Bem-vindos!

DIÁLOGO ABERTO, O ORIGINAL, é um espaço interativo cuja finalidade é a discussão. A partir de abordagens relacionadas a muitos temas diversos, dos mais complexos aos mais práticos, entre teologia, filosofia, política, economia, direito, dia a dia, entretenimento, etc; propõe um novo modo de análise e argumentação sobre inúmeras convenções atuais, e isso, em uma esfera religiosa, humana, geral. Fazendo uso de linguagem acessível, visa à promoção e à saliência de debates e exposições provocadoras, a afim de gerar ou despertar, em o leitor, um espírito crítico e questionador.

Welcome! Bienvenidos! ברוך הבא

terça-feira, 22 de maio de 2012

Relatos de um Aspira á Revolução


“Era o ano de 1962. Um grupo de protestantes ligados a movimentos e Instituições que buscavam pensar a realidade social do nosso País e perguntavam pelo lugar dos evangélicos brasileiros nesse processo se reuniu na cidade de Recife para a célebre Conferência do Nordeste. Além de teólogos como Joaquim Beato, Zwinglio Mota, Anivaldo Padilha e João Dias de Araújo, grandes nomes da intelectualidade brasileira estavam presentes, como Gilberto Freyre e Celso Furtado. Muitos tiveram que enfrentar as armas da ditadura militar. Cinqüenta anos se passaram e nós, evangélicos brasileiros contemporâneos, nos perguntamos pelo nosso papel diante dos tremendos desafios sociais do Brasil. Palestrantes que estiveram presentes em Recife em 1962 estiveram conosco em Vitória em 2012, quando relembramos criticamente esta história.” Fonte: Faculdade Unida de Vitória (Adptação para o tempo futuro)

50 anos depois eu estava lá.

O momento foi épico, as palestras excepcionais, e o ambiente exalava uma magia histórica que só aqueles que entendiam aquele momento podiam perceber. Ali estava presente uma geração que está passando, uma geração que deixou marcas na história e que é marco para nós. Essas palavras podem parecer fantasiosas e desmerecedoras do seu crédito. Mas, caro leitor, lhe convido a entrar um pouco nesse mundo e tentar entender o que se passou.

Ouvir homens como Joaquim Beato, Rubem Alves, Anivaldo Padilha, Zwinglio Mota e João Dias de Araújo é relembrar momentos que nos deixam saudosistas de uma época que a igreja era militante na causa do Reino. Tudo isso regado com lágrimas que incessantemente não paravam de cair daqueles palestrantes, relembrando os momentos de repressão e tortura em que eles e seus companheiros viveram .

Pra quem não sabe, o movimento de ditadura militar foi uma repressão à tentativa comunista de se instaurar como regime de estado no Brasil. Essa repressão foi tão absurda que qualquer um, que se denominasse pensador de esquerda ou fosse denunciado com tal, era perseguido, preso e torturado pelo DOPS, a polícia da ditadura. Esses homens simplesmente se revoltaram contra a falta de dignidade humana, liberdade de expressão e repressão imposta pelo governo. Não aceitavam, de acordo com os seus princípios éticos e os princípios que regem o reino de Deus (paz, liberdade, amor, fraternidade, dignidade humana...), a situação que se instaurava no país (quem viveu a época sabe muito bem disso).

O erro deles foi simplesmente “pensar” o contrário, contra a corrente imposta, e isso, senhores, já era um crime contra o Estado (uma lição para você que tem toda a liberdade de expressão do mundo). Eram progressistas ideais, que possuíam convicções em suas crenças, e, por isso, foram perseguidos.

O Anivaldo Padilha contou para nós, naquilo que foi o ápice do congresso, seu testemunho de vida, o que foi inédito, pois nunca tinha se pronunciado sobre aqueles momentos ao vivo. Bem, esse cabra macho, simplesmente, foi torturado, por acreditar em uma verdade, e se opor à ditadura (de forma pacífica). Entregue por lideranças presbiterianas, Anivaldo foi levado para um dos quartéis militares da época, e lá recebeu choques nas partes sensíveis do corpo (gengivas, dentes, genitais). Passou pela cadeira do dragão (cadeira em aço, onde o torturado senta nu e recebe choques pelo corpo enquanto interrogado) e pelo famoso pau de arara que todos conhecem. A intenção do DOPS era que ele revelasse os nomes dos seus companheiros de militância, mas ele disse: “eu não podia fazer aquilo, viveria como um covarde pelo resto da vida e o sentimento de culpa me mataria, então pensei em suicídio”. Depois, complementou: “enquanto estava ali, sendo torturado, pensei comigo mesmo, eu “fraco” do jeito que sou, seria detido pelo menos por um desses oito homens que estão aqui presentes e por detrás deles está a mão da nação mais poderosa do mundo (EUA), mas mesmo assim insistem em mim, por quê? Então, percebi que, naquele momento, eu não era o mais fraco, mas sim o mais forte MORALMENTE”. A essa altura do campeonato, só haviam soluços de lágrimas naquele auditório.

Anivaldo disse que muitos dos seus companheiros e companheiras até hoje estão desaparecidos (Mortos que não foram encontrados). Fiquei ali observando, os heróis vivos que eu ainda não tinha conhecido e os referências de uma igreja viva e militante, comprometida, de fato, em uma mudança de realidade social, mesmo que isso lhes custasse a vida.

Não senhores, isso não é uma história de filme americano, ou uma epopeia grega. De fato, aconteceu em nosso país.

Na tarde anterior, depois de uma palestra do Zwinglio, Anivaldo e do Dr. José Bittencourt, foram abertas as perguntas aos palestrantes, e, lá fui eu, baiano metido a besta, um pequeno aspira delirante, fazer a minha pergunta! Diante deles, e da plateia, perguntei: Senhores, nada melhor do que projetar o futuro olhando para o passado. Diante de referências históricas e militantes, preciso lhes perguntam. Como jovem que sou, com apenas 20 anos e com toda a energia para gastar, sei que isso não é uma receita de bolo, mas gostaria que me falassem, ao menos, o primeiro passo que tenho que dar para começar a lutar pelas questões sociais do nosso Brasil. É, a pergunta ficou meio sem pé e sem cabeça (dado ao nervosismo), mas com sentido, e para minha surpresa, quando terminei, todos estavam aplaudindo, senti que ali era aberta uma percepção de um novo momento em minha vida.

Dr. Bittencourt me respondeu e disse que não possuía uma resposta para isso, mas que qualquer caminho de transformação passava pelo caminho do “auto conhecimento”, ou seja, sabermos hoje quem somos, de onde viemos e para onde queremos ir. Feitas e respondidas essas perguntas, estaríamos dando um primeiro passo. A resposta do Anivaldo me surpreendeu. Ele também disse que não teria uma cartilha para isso e só de ter ido ao congresso eu já estava no caminho certo, mas, dando um conselho para a juventude, ele falaria: SEJAM REBELDES. Tive que rir depois dessa, no mínimo, hilária essa resposta.

Anivaldo me disse (e a todos que estavam presentes) que uma das características da juventude de sua época, que havia se perdido na juventude de hoje, era a rebeldia. Os jovens eram inconformados e se expressavam assim (os jovens inconformados da época estão no poder hoje, daqui 50 anos estarão no poder os elitistas filhinhos de papai #quedeusmelivre). Não tinham medo, viviam sua juventude, manifestavam-se. E eu, de fato, percebi que nós, jovens de hoje, não temos nem a metade da gana e da garra da juventude da época desses caras. Somos a geração do facebook e do twitter, nos manifestamos com nossos post’s e xingamos muito no # do twitter! #lamentável.

Graças a Deus, pude ter os olhos abertos para nossa realidade nesse congresso, olhando para trás e vendo tudo o que nos foi tirado e nos dado em troca: ideais de papel, teologias baratas, inibição de rebeldia, falta de senso crítico, showbussines do evangelho, uma política de direita comprada e uma de esquerda vencida ( e atrasada). Somos uma vergonha e nada mais.

Talvez, você, que conseguiu ler esse texto até o final, pense que estou sendo precipitado ( o que seria loucura da sua parte) em dizer tudo isso, e que não estou analisando bem a situação. Digo que talvez você não tenha conhecido quem eu conheci e visto os relatos que vi, e assim, comparado com o que “EU” (primeiramente) e minha geração se tornou. Totalmente conformados, cordiais, indiferentes, néscios e negligentes com a realidade social brasileira. Temos liberdade e não usufruímos, temos direitos e não revindicamos, temos deveres e não cumprimos, temos saúde e não aproveitamos, temos paz ,e, por termos tanta paz, não queremos guerra. Nossa posição de conforto nos faz bem e ela está nos matando, culturalmente, ideologicamente e socialmente falando (RELIGIOSAMENTE ESTAMOS QUASE MORTOS).

Tenho quase certeza de que ninguém (ou quase ninguém) prestará muita atenção naquilo que escrevi, mas tenho também a certeza de que estou tentando fazer a minha parte, por um resgate de valores e ideais perdidos.

E o que mais posso dizer? Anivaldo Padilha, Joaquim Beato, Rubem Alves, João Dias e Zwinglio Mota, Muito Obrigado por tudo o que fizeram, vocês são nossos marcos e referênciais. AGORA É A NOSSA VEZ!

E Não se esqueçam Moçada: Autoconhecimento e Rebeldia são os primeiros passos! (Dicas da Velha Guarda)

Por Rodrigo de Barros Mascarenhas



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagens populares