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quarta-feira, 20 de junho de 2012

Das desavenças entre dogma e exegese histórico-crítica

A igreja, desde seu início, é formada por dogmas. Aliás, como mais uma religião, ou sistema religioso, deveria ser, de fato, fundamentada sobre tais princípios, senão, não teria como normatizar suas crenças, e consolidar suas liturgias. Nenhum sistema religioso consegue se livrar disso, e isso, é historicamente visto, e comprovado. Aqui, dogma se define da seguinte maneira: crença estabelecida ou doutrina de uma religião, ideologia ou qualquer tipo de organização, considerada um ponto fundamental e indiscutível de um sistema. Certo, já está definido, agora, discutir-se-á sobre. O dogma se estabelece, normatiza-se, e mantém sua identidade, e, depois, convence, de maneira indissolúvel, seus fiéis seguidores, para concordarem com ele, e se apegarem de tal forma, que não haja discussão, sobre se é correto, válido, ou não. O dogma forja a mente dos que o aprendem, fabrica dentro de suas vítimas uma parede intransponível de convicção irreflexiva, inquestionável, e não permite que se abram portas para a honestidade interpretativa, e liberdade protestante. Tocando nesse assunto, e trazendo a discussão para o sentido eclesiástico, vale destacar o fato de que dogmas são características peculiares da igreja Católica Romana, que, desde sua origem (podendo-se considerar um estabelecimento mais marcante em Nicéia, IV), vela pela manutenção dos mesmos, a fim de ser "voz de Deus", e não de homens, então, indiscutível. A reforma protestante, XVI, trouxe uma luz, a princípio, para tentar solucionar esse problema, com as máximas, sacerdócio de todos os crentes, interpretação livre das Escrituras. Pois bem, seria um grito, uma nova ideia e leitura para os "discípulos de Cristo", dentro de um contexto amarrado religiosamente, afundado nos dogmas romanos. Mas, dentro desse movimento que parecia ser messiânico, o sola scriptura apareceu, e pôs tudo a perder novamente. Por quê? Porque essa última máxima já é dogmática, e nunca, de fato, "Bíblica", se é que existe dogma concordantemente bíblico em sua completude. Dessa afirmação surgiram os seguintes questionamentos: Quais escrituras? Por que só tais escrituras? Com qual autoridade tais escrituras? Para Lutero, Tiago e sua epístola não deveriam exisitr, eram "de palha", para outros, nenhum dos deuterocanônicos, ou, até mesmo os Apocalipses. E o negócio foi se amarrando mais, lembrando-se que cada um, "reformador nominal", deveria construir seus dogmas, agora, não mais católicos, mas protestantes. E a cadeia natural histórica se voltou para o início, o que havia acontecido lá atrás, dogmas e mais dogmas sendo criados, com cara diferente, aconteceu agora, no sola scriptura, mas com raízes bem parecidas, e honestamente falando, copiadas. Pois bem, dentro dessa salada toda, nunca foi citado nada sobre exegese histórico-crítica dos textos, pois, factualmente, não existia ainda. Só que agora há, espalhada por todos os cantos, em todas as editoras, em todos os sites possíveis. Então, agora a exegese consciente e crítica  ultrapassou e acabou com o dogma? Paulinamente, de maneira nenhuma! O que a religião propaga é tão forte que não há espaço para reflexão, exegese, interpretação histórico-crítica de nada. Continua-se lendo a Bíblia judaico-cristã, com olhares do comum-comunitário, do vomitado de descendência à descendentes. Por isso, qualquer dogmático evangélico que se preze, ao abrir seu texto hebraico, "abrasileirado", chora ao ver, emocionado, o "Espírito Santo" pairando sobre a face das águas, e ainda, acrescenta o "chocar", como galinha choca seus pintos, em seu raciocínio apaixonado-interpretativo, e subjetivamente faz comparação ao que deus pode fazer na sua vida, no cuidado com sua criatura, aplicando essa interpretação a sua realidade. Contudo, mal sabe ele que nem pneuma hagios, nem o chocar, existem naquele texto, pois, cá pra cá, judeu redator, escrevendo seu ruah elohim, com essa interpretação evangélica-cristã na mente, é inquestionavelmente ridículo de se pensar.  Mas não, o Espírito Santo cristão, principalmente lucano, está lá, de fato, assim pensa o dogmático. E, não se contentando, ainda vê a Trindade misteriosa no termo elohim, lançando assim toda e qualquer exegese séria dentro de um balde de lixo não reciclável. E por aí vai, ao acreditar que Moisés escreveu todo o Pentateuco, inclusive sua morte no final de Deuteronômio, o que é bastante esdrúxulo. Ao pensar sobre a veracidade histórica das longas datas de vidas dos heróis do passado, 900+, ao achar que os judeus são os primeiros a escreverem sobre o dilúvio (procure Epopeia de Gilgamesh, e mito de Utnapishtim, ou poema de Enuma Elish) e que essas histórias vieram do céu, ou caíram de paraquedas dentro do contexto sócio-religioso dos hebreus. A partir desses fatos, pensa-se: quem está com a verdade? Quem possui a visão correta? Os dogmáticos sempre acharão que são eles, sem reflexão e pesquisa, tida vinda de Deus, para suas mais de 30 mil comunidades de diferentes crenças evangélicas. Os exegétas acreditarão serem eles, reflexivos, pesquisadores, que possuem somente o texto, e dominam suas línguas originais e conhecem seus pressupostos.


André Francisco

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