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terça-feira, 28 de agosto de 2012

Um Breve Romance no Ônibus da Linha 514




Fui num dia de rotina, idas e vindas da faculdade, toda aquela burocracia, estudos, entrega de resultados. Depois de tomar um bom café preparado pelas mãos divinas de minha avó, sai pronto para vencer mais um dia de faculdade. Enquanto esperava o 514 no terminal de ônibus, ouvindo um rock alternativo, 30 Second to Mars, deixando que meu peito se incendiasse com a beleza da musica e enquanto isso observando as bonitas meninas que passavam para lá e para cá, entre as feias, que eram muito mais volumosas. 

Dia normal, como disse, entro no ônibus e fico ali esperando a partida e ainda pensando na vida, quando de repente vejo no banco da frente uma menina linda, comunicativa, sorriso nos lábios, brilho no olhar e belas pernas, do jeito que gosto. Ela falava com uma amiga desprovida de aparência física, daquelas que são ótimas amigas de garotas bonitas, pois não poderiam disputar homens com elas, fiquei ali ouvindo o que elas falavam e me assustei: A garota bonita falava sobre algumas velhinhas que estavam sendo extorquidas em seu trabalho, por pagarem juros á mais do que deveriam. Ela dizia que não concordava com aquilo, pois estava errado! Sua consciência não permitia agir daquela forma em nome dos seus patrões cruéis. Confesso que não acredito em amor á primeira vista, seria uma banalização de algo tão puro e construído a base de fogo e dor, acredito sim em atração á primeira vista e nisso fui pego. Precisava falar com ela, estava sendo consumido por aquela vontade, minhas pernas não se tranquilizariam enquanto não fosse lá e dissesse pelo menos um OI para ela. 

Dito e feito. 

Percebi que a amiga saltara em um ponto e o assento ao seu lado estava vazio, dei um “migué”, fui até o cobrador e fiz uma pergunta mais tosca da minha vida pedindo uma informação que já sabia. Na volta me sentei ao seu lado e lancei:
- gostei do lance das velhinhas, que bom saber que alguém ainda tem consciência (ainda mais uma gata daquelas, pensei comigo)
- Ah! É verdade, não suporto ver isso e não fazer nada, é muita crueldade (dizia ela, não se importando com o fato de eu ter me sentado ao seu lado e puxado conversa sem um pingo de vergonha na cara. Me disse tudo isso com um sorriso no rosto, toda delicada, estava me matando, o momento era perfeito) 

514, O Ônibus da Sorte, Destino ou Ocasião?!
Continuamos conversando até o momento em que saltei do ônibus, mas pedi o seu numero de celular antes, que me foi dado pela ótima conversa que tivemos, na certa ela queria mais, e eu também.

Liguei para Iris, várias e várias vezes, conversávamos diversas besteiras, coisas fúteis do dia-a-dia, rotinas, era um lance bacana, falamos sobre os nossos sonhos, as aventuras que queríamos viver, quem queríamos ser da vida, quantos filhos teríamos e quais eram nossos Hobbies preferidos. Dois jovens em pleno auge da existência, com toda a força da juventude, trocando ali suas experiências de vida e se conhecendo profundamente, era difícil pensar que isso ocorreria através de um ônibus, o 514, e que nossas vidas se ligariam em uma simples conversa sobre velhinhas, é difícil, mas é possível acontecer.

Infelizmente nem tudo parece ser como dita o andar da carruagem. Chamei aquela bela moça para sair, ela não poderia por causa da semana de provas, esperei que a maldita semana acabasse, chamei – a novamente, ela estava de mudança e muito atarefada por conta disso, decidimos esperar mais um pouco, deixei que ela então me retornasse quando estivesse tudo normal para ela, não queria ser o cara chato que fica no pé da garota, um verdadeiro prego.

Esperei, esperei e esperei, nada. Ela tinha desaparecido, simplesmente não se importava, simplesmente não se lembrava de como tínhamos nos conhecidos, de maneira tão improvável e de como nossa conversa nos uniu de maneira que dois belos desconhecidos falaram profundamente sobre si durante horas, como poderia ser? Ela simplesmente não se lembrava? Eu de maneira nenhuma poderia ser o pé no saco de ligar novamente implorando uma saída, já havia feito por três vezes, era o suficiente, agora era a sua vez de dar esse passo.

Os dias se passaram, tocando a vida, de vez em quando o pensamento nela (todos os atraídos e atingidos pela verdadeira beleza feminina, sempre se pegam pensando na beleza de sua amada), algo fugaz, já meio fugidio. La estava eu no meu 514, observando e olhando para ver se ela não estaria ali novamente, me esperando, com o assento ao lado vazio, para novamente falarmos sobre as velhinhas extorquidas, nossa viagem ao redor do mundo e sobre minha paixão por mitologia grega e a dela, por aprender idiomas e ler complexos livros de filosofia. Muito louco eu sei, mas era o nosso mundo e eles se encaixavam quase que perfeitamente, mas nada, nada dela aparecer, parece ter sido somente daquela vez, maldito universo conspirador.

Um dia, logo após um bom tempo desde que falara pela ultima vez com Iris, fui á faculdade como costumeiro, assistir uma aula interessante com um professor daqueles que tiro o chapéu. Foi uma boa noite, conversa solta com os amigos, boas piadas e risadas, conteúdo e aula interessante. Minha mente e meu espírito estavam saciados com tudo aquilo, não via motivos pra reclamar da vida e de nada, estava em uns daqueles dias de campeão, onde você se sente superior á todos os obstáculos e não enxerga as coisas ruins e as improbabilidades da vida. 

Que Puta dia!

Peguei meu ônibus de volta para casa, o 532, que possuía uma escala mais rápida que o 514. Viagem tranquila, talvez estivesse escutando Jota Quest, Rosa de Saron ou Legião Urbana, não me lembro bem, mas me lembro que em um dos pontos subiu um numero assustador de pessoas e ficamos naquele ônibus como sardinhas em uma lata e como garrotes e vacas dentro de uma carreta boiadeira , mas o dia estava bom. Keep Calm and Hakuna Matata, pensei comigo. De repente olhei para trás, passeando com os olhos aquele ônibus e fiquei meio espantado com o que vi, sem reação exterior, mas com milhares de reações interiores. Iris, sentada na ultima fileira de bancos do ônibus, conversando com os seus amigos, cheia de livros nas mãos, provavelmente também voltando da faculdade. Ela riu, e em um pequeno lance virou seu rosto e os seus olhos se encontraram com os meus. O riso cessou. Veio o silencio, ficamos nos olhando por segundos, pareciam horas, ninguém esboçava uma reação, algo se passava pelas nossas cabeças. Pela minha eu não saberia te dizer, não conseguia pensar em nada, pela dela, talvez a decepção de ter se esquecido de mim, ou o incomodo de me ver após tanto tempo em que tinha me feito uma falsa promessa. Todos nós pagamos por elas algum dia. Poderia apenas imaginar. 

Eu estava indiferente, não ri, não acenei, não poderia ir até lá falar com ela. Ela abaixou sua cabeça, tinha vergonha, o momento era incomodo, era o desarranjo de algo quase perfeito que havia se quebrado, arranhado, percebi isso. Então, a porta do ônibus se abriu e vi que deveria saltar ali, justamente ali, naquele ponto. Olhei pra ela pela ultima vez, sem dizer uma palavra, jogando pelas entrelinhas e desci, vendo - a pela ultima vez. Ali tinha se ido embora à possibilidade de uma boa historia juntos, um romance marcante, talvez de um grande amor, quem saberia ou poderia dizer? As probabilidades são infinitas e a vida um grande jogo, cabe a nós apenas viver e jogar o jogo da vida da melhor maneira possível.

Nesse dia pude perceber que alguns dão sorte no amor, outros nem tanto, alguns nascem pra viver, outros pra amar, alguns são aventureiros, almirantes em busca de um novo rumo, outros, colonizadores e donos de sua própria historia. Senti-me como um herói da velha e boa mitologia grega, que depois de lutar tanto e vencer tantas batalhas é acometido por uma terrível maldição e vê tudo o que conquistou se perdendo, restando apenas honra e glória. No fundo sinto uma ponta de ciúmes de Romeu e Julieta, porque mesmo morrendo pelo amor, viveram por ele, sim, “viveram por ele”, sendo consumidos pelo fogo do amor, deixando que cada parte dos seus corpos gozassem do prazer de estarem juntos e vivendo essa terrível solidão á dois, tornando-a suportável, sendo coroados no fim pela tragédia, pela morte prematura, mais valendo viver o presente eterno, do que o eterno vazio.

Pra mim, o amor sempre será bem vindo, mesmo que o telefone não toque no dia seguinte.

Por Rodrigo de Barros Mascarenhas

2 comentários:

  1. Difícil saber quando a atração a primeira vista se transformará em o amor de '' consequencia''. È engraçado achar que talvez aquilo que era pra ser o amanhã é apenas o ontem, e as vezes somos felizes somento por lembrar do ontem e fazer o amanhã de uma forma que não nós deixer sofrer sabendo que o ontem lhe ensinou a fazer o amanhã!
    bom texto.

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    1. Obrigado Felipe. Na verdade somos aprendizes constantes das circunstancias e experiencias, como voce disse o ontem nos ensina a fazer o amanhã, quem sabe diante da próxima Íris ou na íris do futuro, eu faça um jogo melhor, baseado na Íris do passado?! Grande Abraço

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