Bem-vindos!

DIÁLOGO ABERTO, O ORIGINAL, é um espaço interativo cuja finalidade é a discussão. A partir de abordagens relacionadas a muitos temas diversos, dos mais complexos aos mais práticos, entre teologia, filosofia, política, economia, direito, dia a dia, entretenimento, etc; propõe um novo modo de análise e argumentação sobre inúmeras convenções atuais, e isso, em uma esfera religiosa, humana, geral. Fazendo uso de linguagem acessível, visa à promoção e à saliência de debates e exposições provocadoras, a afim de gerar ou despertar, em o leitor, um espírito crítico e questionador.

Welcome! Bienvenidos! ברוך הבא

terça-feira, 5 de março de 2013

Josivaldo, o Conservador.



Josivaldo era um homem de meia idade. Seus filhos sempre o chamavam de coroa, mas ele, sempre de bom humor relevava “o coro aqui ainda dá um bom caldo”. Era comerciante, e passava seus dias de trabalho vendendo roupas de todos os tipos a atacado e varejo. Possuía boa lábia para os negócios, além de ter uma noção empresarial bastante profissional. Josivaldo era daquele tipo de homem que as pessoas poderiam dizer que havia alcançado algum sucesso na vida. Boa praça, dois filhos, casamento aparentemente saudável de vários anos, negócios prósperos; uma boa coerência com aquilo que chamam de vida capitalista realizada.

Contudo, a lente que se olha por fora, não é a mesma que se enxerga por dentro. Aparentemente a vida daquele homem era feliz, mas nos bastidores, revelava uma profunda desarmonia com a vida lá fora.
Josivaldo era um conservador. Um homem de difícil diálogo nas questões da vida. Sua visão de mundo sempre pareceu correta aos seus próprios olhos e sempre achou ter razão em tudo, justificando-se pela tradição e pelo seu aparente sucesso na vida.  Religião, Política, Futebol, Música e Cinema eram seus temas favoritos. Para todos eles tinham uma opinião formada e só abria mão dela quando um conservador mais experiente falava. O resto era pitaco de moleque.

Pois bem, os tempos eram modernos e complexos e o mundo não girava mais como 50 anos atrás, mas na cabeça daquele comerciante de meia idade com cabelos brancos e calvos nada havia mudado; apenas se tornara mais “violento e promiscuo” dizia ele embarrotado de uma forte tradição católica.

Seus filhos, porém não compartilhavam de suas ideais. Seu filho, atraído pela música, curtia os Beatles e os Rolling Stones e era um roqueiro inveterado de roupas pretas e tudo. Quando completou 18 anos fez uma tatuagem de um totem enorme nas costas. Josivaldo, surpreendido pela atitude castigou o rapaz de diversas formas e disse que gostaria que seu filho fosse um homem normal, pois o envergonhava, se tornando uma pessoa esquisita e patética. Aos 22, o incompreendido moço saiu de casa.

Sua filha mais nova se via em uma dubiedade de pensamentos. Ao mesmo tempo em que era influenciada fortemente pelo pai e suas retóricas pós jantar, vivia em mundo muito diferente do que ele pregava. Na escola, convivia com homossexuais, lésbicas, filhos divorciados e filhos de pais com o mesmo sexo, além de amigos que tentavam o suicídio e colegas que perdiam suas virgindades com 13 anos de idade, sem falar nos usuários de drogas, algo já considerado normal. Contudo aquela moça percebia que muitas pessoas diferentes daquilo que era correto de acordo com os bons costumes pregados pelo pai, eram mais felizes realizadas e amáveis do que a sua relação familiar. Percebeu que os seus laços familiares eram um tanto quanto superficiais e estranhos, algo mecânico, engessado pelo cotidiano e que as pessoas de sua família de fato não se conheciam bastante, intimamente falando e que tudo aquilo parecia um grande jogo bem feito de The Sins. Enveredou-se então pela busca de sentido no amor fraternal, ia as baladas com as amigas, usava alguns tipos de drogas leves, teve vários namorados, tornou-se fria e desapegada. O mundo para ela passou a ser mar de sentimentos, desapegados da razão. A essencialidade do ser vinha pelo sentir, pelo conhecer, pelo novo e pelas experiências que se podia ter. A razão outrora lhe pregava peças na continuidade dos seus laços afetivos e eles nunca duravam muito, pois sua moral não lhe permitia que sua própria consciência fosse desmascarada pelos caminhos usados para a busca do verdadeiro.  Não tolerando mais os discursos moralistas de seu pai, que tiravam a harmonia e o equilíbrio de seus bons dias, pediu que fosse enviada para um colégio interno em um lugar distante e de lá partiu para a faculdade e nunca mais voltou para casa, exceto no natal de todo ano.

E por fim, falaremos de alguém ainda não mencionado. A mãe das crianças e a esposa de Josivaldo. Era uma verdadeira parceira, até mesmo de seus ideais e idéias, mas possuía sua visão de relacionamento matrimonial baseado em princípios feministas e modernos de valor igual entre os sexos, compreensão emocional, apoio afetivo, interação transparente e auto-esforço para melhoria do relacionamento constante em nome do Amor. Josivaldo por sua vez era o que poderíamos chamar de brucutu á moda antiga. Acreditava na superioridade dos homens e no papel provedor do macho aliado ao papel submisso e caseiro da mulher, que cuidava da casa e dos filhos enquanto o homem estava na praça conquistando o sustento diário. Não era aberto a terapias e dialogar em um tom emocional não era seu forte, ou seja, discutir relacionamento. No sexo era terrivelmente monótono, não surpreendia e não provocava desejo ardente em sua parceira depois de vários anos, na verdade ela se considerava apenas um depósito de esperma e um objeto de satisfação sexual do marido. Ele por sua vez não via problemas nessa questão, pois acreditava que tudo ia normal e que o mundo pintado por ele fazia perfeito sentido para todos. A mulher aprisionada entre os princípios que uniam aquela relação e os seus desejos modernos totalmente insatisfeitos entrou em uma espécie de tristeza crônica e perdeu a graça de viver e só pode recuperar a excitação pela vida depois de perceber que deveria romper com aquele relacionamento que já beirava os 30 anos de idade.

Enfim, a complexidade da vida moderna era um páreo duro para a visão de mundo de um homem como Josivaldo. Aparentemente tudo era muito tranqüilo e bem sucedido. Seus amigos sempre falavam em como ele era um homem de bem, afortunado e queriam até apoiá-lo na política de sua cidade nas próximas eleições, diziam que ele tinha todas as qualidades de um homem do povo. Contudo, internamente faltava aquele coroa experiente uma simples qualidade difícil de obter por aqueles que se acham donos da razão: que o mundo não funcionava como fora pintado em sua cabeça, que o outro deveria ser compreendido em sua visão de mundo, que os tempos eram outros e as relações eram mais complexas, que se quer viver em uma visão de mundo fechada, ou seja muito rico, do tipo milionário, para ser egocêntrico e conquistar todos pelo dinheiro ou esteja preparado para não ter o diferente ao seu lado. Pobre do Josivaldo que tinha uma família diferente, afinal quando o diferente não está em nossa casa, não importa.

Rodrigo Mascarenhas

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagens populares