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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Contribuições da Teologia de Paulo ao Pensamento Ecumênico



Para começar, gostaria de explicar para você que não é muito habituado a ouvir esse termo “ecumenismo” e se é muitas vezes de maneira equivocada ou preconceituosa (ou os dois) á respeito do assunto, vejamos então:
  • 1.      O termo “ecumene” se deriva do grego “oikoumene”, que significa “habitada”, subentendendo-se tratar da “terra”. Portanto “oikoumene” designa a terra habitada. Na raiz está à palavra “oikos” (casa). Diz respeito á nossa “casa” que é o mundo, no qual habitamos.  O sentido original de “ecumene” é de ordem geográfica, referindo-se ao espaço de vida do ser humano. É assim que aparece no A.T grego (Sl 24.1) e sobretudo no N.T (Lc 4.5; At 11.28; Rm 10.18; etc)
  • 2.      Na perspectiva cultural o mundo unido pelo helenismo, sendo que para a primeira cristandade a ecumene passa a ser vista para o campo de sua missão (Mt. 24.14). Muito em breve, porém, o adjetivo “ecumênico” seria aplicado á própria Igreja, difundida por toda a terra. Torna-se sinônimo de “Igreja toda”, isto é, “católica”, de “Igreja inteira”, “Igreja Universal”. O termo adquire significado eclesiológico.
  • 3.      Adquire uma determinada mentalidade, a saber, a da consciência da unidade em Cristo e por isso a de abertura e amplitude. Ecumene ultrapassa as fronteiras de uma instituição. Tem em vista o corpo de Cristo em sua integralidade, nos horizontes de toda a “terra habitada”. Possui proximidade ao que hoje se chama “global”.


Portanto vejamos que o termo ecumenismo não tem origem em tempos modernos, como muitos pensam, mas sim em um pensamento helenístico incorporado pela tradição judaica-cristã, especialmente no pensamento e na teologia do apóstolo Paulo.

Há muitas divergências entre as contribuições de Paulo ao pensamento cristão, alguns o consideram fomentador de uma teologia eclesiástica que se distanciou, devido a institucionalização do movimento cristão, da mensagem de Jesus, tentando solucionar problemas institucionais, interpretando a mensagem de Yeshua com acréscimos pessoais juntamente com suas influencias (influencia do pensamento helenístico e judaico), outros dizem que ele contribui de forma positiva para a formação de uma teologia que pudesse solucionar os problemas da época e fomentar doutrinas interpretativas a respeito daquilo que Cristo falou, orientando a Eclésia (Igreja).

Divergências á parte, gostaria de focar naquilo que achei interessante, primordial e bem elaborado na teologia paulina, a saber, o seu pensamento ecumênico, propostas ecumênicas, e as doutrinas que direcionam a igreja para uma união em sua casa.

1.      Sois um só em Cristo Jesus: Teologia do Batismo. O batismo, mencionado em inúmero textos do escritos paulinos se liga diretamente á unidade em Cristo. Para superar a descriminação por parte do leitor gostaria de citar um texto: “Todos vós, que fostes batizados em Cristo, vos vestistes de Cristo. Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não homem nem mulher, pois todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gálatas 3,28). Essa atitude cristã de superar antagonismos tende a se estender universalmente.  Podemos pensar que o espírito cristão leva a unificar e a superar os preconceitos e as discriminações e a ver os outros solidariamente, inclusive, paritariamente, em comunhão e unidade. Por causa da unificadora vontade salvífica de Cristo ou a partir de Cristo e seu Espírito. O Batismo é um só. O Batismo une a todos os cristãos, pois ele não é institucional, mas sim um sinal de entrega á vontade de Jesus.
2.      Não haja divisões entre vós! Exortação de Paulo á unidade e á concórdia: “Eu vos exorto, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, guardai a concórdia uns com os outros, de modo não haja divisões entre vós. Sede estreitamente unidos no mesmo espírito e no mesmo modo de pensar. Com efeito, meus irmãos, pessoas da casa de Clóe me informaram de que existe rixas entre vós. Explico-me: cada um de vós diz: ‘Eu sou de Paulo!’, ou ‘Eu sou de Apolo!’, ou ‘Eu sou de Cristo!’ Cristo estaria assim dividido? (1 Coríntios 1,10 – 13). O ecumenismo quer superar discórdias, rixas e divisões, quaisquer que sejam as suas causas, tendo em vista a unidade de Cristo. Cristo é o mesmo salvador de todos.
3.      A vocação a que fostes chamados. Vocação Cristã: “Exorto-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor,a andardes de modo digno de vocação a que fostes chamados: com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando – vos uns aos outros com amor, procurando conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Efésios 4, 1-3) desse modo, é mantendo a unidade que se realiza a vocação cristã. O ecumenismo, por sua vez, visa ao cumprimento da vocação cristã.
4.      Ceia ou Eucaristia*: “o cálice da benção, que abençoamos, não é comunhão com o sangue de cristo? O pão que partimos, não é comunhão com o corpo de Cristo? Já que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que todos participamos desse único pão” (I coríntios 10, 16-17). O Apóstolo Paulo vê no pão compartilhado um fundamento da unidade do corpo de Cristo, ao qual pertencemos.
5.      Unidade com diversidade, pelo mesmo Espírito. Corpo de Cristo: “...com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de cristo seja edificado, até que alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos á maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo” (Efésios 4, 12- 16) “Com efeito, o corpo é um e, não obstante, tem muitos membros, mas todos os membros do corpo, apesar de serem muitos, formam um só corpo. Assim também acontece com Cristo” (I Co 12,12). Paulo usa a imagem do corpo e nos faz pensar na relação da unidade com diversidade. É importante no campo ecumênico, falar de unidade e diversidade, de identidade e de alteridade, de diferenças que se respeitam e que se somam.
6.      Unidade da reconciliação e da paz. “Ele é a nossa paz: de ambos os povos fez um só, tendo derrubado o muro da separação e suprimido em sua carne e inimizade, [...] a fim de criar um só Homem Novo, e de reconciliar a ambos com Deus em um só corpo, por meio da Cruz”. “aprouve a Deus fazer habitar toda a Plenitude e reconciliar por ele e para ele todos os seres, os da terra e os dos céus, realizando a paz pelo sangue de sua cruz.” (Colossenses 1, 20-22). A reconciliação reúne a união de todos os povos e pessoas (não no sentido de conversão, mas sim de comunhão de fato). O ecumenismo deriva do espírito de reconciliação com Deus. Para os cristãos, a paz é dom de reconciliação, também com o perdão, um estado de novo ser, nova vida e nova relação. A paz é aspiração de todas as religiões
7.      Caridade ou Amor: “ a caridade é a plenitude de toda á Lei” (Rm 13, 10) “Revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição” (Colossenses 3,14) “ o Amor de Cristo nos impele” (2 Co 5,14) Seria impossível que o ecumenismo ficasse surdo a tanta insistência na caridade. O objetivo do ecumenismo é promover a unidade na caridade.
8.      Justificação pela Fé: (Gálatas 3,11; Rm 1,16-17) Você poderia me dizer que esse é um tema divergente entre Protestantes e Católicos, mas eu lhe venho com boas novas, a partir do evento da Declaração Comum sobre a Doutrina da Justificação entre Católicos e Luteranos em 1999, temos um só credo (Lutero Wins) a saber:
“Confessamos juntos: somente por graça, na fé na obra salvífica de Cristo,
E não por causa do nosso mérito, somos aceitos por Deus e recebemos o
Espirito Santo, que nos renova os corações e nos capacita e chama para as boas obras!”
Declaração conjunta sobre a Doutrina da Justificação, Augsburgo, 31 de outubro de 1999.
Uma contribuição ecumênica para um assunto ecumênico.

Enfim, poderia citar dezenas de textos nos quais Paulo se remete a um pensamento ecumênico, gerador de união. Não queremos aqui tratar ecumenismo, com infantilidade preconceituosa, é interessante dizer, que pelo fato dos cristãos se unir, não necessariamente abrirão mão de suas convicções doutrinárias ou suas identidades institucionais, mas deverão reconhecer que de fato, aquilo que nos une é maior que aquilo que nos separa. Estamos unidos em Cristo e ele é a cabeça, essas são nossas raízes de fé. O mundo mais do que nunca, necessita de uma união Cristã para o serviço em prol dessa grande terra habitada. Temos muito a contribuir, cabe a nós escolher se iremos ficar dentro de nossos redutos denominacionais em nome de nossas “verdades absolutas” e nossas liturgias de fé, ou se iremos nos unir, cumprindo a vontade de Jesus, em "serviço e amor" bem expressa na teologia do Apóstolo Paulo.

“Há um só Corpo e um só Espírito, assim como é uma só a esperança da vocação a que fostes chamados; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; há um só Deus e Pai de Todos, que está acima de todos, por meio de todos e em todos” Palavras de Paulo na Carta aos Efésios. Ef 4,4-6.


*Paulo não introduziu nem inventou o rito do batismo e nem a ceia. Recebeu esses conceitos e imagens do judaísmo e do helenismo e tratou deles de modo cristão.

Referências Bibliográficas:
·         Maria Teresa Cardoso de Freitas – Paulo e o Ecumenismo. Revista do Departamento de Teologia da PUC – Rio/Brasil.
·         BRAKEMEIER, GOTTFRIED. Preservando a unidade do Espirito no Vínculo da Paz. São Paulo, 2004. ASTE



RODRIGO DE BARROS MASCARENHAS





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