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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Era uma vez no México e eu estava lá.


Era uma vez no México e eu estava lá. No dia seguinte, pegaria um ônibus em direção há uma terra desconhecida, chamada São Marcos, situada em um estado provinciano, conhecido pela sua boa moqueca de peixe e pelas suas belas mulheres. Difícil saber o que estava pensando, mas poderia dizer com facilidade às sensações que me advinham naquele momento especial, especial porque apresentava uma fuga da rotina, a vivência de um momento novo e belo, de descoberta, de aventuras, de novas amizades e relacionamentos. Era algo como um medo dos fatos que poderiam acontecer, os desfechos finais da pequena história e da esperança que eu tinha de que tudo aquilo seria perfeitamente tranqüilo e bom, trazendo paz. Mas toda essa bela intuição, apavorante e curiosa, vinha do meu real objetivo que me levava àquelas terras, a bela Maria Luiza, amiga de uma prima minha, que havíamos nos conhecidos através de cartas por intermédio de uma foto que me despertara a curiosidade de conhecer pessoalmente aquela moça de boa aparência e de bons procedimentos, conforme fontes haviam me dito.

Já no ônibus, que estava lotado, naquele dia de sábado, 9 de novembro de um ano em que todos diziam que o mundo iria terminar, com pessoas de vários lugares indo há todos os lugares, sentei – me, cansado, após um longo dia de estudos, em uma poltrona ao lado da janela que dava para uma bela vista das pradarias e dos campos abertos, trazendo para mim um ar fresco e revigorante. Observava a paisagem, enquanto as pessoas sentadas nos assentos ao meu derredor conversavam sobre as futilidades da vida, quando uma senhora que estava ao meu lado me chamou a atenção sobre um viajante que estava causando certo “incomodo” aos viajantes de forma inusitada: Roncando bem alto para todos ouvirem. Demos boas risadas e ficamos ali, eu e Almira, senhora de gentil aparência, com cabelos pretos e uma voz estranha, trocando experiências e historias de lugares que passamos e situações que tínhamos vivido, Quando de repente ela me pergunta qual era o motivo de minha visita á São Marcos.

Não queria mentir, a conversa era sincera, precisaria dar uma resposta à altura, poderia ser qualquer resposta, mas não descreveria de fato o motivo real de minha ida aquela singela cidade. Descrevi toda a situação, falei – lhe de Maria Luiza e do que havia ocorrido, mas antes contei – lhe o que esperava de tudo aquilo. Disse-lhe que já havia conhecido várias mulheres, de todos os jeitos, belezas, maneiras de pensar, modos de agirem, todas elas únicas de algum jeito, mas que possuíam muitas semelhanças em comum e nenhuma delas, ou “quase” nenhuma delas, haviam me despertado um desejo maior de transitar dos encontros eróticos, das conversas sedutoras e dos jogos entre os sexos, para o sentimento de algo único, que precisava se firmar, de se transformar em uma formidável paixão, um relacionamento forte, uma troca de amores, uma amizade real, um fogo que consome não apenas o corpo, mas também o espírito; e disse a Almira que diante daquilo tudo, não havia mais sentido em viver da forma que estava vivendo, precisava de um sentimento verdadeiro para dividir com algo verdade, ou alguém verdadeiro. Estava indo nesse objetivo, guardado só para mim, trancado debaixo de sete chaves, mas compartilhado com uma viajante que talvez nunca mais encontrasse novamente. E se foi Almira.

Quando cheguei á São Marcos, fui direto a uma hospedaria singela aos arredores de uma praça, uma igreja chamada “velha” e de alguns bares e botecos barulhentos que davam vida aquela cidade, mal havia me hospedado quando me lembro do horário marcado com Maria Luiza para o nosso encontro e de que estava quase atrasado, sai às pressas e fui ao local combinado, onde ela já me aguardava, dentro do carro branco de sua avó, chamada Ana, quando me viu, saltou do carro e veio me ver, me deu um abraço, nos beijamos amigavelmente e rimos, dizendo aquele velho “prazer em te conhecer”. Daí, saímos, conversamos, falamos besteiras, conhecemos um pouco da cidade, os locais mais importantes, conversei com a vovó Ana, que por sinal era uma simpática e alegre Senhora, muito moderna para sua época. Depois fomos para sua casa, onde ficamos sentados ao sofá com a inspeção de Ana, conversando como casais á moda antiga, nos conhecendo melhor, depois de tantas cartas trocadas e de tantos assuntos confidenciados um ao outro, o clima estava realmente agradável. Voltei a minha hospedaria, acompanhado por vovó e no dia seguinte retornei a casa de Maria Luiza, com meu cavalo alugado por um simples fazendeiro daquelas terras chamado Daniel, para me despedir e almoçar com ambas as mulheres que moravam sozinhas, sem companhia masculina.

No auge daquela conversa, sentados no sofá, num domingo á tarde, com tempo nublado e clima de confinamento no melhor que o conforto de nossa casa pode oferecer, declarei para Maria Luiza, as minhas intenções, em parte (Não havia dito á ela, da mesma forma o que disse a Almira, na conversa no ônibus) e lhe pedi um beijo, como uma forma de selar um pacto de amizade com “intenções” entre nós dois, e possibilitar futuras idas minhas á São Marcos, mas antes de dizer a sua resposta, gostaria de falar um pouco sobre Maria Luiza. Era uma moça jovem, na beira de seus 15 anos, seus cabelos loiros combinavam com o tom de sua pele branca, bem branca e os seus belos olhos verdes que transmitiam profundidade no olhar e nos gestos de suas palavras. Maria Luiza era uma menina espontânea, sem papas na língua, gostava de dizer, agir e se comportar como bem entendesse diferentemente do que os outros poderiam achar ou pensar dela. Sua intuição aguçada sobre as coisas eram bem disfarçadas pelo seu modo despretensioso, sonso e alegre de agir, era uma menina de grande coração, com boas virtudes, que poderia dar todo o seu amor á uma pessoa, desde que essa lhe demonstrasse a sinceridade das suas atitudes. Ela era daquelas que possuía seu pai como herói, amava sua família, mas não fazia o tipo da moça certinha que andava sempre de acordo com as regras e nada fazia de errado, pelo contrário, adorava aventuras, ao seu estilo e não desperdiçava uma boa oportunidade de ser feliz, pelo menos até esse dia, se assim eu posso dizer, no meu olhar das coisas. Disse-me Não ao meu pedido, fiquei confuso, ela me explicou os seus motivos, mas não conseguia aceitar sua resposta em que dizia em que ela “não era assim”, ou seja, não beijava “desconhecidos” quando os conhecia pela primeira vez.

Aquele dia me despedi de Maria Luiza com o coração apertado, estava indo embora de sua casa quando disse “você perdeu uma boa chance de aproveitar o momento”, sabia que não era assim, mas tinha que dizer.  Talvez nos encontremos novamente, talvez não; talvez iremos contar muitas historias um ao outro novamente, olhar nos olhos mais uma vez, darmos boas risadas e beijarmos finalmente, como dois jovens sinceros e belos, que preferem os romances á moda antiga, da forma que tem que ser, com todas as dificuldades, os desarranjos, mas com todas as alegrias e afetos verdadeiros que tudo isso pode proporcionar.

E eu como um bom marinheiro, sigo na minha trajetória pelo México afora, em breve pegarei minha embarcação em um de nossos mares afrodisíacos e navegarei por esses mares, em busca de sentido, esperando um bom, belo e seguro porto, onde poderei finalmente ancorar o meu coração, pondo fim, pelo menos temporariamente, a toda essa odisseia que tem me cansado e me tirado o sono, por muitas noites.

Creio que por esses dias a moça a quem dedico esse breve relato, irá fazer mais uma primavera de existência, contudo, como estou em alto mar, jogarei esse texto em uma garrafa nas águas, com a esperança que os bons ventos e as ondas á levem até o seu destino, a gentil cidade de São Marcos.

(Uma carta de um Marinheiro mexicano destino á bela Maria Luiza)

Por Rodrigo de Barros Mascarenhas

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