder, sucesso e fama inerente ao homem...”. E finalizando, se o Jesus que você acredita encarnasse novamente ele freqüentaria inúmeros lugares, todavia a igreja não estaria em sua agenda.

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  2. Ah, se o seu texto é tão subjetivo (relativo ao próprio sujeito, íntimo, individual, particular), então guarde-o para você!

    Quanto à sua indagação em relação ao meu posicionamento semelhante ao seu, porém, vinculado à igreja, eu sempre procuro lidar com a igreja a partir de um sentido mais humano, mais comunitário, menos institucional ou denominacional. Graças a Deus tive a oportunidade de ler bons teóricos que puderam me embasar em relação à necessidade de institucionalização da comunidade de fé. Eu não sou contra a igreja como instituição em si (entendo que há uma necessidade organizacional por trás disso), mas sei também que ela deve transcender, deve ir além disso, isto é, ela não tem como fim último como instituição humana.

    Eu procuro sempre combater a alienação religiosa, as más interpretações em relação à mundaneidade de um cristão, sua participação e responsabilidade em relação ao seu respectivo contexto contemporâneo. Entendo que a mensagem cristã pode ser o maior veículo de propagação do bem. Para mim, o cristianismo é muito humano, principalmente a partir de uma hermenêutica centrada na 'encarnação', que é uma doutrina central da fé cristã.

    Acho que o nosso atrito aqui se dá por sua falta de senso, de siso e de respeito em relação à igreja como uma comunidade de fé. Dizer que todo assembleiano é anti-intelectual além de ser um tremendo preconceito, é uma grande ignorância em relação à diversidade em torno desta denominação, que não é homogênea, mas bem heterogênea, diversificada, onde há analfabetos e doutores, pobres e ricos, etc.

    O que não me conformo é que você, apesar de aparentemente ter cursado teologia, traz uma visão totalmente leiga ou vulgar de igreja - senso comum purinho, e tente meter o pau nela, como se ela estivesse em um estado de perfeição segundo os seus próprios conformes teológicos (você mesmo diz que não há erros nela, mas que ela é em erro em si mesma). Parece até que você nunca teve oportunidade de entender ou estudar a fé cristã. Você está mais para um sociólogo do que um teólogo propriamente dito. Digo isso pela 'visão de fora' que você disse, como se conseguisse ter um ponto de vista neutro.

    Talvez a nossa diferença seja resumida assim: eu sou um inconformado com a igreja hodierna e você é um revoltado.

    E, por favor, não queira culpar o André. Ele já foi meu veterano. Respeito muito ele. Ademais, acho que ele tem um senso teológico bem mais aguçado que esse.

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    1. Uma dica: fale mal da teologia da igreja (para isso você vai ter que se internar um pouco na igreja como comunidade de fé em formação). Se você ficar só com esse 'olhar de fora', incontaminado, você só vai ser mais um leigo que quer falar mal da igreja sem conhecê-la, sem ter noção de seus problemas internos, dos contrastes, dos paradoxos humanos.

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  3. um leigo???
    É Wesley, você ainda não entendeu. Tudo bem, eu não lhe culpo, pois é normal para quem ainda está na igreja (sistema templocêntrico).
    Eu já fui crente, gospel, evangélico, assembleiano, pentecostal, seminarista, lider de jovens, tesoureiro da igreja onde congregava,...........
    Bom, acho que leigo nunca, mas tudo bem.Já passei pela fase que tu estas passando.Espero te encontrar um dia e a gente bater um papo reto, legal e fraternal.
    Me passa teu n° do celular..
    um abraço...

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