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sexta-feira, 8 de junho de 2012

Como assim música do mundo? Parte 1



1. Muito falado na comunidade cristã, principalmente em se tratando de ambientes marcados histórico-socialmente pelo “movimento pentecostal” clássico ou tardio, é que existem coisas que são próprias do “mundo”: profanas, marginais, impuras; e outras da igreja: sagradas, santas, separadas e abençoadas. Em um sentido espacial e ideológico, obviamente que essas diferenças existem (não da forma como é vista). Ou seja, um grupo que se reúne e assume características bastante semelhantes, de pensar, falar, entender, discutir, logicamente adquire identidade própria e se vê como um entre muitos. Assim, acaba determinando o que seriam coisas boas, aquelas que são tidas boas em seu espaço comunitário, ou más, aquelas tidas más em seu espaço comunitário. 

2. Pois bem, no que se refere ao tema "música", existem muitos piolhos andando na cabeça de muita gente. Pode-se ouvir ou não músicas que sejam do "mundo"? Primeiramente, tem-se de entender o que seria "mundo" na mente de uma comunidade marcada pelo anti-intelectualismo e dualismo gnóstico-pentecostal. Pensa-se que "mundo" são todas as coisas que não são cristãs ou, mais especificamente, evangélicas, ou, ainda mais especificamente, pentecostais, ou, (mesmo advérbio referido duas vezes), parte da cultura comunitária espacial. Então, aquilo que não faz parte do comum-comunitário, do feijão com arroz litúrgico-tradicional, tende a ser visto com estranheza. 

3. Nessas comunidades só se cantam músicas, ou usando as gírias do "evangelicales", hinos sacros, que possuem letras, de enaltecimento a Deus, ou de puxa-saquismo dos fiéis. Essas últimas (atualmente mais necessárias, para que haja comoção e bem-estar), daquelas do tipo "você é", "você pode", com bastante utilização do termo "vitória" (usado, pelo menos, 75% do tempo de qualquer reunião). Tá, em um primeiro momento, percebe-se que a cultura comunitária estabelece, de antemão, aquilo que quer que seja considerado correto e digno de uso para o cotidiano intra ou extraeclesial. Normalmente, após essa reflexão intraeclesiástica, que visa à consolidação da identidade, ser feita, por meio da utilização de todos os recursos disponíveis, e principalmente dos textos da Bíblia Hebraica e dos neotestamentários, fundamenta-se o que pode e não pode ser ouvido (aqui o assunto precisa ser mantido nessa temática, senão, a abordagem vai ser muito longa). 

4. O tipo de música cantada dentro das comunidades tem esses dois vieses citados, vertical e horizontal, e necessariamente precisa derivar de um cantor supostamente evangélico (cristão confesso não serve, pois músicas de padres que possuem letras sobre Deus, Jesus, e Bíblia, não são benquistas) para que se torne aceitável, e passe pelo conselho de censura e medição de espiritualidade, normalmente composto por anciãos bastante encharcados de tradição, que possuem um termômetro supra-humano, regido por suas matizes culturais e saudosistas.

5. Ok! Isso cheira, pra quem não conhece, os primórdios da religião de Paulo e de João, e dos outros conhecidos expositores do cristianismo-templo-estrutura. Uma leitura simples do evangelho, nominado joanino, por exemplo, já mostra a tendência do dualismo, combatente em um primeiro momento ao insistente gnosticismo. Luz e trevas, água e fogo, vento e brisa, inferno e céu, absolvição e condenação, crer não crer, justiça ou não justiça, etc., são temas comuns a esse evangelho referido anteriormente, que injeta linguagem dualística no Cristo da fé e até mesmo na boca de profetas declaradamente possuidores de uma mensagem à semelhança veterotestamentário (João Batista e suas abordagens teológicas sobre o Filho (Jo 3.27-33)). 

6. Então, saindo dos primeiros séculos e indo até o início do movimento pentecostal (considerado aqui, aquele do século 20 nos "States"), vê-se a novidade da mensagem, nascente em um meio conturbado, mas capaz de fazer separação de tudo e de todos. Os santos pra cá, os impuros pra lá, os "igreja" cá, os "mundo" acolá (e até fizeram entre brancos e negros, sendo que, por alguns extremistas racistas, a mesma primícia se mantinha). Essa ideia veio ao Brasil, embarcada em navios que se direcionavam às latinas Américas  e posteriormente foi reforçada pelos caciques nordestinos, que sempre foram os mandachuvas das primeiras denominações "pentecostais", no país. No entanto, nunca se parou para analisar o que seriam essas músicas do "mundo", e por que tamanho tolhimento aos seus dizeres supostamente "maléficos". 

7. Se o motivo da oposição é porque, em muitas delas, não existe referência ao nome de Deus, estranheza tem, haja vista que em dois livros da Bíblia não há citação nenhuma de Yaveh, Elohim, ou qualquer outro nome da deity, sendo que, um deles, é um Cântico, ou seja, várias músicas. Aliás, já que foi citado, o livro de Cânticos dos Cânticos é considerado sagrado, santo, digno de ser símbolo do Cristo e sua igreja, porém, qualquer um que saiba ler português, ou, se quiser, alguns termos no hebraico, percebe o caráter pornográfico e sensual de suas afirmações. "Péra" lá, pornográfico? Sim. Não pejorativamente, mas no seu gênero textual, poético, porém, sensual. Então, lê-se esse livro nas reuniões, e não se pode escutar a cantora Adele lamentar a perda de seu amado em  Someone like you? Ou a Maria Gadú soando a Bela Flor

8. A partir de uma  simples observação, percebe-se que são as pessoas que sacralizam ou não um objeto, pois, se fossem cantadas músicas, atualmente, dentro de grande parte das comunidades evangélicas, no mesmo linguajar utilizado nos Cânticos dos Cânticos, no mínimo, haveria a certeza do desvio do indivíduo cantor. Contudo, se são as pessoas que atribuem pureza e maldade às coisas, por que porquê se insiste na atribuição de impureza a tudo que não carrega a "etérea" marca evangélica? Parece ser por causa do perfil de reduzir tudo pra si, fomentado dia a dia em mensagens efêmeras nos templos judeu-persa-romano-evangélicos (leia "Cristianismo Pagão" de Frank Viola) de igrejas, pelo Brasil afora.

André Francisco












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