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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Torturas de Yaveh e de Neemias, Ex 21,20; Ne 13,25



1. No livro de Neemias, em seu último capítulo, está narrado um caso bem típico, tanto da Bíblia Hebraica quanto dos mandamentos intolerantes, absolutistas, e desumanos de Yaveh, em se tratando das últimas consequências possíveis que um religioso judeu qualquer poderia chegar, unicamente em prol da xenofóbica proteção étnico-religiosa estabelecida na lei, juridicamente. 

2. Não se trata do apoio "divino", carta branca à escravidão, o qual está narrado em muitos textos de outros livros. Como exemplo, só para situar o leitor, Êxodo 21,20:

Se um homem ferir o seu escravo (ou a sua escrava) com uma vara, e este morrer debaixo da sua mão, certamente será castigado.

Porém, se sobreviver um ou dois dias, não será castigado; porque é dinheiro seu. 


3. O supracitado texto faz referência ao tipo de tratamento a qual um senhor judeu, -amparado pela lei de seu país, escrita em livros conhecidos hoje como Pentateuco, supostamente dada diretamente por Deus, sendo essa crendice estabelecida a fim de dar credibilidade ao seu conteúdo e de convencer e controlar politicamente a massa camponesa iletrada do Israel pós-exílico- proprietário de um escravo qualquer, deveria dar a sua "propriedade", no caso de um castigo. Se o escravo morresse, após ser maltratado com varas, paus, ou canetes de madeira,  quem o feriu seria punido. Se não morresse, no entanto, "apenas" tivesse chegado perto da morte, o dono não receberia nenhuma pena legal. 

4. Essa lei, se vista hodiernamente, não passaria sequer pelo primeiro quesito de averiguação de justiça, moral e ética de qualquer entidade que trate dos direitos humanos, em nem um país ocidental, nem nos mais fechados. ESCRAVIDÃO é crime, desde muito! E não adianta me dizer que Deus tratava aquela sociedade da maneira que deveria ser tratada, apenas porque a revelação de sua palavra é progressiva. Esse, para mim, é um argumento ridículo que somente atesta, com maior veemência, a demência da radicalidade religiosa de quem consegue ver a escravidão como legítima independentemente da época, povo, e cultura que seja. 

5. Pois bem, deixando os casos de apoio à escravidão para outro post e voltando ao assunto de Neemias; está escrita uma posição étnico-religiosa (xenofóbica) radical que ele implantou contra os judeus que se haviam  cassado com estrangeiras, logo após a volta do cativeiro. Veja o caso:


Também vi naqueles dias os judeus que tinham casado com mulheres de Asdode, de Amom e de Moabe;

e seus filhos falavam metade das suas palavras na língua de Asdode, e não podiam falar a língua dos judeus, mas a dum e de outro povo.

Contendi com eles, e os amaldiçoei, e castiguei alguns deles e arranquei-lhes os cabelos, e fiz-lhes jurar por Deus, dizendo-lhes: Não dareis vossas filhas aos filhos deles, nem tomareis as filhas deles para vossos filhos ou para vós mesmos. 
Neemias 13,23-25 


7. O religioso que lê esse texto pode gritar, pular, sacudir, espernear, chorar, orar, falar em línguas, ir à campanha na quarta-feira, jejuar vinte e cinco dias e cinco horas por mês, lagrimar, deprecar, praguejar, relampaguejar raios de unção, alegorizar, mistificar, transcendentalizar, ou seja, fazer o que quiser e puder, a fim de tentar justificar essa atrocidade que, digo-o, com toda a franqueza possível, não adianta, não tem como, essa ação é injustificável. O culto monolátrico a Yaveh só se manteve pós-exílio, em Israel, por causa disso, da força política, da brutalidade, da tortura, da utilização de leis cruéis as quais baniam qualquer indivíduo que se opusesse a elas. A máquina de matar feita pelos sacerdotes, entre templo, lei e a boca de Yaveh, era mais forte que qualquer oposição. 

8. No caso acima referido, o de Neemias, não havia punição para o crime cometido (crime em uma contextualização legal, hodiernamente, ocidentalmente). Castigar um ser humano, espancá-lo, amaldiçoá-lo, por causa de um amor a uma estrangeira, em nossa cultura atual, não vem nem à mente possível plausibilidade. Mas naquele contexto, onde os direitos eram construídos sempre sob a alegação de que foram dados pelo divino, revelados diretamente ao sacerdote, profeta, ou rei, qualquer ação desumana era facilmente maquiada e legitimada. Espancar os que se haviam casado com estrangeiras se tornava, no retrato,  "um favor" à nação, uma medida de "proteção" e "purificação". A mesma coisa que os muçulmanos radicais fazem atualmente em seus países contra outros religiosos, prendem, espancam, matam, sob o "mandato" de Alá, a fim de obstaculizarem o crescimento de outras crenças em suas terras. 

9. Foi isso que Neemias fez, ao puxar os cabelos dos "rebeldes" até lhes arrancar. Apenas estava "protegendo a pureza da lei", dos mandamentos de Yaveh, do sistema religioso  existente entorno do templo de Jerusalém. A vida humana, nesse aspecto, valia menos do que a religião, a doutrina, a liturgia. Para maioria das religiões extremista, este é o conceito que as mantem, a intolerância e o desvalor do homem, sempre baixado na escala de valores.

10. Penso que o indivíduo que utiliza a Bíblia Hebraica tem de se colocar um pouco mais no lugar dos maculados injustamente, a fim de compreender com mais propriedade o sentido real dos textos os quais lê. 

André Francisco


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