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DIÁLOGO ABERTO, O ORIGINAL, é um espaço interativo cuja finalidade é a discussão. A partir de abordagens relacionadas a muitos temas diversos, dos mais complexos aos mais práticos, entre teologia, filosofia, política, economia, direito, dia a dia, entretenimento, etc; propõe um novo modo de análise e argumentação sobre inúmeras convenções atuais, e isso, em uma esfera religiosa, humana, geral. Fazendo uso de linguagem acessível, visa à promoção e à saliência de debates e exposições provocadoras, a afim de gerar ou despertar, em o leitor, um espírito crítico e questionador.

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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Brasil, um país de fé.



Seguindo em frente, entrei por uma rua que dava de frente pra uma peixaria japonesa, daquelas que tem 50 anos e ainda funcionam da mesma forma. O dia estava bonito, mesmo nublado e podia ver ao fundo os pardais ecoando seus pequenos cantos, recepcionando o sol, que já lançava seus primeiros raios no horizonte. Eram 06:00 da manhã e eu estava em um mercado público. Não dormira em casa, pois me achava meio sem rumo para voltar à tranqüilidade do cotidiano, queria por um momento parar e refletir a respeito dos últimos acontecimentos desgastantes. Digo isso porque eu não tinha a menor idéia da proporção que a briga entre eu e meu mentor iria causar no nosso relacionamento de mentor e mentoreado. Meses atrás estava totalmente perdido e absorto em minhas idéias delirantes. Perguntava para mim mesmo se era correto pensar assim e onde poderia alcançar uma base digna e sensata para todos aqueles projetos e planejamentos aliados com ideais utópicos e sonhadores. Mas naquele dia quanto sai de casa, deparei-me com um amigo de longas datas, daqueles que são criados juntos com a gente, e contei a ele tudo o que se passava, mesmo achando que ele não poderia entender, mas que ouviria com consideração. O Júnior olhou pra mim e disse “Cara tudo isso que você me falou é demais, nunca passei por uma situação dessas, mas sei de alguém que poderia te ajudar, ele tem muita experiência de vida”. E foi assim que Júnior me apresentou Alessandro. Quando vi aquele cara de 1,60 m, cabelos pretos e grandes estilo Pepeu Gomes, roupas pretas (autentico roqueiro fanático), várias tatuagens pelos braços e pescoço e aquele coturno grotesco, pensei comigo mesmo – Em que diabos esse cara vai me ajudar? - Parecia que acabou de fumar um baseado e sair de um transe Led Zeppleiano enquanto ainda se acostumava com a luz do sol, um ser tipicamente noturno. Contudo, como eu havia vivido algumas situações e conhecia vários tipos de pessoas e grupos do qual participei, decidir dar aquele esquisito rapaz o benefício da duvida. Ainda acreditava que as roupas apesar de falarem muito a respeito de uma pessoa, não as definem por completo e, além disso, era apenas uma conversa.  Depois da devida apresentação, Júnior se despediu, pois iria para sua aula de canto, e fomos então para uma lanchonete. Alessandro pediu uma cerveja e eu uma água com gás. Ficamos ali de boa, nos conhecendo e conversando sobre nossas preferências musicais, enquanto os pedestres passavam, a maioria voltando de seus trabalhos. De repente ele me pergunta “E então Robson, parece que viemos aqui com um objetivo, não quero fugir dele, então me diga: o que está se passando com você?”. Fiquei nervoso, tinha sido bastante direto, como uma terapia e tenho que dizer, odeio terapias. Estava me sentindo como uma menina que abrira as pernas á troca de nada e logo após se sentira usada, é meio estranho, mas deve ser a mesma situação. Contudo tentei lembrar de que fui eu que quis me encontrar com o dito cujo que bebia á goles sua cerveja e já estava na terceira ou quarta lata de Heineken. Parei, respirei, olhei para o lado e para cima, refleti, pensei um pouco e disse:

- Acho que tenho mania de grandeza, sou megalomaníaco, tenho tido planos e sonhos para mim mesmo que até as pessoas mais loucas, ririam da minha cara.
- Acho então que ainda não conhece a pessoa mais louca que existe – Disse Alessandro
- Talvez não, mas mesmo assim penso que de acordo a minha realidade em detrimento do que eu penso, é demais para mim.
- Entendo. Mas você tem se esforçado arduamente pra conseguir seus objetivos ditos inalcançados?

Respondi sim, ainda meio pensativo na pergunta.

- Então está no caminho certo, pois para grandes feitos é preciso grandes sacrifícios ou um dom raro, e isso não é clichê de livro de auto ajuda meu amigo.
- Mas mesmo assim, sinto que por mais sacrifícios que eu faça e por mais que tente me superar, ninguém olha pra mim ou me oferece uma oportunidade de reconhecimento.
- Então ai entra outro ingrediente substancial, disse Alessandro.
- O que? Perguntei.
- A Fé. Uma capacidade inelutável de se agarrar o inexistente pela crença de que um dia irá existir, mesmo que todas as expectativas digam ao contrário.
- Você acredita nisso? Retruquei.
- Assim como a luz do sol, como o vento nas montanhas, como a flor da primavera e o choro da criança que acabou de nascer, como as coisas naturais e humanas que não deixam de ser mágicas, graciosas e encantadoras mesmo sendo materiais, naturais e comuns.  

Houve uma pausa na conversa por alguns minutos

- A fé, Júnior (Continuou), não é propriedade exclusiva das religiões, sejam lá quais forem elas, monoteístas, politeístas, orientais, ocidentais. É na verdade o combustível das crenças dos grandes homens. Sem fé, você nunca irá romper a sua realidade, pois naturalmente falando você está condicionado a pensar que sempre será o mesmo, até o fim de sua vida.

- É possível então? Perguntei, pensando que se tratava de uma pergunta descabida, já que saberia a resposta, mas gostaria de ouvir uma confirmação de sua firme convicção.
- Sim, é possível. Leia e veja as grandes biografias. São umas combinações de Fé, Talento, Esforço e Persistência. E a fé sempre em primeiro lugar.
- por quê? Disse eu
- Porque para se pensar alem de sua própria realidade é preciso fé, e esse pensamento é  primeiro passo para grandes conquistas.
- Entendo. Mas o que você entende de grandes conquistas?
- Não muito, mas poderia te falar de algumas.
- Conte-me!
- Até contaria, mas mal nos conhecemos e tenho um compromisso daqui há pouco, creio que seria necessário mais alguns encontros entre nós, podíamos ser bons amigos.
- É sim, podíamos. Também curto Rock and Roll Man!

Demos uma risada, nos despedimos e marcamos de irmos tomar um chope na outra semana, em um bar universitário perto da estação de metrô. Observei Alessandro ir embora, sinalizando para um ônibus, enquanto ainda absorto em nossa conversa, analisava mais uma vez aquele estranho camarada, que vestia estranhas roupas e parecia ser um bom conselheiro, contudo fiquei com um pé atrás e curioso, ainda queria ouvir suas historias para saber se seus conselhos tinham fundamento ou eram apenas frases de efeito retiradas de um livro barato duma banca de esquina.

Os dias se passaram e eu ainda com aquela conversa na cabeça decidi ligar para o Alessandro e reforçar o compromisso, afinal já era segunda-feira e marcarmos de sair na quarta. Liguei, no terceiro toque ele atendeu:

- Alô!
- Alessandro?
- Sim, quem fala?
- É o Júnior cara, como vai?!
- Grande Júnior! Vou bem cara e você?
- Bem, na mesma... Na verdade liguei para reforçar nosso happy hour na quarta, lembra?
- Claro cara, tudo certo, onde  vai ser mesmo?
- lá no Paradise, aquele bar universitário perto do metrô, na nossa zona.
- Ok, nos vemos lá as 19:30 então.
- Tudo certo, Abraço.
- Abraço.

Na quarta cheguei ao Paradise por volta das 19:00 hrs, pedi uma breja e fiquei de boa, relaxando, enquanto esperava o Alessandro chegar. Passaram de 19:30 e nada dele chegar. 20:00 horas e nada. 20:20 e nada. Então liguei, mas deu caixa postal. Esperei até as 20:40, estávamos em uma cidade grande, imprevistos fazem parte do cotidiano, e liguei novamente, mais uma vez na caixa postal. Fiquei até as 21 horas, como não havia nenhum sinal dele, fui embora, mas não estava chateado, afinal era um bate papo sem pretensões pragmáticas e eu já estava com um pouco de álcool no sangue, me sentindo levemente tranqüilo e conclui que tinha sido bom sair de casa.

No outro dia liguei para Robson e perguntei se ele tinha falado com o Alessandro ou sabia do seu paradeiro. O Robson parou, respirou e me disse com um ar de profunda tristeza “Você não sabe?!” eu disse que não sabia de nada, não que ele havia me contado, pois conversamos pouco, então ele me disse a pior noticia que eu nem poderia imaginar “Júnior, o Alessandro morreu, foi atropelado por um ônibus em alta velocidade enquanto atravessava vagarosamente a rua”. Entrei em estado de choque, o telefone caiu de minhas mãos, não entendia minha reação, o porquê dela, então cai no chão e comecei a chorar e fiquei ali horas e horas, relembrando de todos os aspectos, singularidades e detalhes de minha única e primeira e última conversa com aquele roqueiro estranho de coturnos pretos e sábias filosofias, até pegar no sono.

Algumas semanas depois de seu falecimento e logo após de todo aquele luto, quis saber mais a respeito da historia daquela figura excêntrica, pois me espantara a multidão de pessoas em seu velório e todas as mensagens que vinham de lugares diversos, e muitas até de outros países. Soube então que Alessandro era um famoso guitarrista de uma banda de Metal dos anos 90 que havia perdido os movimentos dos dedos e doado toda sua fortuna para uma ONG que cuidava de crianças com câncer por todo o nosso país e que depois de tal fatalidade, preferiu o anonimato e a solidão, como forma de cultivar valores do cotidiano, depois de ter uma vida de astro autodestrutiva.

Quanto a mim, estou relatando esses fatos 22 anos após tudo acontecer, sentado em uma cadeira de balanço em frente ao lago de uma casa num sítio muito tranqüilo, enquanto aproveito minhas férias relâmpagos acabarem, para novamente voltar ao Senado, onde luto pela aprovação da lei que dá direito a educação integral á todas as crianças em nosso país, para permitir que seus sonhos fiquem mais próximos de se tornarem realidade. Daqui, dois anos concorrerei à presidência nacional e até lá espero que a minha fé ainda esteja fortalecida.


Rodrigo Mascarenhas










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