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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Da moral cristã à ética cidadã: um longo caminho


Os cristãos, como exemplo de cidadania, é um objetivo a se alcançar. Por várias e várias décadas, a teologia popular cristã tem se apegado ao moralismo exacerbado,  fraco e doentio, a fim de estabelecerem um diferencial entre igreja x mundo, santos x pecadores, salvos x perdidos. Aquela velha dialética cristã. É tanto que hoje os cristãos são conhecidos por não ouvirem músicas do “mundo” (devem somente ouvir música do céu), só transarem após o casamento (em tese), não beberem, não fumarem, não irem à balada e vestirem roupas cafonas. Uma moral superficial que os identificam como cristãos, “evangélicos” ou “gospel” (derivado da conotação norte-americana para a designação dos cristãos reformados), e assim, temos então a formação de uma identidade social.
Infelizmente, no Brasil hodierno, desfrutamos dessa triste realidade. Recentemente, ocorreram boatos de que  Renato Aragão, o “Didi”, lançaria um filme que se intitularia o “Segundo filho de Deus”, no qual ele mesmo se passaria por um filho substituto de Jesus Cristo, a fim de realizar a missão do Pai no mundo, pois o Messias original haveria “falhado” em sua missão de resgatar a humanidade. S.O.S. Evangélicos atordoados, entupindo timelines de facebook’s e redes sociais com post’s de indignação pela "profanação" do dogma sagrado e da pessoa divina de Jesus Cristo.
O interessante é que esses mesmos evangélicos, tão indignados pelo boato de um “possível” filme (que foi desmentido pelo próprio Renato Aragão), não estão nem um pouco preocupados com a situação sócio-política do país em que vivem, com os desdobramentos dos casos de corrupção política no Brasil, com a falta de políticas públicas em prol da melhoria de vida dos oprimidos e das classes menos favorecidas. Não se preocupam em pagarem altos impostos aliados a péssimos serviços governamentais na área da saúde, da educação, da assistência social, do acesso à renda. Quase sempre, não se preocupam com crianças que passam fome e pedem esmolas nos pontos de ônibus, nos sinais de trânsito, nas esquinas dos bares ou nas portas das igrejas e muito menos com os mendigos ou favelados que vivem em condições subumanas.
É claro que essa denúncia soaria como um preconceito, considerando que essa é uma atividade de todos nós cidadãos, não apenas dos evangélicos, mas essa é a questão em pauta. Um grande erro da teologia popular, sacerdotal (das pregadas nos púlpitos) é o selecionamento de textos que lhes convém para a manipulação coletiva de um modo não perceptível. Pegue-se meia dúzia de ideologias, dogmas e mandamentos divinos e far-se-á um exército de fiéis semióticos dispostos a quase tudo. Os textos sobre responsabilidade social, cuidado do planeta, ética entre os povos, respeito e educação para os homens, tratamento dos desfavorecidos, são altamente negligenciados, pois combatem à hipocrisia social e nos dão um fardo muito grande para ser carregado: o da responsabilidade social como filhos de Deus.
Os cristãos brasileiros não deveriam ser conhecidos por um moralismo exacerbado e doentio, taxando-se como “superiores” aos “mundanos”, mas como um povo de atitudes sociais e práticas, de compromisso político pujante, de militância cidadã e guerrilheiros pacíficos dos direitos humanos e das verdades e virtudes democráticas, mas não o são. Ao contrário, a bancada denominada evangélica é constantemente objeto de deboche, pela sua atitude proselitista, altamente partidária, seus vários projetos de cunho religioso para um estado laico, sua luta insana contra a P.L 122 e vários de seus membros, na maioria “pastores” ou líderes denominacionais, envolvidos em esquemas de corrupção, com apenas um ou outro que desempenha um papel importante para a democracia brasileira, confirmando a situação delatada, não a anulando.
Para uma mudança nesse quadro lamentável, talvez, somente a implementação da lei de que todos os pastores devam ter cursos teológicos (reconhecidos pelo MEC) para poderem palestrar em qualquer denominação que seja, para que a teologia pastoral sofra um avanço e passe a formar consciências mais maduras, sociais e políticas e menos vilipendiadas por essa teologia moral em cartaz. Para mudarmos as atitudes cidadãs cristãs, devemos primeiramente mudar as concepções cristãs de atitude. É bem lógico e simples, mas não é o mais fácil, portanto, não o mais desejado. Lembro-me então das palavras de Cristo, "quem quiser vir após mim, que tome a sua cruz e siga-me".

Por Rodrigo de Barros Mascarenhas.

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