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quarta-feira, 23 de maio de 2012

Deus já se mudou de casa


Deus já se mudou de casa. Na Bíbia Hebraica, podem ser vistas essas mudanças, a partir de uma simples leitura. Os hebreus, incipientes em sua formação sócio-religiosa, como também todos os adoradores de El (soberano dos cananeus, em um primeiro formato), ou, “monoteisticamente”, Yaveh, ou Yaveh Elohim, último e penúltimo, principalmente em rosto pós-exílico, nas fontes sacerdotais, P, (Dt 6.4), possuiam uma imagem de sua divindade, e lhe atribuíam lugar de descanso, e residência, habitação. Dentro do desenvolvimento da identidade religiosa de Israel, esse Deus se mudou de morada em muitos momentos, e, quase sempre, em um processo de verticalização. Ou seja, de uma esfera terrena, de baixo, para celestial, nos altos. Essas mudanças foram acompanhadas, também, da multifacetação da corporeidade da deity, e de seus atributos intrínsecos. Em Gn 1, אֱלֹהִ֑ים é o deus que anda sobre os cosmos, espionando e dando forma aos vazios e ao caos provocados pela deusa Tiamat, entidade, ou monstro dos oceanos, e das águas salgadas eternas que aparecem nas mitologias babilônicas e suméricas. Principalmente, no tão pararelo mito de Enuma Elish, o qual também descreve a formação de tudo, acordando, hipoteticamente, à tradição hebraica:“Quando no alto não se nomeava o céu, e em baixo a terra não tinha nome, do oceano primordial (Apsu), seu pai; e da tumultuosa Tiamat, a mãe de todos, suas águas se fundiam numa, e nenhum campo estava formado, nem pântanos eram vistos; quando nenhum dos deuses tinha sido chamado a existência”(tablet 1, mito de Enuma Elish, texto inicial). Semelhança com Gn 1.1-2, e 1. no aspecto de que “a oração [...] serve-lhe em termos de subordinação adverbial temporal. “No princípio do criar de elohim...” é o idiomastismo judaico para dizer “quando elohim começou a criar...”(RIBEIRO, Osvaldo).Então, tem-se de um lado, “Quando no alto não se nomeava o céu [..]” para “Quando no princípio do criar de élöhîm...”. No entanto, descrever sobre as relações entre Gn e Enuma Elish não é o foco aqui. Isso, se dará em outro post. Aqui, é perceber a diferença de morada da divindade, ao longo de alguns textos. Por exemplo, a partir de Gn 2.4 (ponto de partida da inclusão da tradição de Yaveh na narração criacional, o que passa a sempre aparecer como Yaveh élöhîm), diferente história sobre a criação, já se percebe que a divindade não é extraterrestre, somente cosmológica, ou, totalmente suprahumana. Aqui, já compartilha sua realidade com os elementos da terra, e deles, semelhante à narração da Epopeia de Gilgamesh: “A deusa então concebeu em sua mente uma imagem cuja essência era a mesma de Anu, o deus do firmamento. Ela mergulhou as mãos na água e tomou um pedaço de barro; ela o deixou cair na selva, e assim foi criado o nobre Enkidu” (SANDARS, 1992, p. 94), forma o homem no Éden. Aliás, é descrito como um “deus à agricultor” , o qual planta um jardim (Gn 2.8), e que passeia, andando através dele (3.9). Um tipo de morada mais aproximada, ou, necessária viagem cotidiana, do cosmo ao jardim, corporiamente, vale destacar. Importante de se salientar, no começo dessas duas perspectivas de criação, que a morada é primeiramente localizada além dos cosmos, e depois, entre os elementos terrenos. Sentido inverso do mais comum, de baixo para cima, que passa a ser o normal entendimento posteriormente, em datas de tradições mais tardias, ou até mesmo menos tardias (Sl 91.9). Yaveh era considerado também como morador dos desertos, principalmente palestinenses. Essa divindade, que possivelmente começou a ser cultuada dentro de pequenos clãs nômades da antiguidade, era, às vezes, localizada nesse referido lugar. Vê-se exemplos de profetas que vão até o deserto para buscar conselhos e se comunicar com Yaveh (1 Rs 19). Ou, em algumas montanhas conhecidas na topografia desértica da palestina (Sl 68.14-16; Habc 3.2). Como, também, entre outros panteões conhecidos (Sl 138.1), El? Por fim, para não estender muito, Deus já se mudou de casa, existem outras referências, e outras tantas implicações, mas, para aqui, bastam as supracitadas.
André Francisco

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