Bem-vindos!

DIÁLOGO ABERTO, O ORIGINAL, é um espaço interativo cuja finalidade é a discussão. A partir de abordagens relacionadas a muitos temas diversos, dos mais complexos aos mais práticos, entre teologia, filosofia, política, economia, direito, dia a dia, entretenimento, etc; propõe um novo modo de análise e argumentação sobre inúmeras convenções atuais, e isso, em uma esfera religiosa, humana, geral. Fazendo uso de linguagem acessível, visa à promoção e à saliência de debates e exposições provocadoras, a afim de gerar ou despertar, em o leitor, um espírito crítico e questionador.

Welcome! Bienvenidos! ברוך הבא

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Entrevista com Madihah, uma sobrevivente da chacina de Jericó- Parte 1

1. Esta é uma entrevista com Madihah, uma sobrevivente da chacina realizada por Israel, liderada por Josué, a Jericó. Ela conta, condensadamente, algumas das principais coisas que ocorreram naquele dia, de muito choro e sofrimento. Leia, e tente perceber o sentido real dessas palavras, pois foi o que esta pobre mulher vivenciou.


"Gritou, pois, o povo, tocando os sacerdotes as buzinas; e sucedeu que, ouvindo o povo o sonido da buzina, gritou o povo com grande brado; e o muro caiu abaixo, e o povo subiu à cidade, cada um em frente de si, e tomaram a cidade. E tudo o quanto havia na cidade destruíram completamente ao fio da espada, desde o homem até à mulher, desde a criança até aos idosos, e até ao boi e ao bezerro, e ao jumento". Josué 6.20-21




-Conta-nos o que aconteceu naquele dia, narra-nos aquilo que conseguires rememorar...

-Tentarei dizer tudo, pois lembro-me bem como foi, aquele dia de sangue, de ira e de pavor... Procurarei lhe contar, com o ânimo que me resta [...], perdoe-me as lágrimas. Elas nunca mais saíram de meus olhos após aquele dia. Dia de suplício em que arrancaram minha alma. 

-Muito bem, Madihah, abra teu coração e diga-nos como foi...

-Estávamos alarmados, já sabíamos que eles invadiriam em algum momento. Tínhamos ouvido rumores. Todos da cidade falavam a respeito, dizendo que seria no sétimo dia, após o cerco que haviam feito. E assim foi. Ouvi quando milhares de buzinas foram tocadas, todas juntas e, junto com essas buzinas, um grito, ou vários, vindos não sei de quantas bocas, exatamente. Mas sei que eram muitas. Um barulho ensurdecedor, perturbador, que entrou-me à cabeça,  de meu esposo, de minha linda filha Amber, de apenas três meses, e de Leena, de oito anos. 

-Lembro-me como se fosse hoje, Amber começou a chorar. Imediatamente, peguei-a no colo, pois estava deitada após ser amamentada e chacoalhei-a, para cima e para baixo, tentando fazê-la acalmar, dizendo que tudo ia ficar bem... (...). Leena agarrou-me pelo vestido e disse: mamãe, o que é isso? O que está acontecendo? Que barulho é esse? Disse-lhe: acalme-se, Leena, a mamãe está aqui. El nos protegerá, nada de mal pode nos acontecer. Internamente, minha fé em El se punha à prova, ao experimento real e, em palavras, como mãe, tive que protegê-las, tentando acalmá-las, com um último alento em uma hora tão sombria. 

-Naquele momento, meu esposo estava tentando reforçar a porta de nossa casa com algumas madeiras que havia ali, perto das cabras que criávamos no terreno. Estavam guardadas para uma obra que planejávamos fazer quando a primavera chegasse. Seriam transformadas em uma caixa para colhermos as rosas que nasceriam no campo, na parte externa da cidade e, em outra caixa, um pouco maior, para guardarmos algumas ferramentas de jardinagem, pois faríamos um lindo jardim logo após o fim do inverno.

-Como fomos tolos...[momento de um leve choro, acompanhado de um suspiro brando]. Oh poderoso El, touro de Jericó, por que nos sobreveio tamanho infortúnio? Por que permitiste tamanha desgraça sobre nossas vidas, grande Shaddai? Éramos tão felizes, nunca fizéramos nada de mal para ninguém, não participávamos das abominações de nossos vizinhos promíscuos, adorávamos a ti, de maneira diferente, por que, por que tamanha sombra e solidão, misturada com sangue e ira? 
[...]
-Desculpe-me as lágrimas e meu desespero, novamente, é que, por não conseguir entender, não consigo segurá-las, não mesmo...

-Eu te entendo, Madihah, ao menos, penso saber o que se passa em teu coração... Se desejar, paramos por aqui, sei o quanto são fortes essas lembranças...

-Não, não. Eu me controlarei, ao menos tentarei. Permita-me recomeçar... 

-Tudo bem, pode falar...

-Então, depois de ouvirmos as buzinas e os passos fortes e barulhentos, aquela marcha homogênea e terribilíssima, percebemos que a cidade estava sendo invadida. Estávamos dentro de casa, ela ficava cerca de quatrocentos e cinquenta côvados de distância do muro, que protegia a cidade. Naquele momento, como em qualquer outro, nunca se passou pelas nossas mentes que o muro poderia ser ou ter sido destruído, pois era muito alto, largo, e tinham muitos homens valentes o protegendo, tanto na parte de cima, quanto nas laterais. Porém, o estrondo  do grito e das buzinas foi tão alto, como também o das pedras se chocando, umas com as outras, que suspeitamos que algo de extraordinário havia ocorrido, e, infelizmente, soubemos que ocorreu, da pior maneira possível. 

-Percebemos, ouvindo, mesmo estando dentro de casa, que uma multidão de soldados de Jericó estava sendo morta, porque somente ouvíamos gritos como: morra pagão; viva Ia... acho que Iaeu...

-Não seria Yahveh? Era um nome da divindade dos israelitas.

-Isso, isso mesmo, Yahveh, esse era o nome. Então, ouvíamos assim: viva Yaveh; a cidade é nossa; Yaveh é rei; morra Jericó, e outros xingamentos, os quais vinham acompanhados da fúria tininte das espadas. 

-E estes gritos aumentavam,  sua intensidade se aproximava de nosso lar, e notávamos que muitos dos nossos guerreiros recuavam, pois alguns gritavam, dizendo que a batalha era perdida, e que não havia como defender a cidade. Dentro de casa, meu marido havia terminado de fazer o fortalecimento da porta, colocara assentos, uma mesa, a que fazíamos nossas refeições diárias, algumas pedras também, que usávamos como assento. E veio para perto de mim, colocando-se a minha frente, e de nossas filhas. Eu estava postada ao fundo,  perto de uma parede, ao lado de uma tábua que encimávamos alguns utensílios de barro, agachada, com Leena agarrando-me pela roupa. Amber estava no meu colo, não havia parado de chorar, ainda.  

-As vozes dos israelitas foram aumentando. Em minha mente, não queria acreditar que eles estavam quase lá, perto de minha porta, perto de minha família, perto de tudo o que tínhamos, até então, conquistado, com nosso trabalho, suor, e simplicidade. Não queria crer que eles chegariam a nossa intimidade, que conseguiriam se aproximar tão desequilibradamente diante de minhas filhas pequenas, não queria. 

-Consigo lembrar-me, como se fosse hoje, no momento em que meu esposo olhou para trás, e me disse: Madihah, estou aqui, El nos protegerá, o touro de Jericó está conosco, não se preocupe, eu ouvi...

Continua...

André Francisco

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagens populares